MARINA

Má li esse poema umas dez vezes. Foi a coisa mais bonita que já fiz. Andei trocando umas palavras, corrigindo vou mandar de novo prá vc montar um slide vou mandar imprimir e mando p/ vc pelo correio MARINA No ambiente amplo Paredes brancas, Iluminado por uma Réstia de luz Qu’escapava esguia Por cortina balouçante, Uma marina deslumbrante, Com mares azuis, tal Olhos de uma diva. O píer branco qual Espumas das ondas O conjunto enfeitando. Barcos que partiam E chegavam Se quem ia ou voltava Não sei se ria Ou só chorava. Ah! como amava Esta marina que, De amor minha Vida povoava 22.03.09 LUIZ BOSCO SARDINHA MACHADO ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ QUEM SOU EU MARINA SILVEIRA- PROFESSORA, TECNÓLOGA AMBIENTAL E ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

OS DESAFIOS DO SÉCULO XXI



Por Susan George*



Acredito que os organizadores dessa série de palestras da La Casa Encendida não imaginavam que os desafios do século XXI fossem tão grandes. Outro mundo certamente é necessário. Acredito que, com as múltiplas crises que temos diante de nós, também podemos observar grandes oportunidades, mas esta janela pode não ficar aberta por muito tempo.

Claro que a eleição de Barack Obama é um enorme sinal de esperança e acho que na Europa as pessoas, certamente, também se alegraram com a notícia. Eu chorei quando ele foi eleito e só consegui dormir às quatro e meia da manhã, quando estava absolutamente certa do que estava acontecendo. Nesse caso, onde houve a mobilização popular, das minorias, dos jovens, a democracia se estabeleceu. Mas neste encontro não vou me aprofundar na questão da democracia, prefiro falar sobre as três grandes crises que vejo ameaçar, não apenas a cidadania e a própria democracia, mas também a continuidade da vida na Terra. Você pode pensar que estou exagerando, mas espero convencê-lo de que não estou sendo “alarmista”.

Em primeiro lugar vou nomear essas crises e, em seguida, falar um pouco sobre como podemos escapar delas afinal, também penso que estamos em um momento de esperança.

A primeira é a crise social. Fato é que não faltam riquezas no mundo, posso assegurar isso, então não há desculpa para entrar século XXI com tanta pobreza e desigualdade. Em outras palavras, é perfeitamente possível dar a todo mundo uma vida decente e digna.

A segunda crise é a crise financeira. Desde que ela começou, vemos os governos mobilizando centenas de bilhões de dólares para socorrer os bancos, arcando como custo do seu comportamento estúpido e ganancioso. Até agora, as vítimas dessa crise não receberam nada. A bagunça financeira foi limpa a favor dos ricos e poderosos, retirando das agendas quase todos os demais assuntos, o que é um grande erro, porque temos de olhar para toda a fotografia da crise, não apenas parte dela.

Isso me leva à terceira crise, em minha opinião a mais grave e urgente de todas, que é a crise ambiental. Aquecimento global, alterações climáticas, destruição da biodiversidade, tudo isso está acontecendo muito mais rápido que a maioria dos governos acreditava. E por que essa é a crise mais urgente? Porque podemos voltar atrás no caso da injusta distribuição de riqueza ou do colapso financeiro. Mas isso não é verdade com o clima: uma vez que a questão climática saia do controle, não temos nenhuma chance de voltar atrás e recomeçar. Temo em dizer que apenas agora a liderança mundial começou a entender o que as conseqüências das mudanças climáticas significarão para a produção de alimentos, para os recursos hídricos, a subsistência, a educação ou para o grande número de refugiados procurando abrigo. Então, o que podemos fazer em relação à tripla crise [social, financeira e ambiental]? O que podemos fazer para construir um mundo melhor, mais justo, ecológico e mais democrático? Acredito que a mudança só será possível se os cidadãos se mobilizarem e demandarem essa mudança profunda, que é necessária em todo o sistema.

Vou desenvolver meu pensamento sobre cada uma dessas crises de forma mais detalhada. Primeiro: desigualdade social e pobreza. Na Europa, 15% da população, ou seja, cerca de 72 milhões de pessoas são oficialmente classificados como pobres, mas eles [Europa] poderiam eliminar a pobreza em seu próprio solo, e contribuir enormemente para acabar a pobreza em outros lugares do mundo. Poderíamos ser a liderança dos países da OCDE, mas não estamos fazendo isso, não estamos propondo sequer as pequenas e óbvias soluções que implicariam em mudanças no estilo de vida e de gestão dos bancos e empresas transnacionais. Não é preciso perguntar mais se é possível, a resposta é sim: é possível.

Vamos parar de falar sobre pobreza por um momento e falar sobre riqueza. Acho que a crise é realmente uma crise onde o dinheiro é real. Podemos nesse caso exemplificar citando a “poderosa” corretora Merrill Lynch. Recentemente a empresa entrou em apuros e foi comprada pelo Bank of America, salvando-se da falência. Todos os anos, a Merrill Lynch publica um relatório sobre a riqueza mundial. A 11ª edição desse relatório fala que há cerca de 10 milhões de pessoas classificadas como “indivíduos de alta renda”. Em outras palavras, são pessoas que têm um monte de dinheiro para investir sem contar os imobilizados como as casas, iates, coleções de arte, de vinhos. Fato é que esses 10 milhões de indivíduos ricos, com alto patrimônio líquido, acumulam mais de US$ 41 trilhões em ativos para investimentos. É um número bastante incompreensível, mas vamos tentar entendê-lo dizendo que esse valor significa três vezes o PIB dos Estados Unidos ou da Europa, dezenas de vezes o PIB da Índia, algo em torno de vinte vezes o PIB da Espanha.

Essa é claramente uma riqueza que não foi distribuída porque vivemos os últimos 20 anos no âmbito das políticas neoliberais, em que a tributação aos indivíduos ricos não aconteceu ou houve redução de impostos de forma sistemática. A teoria era de que, ao se reduzir os impostos para os ricos, eles teriam mais recursos para investir na geração de empregos, mas isso não aconteceu de fato. A Merrill Lynch afirma que, até 2012, esses ricos indivíduos acumularão não US$ 41 trilhões, mas US$ 59 trilhões. Podemos olhar para as porcentagens e ver que uma a cada 700 pessoas faz parte dessa categoria.

A boa notícia é que embora quase todos os países tenham crescido de forma desigual nos últimos 25 anos, a França e a Espanha, apresentaram números um pouco menos desiguais. Isso não quer dizer que eles são nações igualitárias, longe disso, mas essas nações não seguiram a tendência dos EUA e Grã-Bretanha.

Os EUA são provavelmente a referência de uma nação socialmente desigual, com exceção talvez do Brasil, Paraguai e outros países latino-americanos. Os 10% mais ricos dos Estados Unidos tem uma renda média de 93 mil dólares por ano. Os 10% mais pobres, sobrevivem com uma renda inferior a 5.800 mil dólares ano, o que pode significar a fome literal.

Existem outras maneiras de medir a riqueza. A revista Forbes faz anualmente uma lista de bilionários ao redor do mundo. Este ano houve mais de 1.100 pessoas elencadas. Juntos, têm cerca de cinco vezes mais riqueza que a renda bruta total nacional da África. É muito preocupante comparar as desigualdades no mundo e por isso gostaria apenas de dizer mais uma ou duas coisas sobre a riqueza.

A Universidade das Nações Unidas fez um estudo inovador, publicado há dois anos. Eles constataram que 2% dos das pessoas têm mais da metade das riquezas mundiais enquanto os 50% mais pobres concentram menos de 1%. É incrível como o mundo é desigual. Se você quer estar na metade rica da humanidade, tudo que você precisa é de 2.200 dólares em ativos, incluindo a sua casa, seu carro e roupas. Acho que a maioria de nós ainda se sente muito pobre, com apenas 2.200 dólares em ativos. Há o suficiente para todos, temos trabalhado para fora dos números. Se você divide tudo igualmente, o que é impossível e provavelmente sequer desejável, todos no mundo teriam 26 mil dólares em ativos.

Vamos passar agora para a crise financeira. Como vocês sabem , tudo começou com as hipotecas subprime nos Estados Unidos. Isso significa que os bancos estavam à procura de clientes, independente da possibilidade financeira desses correntistas. Por fim, quando esses empréstimos começaram a ir mal, o Federal Reserve e seus economistas oficiais pensaram que a crise do subprime era isolada e que eles poderiam conter a sua propagação.

O que eles não levaram em conta era o que tinha acontecido desde a gestão de Alan Greenspan, que durante 19 anos ficou à frente do Federal Reserve. Ele era considerado uma espécie de santo, não se podia dizer nada contra Greenspan. Mas foi o “santo” que presidiu a maior desregulamentação na história. E, claro, uma vez que os bancos foram autorizados a prosseguir, eles se fundiram e adquiriram outras empresas, tornando-se “grandes demais para quebrar”. Pior que observar que eles não eram tão grandes assim, foi presenciar o socorro financeiro governamental a essas instituições. Podemos citar a Lehman Brothers, que não foi capaz de pagar a dívida de tais títulos tóxicos ou as fatias dela, e faliu. Muitas outras instituições financeiras estavam segurando o papel da Lehman Brothers, que não valia mais nada. Houve pânico e, na sequencia, o socorro financeiro.
A terceira crise, como se tudo isso não fosse ruim o bastante, é a que me preocupa mais e a que me mantém acordada à noite: a crise ambiental. Você provavelmente conhece o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC). Este é o grupo de cientistas das Nações Unidas que estuda a ciência do clima, os impactos das alterações climáticas e a melhor forma para se adaptar a esses efeitos.

Antes da publicação oficial e divulgação pública, esses cientistas apresentam seus relatórios em uma grande reunião da ONU, com representantes de todos os governos dos países membros. Ainda que descritas de forma muito conservadora, os dados dos cientistas climáticos são extremamente alarmantes. Já sabemos, por exemplo, que as regiões mais pobres do mundo vão ser as mais atingidas e as áreas tropicais realmente sofrerão duras consequencias. Talvez a pior notícia seja que, mesmo estes cientistas pareciam não prever a rapidez com todos estes acontecimentos tomariam lugar. Inicialmente, eles estavam falando sobre o ano de 2100. Agora nós sabemos que o gelo, no verão do Ártico, está derretendo rapidamente e pode desaparecer de três a sete anos a partir de agora.O derretimento dessa calota polar afetará uma área para além de 1500 km de toda a região do permafrost, como na Sibéria.

Na Sibéria há centenas de milhares de quilômetros quadrados de permafrost que ao derreter, liberará enormes quantidades de metano, e metano pode ser 20 vezes mais destrutivo que o dióxido de carbono. O outro fator preocupante, por exemplo, é que o Ártico agora é branco, mas quando o gelo derreter, ele se tornará escuro, o que significa que irá absorve mais calor. Assim, o risco não se resume em um maior volume de água nos oceanos, mas a terra também absorverá mais calor em um tempo muito curto.

Ao mesmo tempo, sabemos sobre os outros efeitos naturais, como tempestades e furacões - que estão se tornando mais intensos. Eu gostaria de chamar a atenção para a urgência da crise, pois não estou ciente se os governos têm noção sobre ela. Obama tem dito que “sim”, que irá se juntar ao mundo e aderir ao Protocolo de Quioto. Este seria um grande anúncio se tivesse sido feito 15 ou 20 anos atrás.

Eu espero ter provocado vocês com essas informações, esse era meu objetivo. Eu não quero desanimar ninguém que trabalha por mudanças, mas de forma individual. Isso é bom e necessário, mas não é suficiente e não está ao nível do que é necessário. Nós precisamos é de um salto qualitativo, e isso é algo que só as grandes entidades políticas são capazes de realizar. Por isso, vamos pensar nas três crises em conjunto e fazer exame holístico do mundo e do sistema mundial. Como poderíamos ressurgir disso?Bem, pelo menos em parte, por meio de um sistema de energia limpa.

Os bancos têm recebido centenas de bilhões de dólares, mas o que os cidadãos têm recebido em troca? Absolutamente nada. Eu estou um pouco surpresa que não estamos nas ruas aos milhares, dizendo: “e quanto a nós?”. A conta, aos milhões continua sendo paga pelo cidadão comum. Vamos aproveitar esta oportunidade para manter os bancos sob controle. Vamos dizer a eles que em troca de todo esse dinheiro que receberam, terão que investir ‘X’ por cento de sua carteira em conversão energética. Existem capitalistas de risco, na Califórnia, que dizem que esta é a maior oportunidade do século.

Temos que considerar que o dinheiro e o crédito são bens sociais e devem ser utilizado para as necessidades públicas. Isso não significa virar comunista, ou qualquer coisa do tipo. Isso significa que os governos têm que ser capazes de controlar o sistema financeiro, e que uma parte significativa dos investimentos sejam usados tanto para empréstimos às empresas, quanto para pessoas - que querem colocar painéis solares em seus telhados. Alguns edifícios na Grã-Bretanha, país que tem um dos piores climas do mundo, são abastecidos somente com energia limpa.

Então, manter os bancos sob controle é o primeiro ponto. Segundo ponto é o cancelamento da dívida dos países pobres e em compensação, esses países também teriam que participar do esforço ecológico: reflorestar, salvar a sua biodiversidade, cuidar de seus solos e de seus animais.

Outro ponto é acabar com os paraísos fiscais. Há várias dezenas desses paraísos no mundo e vinte e alguns deles estão na Europa. Especialistas dizem que há 12 bilhões de dólares acumulados nesses lugares. Se eles forem fechados, significa dizer que, pelo menos, 250 bilhões de dólares de impostos poderiam ser aplicados em benefícios públicos e não para enriquecer representantes das mega-corporações transnacionais.

Metade do financiamento para o comércio internacional passa, em algum momento, por um paraíso fiscal. Isso significa receber de volta os 400 bilhões de dólares que as elites africanas roubaram de seu povo.

Investigações na África Subsaariana mostram que desde a década de 1970, 420 bilhões de dólares foram retirados do país e colocados em contas privadas. Se você contar os juros, isso teria sido 600 bilhões de dólares que roubado da África. Como a Attac vem dizendo a uma década, precisamos de tributação internacional. Em outras palavras, o que precisamos é de um controlo democrático sobre o sistema financeiro e considerar que o dinheiro não é apenas uma questão privada, mas também um bem público. Podemos dizer que há uma abundância de dinheiro, a questão é utilizá-lo corretamente.

Acredito que enfrentar o keynesianismo com soluções “verdes” seria uma situação ganha-ganha, tanto para o cidadão comum - porque criaria uma enorme gama de novos e bons empregos - quanto para os políticos, se eles entendem que isso é o que é necessário - eles iriam receber os agradecimentos dos cidadãos. Seria uma situação boa até para os próprios bancos, que iriam além destas situações horríveis. Então, quem não se beneficiaria com isso? Bem, isso significaria lucros ligeiramente mais baixos para alguns, mas os lucros obscenos aconteceram recentemente. Os lucros da Exxon Mobil no ano passado foram 140 bilhões de dólares, isto é completamente obsceno. Estamos executando a economia mundial em benefício dos acionistas, e não em benefício dos cidadãos. Isso tem que parar.

Eu gostaria de terminar dizendo que sim, outro mundo é possível. Temos diante de nós uma oportunidade muito clara e temos que aproveitá-la agora, uma vez que esse momento não vai durar para sempre. Precisamos ajudar os governos a compreender que podem salvar os bancos, mas eles também devem trabalhar pela biodiversidade e pelas pessoas. É importante criar zonas de acordos e trabalhar fortemente para chegar a práticos consensos nas mais diferentes esferas sociais e econômicas. Espero que eu tenha convencido alguns de vocês a também fazer alguma coisa para melhorar o planeta.

Obrigada pela atenção,

* Susan George é licenciada em filosofia pela Sorbonne e doutora em política pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris). Autora de diversos livros, é dirigente da ATTAC-França (Associação pela Taxação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos) e presidente do conselho de administração do Transnacional Institute (Amsterdã).

(Discurso proferido em mesa redonda organizada por La Casa Encendida - Madrid, Espanha -, em novembro de 2008)


(Envolverde/Mercado Ético)
© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.

O SOCIALISMO DE INVENÇÃO (parte I)

Mario Drumond



Os teóricos do socialismo, apesar das inumeráveis divergências ideológicas que, não raro, chegam ao antagonismo, parecem unânimes em classificá-lo historicamente em duas únicas fases ou ciclos em que se tenha manifestado, como pensamento, ao longo dos tempos, tal como Oswald de Andrade, em A Marcha das Utopias, assim os define:

“(...) o chamado Socialismo Utópico, aberto com a obra de Morus e que, superado, chega, no entanto, até o século XIX, quando o francês Cabet publica a sua Viagem à Icária, último país onde o puro sonho igualizante encontrou guarida e afago. (...) Com o Manifesto de Marx e Engels anuncia-se o novo ciclo - o do chamado Socialismo Científico.

Nessa série de textos, Oswald pugnava por um reconhecimento da contribuição dos “utópicos”, que, apesar de teoricamente superados, são equivocadamente vistos com preconceito por parte dos “científicos”. Para ele, as utopias são "uma consequência da descoberta do Novo Mundo e, sobretudo, a descoberta do novo homem, do homem diferente encontrado nas Américas".

“A geografia das utopias situa-se na América. É um nauta português que descreve para Morus a gente, os costumes descobertos do outro lado da terra. Um século depois, Campanella, na Cidade do Sol, se reportaria a um armador genovês, lembrando Cristóvão Colombo. E mesmo Francisco Bacon (possivelmente Shakespeare), que escrevia A Nova Atlântida em pleno século XVII, faz partir a sua expedição do Peru”.

A não ser A República de Platão, que é um estado inventado, todas as utopias, que vinte séculos depois apontam no horizonte do mundo moderno e profundamente o impressionaram, “são geradas da descoberta da América; o Brasil não fez má figura nas conquistas sociais do Renascimento”, deduzia.

Assim, até Oswald, que pensava e escrevia à contracorrente das ideologias dominantes, de “direita” ou “esquerda”, participava da unanimidade aqui assinalada. Chama a atenção o fato de que ambos os ciclos se originam no pensamento europeu, aliás, única região do globo de onde se origina todo e qualquer pensamento aceito como válido e digno de estudo pelas elites da inteligentzia européia e de suas colônias.

Mas a verdade é que o socialismo científico está superado também, e, se o socialismo utópico nos deixou o legado de suas elucubrações humanistas, igualitárias, poéticas, além de muitas boas idéias, o científico, se bem peneirado, não logrou ser tão fértil em enriquecer de idéias a Humanidade. E a Europa, hoje, é vazia de proposições.

Se vivesse mais tempo, Oswald teria alcançado seu alvo; estava bem perto disso: o caminho ideológico do novo mundo, que ele conheceu e trilhou enquanto pensamento cultural e filosófico, desde jovem, isto é, o do pensamento europeu que veio para a América, aqui se fundiu ao socialismo e à cultura autóctones, milenares ambos, e, ao receber a imensa contribuição africana, tornou-se o pensamento socialista americano, por excelência (não confundir com pensamento norte-americano, que é o mesmo pensamento europeu, sem tirar nem por – não há nada menos americano nas Américas, atualmente, do que os EUA e o Canadá). Darcy Ribeiro trilharia esse caminho.

Há o que se tem chamado de Socialismo do Século 21 ou Socialismo no Século 21, termo tido por confuso ou indefinido pelos que pensam sob a égide do socialismo científico e, como tal, exigente de classificações e definições precisas, “exatas”, para tudo, como se isto fosse possível quando se trata de estudar seres humanos e sociedades.

Erroneamente, este Socialismo do (ou no) Século 21 é atribuído a Hugo Chávez, mas Chávez, se até se refere a ele em certas passagens de sua oratória, jamais se postulou como autor da expressão, a qual não pode ser dada como nome de uma escola de pensamento; quando muito, poderia titular um projeto político para o novo século que apenas se inicia. O socialismo a que Chávez se propõe está relacionado com o momento histórico a que acima nos referimos, e seus fundamentos na saga de Bolívar e dos seguidores de sua doutrina libertária em toda a América Latina. Que Bolívar era um pensador socialista, disso não pode haver dúvidas, mas a questão é que não é possível classificá-lo nem como socialista utópico nem como socialista científico.

Modestamente, a Gazeta propõe a designação de Socialismo de Invenção a este que, desde Bolívar até Chávez é o que se vem realmente desenvolvendo, entre marchas e contra-marchas, na América Latina, e que tem por precursor regional a Inconfidência Mineira, mesmo que estudiosos acadêmicos não tenham se preocupado em estudá-lo, classificá-lo ou designá-lo enquanto sequência de fenômenos sociais e históricos de natureza ideológica, muito menos de uma ideologia socialista.

Oswald debruçou-se brilhantemente sobre a Inconfidência Mineira com o enfoque ideológico, já da luta de classes e da opressão imperialista, e excluiu George Washington (“um senhor de escravos que proclamou a liberdade dos senhores de escravos”) da classe dos “libertadores”. Como ele, uma plêiade de pensadores latino-americanos desprezados pelo pensamento colonizado e colonizador tratou os movimentos libertários em suas respectivas regiões e nações deixando-nos importantíssimos legados. Mas na mesma América Latina, na América do Norte e na Europa, a questão ideológica e o processo histórico da Nuestra América sequer são considerados nas elites acadêmicas e pelo pensamento submisso ao ideário imperialista.




Visite o blog da Gazeta: http://blogdagazeta.blogspot.com/

Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com/)