Por acharem que o inferno são os outros, Belluzzo e Toninho Cecílio, os maiores responsáveis pela crise do Palmeiras, agora querem culpar e punir todo mundo.
Ah, Belluzzo e Cecílio! Quanta decepção! É nessa hora de definição do Brasileirão que surgem as maiores queixas e, com elas, as grandes crises e toda essa choradeira pré-natalina que enche. É quando também nosso futebol mais desaponta. Quer maior decepção do que a dupla Belluzzo/Toninho Cecílio? Os dois criaram todo esse clima no Palmeiras, são os maiores responsáveis pela queda de produção do time e pelos rachas, como a briga Obina-Maurício, e agora gritam contra a arbitragem (Belluzzo quis até dar porrada em juiz) e contra a imprensa, e punem os dois atletas, como se fossem culpados de tudo. Lamentável.
Tempos atrás, Luiz Gonzaga Belluzzo deixou um pouco de lado sua cadeira de economista renomado para ocupar a de presidente do Palmeiras. Inexperiente, errou tanto que o clube pode ter o pior ano de sua história. Toninho Cecílio, o mesmo. Por força da idade, trocou os gramados, como jogador, e a presidência do sindicato dos atletas profissionais pela gerência de futebol do Palmeiras. E desde então vem mostrando dois pesos e duas medidas no tratamento com os jogadores, como na recente briga entre Obina e Maurício.
Almas bem-intencionadas, os dois não perceberam ainda serem os verdadeiros culpados de tudo. Ao contrário, já acharam os responsáveis, que evidentemente são os outros: a arbitragem, a imprensa e os jogadores, onde começa e termina o inferno.
Veja a seguir, os erros da dupla Belluzzo/Cecílio que levaram o Palmeiras à situação em que está.
Um – Foi um erro ter afastado Luxemburgo sem estar com substituto à altura na manga do colete. Sim, Luxa deveria ser substituído, mas não da forma como foi. Como não havia técnico à altura na praça e o clube também não tinha essa grana toda, o Palmeiras teve de entregar o comando ao interino Jorginho, em quem não confiava, correndo sérios riscos. E acho que Neto tem razão: se tivesse mantido Luxa, o Palmeiras talvez já estivesse com o título nas mãos.
Dois – Também foi um erro não confiar em Jorginho, que acabou fazendo belo trabalho enquanto durou. Inexperiente, Belluzzo ainda não sabe que, em time que está ganhando, não se mexe. E Jorginho vinha ganhando, colocou o Palmeiras lá em cima. Sim, interino nem sempre dá certo e se consolida. Mas a diretoria deveria ter esperado pelos primeiros tropeços dele para substituí-lo. De repente, ele continuaria vencendo, e o Palmeiras a esta altura já poderia ser campeão brasileiro.
Três – Outro erro foi ter levado Muricy para o Parque Antártica. Não porque ele não é bom técnico. É porque não era o treinador mais indicado para aquele momento do Palmeiras. Um dos pontos fracos de Muricy é não apitar nas contratações. E, quando apita, não é bom nisso como Luxa, por exemplo. Acontece que o Palmeiras ainda estava contratando para se consolidar na liderança e vencer o Brasileirão com certa tranquilidade. Tanto que chamou Wagner Love, cometendo o mesmo erro do São Paulo de Muricy quando contratara Washington do Fluminense.
Love chegou e desagregou o elenco, a exemplo de Washington no Tricolor. Truculento, Muricy, que já não havia resolvido impasse semelhante no São Paulo, novamente não conseguiu pacificar o ataque do Palmeiras, pós-Wagner Love. Como se não bastasse, o Palmeiras --- também obra de Muricy --- passou a jogar com dois centroavantes (Wagner Love e Obina), o que é burro em qualquer circunstância, pois deixa o time vulnerável. Isto quando Muricy não preteriu Obina e apoiou Wagner Love, relegando o ex-flamenguista ao segundo plano, outro erro crasso do treinador.
A partir daí, o time começou a se esfacelar. Com dois centroavantes que não primam pela forte marcação (Obina nem tanto, é mordedor, bom de roubar a bola), os demais do time começaram a ser mais exigidos e acabaram não dando conta do recado. Ao redobrarem os esforços em campo, muitos se contundiram ou caíram de produção, quando não saíram por expulsão ou por três cartões amarelos (como Pierre, Clayton Xavier, Mauricio Ramos etc.), o que agravou a situação. A isto devemos agregar a síndrome de jejum de títulos, que ajuda a piorar tudo. Resultado: pontos preciosos perdidos, provocando os rachas e, com eles, as derrotas e a despedida da liderança.
Toda essa bola de neve foi criada por Belluzzo e seu braço direito Toninho Cecílio. E agora os dois caem no clichê de apontar culpados --- a imprensa, a arbitragem e as brigas entre os jogadores (Obina e Maurício, por exemplo) ---, como se o inferno fossem mesmo os outros e o diabo estivesse solto por aí, perseguindo a Sociedade Esportiva Palmeiras.
O que tenho visto de ontem para hoje é mais triste ainda. Parece evidente que Belluzzo e Cecílio não entenderam o futebol. Belluzzo agora se diz arrependido por ter assumido a presidência do Palmeiras. Não deveria. Esta foi com certeza a sua maior experiência de vida, e ele deve continuar, até para dar exemplo, com a experiência que adquiriu, e que é bastante valiosa.
Tanto ele quanto Cecílio vinham sendo a grande esperança de renovação, no futebol brasileiro, para acabar com a cartolagem e os desmandos. Sim, lamentavelmente decepcionaram e deram esse vexame, mas têm tudo para, doravante, encabeçar a revolução de que tanto precisa o nosso futebol e que poderá reconduzir o Palmeiras ao sucesso. Eis aí uma chance de ouro. Como? Fazendo história. Veja a seguir o que os dois podem fazer para dar a volta por cima.
Um – Belluzzo e Cecílio deveriam dar bons e não maus exemplos, como passar a apontar eventuais erros de arbitragem a favor do Palmeiras e se desculpar por eles, como acaba de fazer a França, com o gol de mão de Thierry Henry, que eliminou a Irlanda. Agindo assim, os dois dirigentes ganhariam moral para criticar qualquer erro de arbitragem contra seu time e, além do mais, exigir reparação na Justiça. E isto concorreria decisivamente para a moralização de nosso futebol, que anda muito próximo do abismo. Em vez de querer dar porrada em juiz, Belluzzo deveria fazer esta autocrítica. Assim, reuniria forças para moralizar nosso futebol. Cecílio deveria acompanhá-lo nisso, como parceiro fiel.
Dois – Belluzzo e Cecílio também poderiam dizer publicamente que são os verdadeiros responsáveis por tudo o que está acontecendo no Palmeiras, inclusive pelo clima que levou aos rachas e às brigas no elenco. Também deveriam admitir que, por isso, erraram no afastamento de Obina e Maurício, e que vão tentar reconduzir os dois ao elenco do Palmeiras.
Isso bastaria. Belluzzo e Cecílio passariam para a história como os novos revolucionários do futebol brasileiro, na mesma medida em que o foram, por exemplo, Adilson Monteiro e seus companheiros, na época da democracia corintiana, o movimento mais importante de que se tem notícia no nosso futebol.
Belluzzo porque teria tido a grandeza de se reconhecer culpado e se retratar, o que ainda não vimos no futebol brasileiro. E Cecílio porque teria abandonado o “dois pesos e duas medidas” que tanto compromete seu caráter: sempre defendeu o jogador contra o dirigente, quando foi presidente do sindicato dos atletas, e hoje defende o dirigente contra o jogador, na qualidade de gerente de futebol do Palmeiras, isto apesar de ser um dos culpados pelas brigas que estão ocorrendo no elenco.
Fica aqui a sugestão, muito fácil de pôr em prática. É pegar ou largar, o futebol brasileiro agradeceria.
Tom Capri.