Quando a Petrobras nasceu nos idos da década de ’50 do século passado, pelas mãos de Getulio Vargas, seus ideais eram puros, singelos e patrióticos.
Seu fundador tinha em mente, apenas suprir a demanda por combustível, que à época era todo importado e vigia no país com grande força nossa velha conhecida a “teoria do subjugo nacional”. As “sete irmãs” que monopolizavam a produção e distribuição do petróleo mundial usavam todos os expedientes possíveis, lícitos ou não, para difundir a idéia de que neste país continente “Deus tudo colocara, menos petróleo”. E lá íamos nós dar lucro para as sete irmãs.
Essa afirmativa de que não tínhamos petróleo era em parte válida, pois nossas reservas conhecidas estavam no Recôncavo Baiano e eram incipientes e produziam só óleo pesado.
Ainda não se tinha tecnologia para a exploração de petróleo em mar aberto, que só surgiria na década de ’70.
O início da produção nas plataformas marítimas marcou uma nova fase para a estatal e como no mar, além de peixe há também polvo, a estatal esparramou seus tentáculos por áreas nunca dantes imaginadas, tornando-se um fim em si mesma.
Virou “República da Petrobras”, abrigo para “General de pijama” e muitos outros epítetos e ganhou também uma blindagem que a coloca acima da lei. Para ter-se uma idéia há mais de vinte anos a sociedade civil e o próprio Congresso tenta em vão obrigar a empresa a revelar a estrutura, a composição do preço dos combustíveis, segredo tão bem guardado, que talvez nem ela saiba, prevalecendo o “chutômetro”, que lhe dá a primazia de fornecer um dos mais caros e piores combustíveis do mundo.
No governo Lula, a Petrobras além do já dito, livrou-se de uma incômoda Comissão Parlamentar de Inquérito e da auditoria do Tribunal de Contas da União que pretendia investigar o super-faturamento nos gastos com a construção de refinarias da empresa e outras coisinhas mais.
Neste 2.010 o uso político da Petrobras pelo governo Lula está sendo descaradamente vergonhoso e duma forma como já mais se viu.
É inconteste que deve haver petróleo no pré-sal, como também deve haver metais preciosos nas galáxias. Só que para conseguir um e outro depende de várias coisas.
Já que os minerais das galáxias estão fora de circulação, tratemos só do petróleo: a discussão da partilha dos royalties, em que envolveram-se estados e municípios, que redundou em uma passeata totalmente financiada por dinheiro público, foi simplesmente forjada de olho nas eleições presidenciais. Todos interessados em partilhar expectativas, pois petróleo mesmo, talvez em 2020, se o governo dispuser dos bilhões necessários para extrair o ouro negro do fundo do mar.
Até lá quem sabe, o futuro presidente, que por certo não será Luiz Inácio, pode chegar à singela e responsável conclusão de que o petróleo a ser retirado custará tão caro, que estará muito mais bem guardado no fundo do mar, como o minério das galáxias, aguardando oportunidade outra para ser explorado.
Seria assaz produtivo que a Petrobras apresentasse uma honesta planilha de custos da produção atual e um gráfico comparativo entre os diversos países produtores. E tomasse a mesma providência com relação à projeção para 2.020, talvez chegasse à conclusão, que neste mesmo momento nosso petróleo está fora da realidade internacional.
Agindo com honestidade, talvez Lula arranjasse os bilhões de reais necessários para que a aventura megalomaníaca do pré-sal saísse do papel e sobraria tempo, ainda, para questionarmos a necessidade da Petrobras ir buscar petróleo à sete quilômetros no fundo mar, enquanto que o multibilionário e insuspeitissimo Eike Batista usando bola de cristal tecnológica, encontra o mesmo a cento e cincoenta metros de profundidade na bacia de Santos.
Mas a diferença crucial entre Lula e Eike é que o primeiro não sabe respeitar o dinheiro público e o segundo sabe como usá-lo em seu beneficio.
Luiz Bosco Sardinha Machado