MARINA

Má li esse poema umas dez vezes. Foi a coisa mais bonita que já fiz. Andei trocando umas palavras, corrigindo vou mandar de novo prá vc montar um slide vou mandar imprimir e mando p/ vc pelo correio MARINA No ambiente amplo Paredes brancas, Iluminado por uma Réstia de luz Qu’escapava esguia Por cortina balouçante, Uma marina deslumbrante, Com mares azuis, tal Olhos de uma diva. O píer branco qual Espumas das ondas O conjunto enfeitando. Barcos que partiam E chegavam Se quem ia ou voltava Não sei se ria Ou só chorava. Ah! como amava Esta marina que, De amor minha Vida povoava 22.03.09 LUIZ BOSCO SARDINHA MACHADO ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ QUEM SOU EU MARINA SILVEIRA- PROFESSORA, TECNÓLOGA AMBIENTAL E ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

TOM CAPRI

No futebol, mais
de nossa cretina
mídia cretina

Por Tom Capri

Li tudo que saiu na mídia sobre a última rodada do Brasileirão e não encontrei uma linha sequer lúcida sobre o que de mais importante rolou do ponto de vista técnico no fim de semana. Nem mesmo na prancheta de Paulo Vinícius Coelho, que saiu hoje (31/10) no Caderno de Esportes do Estadão. Só comentários eivados de clichês que novamente não vão ao ponto. Percebo que nossa cretina mídia esportiva já se deu conta do que rola, mas tem vergonha de abordá-lo, para não passar por burrinha, e isto a deixa mais cretina ainda. Teme que, se começar a mostrar o que verdadeiramente rola nos gramados, vai passar atestado de despreparo e inconsistência por ter levado mais de 30 anos para sacar e divulgar coisas tão óbvias assim. Confira.

1 – São Paulo – Nenhuma publicação, nem mesmo a Prancheta do PVC doEstadão, fez menção à ausência de Luís Fabiano como algo decisivo na brilhante partida feita pelo São Paulo, que, sem alguns de seus titulares, arrancou um empate sem gol contra o Vasco na casa do adversário, proeza que não sei se algum clube do Brasileirão teria conseguido nessas mesmas circunstâncias. O que eu venho dizendo há mais de vinte anos --- que centroavante que joga fixo e avançado é sempre menos um e deixa seu time bastante vulnerável --- continua sendo óbvio e ululante, e foi novamente óbvio e ululante nesse 0 a 0 do São Paulo com o Vasco.
Nossa mídia esportiva também já se deu conta disso, mas o esconde embaixo do tapete, para não se submeter à humilhação que é nunca ter percebido esse óbvio. E não acho que Leão já se tenha dado conta disso também, tanto que, quando Luís Fabiano se recuperar, o técnico voltará a escalá-lo e o Fabuloso tornará a enterrar o time, mesmo que Fabiano volte a fazer aqueles gols maravilhosos que levaram a torcida e considerá-lo herói do time, mas que nunca deram um título ao Tricolor. Esperem para ver.

2 – Santos – Nenhuma publicação, nem mesmo a Prancheta do PVC doEstadão, também fez menção à ausência de Borges na acachapante vitória do Santos em cima do Atlético-PR, no sábado (4 a 1). Como se fossem cegos, recusam-se a ver mais esse óbvio: sem Borges à espera da bola lá na frente, a marcação e a armação melhoram consideravelmente no Santos, sobrando espaço para Neymar deitar e rolar, exatamente como acontecia em 2010, quando o Santos dava de oito ou de nove.
Nossa mídia esportiva já se deu conta disso, mas não vai dar o braço a torcer. Quem também ainda não se deu conta disso é o ultrapassado Muricy, que já tirou o pé e agora está voltado apenas para o Mundial Interclubes do fim do ano. Sem dúvida, vai levar Borges e jogar com ele como ‘paradão’ e ‘avançadão’ lá na frente, o que leva à seguinte e óbvia previsão: se chegar à final, o Santos com Borges vai tomar um passeio do Barcelona. Esperem para ver.

3 – Corinthians – Nenhuma publicação, nem mesmo a Prancheta do PVC doEstadão, sequer fez menção à ausência de Adriano no Corinthians, fato que ajudou consideravelmente o Timão na suada vitória de virada contra o Avaí, no Pacaembu (2 a 1). Toda a mídia clamara pela estreia de Adriano, como a salvação do Timão, que vinha de tropeços. A maior parte da mídia esportiva o fazia por ignorar que o centroavante de ofício (esse que atua avançado) já está superado e vem sendo banido do futebol, por ser quase sempre um a menos na marcação e na armação. 
Já outra parte da mídia, essa que inclui a Prancheta do PVC, sabia que, em voltando Adriano, mesmo que lépido como aos 20 anos e com dez quilos a menos, o jogador enterraria o Corinthians do mesmo jeito (por ser centroavante especialista em uma ou duas funções em campo e não ter, como ponto forte, voltar para ajudar na marcação e na armação, ao contrário de Liedson e do novo Fred, por exemplo). Mesmo assim, essa parte da mídia (a que inclui a Prancheta do PVC) também havia se colocado a favor da volta de Adriano e não dava o braço a torcer, para não passar por despreparada e inconsistente.
E assim Tite acabou se precipitando e promovendo a estreia de Adriano, mas logo se deu conta de que, se insistir no jogador, vai voltar a enterrar o Timão. O Corinthians pode até não ganhar o Brasileirão deste ano, mas com Adriano voltando ao time é que não vai ganhar mesmo. Abraço a todos.

Toda a farsa da Fórmula 1. Acompanhe.


Fórmula 1 já tem o
campeão mundial da
temporada: Vettel.
Mas acidentes e o
“inesperado” podem
lhe roubar o título.


Veja mais sobre a farsa da Fórmula 1. Saiba também o que pode e deve acontecer até o final da temporada com pilotos como Felipe Massa, Rubinho Barrichello, Lewis Hamilton, Jenson Button, Mark Webber, Fernando Alonso e Michael Schumacher.


Dedicado a Galvão Bueno (Rede Globo), Reginaldo Leme e Livio Oricchio (Rede Globo e Estadão) e Tatiana Cunha e Fábio Seixas (Folha e UOL). Amordaçados pela força do capital, não conseguem contar todas as verdades dessa grande farsa que é hoje a Fórmula 1, mas poderiam fazer um jornalismo um pouquinho mais sério e consciente, ou seja, menos comprometido (como, por exemplo, o de Lito Cavalcanti, também do Grupo Globo).


Por Tom Capri


O Mundial de Fórmula 1 de 2011 já está definido, o campeão é o alemão Sebastian Vettel, da Red Bull. Como a Fórmula 1 não pode mais ter campeão por antecipação, sob pena de tomar prejuízo irreparável, em meio a essa crise na Europa, as equipes que disparam na frente (como Red Bull este ano) são obrigadas a tirar o pé num determinado momento (agora). Mas o título lhes é sempre garantido por aquele tipo de “acordo sigiloso” que o jornalista especializado em F-1 nunca denuncia, por fazer parte da farsa. É por isso que a decisão acaba ficando sempre para a penúltima ou última prova. Só que acidentes e brigas entre os pilotos da equipe que disparou na liderança (neste ano, a Red Bull) podem vir a melar o esquema e o título escapar das mãos dela. Este é apenas um dos componentes da farsa, há outros. E é também o que já começou a acontecer na escuderia de Vettel. A equipe tem pontos suficientes para se dar ao luxo de ficar em segundo lugar e até mesmo com alguns terceiros, nas dez provas que restam, e ainda assim conquistar com folga o Mundial deste ano. Vettel tem 80 pontos a mais do que o segundo colocado (Webber). E só sete pontos separam o vencedor do segundo colocado de cada Grande Prêmio. Por isso, a Red Bull, líder com grande folga, vai “dar” agora uma “chance” às equipes rivais e deixar que ganhem os concorrentes que vêm imediatamente atrás, como Alonso, Hamilton e Button. Os três deverão se revezar nas conquistas das próximas vitórias, “para que a Fórmula 1 não fique sem graça”. Mas não é tão simples assim: Vettel vai querer voltar a ganhar, Webber também, Alonso, Hamilton e Button idem, até Schumacher e Massa aspiram vitória este ano. E aí tudo pode se complicar e o título escapar de Vettel. Isto é, a farsa da F-1 ainda pode nos garantir novas emoções até o final. Acompanhe.

É claro que a Red Bull vai ganhar de novo nesta temporada, mas é possível que muito mais com o australiano Mark Webber, que é tão bom se não melhor que Vettel, mas foi contratado para ser “escada” do alemão e ainda não se conformou com isso. Webber já provou que, quando consegue carro igual ao de Vettel, alcança a pole e vence a corrida. No ano passado, em desigualdade de condições e sem o apoio que Vettel recebe da equipe, o australiano quase “roubou” a cena e ficou com o título.

Em razão disso, prevejo novas polêmicas e muita confusão na Red Bull até o final da temporada. Bom piloto, Vettel é jovem e ambicioso. Não quer apenas o bicampeonato, este ano. Quer também bater todos os recordes de seu compatriota Michael Schumacher, inclusive de número de vitórias. E tem tudo para conseguir, desde que a Fórmula 1 não o impeça de seguir vencendo.

Acontece que Vettel seguir vencendo é problema sério para as finanças da Fórmula 1, como já vimos. Ainda mais se seu companheiro de equipe, Mark Webber, começar a vencer, pois isto certamente apagará o brilho das conquistas do piloto alemão até aqui. Prevejo, por isso, novas brigas na Red Bull, como tivemos no ano passado, quando os dois pilotos jogaram seus carros um contra o outro. Nessa, a Red Bull pode pôr tudo a perder.

Novos choques entre os dois pilotos podem não só afastar Vettel das pistas, como nenhum deles ganhar as provas restantes e a Red Bull ficar até mesmo sem o título já conquistado por antecipação. É por isso que, apesar de ser toda essa farsa, a Fórmula 1 ainda poderá nos reservar algumas emoções até o final da temporada.

Quem vai ficar chupando o dedo, infelizmente, é Felipe Massa. No começo da temporada, vi tênue luz no fim do túnel para o piloto brasileiro. Os patrocinadores tinham pressionado a Ferrari para que deixasse de “bater” tanto em Massa, pois têm grandes interesses no Brasil (como o Santander) e não querem passar a ser odiados pelo consumidor brasileiro.

Dessa forma, a Ferrari recebeu “ordens” para continuar favorecendo Fernando Alonso, dando-lhe sempre o melhor carro (ou seja, para manter Massa como segundo piloto e “escada” do espanhol), mas também para que fizesse isso de uma maneira mais discreta, não como no ano passado, quando pediu abertamente a Felipe para que desse passagem a Alonso.

Acontece que a Ferrari começou mal a atual temporada, atrás da Red Bull e da McLaren, e viu-se obrigada a não dar a menor chance a Felipe Massa, concentrando todas as suas atenções em Fernando Alonso. O brasileiro recebe sempre carro inferior ao do espanhol, tanto nas tomadas de tempo quanto nas provas, mas, quando é ameaça ao companheiro de equipe, a Ferrari “erra” nos boxes e faz Alonso passar à sua frente. E o torcedor ou fã desavisado passa a achar que Massa é o novo pé-de-chinelo da F-1. Desconhece que Massa já provou nas pistas ser mais veloz e mais piloto do que Alonso.

E Massa nada pode fazer, a não ser resignar-se e aceitar essa condição de número dois. Se voltar a peitar a Ferrari, corre o risco de deixar a equipe e ter o mesmo destino de Rubinho Barrichello, que não consegue mais equipe competitiva para correr. Como você pode ver, o Brasil não terá mais vez tão cedo na Fórmula 1, outra componente dessa grande farsa em que se tornou a categoria.

Os organizadores, patrocinadores e promotores da Fórmula 1 não podem mais brincar. O Mundial é uma competição essencialmente européia, e a Europa, sabemos todos, está em meio a uma crise que já afetou consideravelmente até o mundo do automobilismo. Qualquer novo prejuízo, por menor que seja, poderá ser fatal para a categoria.

Por isso, neste momento, todos os GPs terão de contar pontos para a conquista do título da temporada e o campeão precisa ser europeu. Só assim a Fórmula 1 continuará prestigiada pelo seu público e não correrá maiores riscos. Se continuasse nessa toada, Vettel vencendo todas, a temporada terminaria umas cinco ou seis corridas antes, e isto seria fatal para a categoria. Abraço a todos.

ERRATA DE MEU ÚLTIMO TEXTO
SOBRE “A SELEÇÃO BURRA DE MANO”

Meu bróder americano John Welch chamou atenção para erro que cometi em meu último texto sobre a “seleção burra de Mano Menezes”. Por favor, leia “empate na estreia com a fraca Venezuela” onde está “empate na estreia com a fraca Bolívia”.


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Mesmo ganhando a
Copa América, seleção
de Mano continuará
burra, se não mudar


Entenda melhor isso. Veja por que a Seleção precisa mudar urgentemente sua forma de jogar, para evitar novo vexame na Copa de 2014. Saiba por que nem dirigentes, técnicos, jogadores e muito menos nossa mídia esportiva conseguem sacar o que realmente está rolando.


Dedicado a Sócrates, meu ídolo no futebol, mas que lamentavelmente continua não dominando essa questão. Em seu texto “Caminhos Escorregadios” (edição número 654 de 13 de julho de 2011 da revista CartaCapital), Sócrates deixa claro que o problema --- do ponto de vista técnico --- estaria na escalação errada, quando na verdade está na forma como a Seleção joga.


Por Tom Capri


A vitória sobre o Equador, por 4 a 2, só mostrou que a Seleção apenas melhorou com a entrada de Maicon e a volta de Robinho. Mas está claro, pelo menos para quem entende de futebol, que o time armado por Mano Menezes, mesmo que venha a ganhar a Copa América, continuará burro, se não mudar sua forma de jogar. E naufragará na Copa de 2014 se insistir nela. O que realmente está pegando? É o sistema-escadinha que fez escola no País (Zagallo, Parreira, Dunga etc.) e, por já ter nascido obsoleto e ultrapassado, continua desde então afundando o futebol brasileiro, como está muito claro nesta Copa América. Isto precisa mudar já.

O que é o sistema-escadinha? (Me perdoe se estou sendo repetitivo, caro leitor, mas sou obrigado: quem mais deveria entender isto --- Mano, CBF, dirigentes, técnicos, jogadores e mídia especializada --- aiiiiiiinda não entendeu, vou ter de repetir aqui mais uma vez para esclarecer em definitivo essa questão). Sistema-escadinha é esse que estamos vendo na seleção de Mano: o time joga de forma escalonada, dividido em escalões (degraus) que são verdadeiros grotões, ou seja, um degrau joga tão distante do outro que a coisa acaba não funcionando, para alegria de adversários bem mais frágeis como Bolívia e Equador. A burrice do “sistema” de Mano está justamente aí. Nenhum time sério atua hoje assim, isto é praticado só no futebol brasileiro.

A Seleção de Mano joga dividida em três escalões/grotões (degraus) que se isolam em campo e não compõem: defesa, meio-campo e ataque. A bola tem de ir de degrau em degrau até chegar àquele que vai finalizar. Atuando assim, com esses três grotões/degraus, os jogadores precisam centuplicar o esforço e trabalhar até com horas extras para fazer a bola passar de um escalão/grotão ao outro (da defesa ao meio-campo ou do meio-campo ao ataque, por exemplo). A canseira é tamanha e as dificuldades de tal ordem que dá até pena dos jogadores, porque eles acabam sendo condenados. Além de extenuante e de culpar injustamente o jogador, osistema-escadinha não funciona.

Só bobinhos não percebem que a equipe fica em total desequilíbrio quando joga assim e que é muito fácil parar um time desses. Basta brecar um dos escalões (principalmente, o da defesa), fazendo a parede na pressão ali, para impedir que a bola chegue aos demais, e, pronto, lá se vai a Seleção para o beleléu, como temos visto há mais de nove anos, principalmente agora na Copa América. Só bobinhos não sacaram ainda que é mais fácil marcar e roubar a bola de um escalão do que do time inteiro, ou seja, é mais difícil roubar a bola daquele time que joga compactado, em que todos defendem, armam e atacam, sem escalões (degraus).

O FUTEBOL MODERNO EXIGE O JOGADOR FAZ-TUDO, AQUELE COMPLETO E VERSÁTIL QUE SABE DESARMAR, ARMAR E FINALIZAR (ATÉ O GOLEIRO! --- VIDE ROGÉRIO CENI). EXIGE TAMBÉM QUE TODOS COMPONHAM O SISTEMA DEFENSIVO, PRINCIPALMENTE O CENTROAVANTE, QUE NEM JOGA MAIS COMO CENTROAVANTE CLÁSSICO, "ENFIADO" COMO O ÚLTIMO ROMÁRIO, DAÍ NÃO FAZER TANTOS GOLS. HOJE, UM DOS PRINCIPAIS PAPÉIS DO CENTROAVANTE É MARCAR SOB PRESSÃO O ADVERSÁRIO NA SAÍDA DE BOLA (FAZER A PAREDE ALI), ROUBAR A BOLA NA INTERMEDIÁRIA, FAZER BEM O PIVÔ, ALÉM DE ESTAR PRESENTE NA HORA CERTA PARA FINALIZAR COM PRECISÃO, POR ISSO PRECISA SER JOVEM E TER MUITO FÔLEGO. FOI COM ESSE FUTEBOL MODERNO QUE O BARCELONA GANHOU O TÍTULO EUROPEU E O SANTOS FOI TRI NA LIBERTADORES (JOGANDO COM ZÉ LOVE LÁ NA FRENTE E NÃO COM UM PATO).  

No jogo contra o Equador, isto ficou muito claro. Nosso grotão da defesa só conta, a rigor, com três jogadores: o goleiro (Júlio César) e a dupla de zaga (Lúcio e Thiago Silva), uma vez que os laterais jogam como ala, avançando intempestivamente e, às vezes, ao mesmo tempo. Como a bola sai dos pés dos três do grotão/defesa, basta marcar o Brasil sob pressão na saída de bola para conseguir anulá-los e, com isso, toda a Seleção. Fácil, né? Ora, nenhuma equipe séria joga hoje por “setores” (grotões). O futebol moderno evita especialistas que só exercem uma ou duas funções. Todos precisam compor, formando um verdadeiro “team” (falo do futebol solidário, o único hoje que dá margem para que o futebol-arte possa aparecer).

Se o time adversário põe três para marcar os nossos três do grotão/defesa, lá se vai por água abaixo toda a eficácia do futebol da Seleção Brasileira. Mesmo que a bola por acaso passe do primeiro grotão (defesa) para o segundo (meio-campo), já chegará “ruim” o suficiente lá na frente para que chegue ainda pior ao terceiro grotão (o do ataque, o escalão que finaliza). Jogando assim, nem mesmo com onze dos 30 melhores do mundo, como tem o Brasil, dá para apresentar bom futebol.

Foi exatamente o que vimos, por exemplo, contra o Equador. A bola sai do primeiro grotão (o da defesa) e já chega “meio ruim” ao segundo grotão (o do meio-campo). E, “meio ruim” assim, a bola vai ainda pior do meio-campo para o último grotão (o do ataque), e aí é aqueeeela dificuldade para finalizar (Robinho e Pato batendo cabeça na área adversária e um estresse danado no ataque brasileiro para chegar ao gol). Isto porque, sem grotões, o time adversário defende-se com onze (vide o Equador), ao contrário do Brasil, e só se for mesmo muuuuuito ruim não impõe dificuldades à Seleção.

E o espetáculo grotesco não termina aí. Quando o adversário contra-ataca, só encontra geralmente três defensores pela frente (o goleiro Júlio César e a dupla de zaga com Lúcio e Thiago Silva), ou seja, encontra um time extremamente vulnerável em que quase todos atacam sem critérios e poucos defendem. Aí, fica fácil fazer gol no Brasil. E o que ouvimos da mídia especializada, na sua leitura rasa e superficial, é que Júlio César tomou até frango que não podia tomar, Lúcio e Thiago Silva não foram bem, alas como Daniel Alves e André Santos pareciam principiantes, e por aí vai, como se a culpa fosse dos jogadores. Não sobrou um que não ouviu críticas, entre os convocados que já jogaram.

Na verdade, ninguém joga direito num time desses, nem mesmo se tiver onze Pelés. Nos três primeiros jogos da Seleção, foi o que ouvimos da mídia esportiva. Ninguém do grotão/defesa está bem (“Júlio César não é mais aquele”, diz a mídia). Ninguém do grotão/meio-campo e armação está bem (“Ganso não tem jogado nada”, diz também a mídia). E ninguém do grotão/ataque está bem (“Pato nunca foi craque, não se pode exigir isto dele, e Robinho têm sérios problemas de pontaria”, continua a mídia). A culpa recai sempre sobre as individualidades que, vale repetir, são as melhores do mundo, mas “desaprenderam a jogar”, insinua nossa crônica esportiva.

Só as arrancadas perigosas de Maicon e a incomparável habilidade do jogador brasileiro, ainda o melhor do mundo, repito, foram capazes de superar essa enorme deficiência da Seleção (o seu futebol-escadinha), e ainda assim contra o Equador, o time mais fraco da fraca chave em que caíra o Brasil. Sinopse do velho filme: lamentavelmente, a Seleção conta com os melhores jogadores do mundo, mas não com a inteligência para fazê-los jogar de forma decente, só dessa forma burra à la Mano (e que, sempre é bom repetir, vem da escola de Zagallo, Parreira e, mais recentemente, Dunga). A Seleção precisa de um técnico sério, competente e atualizado. Como não temos um assim, a solução é chamar alguém de fora para a Copa de 2014.

Do lado do Equador --- um time muito fraco, vale repetir ---, o que vimos foi o oposto. O Equador defende-se com onze, e contra o Brasil atacou bastante porque osistema-escadinha da Seleção deixa sempre um vale aberto para fácil avanço do adversário. Como a Seleção só finaliza com seu grotão de atacantes e, quando muito, com os alas, fica muito fácil pará-la com onze defendendo.

Só o mágico futebol de nossos jogadores é capaz de furar esse bloqueio, como vimos acontecer contra o Equador. Mas, é bom não esquecer, foi contra o Equador. Quero ver furar esse bloqueio na Copa de 2014 contra uma Espanha, uma Alemanha, uma Holanda. Se não der um fim a esse sistema-escadinha burro de Mano (esse 4-3-3 escalafobético que já caiu em desuso há décadas) --- os europeus dão risada dessa nossa maneira de jogar ---, com certeza teremos outro Maracanaço em 2014. Voltamos a jogar aquele futebol alegre que nunca desconcerta dos anos 50, para alegria dos adversários.

E não é isso o que mais preocupa no momento. É a incapacidade de enxergar o problema, da parte de todos os agentes do futebol brasileiro, do dirigente ao jogador, passando por nossa pobre mídia esportiva, de Daniel Piza a PVC. Aí reside a verdadeira tragédia. Abraço a todos.


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TOM CAPRI - ESQUEMAS E SISTEMAS

PVC tem razão em me chamar
de ignorante, mas continua
sem entender. Se tirar Robinho,
Mano pode acelerar sua queda.

Por Tom Capri

Paulo Vinícius Coelho (PVC) me chama com razão de ignorante, por eu usar incorretamente a palavra “esquema” em meus comentários sobre futebol, quando o certo é “sistema”. Aceito a crítica, pois é correta, e já corrigi aquele meu último texto “Seleção de Mano é burra” (veja mais adiante). Troquei “esquema” por “sistema”. Porém, reitero: PVC e toda a Geni-Press, a ala mais medíocre de nossa crônica esportiva, continua sem entender o que se passa na Seleção, o que é muito triste. Ontem, o técnico Mano Menezes acenou com mudanças por causa do empate com a Venezuela. Deve tirar Robinho, para a entrada de Elano ou Lucas (São Paulo). Se o fizer, estará abrindo caminho para se despedir mais rapidamente da Seleção.

Leituras superficiais, como a de Juca Kfouri, entenderam que Robinho jogou muito mal. E que deve mesmo sair. Leitura mais apurada percebeu que Robinho foi o melhor em campo. Foi também o que mais lutou e se empenhou. Além de tudo, seguiu à risca as ordens de Mano, de jogar no sacrifício, muito mais na marcação e na armação, o que lhe reduz consideravelmente as chances de fazer gol.

Sim, Robinho tem problemas de pontaria, mas continua essencial à Seleção. É um dos raros atacantes modernos do futebol brasileiro: sabe desarmar, armar e finalizar, é completo, goleador e muito habilidoso, além de disciplinado. É um erro tirá-lo. Mesmo que o time venha a funcionar sem ele na Copa América e ele deixe a Seleção para sempre, fritado como está sendo, Robinho faria muita falta na Copa de 2014.

O que é preciso entender é que o problema não está em nenhum jogador e que a Seleção pode até continuar jogando com Pato, mas como centroavante moderno que “faz tudo” em campo. O problema está, sim, é no burro sistema-escadinha em que se viciou o futebol brasileiro, esse originário da escola de Zagallo (técnico), Parreira, Dunga e agora Mano.

Tal sistema consiste no seguinte: cada jogador recebe um papel pré-determinado, ou seja, o adversário já sabe o que cada um vai fazer em campo. Não há mistério: a bola sai do goleiro, passa pelos pés do time inteiro até chegar àquele designado para finalizar e que estará plantado lá na frente (como Pato), à espera da bola. Não é preciso explicar por que esse sistema é pra lá de burro: basta o adversário não deixar a bola chegar aos atacantes, como fez muito bem a Venezuela, e o falido sistema-escadinha vai por água abaixo.

Time sério que quer conquistar títulos não pode mais jogar assim. O Barcelona foi campeão europeu sem a escadinha e sem um “Pato Fixo” lá na frente. O Santos tricampeão da Libertadores também conquistou o título, pasme, com Zé Love lá na frente e não com um “Pato Fixo”, e também sem a superada escadinha.

Recebi uma enxurrada de mensagens em resposta ao meu texto “Seleção de Mano é burra”, a maioria elogiando. Muitas foram também as críticas, e duas chamaram mais a minha atenção. Essa de PVC, muito apropriada, e a de leitores e amigos dizendo que me torno “muito corintiano” e me perco na agressividade quando me dirijo a comentaristas esportivos colegas de profissão. Também considero esta crítica correta, prometo rever a questão. Começo explicando o porquê desta minha agressividade.

Há mais de 20 anos, venho tentando demonstrar o que sempre foi óbvio para cronistas esportivos sérios: a caducidade desse sistema-escadinha, e nada de isso entrar na cabeça de alguns colegas, o que chega a ser irritante. Já cheguei a visitar alguns deles, como Daniel Piza e PVC. Com PVC, conversei durante hora e meia na padaria Real do Sumaré (próxima à ESPN) e, no final do papo, ouvi o seguinte: “Essa é uma opinião sua, Tom, o que você afirma não bate com a realidade”.

Além disso, escrevi dois livros que demonstram com clareza a caducidade dosistema-escadinha, dei de presente a esses jornalistas, disseram que leram, e nada de entender. Passados todos esses anos, e por essas e outras tantas, não tive como não chamar essa ala de nossa mídia esportiva de Geni-Press (até porque merece que se jogue muita bosta nela). Foi quando adotei esse tratamento de choque, tornando-me “corintiano em demasia”, como dizem, uma vez que não vi outro jeito de a coisa entrar na cabeça dessa gente. Ainda assim, vejo que essa minha agressividade pode ser injustificada e a crítica válida. Prometo refletir mais a respeito e me corrigir, se entender que assim devo proceder.

Aí vai nova versão de meu comentário enviado sobre o fiasco na estreia da Seleção contra a Venezuela, já com a correção sugerida acertadamente por PVC e, de novo, com minhas respostas (em vermelho) às análises feitas sobre o jogo por Juca Kfouri, Antero Greco, Benjamin Back, Eduardo Tironi, Martin Fernandez, Sérgio Rangel, Silvio Barsetti, Paulo Galdieri e Luiz Antônio Prósperi.

Pela zilhonésima vez:
seleção de Mano é burra.
Se não mudar, não se
classifica, e técnico cai
já nesta Copa América.

Veja por que a seleção de Mano é burra e como essa burrice, hoje respaldada integralmente pela nossa Geni-Press, a parcela mais medíocre de nossa crônica esportiva, está afundando o nosso futebol.


Dedicado a Mário Novello, torcedor do Fluminense e o mais importante cientista da atualidade, e ao botafoguense (como eu) Sérgio Augusto, um dos raros articulistas sérios e de peso de nosso jornalismo. Os dois estão entre os poucos que entendem de futebol mais do que nossa Geni-Press.


Por Tom Capri


Infelizmente, sou obrigado a repetir pela zilhonésima vez: o sistema de Mano Menezes é burro. E o adotado ontem, no 0 a 0 contra a Venezuela, foi mais burro ainda. (E, por favor, entenda por “sistema” esse escadinha típico do futebol brasileiro usado ontem por Mano e que vem da escola de Zagallo, Parreira e Dunga. Não faça como PVC, que entendeu tudo errado e achou que eu estava me referindo a sistemas táticos como o 4-3-3 etc.). O já gasto e surrado sistema-escadinha usado ontem superou em ingenuidade todos os anteriores, incluindo as sofríveis escadinhas das eras de Zagallo, Parreira e Dunga, que jogavam dessa mesma forma burra, só que com pequenas variações, um pouco mais inteligentes. Ou seja, Mano Menezes continua irritando demais a torcida brasileira, que já o está vaiando e já, já, vai começar a chamá-lo de burro. Está claro que, se o Brasil não mudar essa coisa de jogar com time-escadinha (o centroavante enfiado lá na frente esperando a bola sair do goleiro, passar pelos pés do time inteiro e chegar ao primeiro atacante), não nos classificaremos, Mano não levará a Copa América e vai se despedir rapidinho da Seleção. Ou, pior, se Mano continuar com esse futebol raso e pobre a ponto de levá-lo para a Copa de 2014, assistiremos a novo vexame tão triste quanto o Maracanaço de 1950.

sistema-escadinha adotado no jogo de ontem é o mesmo em que o futebol brasileiro já tanto se viciou, desde que passou a ser comandado por Zagallo, depois outros, Parreira, Dunga e agora Mano. E só comprova que Mano, a exemplo da parcela mais medíocre de nossa mídia esportiva (a Geni-Press), não entendeu ainda o futebol moderno.

Todos os times sérios que estão ganhando títulos com o futebol-arte, como Santos e Barcelona, não praticam mais esse futebol-escadinha. Apesar disso, a maioria de nossos comentaristas esportivos, que por sinal compõe a parcela mais medíocre de nossa crônica esportiva (a cega Geni-Press), apóia esse sistema-escadinha ultrapassado, de Daniel Piza a PVC. E, ao que tudo indica, não nos livraremos disso nem deles tão cedo, pois ainda não perceberam que se trata de algo que envelheceu e morreu.

Especialmente ontem, Mano teve a coragem de escalar dois centroavantes para jogarem “enfiados”, o que ultrapassa todos os limites do bom senso e é BURRO EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA!!!

Como é que um técnico de seleção não sabe disso? Que nossa Geni-Press não saiba, vá lá. A Geni-Press sempre foi pobre de espírito, está eivada de intelectuerdas que não entendem nada do babado. Mas um técnico de seleção?

No meio da semana, Daniel Piza, do Estadão, chegou a dizer que essa poderá ser a formação ideal da Seleção para a Copa de 2014, com Pato lá na frente. Durante a transmissão do empate em 0 a 0 com a Venezuela, Galvão Bueno, da Globo, também deixou claro que o Brasil tem esperança de que “esse venha a ser o time”. Mas aos poucos todos foram se decepcionando.

E Casagrande fechou seus comentários com chave de ouro, ao eleger Pato --- que foi “menos um” o tempo inteiro, não fez nada senão esperar a bola para finalizar --- o melhor do jogo. Mesmo que tivesse feito gol com aquela bola na trave, o Brasil teria jogado errado!!! É claro que Pato não foi o pior do time. Fez o que tinha de fazer, obedeceu a tudo o que Mano pediu que fizesse e não foi mal. O problema foi escalá-lo no sistema-escadinha, Pato lá na frente à espera da bola. É muito burro isso!!! 

Como é que pode? Mano Menezes já está totalmente perdido, e mal a Copa América começou! Convocou errado (ao chamar especialistas como Fred etc.), tem escalado mal e substituído muuuuuito mal. E além de tudo adotou a escadinha como palavra de ordem!!! Essa coisa velha que está afundando o nosso futebol, com o apoio da Geni-Press!!!

Ah, mas a Argentina, Bolívia, Equador e Paraguai também estrearam com empates, e a Argentina quase perdeu o primeiro jogo, dirão os bobinhos. E daí? Isso só vai fazer a Argentina crescer, para se classificar, ao contrário do Brasil, se não mudar sua forma de jogar. Como ninguém na Seleção (e também na Geni-Press) consegue enxergar onde está o problema --- a tristeescadinha ---, o empate contra a Venezuela não vai servir para nada, talvez para nos afundar ainda mais, se nada mudar na Seleção.

Você acha que Mano vai agora adotar a forma de jogar do Barcelona e do Santos e passar a jogar sem atacantes enfiados? Será que Mano terá esse alcance? É acreditar demais no técnico. O mais provável é Mano entrar agora com Lucas (do São Paulo), mantendo o mesmo time-escadinha com Pato ou Fred lá na frente. Mais sofrimento, até o time não se classificar, meu amigo. Até porque Mano já fez isso com Lucas nos últimos amistosos e também não deu certo. Temos de aceitar tanta cegueira?

O mais impressionante é que a Geni-Press, essa pobre de Daniel Piza e PVC, nunca consegue enxergar isso. É tão óbvio que o futebol do Brasil praticado contra a Venezuela foi burrinho, e nada de nossa mídia sacar. Todos ignoram, do goleiro ao centroavante, passando pelos técnicos, dirigentes, jogadores e, INFELIZMENTE, pela nossa infeliz Geni-Press.

Sabiamente, a Venezuela marcou o Brasil sob pressão, na saída de bola da Seleção. Pato plantado lá na frente, à espera. E nada de a bola chegar fácil até ele. E olhe que entramos em campo com onze dos 30 melhores jogadores do mundo! Será que não temos, mesmo, inteligência para fazer que os melhores do mundo entrem em campo e joguem bola? Até quando vamos ter de aguentar a escadinha Zagallo-Parreira-Dunga-Mano?

ATENÇÃO, GENI-PRESS, DIRIGENTES, TÉCNICOS, JOGADORES, MANO MENEZES, DANIEL PIZA, PVC E TODOS AQUELES QUE COMPACTUAM COM ESSA FORMA BURRA DE JOGAR DA SELEÇÃO: NÃO SE JOGA MAIS ASSIMEM LUGAR NENHUM DO PLANETA, A NÃO SER NO BRASIL!!! ESSE SISTEMA ESTÁ ULTRAPASSADO E VAI CONTINUAR NOS LEVANDO A PERDAS DE TÍTULOS, COMO TEM ACONTECIDO COM FREQUÊNCIA!!! JOGAR COM ATACANTES ENFIADOS À ESPERA DA BOLA É TORNAR O TIME NÃO SÓ VULNERÁVEL, MAS DIFICULTAR AINDA MAIS O TRABALHO DE DESARME E DE ARMAÇÃO PARA AS FINALIZAÇÕES. MIREM-SE NOS EXEMPLOS DO BARCELONA E DO SANTOS TRICAMPEÃO DA LIBERTADORES. É MELHOR JOGAR COM ZÉ LOVE COMO CENTROAVANTE DO QUE COM PATO OU, MAIS AINDA, DO QUE COM FRED!!! A SOLUÇÃO PODE ESTAR ENTRE OS CONVOCADOS. BASTA TIRAR PATO E ENTRAR COM LUCAS (SÃO PAULO) NO LUGAR, ESTE COM A MISSÃO DE TAMBÉM AJUDAR (FORTEMENTE) NA MARCAÇÃO E NA ARMAÇÃO, DEIXANDO NEYMAR E ROBINHO MAIS NA FRENTE. PELO MENOS, ASSIM, O TIME VAI MELHORAR, JOGAR FÁCIL, MAIS SOLTO. MAS NUNCA QUE MANO VAI ABRIR MÃO DO CENTROAVANTE “ENFIADO”. COM CERTEZA, VAI ESPERAR ATÉ SER ELIMINADO E PERDER O EMPREGO.

Li todos os jornais de São Paulo, edição de hoje, segunda-feira. Veja as pérolas que eles divulgaram a respeito do empate com a Venezuela, seguidas de meus comentários.

PVC, do Estadão e da ESPN – “Neymar preso do lado esquerdo, Ganso por dentro e Robinho pela direita não se aproximavam de Pato, não apareciam para tocar e receber na frente.” Comento: não se aproximavam porque osistema-escadinha, com Pato lá na frente à espera, é burro, como já expliquei à exaustão. Não se deve nem se pode mais jogar com alguém lá na frente à espera da bola, ele será sempre menos um nos sistemas defensivo e de armação, por mais que ajude o time a marcar e armar, como fez Pato ontem.

Antero Greco, do Estadão – “O sistema defensivo funcionou... característica de Mano, bom de amarrar o jogo, com Júlio César, Lúcio e Thiago Silva seguros, André Santos apoiando bem por meia hora, Daniel Alves descendo pouco ao ataque...” Comento: no futebol moderno, que foge desse sistema-escadinha de Mano, o sistema defensivo é composto por todos os jogadores do time, inclusive pelo centroavante. É velho isso de separar um time por setores. Time que atua assim, em degraus-escadinha como o de Mano, se dá mal. Além disso, nunca vi os defensores da Seleção atacarem tanto quanto ontem, quando até Thiago Silva foi visto tentando finalizar. Daniel Alves não fez outra coisa senão “descer para o ataque”, deixando muitas vezes a lateral descoberta (se não teve sucesso, isto é outra coisa). Não fosse Thiago Silva para dar cobertura...

Paulo Galdieri e Sílvio Barsetti, do Estadão e do JT – “A esperada condução de Paulo Henrique Ganso não aconteceu. Os aguardados dribles desconcertantes de Neymar não foram vistos. E as arrancadas de Robinho e as conclusões precisas de Pato passaram longe do gramado...” Comento: errado, tivemos, sim, a esperada condução de Ganso, os aguardados dribles de Neymar, as arrancadas de Robinho e as conclusões precisas de Pato. O que aconteceu foi que nada disso funcionou porque o sistema-escadinha de Mano é burro e dificulta tudo para o time, impedindo que isso dê certo. Se você joga com alguém fixo lá na frente na espera e precisa levar a bola até ele, é óbvio que vai ter de redobrar os esforços para conseguir finalizar, se o adversário se fecha. É muito burra essa tarefa de ter de conduzir a bola até o finalizador, para ele finalizar. É trabalho excessivo, desgastante e inútil que o futebol moderno e inteligente já dispensa (vide Muricy no Santos tricampeão da Libertadores, que joga com Zé Love como falso centroavante). É mais inteligente todos jogarem para conduzir a bola o mais rápido possível ao gol, como faz o Barça habitualmente e esse Santos de hoje. Repito: OFUTEBOL-ESCADINHA É BURRO!!! (ACORDE, GENI-PRESS!!!).

Juca Kfouri, Folha – “A mulher Marta brilhou muito mais que os meninos de Mano Menezes, para não falar do mau desempenho de Ramires e Robinho.”Comento: errado, os meninos de Mano brilharam mais do que Marta. Todos se esforçaram, senti esmero e dedicação, principalmente de Ramires e Robinho, os dois melhores em campo. Repito, OS DOIS MELHORES EM CAMPO, AINDA QUE TENHAM ERRADO MUITOS PASSES. Vi muito brilho individual, uma luta incessante para chegar à vitória, principalmente de Robinho e Ramires. Faltou, sim, foi brilho em Mano Menezes. Com essesistema-escadinha de Mano, nem onze Pelés jogam direito, no futebol de hoje, em que não cabe mais um Coutinho. Aí, os erros de passe abundam, o futebol-arte-eficiente desaparece.

Martin Fernandez e Sérgio Rangel, da Folha – “A seleção passou a jogar de uma maneira inédita, com uma formação jamais treinada ou testada em amistosos: com dois centroavantes. Com frequência, Pato e Fred ocupavam o mesmo espaço no ataque. A Venezuela criava as melhores chances.”Comento: nada de errado aí, a não ser a formação com dois centroavantes nunca ter sido testada antes. Já foi testada amplamente na história da Seleção e jamais deu certo, por ser tão burra quanto o futebol-escadinha de Mano. Essa formação só não foi testada por Mano, e não precisava: já está cientificamente provado que jogar com dois centroavantes é BURRO EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA, IMAGINE ONTEM CONTRA A VENEZUELA, EM QUE PATO E FRED BATERAM CABEÇAS NO ATAQUE E DEIXARAM ABERTO AQUELE VALE PELO QUAL A VENEZUELA QUASE CHEGOU LÁ.

Eduardo Tironi, do Lance – “O risco que começa a aparecer é o de Mano Menezes abrir mão de um time ofensivo por conta do resultado adverso contra a Venezuela. Há tempo para testes, para o time se entrosar e o sistema vingar. O maior prejuízo do empate de ontem é crucificar de maneira precoce a tendência ofensiva deste Brasil”. Comento: concordo, a Seleção não pode deixar de ser ofensiva por conta do empate de ontem. Precisa continuar jogando ofensivamente, sim, MAS de forma inteligente, sem a formação-escadinha em que se meteu Mano. Se continuar assim, vai ser trabalho redobrado, muita luta pra nada, como já vimos aqui à exaustão.

Benjamin Back, do Lance – “Lucas Leiva como titular de uma Seleção Brasileira é algo um tanto quanto questionável, e em termos de passes errados talvez só tenha perdido mesmo para o Daniel Alves. Ramires também nada fez. Ganso foi um jogador burocrático e sem criatividade. Já Robinho se tornou um jogador comum há muito tempo, vive de uma ou outra jogada aqui e acolá e está na Seleção apenas pelo seu nome.” Comento: mais uma análise de quem se limita a atuações individuais e não enxerga o todo. O mais errado no caso é Mano, com seu futebol-escadinha. Robinho foi o melhor do time, seguido do chato Ramires. Benjamin Back acerta quando diz que “Mano Meneses até o momento não conseguiu fazer essa Seleção jogar bola, e olhe que material humano não lhe falta”. Mas erra quando tenta identificar os erros, que estão justamente no burro futebol-escadinha do treinador e não nas atuações individuais.

Luiz Antônio Prosperi, do JT – “O problema de Mano não é apenas armar o quarteto ofensivo com Ganso, Robinho, Pato e Neymar. Os quatro precisam de companhia. Aí a responsabilidade cai sobre os volantes. Lucas Leiva é um anotador de recados, nunca o redator do jogo. Ramires não é de pensar, é de correr. Se os volantes não ajudam Ganso a fazer a bola circular, como Xavi e Iniesta no Barcelona, a engrenagem fica comprometida”. Comento: outra análise que não contempla o todo, apenas as partes, e equivocadamente. Preciso repetir, o problema não está nos quatro atacantes nem nos volantes, mas sim na formação com o tal do quarteto mágico em que Pato joga apenas para finalizar, “enfiado” lá na frente. Isto sobrecarrega o meio-campo, e aí Lucas Leiva vira apenas um “anotador de recados” e Ramires um chato que deixa de pensar, caindo naquela afobação que vimos ontem. Xavi e Iniesta fazem a bola circular no Barça porque não têm um Pato esperando a bola lá na frente, esse “um a menos” que cria todas as dificuldades que a Seleção agora enfrenta. Pato até pode continuar jogando na Seleção, mas não nessa função burra. E, se for para mantê-lo, mas exercendo a função do centroavante moderno que joga mais atrás da bola do que na frente, é melhor sacá-lo do time e escalar um Lucas (São Paulo) ou até mesmo um Zé Love.

Abraços a todos. 


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Seleção de Mano é burra como a nossa Geni-Press

Pela zilhonésima vez:

seleção de Mano é burra.

Se não mudar, não se

classifica, e técnico cai

já nesta Copa América.



Veja por que a seleção de Mano é burra e como essa burrice, hoje respaldada integralmente pela nossa Geni-Press, a parcela mais medíocre de nossa crônica esportiva, está afundando o nosso futebol.

Dedicado a Mário Novello, torcedor do Fluminense e o mais importante cientista da atualidade, e ao botafoguense (como eu) Sérgio Augusto, um dos raros articulistas sérios e de peso de nosso jornalismo. Os dois estão entre os poucos que entendem de futebol mais do que nossa Geni-Press.

Por Tom Capri

Infelizmente, sou obrigado a repetir pela zilhonésima vez: o esquema de Mano Menezes é burro. E o adotado hoje, no 0 a 0 contra a Venezuela, foi mais burro ainda. Superou em ingenuidade todos os anteriores, incluindo os sofríveis das eras de Zagallo, Parreira e Dunga, que jogavam dessa mesma forma burra, só que com pequenas variações, um pouco mais inteligentes. Ou seja, Mano Menezes continua irritando demais a torcida brasileira, que já, já, vai começar a chamá-lo de burro. Está claro que, se o Brasil não mudar essa coisa de jogar com time-escadinha (o centroavante enfiado lá na frente esperando a bola sair do goleiro, passar pelos pés do time inteiro e chegar ao primeiro atacante), não nos classificaremos, Mano não levará a Copa América e vai se despedir rapidinho da Seleção. Ou, pior, se Mano continuar com esse futebol raso e pobre a ponto de levá-lo para a Copa de 2014, assistiremos a novo vexame tão triste quanto o de 1950.

O esquema adotado no jogo de hoje é o mesmo em que o futebol brasileiro já tanto se viciou, desde que passou a ser comandado por Zagallo, depois Parreira, Dunga e agora Mano. E só comprova que Mano, a exemplo da parcela mais medíocre de nossa mídia esportiva (a Geni-Press), não entendeu ainda o futebol moderno.

Todos os times sérios que estão ganhando títulos com o futebol-arte, como Santos e Barcelona, não praticam mais há décadas esse futebol-escadinha. Apesar disso, a maioria de nossos cronistas esportivos, que por sinal compõe a parcela mais medíocre deles (a cega Geni-Press), apóia esse esquema ultrapassado, de Daniel Piza a PVC. E, ao que tudo indica, não nos livraremos disso nem deles tão cedo.

Especialmente hoje, Mano teve a coragem de escalar dois centroavantes para jogarem “enfiados”, o que ultrapassa todos os limites do bom senso e é BURRO EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA!!! Como é que um técnico de seleção não sabe disso? Que nossa mídia não saiba, ainda vá lá. A Geni-Press sempre foi pobre de espírito, está eivada de intelectuerdas que não entendem nada do babado. Mas um técnico de seleção?

No meio da semana, Daniel Piza, do Estadão, chegou a dizer que essa poderá ser a formação ideal da Seleção para a Copa de 2014, com Pato lá na frente. Durante a transmissão do empate em 0 a 0 com a Venezuela, Galvão Bueno, da Globo, também deixou claro que o Brasil tem esperança de que “esse venha a ser o time”, mas aos poucos foi se decepcionando. E Casagrande fechou seus comentários com chave de ouro, ao eleger Pato --- que foi “menos um” o tempo inteiro, não fez nada senão esperar a bola para finalizar --- o melhor do jogo. Mesmo que tivesse feito gol com aquela bola na trave, o Brasil teria jogado errado!!!

Como é que pode isso? Mano Menezes já está totalmente perdido, e mal a Copa América começou! Convocou errado (ao chamar especialistas como Fred etc.), tem escalado mal e substituído muuuuuito mal.

Ah, mas a Argentina também estreou com um empate contra a Bolívia e quase perdeu o jogo, dirão os bobinhos. E daí? Isso só vai fazer a Argentina crescer, para se classificar, ao contrário do Brasil. Como ninguém na Seleção (e também na Geni-Press) consegue enxergar onde está o problema, o empate contra a Venezuela não vai servir para nada, talvez para nos afundar ainda mais, se nada mudar na Seleção.

Você acha que Mano vai agora adotar o esquema do Barcelona e do Santos e passar a jogar sem atacantes e centroavante enfiado? Será que Mano terá esse alcance? É acreditar demais no técnico. O mais provável é Mano entrar agora com Lucas, mantendo o mesmo time-escadinha com Pato ou Fred lá na frente. Mais sofrimento, até o time não se classificar, meu amigo. Até porque Mano já fez isso com Lucas nos últimos amistosos e também não deu certo. Como aceitar tanta cegueira?

O mais impressionante é que a Geni-Press nunca consegue enxergar isso. É tão óbvio que o futebol do Brasil praticado hoje contra a Venezuela foi burrinho, e nada de nossa mídia sacar. Todos ignoram, do goleiro ao centroavante, passando pelos técnicos, dirigentes, jogadores e, INFELIZMENTE, pela nossa infeliz Geni-Press.

Sabiamente, a Venezuela marcou o Brasil sob pressão, na saída de bola da Seleção. Pato plantado lá na frente, à espera. E nada de a bola chegar fácil até ele. E olhe que entramos em campo com onze dos 30 melhores jogadores do mundo! Será que não temos, mesmo, inteligência para fazer que os melhores do mundo entrem em campo e joguem bola?

ATENÇÃO, GENI-PRESS, DIRIGENTES, TÉCNICOS, JOGADORES, MANO MENEZES, DANIEL PIZA, PVC E TODOS AQUELES QUE COMPACTUAM COM ESSA FORMA BURRA DE JOGAR DA SELEÇÃO: NÃO SE JOGA MAIS ASSIM EM LUGAR NENHUM DO PLANETA, A NÃO SER NO BRASIL!!! ESSE ESQUEMA ESTÁ ULTRAPASSADO E VAI CONTINUAR NOS LEVANDO A PERDAS DE TÍTULOS, COMO TEM ACONTECIDO COM FREQUÊNCIA!!! JOGAR COM ATACANTES ENFIADOS À ESPERA DA BOLA É TORNAR O TIME NÃO SÓ VULNERÁVEL, MAS DIFICULTAR AINDA MAIS O TRABALHO DE DESARME E DE ARMAÇÃO PARA AS FINALIZAÇÕES. MIREM-SE NOS EXEMPLOS DO BARCELONA E DO SANTOS TRICAMPEÃO DA LIBERTADORES. É MELHOR JOGAR COM ZÉ LOVE COMO CENTROAVANTE DO QUE COM PATO OU MAIS AINDA DO QUE COM FRED!!! A SOLUÇÃO PODE ESTAR ENTRE OS CONVOCADOS. BASTA TIRAR PATO E ENTRAR COM LUCAS NO LUGAR, ESTE COM A MISSÃO DE TAMBÉM AJUDAR (FORTEMENTE) NA MARCAÇÃO E NA ARMAÇÃO. PELO MENOS, ASSIM, O TIME VAI MELHORAR, JOGAR FÁCIL, MAIS SOLTO. MAS NUNCA QUE MANO VAI ABRIR MÃO DO CENTROAVANTE “ENFIADO”. COM CERTEZA, VAI ESPERAR ATÉ SER ELIMINADO E PERDER O EMPREGO. Abraços a todos.
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30.06.2.011




Afundada no preconceito,
Europa não quer mais
saber do imigrante

Crítica à equivocada
visão do articulista
Luiz Felipe Pondé,
da Folha de S. Paulo

Da série “Pergunte ao Sérgio (Augusto)”, a quem dedico este texto.

Por Tom Capri

A mediocridade e o pensamento raso e tosco do cronista Luiz Felipe Pondé, da Folha de S. Paulo, sempre gritam em qualquer artigo que ele escreve. Mas nesse em especial, sobre perseguição a imigrantes na Europa, intitulado "Não existe almoço de graça" (Folha de 27/6), Pondé estratifica e solidifica, mais do que seu grito racista e preconceituoso, uma total ignorância a respeito da humanidade (veja o texto dele mais adiante).

Paris é hoje o que é, aquela bela cidade das luzes e de festas tão majestosamente retratada por Woody Allen em Meia noite em Paris, por causa da colonização e suas atrocidades. O processo colonizador foi inaugurado pela monarquia e atravessou boa parte da nova era do capitalismo e da democracia (a pior das ditaduras) que Napoleão tanto quis disseminar pela Europa, a ponto de encantar Hegel e Beethoven, quando invadiu a Prússia.

A Bélgica, que promoveu a colonização mais sanguinária da Europa, também enriqueceu sugando e devastando a África. E assassinando. Depois, o país passou a depender do imigrante legal e ilegal. Não fosse o imigrante, sobretudo o ilegal, a Europa nem existiria mais, a não ser como continente mergulhado no atraso e na miséria, sem nenhuma perspectiva de avanço.

A colonização foi responsável pelo maior holocausto de que se tem notícia na história da humanidade, reinventando a escravidão. Milhões de africanos dizimados, se não diretamente, pela fome e pela miséria, um verdadeiro banho de sangue que envergonha a espécie humana. Agora que está em crise, à beira de colapso que pode levá-la a nova hecatombe, a Europa quer banir os imigrantes do Continente, como boa capitalista que é: chupa a laranja até não dar mais e depois joga o bagaço fora, como dizia Arthur Miller. E agora persegue o imigrante impiedosamente, com apoio incondicional de todos os europeus "legítimos" e “donos” da casa.

Hoje, candidato que simpatiza com imigrante e quer acolhê-lo não se elege nem se reelege. Vide a ação de Sarkozy etc. E lá vem Pondé com sua carga racista e preconceituosa, dizendo que “não existe almoço de graça”, título desse novo artigo dele (veja abaixo). É claro que não existe almoço de graça. Mas o imigrante ilegal já pagou por esse almoço muuuuuuuuuuito mais do que ele vale.

Mil almoços por ano a cada imigrante ilegal não pagam pela construção dessa maravilhosa Europa hoje falida, só bela e soberba assim a custas da colonização e da presença do imigrante (legal ou ilegal). Vaia para Pondé, mais vaia ainda para essa sua ignorância nefasta e reacionária.

O novo artigo de Pondé tem tons fortemente nazi-fascistas, de quem não é só burrinho, mas também sofre de humanofobia (numa hora destas?).

Pondé ainda está em Kant e Kierkegaard, e bastante estacionado em Sartre. Em outro artigo também recente, sobre Kierkegaard, de quem se diz grande admirador, Ponde escreve, evocando o existencialismo: “Tudo o que constitui nossa vida em termos de significado (a essência) é precedido pelo fato que existimos sem nenhum sentido a priori. Como as pedras, existimos apenas. A diferença é que vivemos essa falta de sentido como "condenação à liberdade", justamente por sabermos que somos um nada que fala. A liberdade está enraizada tanto na indiferença da pedra, que nos banha a todos, quanto no infinito do nosso espírito diante de um Deus que não precisa de nós.”

Há mais de 50 anos, esse discurso existencialista já está mais do que superado, não sobrou pedra sobre pedra. Será que Pondé não lê, não sabe disso?

No final do artigo sobre a presença indesejável do imigrante na Europa, Pondé pergunta:  "O que você pensaria disso? Você aceitaria sustentar pessoas que se mudam para a sua casa a fim de lá viver às suas custas?"

Respondo a Pondé: "Eu seria obrigado a aceitar sustentar pessoas que se mudarem para minha casa, a fim de lá viver a minhas custas, se elas tivessem construído essa minha casa à força, como escravos ou imigrantes ilegais jamais devidamente remunerados por isso".

É muito fácil construir uma Paris que é só festa a custas do trabalho escravo ou semiescravo nas colônias (África, Haiti etc.) ou do roubo de força de trabalho do imigrante (mais-valia), como de fato aconteceu na capital francesa. Pondé, o almoço já não está pago?

A seguir, o artigo de Pondé (Folha, 27/6), para você conferir. Abraço a todos.


Não existe almoço de graça

LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE S. PAULO - 27/6/11

A EUROPA ESTÁ em chamas pelo medo da dissolução da União Européia. No Brasil, os defensores dos direitos dos imigrantes ilegais na Europa ainda se aferram à imagem adolescente de que o continente deve receber "todo mundo", numa conta infinita a ser paga pela colonização.

Não existe almoço de graça, mas tem muita gente, que normalmente não paga o almoço, que não sabe disso ou finge que não sabe.

A atitude é adolescente porque essa gente que grita contra a "direita" européia (que cresce à medida que os países vão falindo) não pagaria um sanduíche para um estranho, mas acha que os europeus devem pagar comida, casa, hospital e escola até para os ilegais. A recusa em entender isso só piora as coisas.

O que me assusta é como gente grande pode ter sido contaminada por tamanha infantilidade em termos de análise política e social. O filósofo da vaidade, Rousseau (século 18), assim chamado por Burke (também do século 18), crítico dele e da revolução francesa, é muito responsável por esse absurdo, além do velho Marx.

"Bleeding hearts" é como são chamados pelos conservadores americanos esses teenagers da política.

O problema de países como Portugal, Espanha e Grécia é que não se pode ganhar como eles e gastar como franceses e alemães. Uma hora a casa cai.

Recentemente, conversando com um médico brasileiro que ficou um mês trabalhando num hospital importante em Bruxelas, especializado em câncer, fiquei sabendo dos absurdos do sistema de saúde da Bélgica.

A Bélgica deverá acabar em breve por conta do impasse de ser um país que reúne flamengos (etnicamente próximos dos holandeses) e belgas franceses e por isso não consegue formar um governo decente.

Lá, estrangeiros ilegais recebem mais direitos a tratamento médico do que cidadãos belgas. Funcionários belgas do hospital em questão falam disso com grande rancor. Quem aguenta isso?

Tudo bem que a Bélgica, dizem, foi o colonizador mais cruel da África (Joseph Conrad imortalizou a violência da colonização belga do Congo em seu monumental "Coração das Trevas"), mas até onde se pode pagar uma "conta" dessas?

Semelhante é o caso brasileiro e o absurdo do país ficar "sustentando" o Paraguai via Itaipu. Quando o governo brasileiro, por afinidade ideológica com o governo paraguaio, decide que deve aumentar a "contribuição" dada ao Paraguai por Itaipu, quem paga a conta é você através de seu trabalho e de suas agonias cotidianas. Legal, não? Você paga imposto para doar dinheiro para o Fernando Lugo, presidente do Paraguai, posar de "defensor de su pueblo".

Quando acordar de manhã, pense: "Opa, hoje tenho que correr de um lado para o outro pra mandar dinheiro para o Paraguai".

Claro que tem gente que diz que devemos muito ao Paraguai pelo que fizemos lá durante a Guerra do Paraguai, mas até onde essa história é verdadeira?

Aconselho a leitura do "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" do Leandro Narloch (Ed. LeYa), para aprender um pouco mais sobre esse mito que destruímos uma nação que marchava para ser um país perfeito sob a batuta de seu ditador Solano Lopez.

Calma, não se trata de ser insensível com o sofrimento dos mais fracos. Sei que o coro dos humilhados e ofendidos gritará, mas não o temo. Trata-se sim de perceber que o mundo não é o que um centro acadêmico pensa que é.

Pensemos numa situação hipotética. Imagine que tivéssemos um número gigantesco de imigrantes de países pobres entre nós. Agora imagine que eles tivessem mais direitos a saúde pública que você, que trabalha como um cão e que paga impostos extorsivos, como é o caso no Brasil e na Europa.

O que você pensaria disso? Você aceitaria sustentar pessoas que se mudam para a sua casa a fim de lá viver às suas custas?

Alguém sempre paga a conta e quando se tenta fechar os olhos à sangria que é bancar o crescimento de imigrantes (ilegais ou não) na Europa, a tendência inevitável é que radicais de direita sejam eleitos.

Quando você se "revoltar" contra isso, doe uma parte da sua grana para a África. Luiz Felipe Pondé


17.06.2.011
Continua burrinho? Pena.



A saga de Mário Novello para



salvar a ciência fundamental.



Os algozes são os mesmos que não



sobrevivem sem ela. Desconhecem



que ela é essencial à acumulação do



capital, e ainda assim a desprezam.



Por Tom Capri

“Continua burrinho? Pena.” Foi exatamente isto que ouvi, aos dez anos, de meu professor de ciência (1959), nunca esqueço. Ele tentava explicar na sala a diferença entre ciência fundamental e tecnologia, com os termos da época. E a coisa não entrava na minha cabeça nem na dos demais alunos. Hoje, sei que continuam raros os que sabem o que é ciência fundamental. E, mais raros ainda, os que conhecem a diferença entre ciência fundamental e tecnologia. Como se trata de assunto de suma importância e decisivo para o homem moderno --- quem não sabe o que é vai enfrentar sérios problemas, mais cedo ou mais tarde ---, constato que boa parte do mundo continua burrinha, pelo menos na visão daquele meu professor de ciência.

Ciência fundamental é aquela que busca resposta para as grandes perguntas, como a de onde viemos, o que somos e para onde vamos, o que é a vida, o que são realmente os corpos celestes, o Universo e tudo o que aí está. Enfim, é a que busca “a explicação”, a “fonte de origem das coisas”. Já tecnologia são as descobertas (inventos) de cientistas (em laboratórios etc.), na forma de produtos e mercadorias geralmente lucrativos, para alavancar a produção sob o capitalismo. Exemplos: celular, computador, aparelho de TV, automóvel etc. São inventos que aí estão apenas para turbinar a produção capitalista (sobretudo, a industrial), ou seja, para render lucros e garantir a acumulação do capital.

A ideia que se faz hoje (especialmente, a mídia), já bastante difundida, é de que ciência fundamental não tem nada a ver com tecnologia, são conceitos distintos e independentes e que há até um conflito entre ambas. E também de que, no Brasil, estariam sendo destinados recursos em demasia para a ciência fundamental, “pouco produtiva em termos de tecnologia”, quando o que se deveria priorizar, no entender dessa orientação, é a tecnologia, “pelo seu efeito prático”. Os mais confusos e equivocados (burrinhos de plantão como eu, de quem falava meu professor) dizem até que a ciência fundamental deveria produzir mais tecnologia e menos “conversa”. E por aí vai, a ignorância continua.

Lamento, mas ciência fundamental e tecnologia se confundem, dá até para dizer, com suficiente amparo científico, que são a mesma coisa, ainda que sob formas diferentes. Uma descoberta de peso da ciência fundamental enseja sempre grandes avanços na tecnologia. O achado da energia nuclear, por exemplo, possibilitou o invento do forno de microondas, entre outros. Todo avanço tecnológico, por sua vez, também pode ensejar grandes descobertas da ciência fundamental. Não saberíamos quase nada do que sabemos a respeito do Universo não fosse, por exemplo, a tecnologia do telescópio.

Em suma, existe uma dialética perene e intermitente entre ciência fundamental e tecnologia, em que um interage no outro, modifica o outro e ao mesmo tempo vai sendo modificado pelo outro. Ou seja, sempre um conduz ao outro e é também conduzido pelo outro. Desse processo contínuo, emanam constantemente achados novos, tanto de um lado quanto de outro. Uma descoberta da ciência fundamental normalmente enseja outras, no campo da tecnologia. Já uma descoberta tecnológica (que a rigor é igualmente científica) também pode ensejar outras, no campo da ciência fundamental.

Portanto, é certo que não existe conflito entre ciência fundamental e tecnologia, essa ideia é falsa. Pelo contrário, ambas se completam para formar uma coisa só, são apenas partes de uma mesma unidade. Pode riscar essa do seu caderninho.

É fácil concluir daí que há ainda muitos furos nessa discussão. Levantada principalmente pela mídia, é um debate que sem dúvida carece de sustentação científica. E equivocado, pois parte de falsa premissa, a de que existiria tal conflito entre ciência fundamental e tecnologia, e por isso chega a conclusões igualmente falsas.

Uma delas, talvez a que produz mais estragos inclusive ao próprio capital, é a de que se gasta hoje em demasia com ciência fundamental, que, no entender dessa orientação, “pouco ou nada produz em termos de avanço tecnológico”, quando os recursos deveriam “convergir muito mais para a criação de tecnologia”.

O que precisaria entrar em pauta na discussão, agora, é esse desprezo do capital pela ciência fundamental, em países como o Brasil. O equívoco é lamentável, uma vez que o capital e a tecnologia são dependentes da ciência fundamental, da mesma forma que a ciência fundamental é igualmente decisiva e essencial à tecnologia e ao capital. Lamentavelmente, não há nesses países, entre os quais o Brasil, a percepção nem a consciência de que tecnologia não avança sem ciência fundamental, da mesma forma que ciência fundamental também não avança sem tecnologia.

Hoje, no Brasil, quem mais financia a ciência fundamental é o poder público. O capital privado pouco faz nesse campo, apenas responde pela criação de tecnologia. Se os governos representam hoje o capital e são claros instrumentos de defesa e proteção da vida capitalista, é o próprio capital que, na sua ignorância atávica, reclama mais recursos para a tecnologia e menos para a ciência fundamental, por achar erradamente que são coisas distintas e excludentes, e que uma é mais importante do que a outra.

É fato, não existe atualmente nenhum poder público, no mundo capitalista, que não esteja a serviço do capital. Ora, se a ciência fundamental é hoje, em especial no Brasil, integralmente financiada pelo poder público, como acabamos de ver, temos o seguinte paradoxo: a ciência fundamental também aí está para dar suporte ao capital e este, por ignorância, luta para reduzir os recursos a ela destinados, imaginando que com isso irá se beneficiar, o que é um lamentável equívoco e também não acontece na prática.

Tudo que a ciência fundamental cria enseja, como já demonstramos, novos achados no campo da tecnologia e vice-versa. Assim, reduzir os recursos destinados a uma, como quer hoje o capital em países da importância do Brasil, é necessariamente reduzir os recursos destinados à outra. Ou seja, é um tiro no pé do próprio capital, e quem mais perde com isso é, além do capital, a própria ciência, o ser humano.

Temos hoje duas espécies básicas de ciência: a autêntica, que chega efetivamente às verdades do mundo, e a oficial, que aí está para atender exclusivamente aos anseios do capital.

Ciência autêntica é, em suma, aquela que busca as verdades verdadeiras e as encontra, promovendo avanço real da ciência e da humanidade. Ciência oficial é aquela que, unicamente a serviço do capital, busca, por exemplo, a cura da aids a partir da descoberta de um produto altamente lucrativo. O único objetivo dela é, em casos como este, fortalecer o caixa dos laboratórios, que investem incalculáveis recursos nesse tipo de pesquisa. Daí países como o Brasil estarem quebrando patentes para ajudar a prolongar a vida de pacientes com doenças terminais.

Isto não quer dizer que a ciência autêntica seja independente e autônoma, e não esteja a serviço do capital. Nem que a ciência oficial não faça nunca ciência autêntica e aí esteja apenas a serviço do capital. Ao contrário, a ciência autêntica é também poderoso instrumento de amparo e proteção ao capital, como acabamos de constatar. E a ciência oficial, sempre que cria algo novo, como o celular etc., está sempre produzindo ciência autêntica: o mais simples avanço tecnológico, como o invento, por exemplo, do lápis ou da caneta, significa a rigor produção de ciência autêntica, pois traz sempre o avanço.

O cosmólogo brasileiro Mário Novello é um dos últimos moicanos da ciência fundamental no País e um de seus maiores instigadores. Hoje ele é o mais importante cientista da atualidade. Acaba de provar que o Big Bang não é o começo de tudo e que o Universo é eterno e não tem criador, o que põe à prova a noção de Deus. Sua saga em defesa da ciência fundamental comove.

Em recente artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo (ver íntegra abaixo), Mário diz que, nos últimos anos, em especial durante os mandatos de Lula, “o governo brasileiro mostrou vontade política real para estimular ao mesmo tempo a atividade fundamental relacionada à ciência básica bem como o desenvolvimento da aplicação de tecnologias de vanguarda, sem contradição entre essas duas orientações.”

Mas, no mesmo artigo, Mário revela também que a mídia brasileira tem divulgado comentários superficiais e equivocados a respeito do problema, “tentando sub-repticiamente sustentar uma falácia, a de que o financiamento de uma área (ciência fundamental) inibe a outra (tecnologia).”

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27.05.2.011




Mentira recente

Aqui, a verdade que a mídia
ignora ou esconde sobre Palocci


Por Tom Capri


Ou porque ignora ou porque esconde por má-fé para não se envolver e não se prejudicar, a mídia em todo o Planeta não conta nunca as maiores verdades que estão por trás dos grandes acontecimentos. Restringe-se à “história oficial”. No Brasil, isto assume proporções calamitosas e até de comédia, fazendo com que o inferno de Dante mais pareça uma ilha paradisíaca do Caribe. Agora, estamos em meio ao caso Palocci (teria ficado mesmo rico da noite para o dia?). É óbvio que se trata de história muito mal contada. Mas qual história, na política brasileira, seja emanada da Oposição, seja da Situação, não é mal contada? Veja aqui a verdade que está por trás do caso Palocci.

Sem dúvida, estamos diante de outra venenosa baixaria de nossa frágil Oposição, que prima pela delação, mesquinharia e ações medíocres. O principal articulador desse novo ataque a Palocci é, obviamente, nossa pobre-pequena-execrável-grande mídia --- de Veja e Rede Globo ao Estadão e à Folha. Eta turminha braba.

Porta-vozes da Oposição, os veículos brasileiros, com raras exceções, não se vexam em fazer política partidária até mesmo em suas mais inócuas e simplórias reportagens. Baniram das redações os últimos vestígios de jornalismo que ainda marcavam os textos de um passado mais recente (anos 50, 60 e 70), quando ainda se combatia a Ditadura, para perseguir abertamente Lula, Dilma, agora Palocci e muitos outros.  

E assim, no uso de infeliz baixaria, nossa mídia não escapou de dar vexame histórico no pleito que levou Dilma ao Planalto. Acabou sendo a maior derrotada da última eleição. Mais do que isto, também saiu dela enfraquecida e humilhada, não só por demonstrar não ser mais ouvida nem ter força nenhuma no País, mas principalmente por comprovar que não consegue nem mesmo ser o tal do “quarto poder”.

É evidente que essa “nova” história de Palocci, de que teria enriquecido da noite para o dia, é outra mal contada, como é mal contada a de todos os políticos brasileiros, sem exceção (lembra-se da comprovada compra de votos no governo de FHC, para fazer passar a emenda da reeleição, nunca evocada pela atual oposição e hoje esquecida?).

Portanto, não deixa de ser evidente também que o novo caso Palocci não passa de obsessiva perseguição da Oposição, visando unicamente a desestabilizar o governo Dilma, hoje seu inimigo número um. Palocci apenas volta a ser alvo, como tantas outras vezes, de uma Oposição que é infinitamente mais corrupta do que zilhões de Palocci juntos. E o órgão propagador disso, já vimos, é nossa mídia, que tem mais telhado de vidro ainda, principalmente no item “corrupção”.

É justamente essa prática que vem derrubando dia após dia a Oposição. E a derrotou de forma acachapante no pleito de 2010. Prova de que baixaria só perde eleição.

Não é de hoje que a Oposição escarafuncha a vida de seus opositores e tenta derrubar, com esses expedientes espúrios, aquele que ela insana e incessantemente persegue (expediente do qual igualmente se vale a hoje Situação, é bom não esquecer). Também não é de agora que, descendo aos níveis mais baixos, a Oposição não mede esforços para aniquilar seus “inimigos”, sempre em nome da “democracia”.

Prática claramente nazista e de uma burrice exemplar, pois apenas desperta ódio naqueles que se solidarizam com os que a Oposição persegue, levando-a a angariar mais antipatia ainda e a perder a já escassa popularidade, num processo autofágico sem precedente na política brasileira. Quer dizer, a burrice grita na nossa política.

Para que possamos entender tudo isso melhor, nossa Oposição ocupa lugar de destaque na tribo (ou horda, se preferir) a que já dei o nome de araebudi (ala rasa e burra da direita). Essa tribo dos araebudis é formada basicamente pelos representantes do atrófico capital nacional, mais precisamente pelo pequeno e médio capital autóctone. É protagonizada também, como já vimos, pela maioria esmagadora de nossa grande mídia, de Veja e Rede Globo à Folha e aoEstadão. Raríííííííssimas são as exceções.

Marcada pela pequenez, é uma tribo (os araebudis) que não faz nada direito. Por vir a reboque do capital estrangeiro, como filho adotivo frágil e impotente, não forma lideranças de peso, não consegue ter voz nem galgar altos postos, e vive de migalhas. Tampouco tem visão minimamente clara de nada. E seu grito geralmente não ecoa.

Por exemplo, ela ainda não sabe que não existe democracia autêntica em lugar nenhum. Embora tenha estudado muitas vezes na Europa e nos EUA e fale não sei quantas línguas, desconhece o fato de que a democracia hoje existente não passa da pior e mais sanguinária das ditaduras (por razões que já expliquei aqui à exaustão e que não vou mais repetir, até porque os araebudis se amarram nas próprias convicções e tornaram-se infensos ao conhecimento).

A miséria mental é tanta que essa tribo ainda não se deu conta de que Lula, Dilma e Palocci --- vistos não como aliados, o que de fato são, mas como “inimigos” --- não passam de personalidades do establishment incumbidas de defender, proteger e salvaguardar o próprio establishment. Portanto, são aliados da Oposição, e mesmo que não fossem, não têm forças para se voltar contra a ordem estabelecida.

Para perseguir seus opositores, os araebudis se valem de dois clichês: o de que é preciso acabar com a impunidade (não a deles, mas a que recai sobre os “inimigos”) e o de que é preciso pôr fim à ineficácia no combate à corrupção (não a corrupção deles, mas a dos “inimigos”, lembrando que os araebudis são os maiores corruptos deste país).

A folclórica tribo araebúdica ainda desconhece que a corrupção está no DNA da democracia e da política, na medida em que estas instituições não passam de instrumento de defesa e proteção do capital, e disto ninguém escapa (nem mesmo a esquerda mais radical --- vide Dilma). Essa tribo especialista em baixarias não consegue, enfim, se livrar dos conceitos/clichês equivocados de cidadania, exclusão etc. Ainda acredita no estado de direito e na democracia, fantasias hoje só cultuadas por mentes retrógradas e medíocres. Essa tribo precisa voltar a estudar.

O grande problema é que os araebudis, onde se concentra toda a Oposição, não conhecem outro expediente senão o da baixaria. Foram oito anos de tentativas frustradas de desestabilizar seus maiores aliados, Lula e Dilma, com ações do mais baixo nível. Vexames após vexames, com certeza vão trombar outra vez no novo caso Palocci, mesmo que consigam fritá-lo.

Se conseguirem, só aumentarão o fosso existente entre ela (a Oposição) e o poder, ao qual, pelo jeito, não chegarão tão cedo. Como estariam hoje FHC, José Serra, Aécio e seus pares se tivessem feito aliança tácita com Lula e Dilma, pondo em prática uma oposição comedida, simpática e inteligente, sem baixarias? Serra até parece ter acordado recentemente, mas é tarde demais. Ao contrário, há mais de oito anos a Oposição age de forma assim rasa e desmedida, e dá sempre com os burros n’água.

No caso dos araebudis (Oposição), a burrice é tamanha, que nenhum de seus representantes consegue aprender nem mesmo com a própria experiência. A Oposição (os araebudis) erra e persiste insistentemente no erro, até um dia implodir de vez, o que não está longe de acontecer, se é que já não aconteceu. Abraços a todos.

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Construbusiness
pode impedir
novas crises. Mas
empresário dorme.

Por Tom Capri

Em 2010, vieram-me à cabeça ideias para o setor imobiliário que, se postas em prática, mudariam radicalmente os rumos de nossa economia. São duas: a criação do “Casa Família” e a implementação de um plano de metas para acelerar o fim de nosso crônico déficit habitacional, que hoje está na casa dos sete milhões de unidades. Cheguei até a pensar em enviar tais sugestões à presidente Dilma, antes das eleições, para alavancar sua campanha (votei nela), mas não o fiz porque entendi serem ideias melhor aproveitáveis se levadas adiante pelas lideranças do setor imobiliário, ao qual vinha me dedicando profissionalmente há mais de 30 anos. Só que repassei as ideias a essas lideranças e nenhuma delas reagiu. Parece que dormem.

Do ponto de vista capitalista, o mercado imobiliário e da construção civil tem-se mostrado decisivo, colocando-se como grande saída capaz de turbinar a economia. De Gaulle dizia que, se a construção vai bem, tudo vai bem. Isto porque uma simples moradia ou escritório servem de mola propulsora para toda a cadeia produtiva. Fazem girar a atividade econômica. Uma nação capitalista em crise não consegue sair dela se não apostar firmemente na indústria imobiliária e da construção. E isto é muito fácil de entender.

Ter teto significa necessária aquisição de bens que permitem uma vida minimamente estável e confortável, desde os móveis e produtos de decoração aos eletroeletrônicos em geral, passando até pelo automóvel. Ou seja, o teto indiscutivelmente é o maior indutor do consumo. Quem não tem teto não precisa consumir nada disso, logo, contribui muito menos para que a economia de seu país, se estiver assentada em moldes capitalistas, mantenha-se minimamente estável e registre índices razoáveis de emprego.

A economia dos Estados Unidos, por exemplo, só entrou em colapso porque seu setor imobiliário e da construção, que por muitos anos manteve as taxas de emprego em índices desejáveis, entrou em crise. E só conseguirá se recuperar se reduzir os níveis de desemprego, o que só é possível se o país voltar a poder apostar no setor imobiliário e da construção, o que não está nada fácil.

Vamos então às idéias que andei tendo. Diante desses dados que acabo de apresentar, por que então o produtor imobiliário não propor ao governo Dilma o "Casa Família"? Nos mesmos moldes do Bolsa Família, seria um programa inserido no Minha Casa, Minha Vida, com metas rígidas de produção e de entrega das unidades.

Por que não propor também ao governo federal um "Plano de Metas para o Fim do Déficit Habitacional"? Assim como o País já tem seu programa de metas de inflação, teríamos também outro plano, capaz de acelerar o fim do déficit de moradias. Ao final de cada ano, o governo anunciaria metas de produção para o ano seguinte, visando a reduzir o déficit em “tantas moradias”. O Minha Casa, Minha Vida e o "Casa Família" que proponho agora escorariam e dariam amparo a esse Plano, permitindo que as metas fossem facilmente cumpridas.

O capitalista ortodoxo diria que não é papel do Estado garantir teto a ninguém. Entende que é preciso dar a vara de pescar, nunca o peixe. Por isso, enxergaria como esmola o Bolsa Família. O que é no mínimo cegueira. Não percebe o outro lado do programa, o de ter criado nova e considerável faixa de consumo, capaz de alavancar nossa economia e garantir ao Brasil lugar de destaque no mapa-múndi do capitalismo. O capitalista ortodoxo diria o mesmo do “Casa Família”.

Já o capitalista da tribo que eu chamo de “araebudi” (ala rasa e burra da direita, a maioria da direita brasileira), à qual pertence parcela considerável do capital nacional e que sempre pensa pequeno, não iria querer pôr mais essas azeitonas na empada do Governo Dilma. Afinal, a “presidenta” continua sendo seu inimigo número um. Essa avis não tão rara do capitalismo faria imediatamente coro ao Tea Party, para dizer que se trata de novo ardil visando a alavancar, no Hemisfério Sul, o governo de mais uma “comunista” e “terrorista” no poder, o da nossa “presidenta” Dilma. Os “araebudis” não conseguiram nem mesmo perceber até hoje que Dilma, a exemplo de Lula, é a “presidenta” doestablishment. Mais do que isso, não conseguem abastecer com ideias a Oposição, sua mais forte aliada. E por aí vai.

Mas não é hoje consenso, entre os empreendedores do setor imobiliário, que moradia para populações carentes e de reduzido ou nenhum poder aquisitivo deva ser de responsabilidade do Estado, pois as prestações não cabem no bolso dessas faixas? “Casa Família” não é o que o governo federal já começou a fazer, ao produzir unidades para atender àqueles que perdem suas casas em enchentes?

Por que então não sistematizar programas desse tipo e, após estudo sério e minucioso, não propô-los ao governo federal? Quem mais poderia propor isso ao País se não o próprio setor imobiliário? Se o problema é de ordem burocrática (quem teria coragem de apresentar essas propostas a Dilma sem se queimar perante sua classe), por que então não anunciar que o setor imobiliário e da construção está se mobilizando para vir a apresentar plano desse porte ao governo? Manifesto aqui minha frustração ao apresentar tais sugestões ao setor e ninguém se interessar. Estou procurando até hoje um mínimo retorno.

Claro que teria de ser programa bem urdido e planejado, antes de proposto, para não apresentar furos, como tem acontecido com o Minha Casa, Minha Vida. O que temos visto, no Minha Casa, é o comércio irregular das unidades entregues principalmente às faixas mais carentes, quando não o abandono do imóvel por falta de pagamento. São problemas de raiz pondo água no Minha Casa, que sempre foi tão caro a Dilma. Mas todos solucionáveis.

Em mesa-redonda no final de dezembro de 2010, na Fiabci/Brasil (capítulo brasileiro da Federação Internacional das Profissões Imobiliárias), em São Paulo, Paulo Melo, da Odebrecht, garantiu que nosso déficit habitacional terá acabado até 2017. Isto porque, disse, só a divisão imobiliária da Odebrecht estará produzindo quantidade suficiente de habitações com fim social para reduzir consideravelmente nosso déficit até lá. É a Odebrecht já propondo, ainda que de forma insinuada, um plano de meta para acabar com nosso déficit de moradias.

Portanto, hora de arregaçar as mangas. Se postas as duas propostas em prática, dá para imaginar o impacto que provocariam em nossa economia? As lideranças do setor imobiliário precisam acordar. Abraço a todos.
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04.05.2.011



Novas pérolas de
Daniel Piza

(Veja por que elas continuam
afundando o nosso futebol)


Por Tom Capri


Na coluna Boleiros do Estadão de hoje (4/5), em artigo sob o título “Onde os talentos devem atuar” (Esportes, página E2), somos agraciados com novas pérolas de Daniel Piza, articulista eclético e multilateral do jornal (escreve sobre tudo, até mesmo sobre sobretudo). A melhor dele de hoje: “Craques nunca podem ficar longe demais da área e devem se concentrar em atacar”, referindo-se ao que fizera o técnico do Santos, Muricy Ramalho, que substituiu um atacante, Zé Eduardo, pelo zagueiro Bruno Aguiar, para deixar mais soltos principalmente Ganso e Neymar, o que fez a diferença e resultou na vitória do Santos e na eliminação do São Paulo. Insisto em ser implicante com Piza porque ele representa hoje a consciência possível da parcela mais medíocre de nossa crônica esportiva, essa que chamo de Geni-Press. É desta parcela (isto é, da maioria dos cronistas esportivos brasileiros) que emanam os maiores equívocos de leitura a respeito do que acontece dentro das quatro linhas do campo. O problema é que tais equívocos, alguns deles até criminosos, estão literalmente afundando o nosso futebol. Acompanhe.

Comecemos por essa que é a melhor pérola de hoje de Piza. A afirmação já começa errada, quando diz que “craque nunca pode ficar longe demais da área”. Numa situação de emergência (por exemplo, na em que todos precisam ajudar na defesa para garantir um resultado ou a conquista de um título), o craque deve ser visto, sim e frequentemente, em sua própria área, bem distante da área do adversário. Lá, ele deve afastar a bola com o pé, com a cabeça, no chutão ou com categoria, enfim, do jeito que der, reforçando assim a defesa e garantindo o placar que eventualmente garantirá ao seu time a vitória e, eventualmente, um título importante. Portanto, dizer que o “craque nunca pode ficar longe demais da área” é até um contra-senso.

Além desse equívoco, a afirmação de Piza contém outros. Por exemplo, um volante de contenção que é craque (desarma, arma e finaliza bem) tem de jogar o tempo todo longe demais da área adversária. Pode, em suas arrancadas, tabelando ou não, chegar ao gol e finalizar com sucesso. Mas, se deixar de jogar longe demais da área adversária e passar a atuar mais próximo dela, não exercerá sua verdadeira função a contento, deixando seu time bastante vulnerável e sujeito à derrota.

E os equívocos não param por aí. O argentino Messi, por exemplo, o maior craque da atualidade, é visto frequentemente no meio do campo (às vezes, até um pouco mais atrás), bem distante da área adversária. Dali, ele dá aquelas arrancadas, trocando passes ou não, e, de maneira fulminante, depois de “entortar” três ou quatro, finaliza com precisão. Messi é exemplo clássico de craque que joga frequentemente bem distante da área, ajudando muuuuuuuuito no desarme e na armação, sem deixar de fazer belos gols.

Mais: se o craque se concentra em atacar, como quer Piza, não conseguirá fazer mais nada em campo, como desarmar para armar (servir), o que deixará seu time vulnerável. Se o time tem um craque na defesa (por exemplo, Beckenbauer, que frequentemente jogava como líbero) e se ele passar a se concentrar apenas em atacar, seu time padecerá e caminhará a galope para o desastre. Craque, Beckenbauer foi campeão do mundo pela seleção alemã justamente porque não se concentrou apenas em atacar.

Podemos dizer o mesmo de nossos craques, como Neymar. Se ele se concentraapenas em atacar, como determina Piza, o Santos está perdido. Ao contrário, Neymar é visto frequentemente no meio-campo roubando a bola, para servir ou partir para o ataque. Que eu saiba, roubar a bola é compor ajudando no sistema defensivo e também na armação, não é se concentrar apenas em atacar.

E há, no texto de hoje, mais um grande equívoco de leitura, em Piza. O articulista entendeu que Muricy sacou o atacante Zé Eduardo do time para fazer com que craques como Neymar e Ganso jogassem mais próximos da área. Novamente, errado. Muricy substituiu Zé Eduardo por um zagueiro, Bruno Aguiar, por outro motivo. Apenas porque Zé Eduardo joga mais próximo da área, muitas vezes como homem de área, e isto já está superado e obsoleto no futebol. Enfim, os técnicos brasileiros começam a perceber que atuar com um jogador assim é jogar boa parte do tempo com um a menos, deixando o time muito vulnerável, o que normalmente não leva a nada.

Piza é um dos maiores defensores do homem de área, considera a figura imprescindível em time que se preze. Já Muricy, que também sempre foi defensor do homem de área (desde que com a devida cautela), finalmente acordou (no final do primeiro tempo de Santos 2 x 0 São Paulo, ufa!) e cedeu às evidências: afastou Zé Eduardo, reforçando assim a defesa santista e abrindo o time para os contra-ataques fulminantes, sem “um-a-menos-meio-paradão-lá-na-frente” para enterrar o time.

No momento da substituição, a Geni-Press chiou, dizendo que Muricy estava sendo retranqueiro, como afirma o próprio Piza. O comentarista destoou de seus colegas de Geni-Press e, em seu artigo, disse o oposto, elogiando o técnico santista: “Para quem ainda desconfia de Muricy Ramalho, ele demonstrou mais uma vez sua capacidade ao trocar um atacante por um zagueiro”, afirma ele em seu texto.

Acontece que Piza não percebeu que, com esta afirmação, caiu mais uma vez em contradição. Outra pérola do articulista é afirmar insistentemente que técnico não é autor, não ganha jogo. Ao fazer esta afirmação, Piza, ao contrário, reconhece que Muricy fora dessa vez autor e responsável pela vitória conquistada por seu time, o Santos. Não só Piza, a Geni-Press também reconheceu, inclusive os próprios jogadores. Todos foram unânimes em afirmar que Muricy fez “de novo a diferença”, isto é, foi verdadeiro autor, negando as pérolas de Piza, que tanto têm derrubado nosso futebol. Abraços a todos.

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29.04.2.011


















A beatificação de João Paulo II
Uma crítica à Veja e ao Vaticano  


João Paulo II provou
em vida que fazia grandes
“milagres”. Merece ser
beatificado e canonizado.


Por Tom Capri


João Paulo II deve ser beatificado neste domingo, no Vaticano. É o primeiro passo para a canonização dele, que vem aí com certeza. A pergunta que o mundo faz é se João Paulo II merece ser beatificado e canonizado. Se levarmos em conta o que de fato significa ser hoje beatificado e canonizado, ele mais do que merece. João Paulo II é um dos coveiros do “comunismo”, que de comunismo autêntico não tinha nada. Teve papel decisivo na queda da “Cortina de Ferro”, o bloco “comunista” que incluía o Leste Europeu. Chegou a reunir-se algumas vezes com a CIA (na administração de Ronald Reagan) para combater abertamente o que abominava na Polônia, o seu país: o socialismo, que de socialismo autêntico também não tinha nada. Acabou sendo um dos principais mentores desse milagre que foi derrubar o então chamado “mundo comunista”. Como de alguns séculos para cá a Igreja só beatifica e canoniza quem defende, protege e ajuda a conservar as ações do capital, João Paulo II é hoje o mais talhado para ser beatificado e canonizado. Ou seja, para virar beato e santo. Nos anos de 1990, ainda residindo nos EUA, escrevi três artigos abordando justamente essa cruzada anticomunista de João Paulo II, que lhe vem rendendo agora lugar de honra no panteão dos “santos milagreiros”. São textos do período de Fernando Henrique Cardoso, que no carnaval de 1997 fez visita ao papa, a primeira oficial de um presidente nosso, para reivindicar a canonização de um santo nascido no Brasil (ainda não tínhamos) e de um maior número de cardeais brasileiros (são eles que elegem o papa). Nesses três textos, de certa forma premonitórios, já são reveladas as verdadeiras razões e justificativas que levaram a Igreja a apressar o processo de beatificação e canonização de João Paulo II: o seu combate feroz ao “comunismo”. Acompanhe.


1º Artigo

FHC com o papa João Paulo II, querendo um santo e mais cardeais brasileiros. What? (Textos dos anos 90, mas atual).


No recente encontro com o papa João Paulo II (carnaval de 1997), o presidente Fernando Henrique Cardoso fez duas reivindicações, inseridas sutilmente na pauta: o Brasil precisa de um santo (não tinha nenhum, na época), além do que é preciso aumentar o número de cardeais brasileiros (eles é que elegem o papa, e na época existiam ao todo 150, dos quais apenas cinco eram brasileiros). O que se pôde depreender da visita ao Vaticano é que FHC foi, na verdade, espezinhar o papa.
            O Brasil conta hoje (1997) com 122 milhões de católicos, portanto 12% de toda a comunidade católica mundial, mas ainda não tem um santo nem conseguiu eleger um papa. Enquanto isso, a Coreia do Sul, com apenas 2,5 milhões de habitantes, pasme, tem 103 santos. Pelo jeito, todo mundo é santo por lá. Ademais, até a Polônia já conseguiu ter um papa. Adivinhe por quê?
A explicação é simples. Começa que nenhum brasileiro é santo, mesmo, não dá para achar um. Além disso, padre brasileiro mais talhado para virar santo, diz um amigo meu, costuma ser “comuna”. O Vaticano nunca que vai conceder status de santo a um comunista. E só com cinco cardeais, de um total de 150, também nunca vai dar para eleger um papa brasileiro. Pura questão aritmética.
            Visto assim, pelos números, até parece que as colocações (sutis) de Fernando Henrique Cardoso a João Paulo II, e que ganharam tom de reivindicação (na verdade, FHC não pediu nada, apenas comentou e, quando muito, perguntou), não tinham nada de mais. Até porque o Brasil é o país que reúne o maior número de católicos em todo o mundo e, portanto, tem lá seus direitos a pelo menos um santo e a um papa. Errado.
            As colocações de FHC ao papa foram mesmo para espezinhar. Por um único motivo: o presidente não é bobinho, o papa muito menos. Os dois conhecem perfeitamente as razões pelas quais não temos sequer um santo e só temos cinco cardeais. Só que FHC se fez de bobo, o papa também, e a conversa não rendeu muito.
            É que a própria Igreja Católica, no Brasil, é a maior ameaça ao catolicismo. Ainda que, até os anos de 1950, fosse extremamente reacionária e fechada com a direita (por exemplo, foi o grande mentor da marcha pela família, no Golpe de 64), a Igreja Católica viu emergir, em seu seio, a partir daí, ala muito forte de esquerda, no Brasil. Isto aconteceu principalmente com o advento da Teologia da Libertação (bastava mencionar estas palavras para deixar João Paulo II mal-humorado).
            Na verdade, a Igreja, no Brasil, sempre se colocou como pedra no sapato de João Paulo II, que não fez outra coisa, durante seu papado, senão trabalhar para a derrubada do bloco socialista (manteve inclusive diversos encontros com a CIA, para esse fim, como revelou a própria imprensa norte-americana, na época – 1997).
            Essa ação “anticomunista” do papa foi voltada principalmente para sua terra natal, a Polônia, então “socialista” (João Paulo II – nome verdadeiro, Karol Woytila – era polonês e aquilo não tinha nada de socialismo autêntico, é bom frisar). Dá para achar alguém com maior vocação para santo?
Há uns 300 anos, o Vaticano é isso mesmo: bando de cardeais, liderados pelo papa, com a missão de abrir campo para a globalização do capital, que a Igreja atualmente tanto defende (desde que tenhamos um “capitalismo humanizado”, é claro, o que não passa de utopia: o capitalismo se assenta no roubo em escala de força de trabalho, o maior crime de lesa-humanidade já perpetrado pelo homem contra o próprio homem, o que nos impede de ter um capitalismo minimamente “humanizado”).
            Ora, FHC sabia que canonizar um brasileiro, seja ele quem for, é de repente canonizar alguém de esquerda e prestigiar “o lado de lá”, tão contrário aos princípios do Vaticano. Todo o papado já se fartou de nos mostrar isto. Assim, nomear um cardeal brasileiro foi sempre dar sopa pro azar, no entender do papado. Já pensou, de repente, lá na frente, com uma maioria de cardeais brasileiros, o Vaticano eleger um papa brasileiro de esquerda? Adepto da Teologia da Libertação?
            Na época da visita de FHC, João Paulo II já havia feito brilhante trabalho de desestabilização da confraria de esquerda que vinha tomando conta da Igreja, no Brasil, ao dar um chega pra lá (papa também faz isso) em dom Paulo Evaristo Arns, que andava até usando camisetas do MST, o Movimento dos Sem-terra.
            Dom Hélder Câmara, bispo que esposava o mesmo ideário de esquerda, também sempre fora “persona non grata” no Vaticano. Mais: toda a direita, no Brasil, nunca deixou de ficar de olho nessa ala de esquerda da Igreja Católica. A mídia em geral, que no Brasil está toda a serviço do capital, sempre torceu o nariz para essa ala.
            No dia em que a Igreja Católica anunciou (1997) o tema da Campanha da Fraternidade (daquele ano) – “A Fraternidade e os encarcerados”, promoção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), condenando a impunidade aos “criminosos de colarinho branco” e os maus-tratos e torturas aos prisioneiros comuns –, o que se viu, da parte dos meios de comunicação, foi uma mudança radical de atitude em relação às ações da CNBB.
            Até aqui (1997), o anúncio das campanhas da CNBB era normalmente transmitido ao vivo pelas grandes emissoras de TV Aberta. Desta vez, a transmissão foi jogada para o horário da madrugada e obviamente gravada (segundo matéria daquele ano da revista Veja, que sequer apontava os motivos da mudança). A TV Globo, por exemplo, só exibiu o anúncio da CNBB depois da uma da madrugada. Nas emissoras de rádio, o tema foi para mais tarde ainda, segundo a própria Veja. A isto, a mídia brasileira, que se autointitula “livre”, chama de “liberdade de expressão”.
            A verdade é que forte ala da Igreja Católica estava enfronhada no Movimento dos Sem-terra, apoiando-o, o que complicava ainda mais tudo. Diante de um cenário como esse, não tinha cabimento FHC pedir diretamente, ao papa, a canonização de brasileiros e a elevação do número de cardeais nossos. Por que o fez?
            Na realidade, FHC visitou o papa (foi a primeira visita oficial de um presidente brasileiro) porque, na sua vaidade, queria “aparecer” ao lado do sumo pontífice e fazer “marketing” político em pleno carnaval, ele que já havia sido ateu um dia e naquele momento da visita estava apenas de olho na reeleição. Como precisava dizer alguma coisa populista ao papa, caiu na velha ladainha de pedir santo e mais cardeais, contra o que João Paulo II reluta há muitos anos e já está bastante vacinado.
            Fato é que FHC não perdeu a pose na visita: em meio a todo aquele papo furado, de pedir santo e mais cardeais para o Brasil, FHC foi ao que realmente interessava. Aproveitou para se queixar dos padres brasileiros que andam atravancando o processo de reforma agrária, ao se somarem ao Movimento dos Sem-terra. Isto, sim, o papa ouviu com os dois ouvidos bem abertos e com certeza vai fazer alguma coisa. Santo homem.

2º Artigo
         
As bobagens de Frei Damião

Morto aos 98 anos, Frei Damião, um dos representantes da ala mais retrógrada da Igreja, pode se tornar o primeiro santo brasileiro. (Texto dos anos 90, porém atual).

          Chamou atenção o alarde que, em recente edição (número 1499, página 134), a revista Veja fez em torno da ausência de reação da Igreja Católica, no Brasil, diante da morte de Frei Damião, ocorrida recentemente (junho de 1997). Para a Veja, ficou faltando canonizar Damião. Ou melhor, para a revista, nem era preciso canonizá-lo, porque, ao menos no Nordeste, ele já era considerado santo. O jornalista/ensaísta Roberto Pompeu de Toledo, na mesma edição, chegou a lamentar que nossa Igreja Católica, em vez de ao menos “discutir Frei Damião”, preferiu “terçar armas em torno da privatização da Vale do Rio Doce”.

          É nessas horas que comprovo: felizmente, no Brasil, a Igreja está mais lúcida do que nossos meios de comunicação. Frei Damião era o que havia de pior, dentro da Igreja Católica. Se tivesse pregado hoje (1997), nas ruas de São Paulo, o mesmo que pregou quando chegou ao Brasil já frade, no começo do século 20, com certeza teria sido preso como malandro, falsário ou psicopata.

          Italiano de origem (nasceu em Bozzano, norte da Itália, em 1898), Pio Gianotti, seu verdadeiro nome, chegou ao Brasil já como frade da Ordem dos Capuchinhos e com novo nome: Damiano de Bozzano, depois apenas Frei Damião. Recebera este nome ao ser ordenado frade, em 1923, aos 25 anos, na Itália, mesmo.

          Ao se instalar em Gravatá, cidade próxima a Recife, o padre começou sua pregação. De lá até morrer, aos 98 anos (junho de 97), Damião execrou tudo o que viu pela frente: não aceitava sequer mulher de calça comprida, quanto mais de minissaia. Amaldiçoava não apenas o homossexualismo, mas até o beijo na boca “e o de língua”, ambos “pecado”, na visão do padre.

          Uma de suas mais tristes facetas era a de que costumava punir com a morte os pecadores. Criou fama de amaldiçoar o pecador e de desejar sua morte, na reincidência. Volta e meia, ia até ele alguém que “havia pecado” por incesto, homossexualismo, o que o valha. Damião apenas dizia: “Nunca mais faça isso, pois pagará caro”. Aí, diz a lenda, se o sujeito repetisse a dose, aparecia morto numa encruzilhada qualquer.

          Com bobagens como essa, Damião levou de roldão milhares de fiéis desesperados do Nordeste, região campeã do desespero, no Brasil. O Vaticano deveria é canonizar a santa ignorância e a dor do nordestino pobre, talvez o povo mais sofrido do mundo, e não o lado mais retrógrado da Igreja, hoje representado, entre outros, por Damião. 

          Na verdade, a pior faceta de Damião não era essa. Ao longo de sua carreira como frade, ele aliou-se à pior politicalha do Nordeste. Não só se deixou fotografar em campanhas com políticos (vice-presidente Marco Maciel, o então prefeito de Recife, Roberto Magalhães, entre outros), como também subiu no palanque durante a campanha de Fernando Collor de Mello, que esteve presente em seu enterro e fez questão de abrir o caixão para beijá-lo (andou, inclusive, derrubando algumas lágrimas, naquele dia).

          Em suma, Frei Damião foi uma das expressões máximas de nossa miséria mental, de nossa alienação, no Nordeste. E é claro que, por isso mesmo, tem tudo para se tornar o primeiro santo brasileiro. O Vaticano, com as reticências de sempre, até que sempre desejou canonizar um brasileiro, brindando-nos com o primeiro santo. O problema é que, no Brasil, um país em que ninguém é efetivamente santo, é ainda mais difícil achar, entre os não-santos de peso, um que não seja de esquerda. Então, o Vaticano vive de cabelo em pé com essa história: todos os nossos milagreiros canonizáveis são de esquerda.

          E mais: a Igreja Católica tem, no Brasil, uma ala de esquerda muito forte, que o Vaticano simplesmente execra. Canonizar alguém que optou claramente pelos “frascos e comprimidos”, digo, pelos fracos e oprimidos seria dar muita sopa pro azar e fortalecer ainda mais essa ala de esquerda de nossa Igreja, o que efetivamente o Vaticano nunca quis. Vai daí que, até aqui, por todos esses motivos, o Vaticano sempre relutou em canonizar um brasileiro.

          O problema é que o Brasil, apesar de ser o país mais católico do mundo, ainda não tem um santo sequer. Já disse aqui algumas vezes, a Coreia do Sul – que conta com apenas 2,5 milhões de habitantes (1997) e onde o comunismo rondou, no passado, como forte ameaça, a ponto de ter dividido a Coreia –, tem hoje 103 santos. Pode? Eis aí, portanto, a oportunidade para canonizar Frei Damião. Se isto acontecer, nosso primeiro santo será pró-Collor, antibeijo, antiminissaia e, ainda por cima, italiano de origem.

          Duro de roer, mesmo, é ver até a Veja fazendo média com Damião. Quer dizer: quando Frei Damião subiu ao palanque de Collor, podia. Já a Igreja Católica estar mais preocupada com a privatização da Vale em vez de com a morte de Damião, não pode.

          Eu compreendo: a revista depende, de um lado, de seus leitores (e muitos são do Nordeste); e, de outro, de seus anunciantes (a maior parte, multinacionais). Por isso, entendo que, num momento como este, faça média com esses santos de ocasião. É a Veja fazendo seu próprio marketing, o que não é surpresa para ninguém.


3º artigo

Sai a ala de direita da Igreja Católica, entram os evangélicos, a bola da vez (texto dos anos 90, também atual).

                A revista Veja acaba de fazer matéria de capa sobre os evangélicos (edição de nº 1502, assinada por Andréa Barros e Laura Capriglioni). Nas suas oito páginas, ao falar da ascensão dos evangélicos, a revista esqueceu-se de revelar as verdadeiras causas pelas quais os evangélicos fazem cada vez mais sucesso e crescem assustadoramente no Brasil, com apoio oficial não só do governo federal, mas de todos aqueles que de uma forma ou de outra regem o mundo capitalista.
É que os evangélicos assumiram o papel de direita que estava antes reservado à ala mais reacionária e majoritária da Igreja Católica (isto até os anos de 1960). Ao mesmo tempo, os católicos se “esquerdizam” cada vez mais no País, o que efetivamente não “interessa” nem à revista Veja nem ao Vaticano.
            Até o final dos anos 60, a Igreja Católica, no Brasil, era claramente de direita e defensora da ordem, tradição, família e propriedade. E da ditadura, como esteve ao lado de Hitler no papado de Pio XII. É quando começa a florescer, dentro dela, uma forte ala de esquerda. Já mostrei em outros textos que essa facção vai se alastrar por todo o País (com lideranças como Paulo Evaristo Arns, no Sul, e Hélder Câmara, no Nordeste), até culminar com o advento da Teologia da Libertação. Desde então, o Vaticano tem ficado de cabelo em pé.
            Esse movimento dentro da Igreja assumiu abertamente a defesa dos “frascos e comprimidos”, digo, dos fracos e oprimidos, inclusive dos sem-terra e do MST. O mundo regido pelo capital, que tem olhos de lince, já torce o nariz, especialmente os meios de comunicação, no Brasil, como a revista Veja, a TV Globo, etc.
            Em artigo anterior, mencionamos o exemplo da Campanha da Fraternidade, feita anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que é francamente de esquerda e deixou de merecer o espaço que costumava ganhar, na mídia.
            As campanhas eram inclusive anunciadas diretamente, ao vivo, pela Globo, e passaram a ser divulgadas pela emissora por teipe, depois das onze da noite, entrando na madrugada. Dom Fernando II, o Henrique (FHC), chegou a visitar João Paulo II, na época, para, entre outras coisas, pedir apoio contra o MST. Enquanto isso, proliferam no País os programas evangélicos na TV e cresce o número de evangélicos no Parlamento e nas cadeiras dos proprietários de canais de televisão.
            Os evangélicos – comumente chamados de "crentes" – vêm para se somar a essa equipe que hoje joga no time da direita. Eles compõem a ala do cristianismo que se afastou da Igreja Católica e segue os Evangelhos. Entre eles, se incluem os pentecostais e os neopentecostais, como a “Assembléia de Deus”, “O Brasil para Cristo”, “Deus é Amor” e “Igreja Universal do Reino de Deus”, entre outras.
            Pentecostais e neopentecostais são as igrejas que evocam o Dia de Pentecostes como sendo aquele que marca o início da atuação da Igreja. Dia de Pentecostes é o da descida do Espírito Santo à Terra. Antes de morrer, Jesus dizia que alguém voltaria para propagar suas idéias, o espírito santo, e essa volta marca o Dia de Pentecostes, ou seja, o nascimento da Igreja, que de espírito santo nunca teve nada.
Na verdade, essa ala do cristianismo, a evangélica, ligeiramente mais liberada (nem tanto) que a católica, escondida sob uma roupagem assistencialista, está mesmo se locupletando (como qualquer religião, seita ou culto, hoje em dia, em todo o mundo, diga-se) a custas de almas penadas, isto é, da ignorância e do sofrimento.
            É de fato uma indústria e, em alguns casos, verdadeira máfia que tira proveito da miséria mental, prometendo-lhe pequenas vantagens aqui na Terra e, as maiores e mais atraentes, nos céus. A Igreja Católica não é nem um pouco diferente.
            Já na mesma matéria de Veja aqui citada, aparece com clareza esse novo papel dos evangélicos, sem que fosse essa a intenção da revista. Nela, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, então presidente da Assembléia de Deus, repete o que dissera a Dom Fernando II, o Henrique (FHC), em encontro com o presidente: "Eu disse (ao presidente) que nós somos 100% contrários à união civil entre homossexuais, 100% contrários à liberação do aborto, 100% contrários às drogas e 100% contrários ao Movimento dos Sem-terra, porque este fere o direito de propriedade".
Deu pra entender, agora? Fica bem claro, portanto, qual é o verdadeiro papel dos evangélicos hoje na cena brasileira, não devidamente mostrado nem explicado na matéria de Veja, mas que o próprio texto se incumbiu de desvendar.

Abraços a todos.
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18.04.2.011



















José Mourinho e o
1 a 1 de Barça e Real
expõem Daniel Piza
e a mídia ao ridículo 

E não se iluda com
a ascensão de
Massa, deixando
Alonso para trás

Veja por que nossa
mídia esportiva não
consegue se superar e
ainda aposta no atraso


Por Tom Capri


Primeiro, Daniel Piza

Sábado último (16/4), foi a vez de José Mourinho, técnico do Real Madri, expor o comentarista Daniel Piza, do Estadão, de novo ao ridículo. Piza continua persistindo nas suas teses equivocadas, de que técnico não éautor e não ganha jogo, e ainda de que todo time sério não pode abrir mão do homem de área (teses defendidas também por boa parte de nossa mídia esportiva, a que eu chamo de Geni-Press). O que se viu ontem no clássico espanhol, e que temos presenciado à exaustão e não enxergam, foi justamente o contrário. José Mourinho deu show de tática, anulou o Barça de Messi e não sei se não teria ganhado o jogo não fosse aquela falha de Albiol que resultou no gol, de pênalti mal cobrado por Messi.

Também estou convencido de que um dos dois, Barça ou Real, teria tomado de goleada se tivesse optado pelo homem de área, figura que já foi abolida do futebol europeu, mas com a qual ainda sonha Piza (só os clubes brasileiros e nossa mídia esportiva ainda insistem nela). Mourinho foi, SIM, o verdadeiro autor dessa proeza, o Real Madri resistir ao Barça e por pouco não ganhar, mesmo com dez em campo, no primeiro dos quatro duelos entre os dois clubes espanhóis. O brilho de Mourinho expõe de novo Piza, e boa parte de nossa mídia esportiva, outra vez ao ridículo. Errar é humano, mas persistir no erro... Eis a nossa Geni-Press apostando de novo no atraso, de Daniel Piza a PVC, passando por Livio Oricchio e Reginaldo Leme.


E agora Felipe Massa

Não se iluda com o fato de Felipe Massa estar conseguindo superar Fernando Alonso nessas primeiras corridas do Mundial de Fórmula 1. Massa já deu provas de que é melhor do que Alonso, mas o espanhol ainda é o “queridinho” da Ferrari, vai continuar recebendo maior apoio e, inclusive, melhor carro, especialmente para as tomadas de tempo. Alonso ainda é o número um! Pode ver: quem faz a maioria dos testes da Ferrari durante as corridas é Alonso. Se dá certo, é ele quem leva vantagem. Se dá errado, como deu agora na China, ainda há tempo para Alonso voltar à situação anterior e se recuperar, como vimos.

O grande patrocinador da equipe, o Santander, banco espanhol, quer ver a Alonsomania voltar a ganhar espaço, o que só aconteceria com novas vitórias de Alonso. Seria a glória para o Santander. Por outro lado, o banco já pressiona a Ferrari para que não deixe Massa de lado, como fez no ano passado. O banco espanhol obteve os melhores resultados financeiros de 2010 justamente no Brasil. E a briga em 2010 entre Alonso e Massa, este literalmente escanteado pela equipe no ano passado, ameaçou aranhar a imagem do Santander no Brasil. O banco não quer mais isto, mas ainda dá prioridade a Alonso.

Já imaginou a conquista que seria para o Santander e o capitalismo espanhol reconduzirem Alonso ao título, garantindo-lhe o tri justamente nesta época de crise e de vacas magras? Massa só ganhará a preferência da Ferrari se resistir e superar Alonso ainda em muitas corridas, a ponto de o espanhol não poder mais alcançá-lo na pontuação, o que acho muito difícil. Mas não impossível.

O que se vê é que Alonso continua não dando conta do recado, apesar de ter todo apoio da Ferrari. Estou plenamente convencido de que, se a equipe desse carro em igualdade de condições a Massa nas tomadas de tempo e nas corridas, o brasileiro já teria obtido uma pole, pelo menos largado melhor e chegado ao pódio, e a Ferrari estar bem melhor na pontuação. Massa poderia até mesmo brigar pelo título deste ano, nestas condições. Mas a Ferrari não tem como agir de outra maneira: as preferências continuarão recaindo sobre Alonso.

Também não se iluda com a superioridade da Red Bull neste início de temporada. Sebastian Vettel só vinha ganhando porque a Red Bull está com o melhor carro e porque ele é o queridinho da equipe. A Red Bull ganhou fama, no ano passado, de não favorecer nenhum de seus pilotos e deixar que disputem em igualdade de condições o “posto” de “número um”. Evidentemente, isto sempre foi uma farsa.

O australiano Mark Webber é mais experiente e, até o momento, melhor e mais completo do que Vettel. Mas, desde o ano passado, Vettel, queridinho da equipe, tem a preferência, ganha sempre o melhor carro e recebe melhor tratamento. Mesmo assim, em 2010 vimos Webber, ainda que com carro inferior, dar alguns bailes em Vettel. Se a Red Bull tivesse apostado em Webber no ano passado, teria ganhado com muito mais facilidade aquele mundial (certamente, não teria havido aquela disputa acirrada com Alonso no final).

Já escaldada, a Red Bull, para manter a fama de que não dá preferência a ninguém e evitar problemas, deu um chega pra lá de cara em Webber já no começo da atual temporada. O suficiente para que o australiano não ficasse mais ameaçando Vettel. Acontece que, quando precisa dar a Webber carro em igualdade de condições ao de Vettel, como aconteceu agora na China, o australiano arregaça as mangas e atropela. Apesar de ter largado bem atrás, foi pódio na China.

E vem aí a McLaren. É visível, a equipe dá preferência a Jenson Button, que é branco, bonito e tem uma legião de fãs na Inglaterra, muito maior que a de Lewis Hamilton. Acontece que Hamilton cresceu muito e hoje figura entre os cinco melhores do mundo. Apesar de não ter a preferência da equipe, continua se impondo e, com certeza, vai brigar pelo título de 2011. Se ganhar o Mundial deste ano, será sem dúvida com muito mais méritos do que Vettel. Aí está mais um exemplo de que nossa Geni-Press aposta no atraso, de Livio Oricchio a Reginaldo Leme, passando por Daniel Piza e PVC. Abraço a todos
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08.042.011

Violência (no Rio) e Paixão


Veja por que Luchino Visconti está entre os primeiros do cinema a desvendar, com muita consciência, a verdadeira fonte de origem da violência e da barbárie como a que levou onze crianças à morte no Rio. Saiba por que ele fez minha cabeça nos anos 70. O alcance e a atualidade do cineasta, nestes tempos em que a sociabilidade vive completa falência dos órgãos, como vimos no Rio e vemos todos os dias.


Dedicado a Lélio Sotto Maior Júnior, amigo, arguto crítico de cinema apaixonado por Visconti. Lélio teve a coragem de, nos anos 60, assumir sua homossexualidade numa das cidades até hoje mais homofóbicas do Planeta, a minha Curitiba, também conhecida como “Cidade Sorriso”.


Por Tom Capri, direto de Sampa  


Fui rever há dias Violência e Paixão, de Luchino Visconti, no Cinesesc. E abri o berreiro. Não só pela atualidade e alcance desta obra-prima, mas principalmente porque descubro que muita coisa de minha cabeça, hoje, foi deflagrada pelo filme, que é de 74. É não só emoção, mas também muita pura comoção. Se você ainda não viu, vá ver. Se já viu, reveja, até porque, além de tudo, o filme é cativante e delicioso. Violência e Paixão é Visconti na sua melhor forma, apesar de já estar com a saúde bastante debilitada quando filmou (morreu em 76, aos 69 anos). É também síntese muito bem urdida de toda a sua filmografia. O que há de mais saboroso na obra do cineasta está no filme. Acaba de sair de cartaz do Cinesesc, em São Paulo, mas volta em maio (o cinema comprou os direitos de exibição no Brasil). Imperdível.

Quando vi na época, saí de quatro do cinema. Desta vez, por quatro vezes o filme me pôs de quatro de novo, sobretudo pela atualidade. Meu painho José Nêumanne Pinto, do Estadão, estava no cinema e testemunhou.

A primeira grande comoção me dominou quando a personagem do Professor (Burt Lancaster) diz aos “invasores” de sua casa: "Os intelectuais da minha geração tentam achar um equilíbrio entre a política e a moral; e essa é uma procura pelo impossível". Estava despontando, ali, a visão que tenho da política, e que é correta e científica: ela aí está apenas como ponto de alavancagem das classes dominantes, isto é, hoje como elemento de afirmação, proteção e defesa da lógica do capital.

E o capital, já sabemos, se assenta na violação dos direitos humanos mais sagrados, a partir do roubo em escala de força de trabalho, fonte geradora de toda a violência e barbárie a que estamos assistindo, essa que culminou com a morte de onze crianças no Rio. Visconti está entre os primeiros a denunciar isso no cinema.

A segunda comoção veio quando o mesmo Professor diz que “não há como a ciência ser neutra”. Estavam sendo fincadas, 37 anos atrás, as bases de meu último livro, Miséria da Ciência (2008), em que demonstro justamente isso: não há ciência neutra, apenas a ciência conduzida e balizada por uma classe, a dominante (hoje, pelo capital), como denuncia Visconti emViolência e Paixão.

O terceiro momento de comoção pintou quando Visconti, no filme, desconstrói em rápidas palavras o capitalismo, sem didatismo, sem proselitismo, e com elegância incomum. O texto nos é passado com naturalidade pelas personagens, sem qualquer ponta de panfletarismo. Sua visão do capitalismo é tão lúcida e atual, que a plateia mais desavisada poderá achar que o filme foi feito nos dias de hoje.

Por fim, o quarto e último momento de grande comoção foi quando os jovens “invasores” promovem, no andar de cima, ménage à trois ao som de uma versão italiana de “À Distância”, de Roberto Carlos. O som contrasta com o de Mozart que o Professor ouve no andar de baixo. Revendo o filme, me dei conta de que a música brega brasileira de repente virou cult entre nossos intelectuais, na época, em grande parte por causa desse registro de Visconti.

Num determinado momento dos anos 70, compositores como Caetano Veloso passaram a cultuar algumas peças de nossa música brega. Chegaram até a endeusar apresentadores como Chacrinha. A fonte de inspiração foi, constato agora, essa licença poética do cineasta italiano, presente no filme. E não gratuitamente: Visconti tinha consciência de que a música brega põe para fora todo o grito de dor do oprimido, é o espelho de sua alma sofrida.

Tanto isto é fato que, em recente entrevista, Ney Matogrosso revelou que decidiu gravar “À Distância”, de Roberto Carlos, quando ouviu a canção nos anos 70 em Violência e Paixão. Lembra que teve de esperar 36 anos para gravar porque, na época, Roberto andava ressabiado com o sucesso de sua banda, Secos & Molhados, e até meio estremecido com ele. Recentemente, Ney “ficou de bem”, abraçou Roberto e inseriu a canção no repertório de seu trabalho “Beijo Bandido”. E conta que a plateia chora quando ele canta “À Distância”.

Foi muito bom, e comovente, descobrir tudo isso num único filme,Violência e Paixão. Um bálsamo para a razão. Meus agradecimentos a Visconti.

Nos anos 60, éramos uma turma de jovens sonhadores que varava as gélidas madrugadas nos bancos de praça de Curitiba, para aplacar a solidão. Todos intelectuais, eu metido a. Às vezes, íamos direto dos altos papos para a aula, assim que amanhecia. Vez ou outra, levava cobertor, para suportar o frio. Sexualidade reprimida braba, típica de Curitiba. Não se comia ninguém, a não ser puta, como a Zenaide, por quem me envolvi. O papo preferido: obviamente, cinema.

Paulo Leminski também era da turma, no tempo em que vivia com Alice, mas não frequentava muito. Outro poeta do grupo era Rui Werneck, então meu melhor amigo. Era mais ligado a mim, não se enturmava tanto. Não sei se por conta da mesma homofobia da qual padeciam todos os curitibanos ou se de uma timidez crônica. Quem mais entendia de cinema era Lélio Sotto Maior Júnior. Até hoje, não apareceu na cidade crítico tão arguto. De vez em quando, víamos passar ao longe, no meio da noite, o velho vampiro Dalton Trevisan. Tempos difíceis, ainda que com sua beleza e charme.

Gay assumido, Lélio já publicava suas críticas no Estado do Paraná, então o melhor jornal da cidade. Foi com essa turma, e principalmente com Lélio, que abracei de vez o cinema. Lélio foi também quem me despertou para Visconti, por quem era apaixonado. Num texto em que aponta momentos inesquecíveis do cinema, Lélio registra, como um deles, “Dirk Bogard morrendo em Morte em Veneza, de Luchino”.

Na verdade, eu não era tão vidrado assim em Visconti. Minhas preferências recaíam mais sobre Fellini, Bergman, Buñuel e Godard. Filmes como Rocco e seus Irmãos, de 1960, por exemplo, hoje considerado obra das mais marcantes do neo-realismo italiano, não me impressionaram tanto. Revi esses dias e o achei datado, por vezes até chato. Mas Visconti sempre intrigava, incomodava, perturbava. E nos despertava para a consciência. Além de tudo, era aula de cinema.

O refinamento, a sensibilidade e a construção pictórica de cada fotograma são a marca dele. Suas imagens parecem saídas das grandes pinturas do classicismo. O ponto alto de Visconti é a leitura muito precisa que faz de Marx, algo raro no cinema e preciosa lição para a esquerda.

Gay, contraditório, controverso, aristocrata (era conde da tradicional família dos Visconti, de Milão), Luchino fazia arte como a arte deve ser: aquela mentira (na medida em que é ficção) que nos faz ver verdades, como dizia Picasso.

Vale repetir: Visconti está entre os primeiros do cinema a mostrar a verdadeira fonte de origem de tragédias como a que presenciamos no Rio, com a morte de onze crianças. Abraços a todos.

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01.04.2.011



Rixa Corinthians-São Paulo expõe os dois ao ridículo























Adriano, Luís Fabiano,
Itaquera, Morumbi, os
cem gols de Ceni e a
"majestosa" rivalidade


Entenda por que a guerra
Timão-São Paulo nos dá a
exata medida do atraso
de nosso glorioso futebol


Dedicado a Daniel Piza, Luiz Zanin e Paulo Vinícius Coelho (PVC), que, apesar de brilhantes, ainda não entenderam esse ponto crucial do futebol.


Por Tom Capri


Grandes rivalidades são sempre saudáveis no futebol. No caso de Corinthians e São Paulo, ao contrário, cada vez mais os dois clubes se expõem ao ridículo por conta disso. E, pior, o tom da rivalidade alimentada por ambos nos dá hoje a exata dimensão do atraso em que se encontra o nosso futebol. O mais recente capítulo dessa novela foram, além dos cem gols de Rogério Ceni, as contratações de dois homens de área, o “Imperador” Adriano, pelo Corinthians, e o “Fabuloso” Luís Fabiano, pelo São Paulo. Nada de mais, não fosse o fato de que o homem de área já é figura fora de moda e obsoleta no futebol, praticamente extinta em outras praças. Só no futebol brasileiro e entre os representantes da Geni-Press, a parte famigerada de nossa crônica esportiva, ela ainda é realidade (e até cultuada). Apesar disso, Corinthians e São Paulo não mediram esforços para festejar as duas contratações, travando uma batalha para provar quem fez o melhor negócio. E é aí que fica exposta toda a miséria de nosso futebol: nenhum dos dois clubes se deu conta de que está gastando um caminhão de dinheiro em um tipo de jogador que a cada dia perde espaço, é hoje desnecessário e até descartável: o homem de área. Nem mesmo os papas de nossa crônica esportiva perceberam que o futebol evoluiu para o fim dessa lendária figura e que só no Brasil ela ainda é adorada. Exemplos marcantes de dificuldade para entender isso são Daniel Piza e Luiz Zanin, do Estadão, e Paulo Vinícius Coelho, o PVC, do ESPN. É essa a questão que vou abordar aqui. Acompanhe.

Na coluna Boleiros do dia 30/3 (“Esportes” do Estadão, página E2), o colunista Daniel Piza diz que “a chegada de Adriano e Luís Fabiano é sintoma de uma carência que a Seleção, apesar do bom jogo, confirmou no domingo contra a Escócia: a carência de um homem de área.” Mas como? O que mais existe no futebol brasileiro --- de todos os tipos e tamanhos, bons, ruins, medianos, para os mais variados gostos --- é o homem de área. Não há nenhuma carência aí.

O que acontece é que os homens de área já desapareceram em outras praças e seguem o mesmo caminho também por aqui. E por uma única razão: simplesmente, porque deixaram de jogar como homens de área. Essa figura do centroavante que quase não sai da grande área, o matador clássico, já virou lenda em outros países e é até rejeitada nos grandes centros europeus. O mesmo começa a acontecer também por aqui.

Por que hoje em dia é assim? Porque, como tudo, o futebol também está em constante movimento e transformação, ou seja, não para de evoluir (ora para melhor, ora para pior). 

E o homem comum (incluo aqui dirigentes, técnicos, jogadores e a maior parte de nossa crônica esportiva, a que compõe a Geni-Press) não tem visão histórica de nada, faz apenas leitura superficial e rasa de tudo, e não acompanha os avanços. Limita-se à aparência, nunca vai à essência, só se dá conta do avanço quando ele já se consolidou.  

Vide Daniel Piza. Um dia, no passado, ele percebeu que o homem de área é o que mais faz gols (geralmente, os mais belos) e quem mais encanta a torcida, e se deixou embalar. Rapidamente, pôs na cabeça que o homem de área é o grande herói indispensável em qualquer time.

 Transformou isto em convicção pétrea e acha que o futebol continua assim até hoje. Acontece que não é mais assim. O futebol moderno é muito mais pegado, de forte marcação. Não dispensa, de nenhum jogador, forte empenho na destruição, especialmente do velho homem de área.

Todo time que conta com homem de área fazedor de gol que não ajuda muito na marcação --- a exemplo do Corinthians de Ronaldo nos últimos dias dele na equipe ---, acaba ficando bastante vulnerável. Hoje, o jogador tem, cada um em sua posição, de fazer tudo em campo, e direito: destruir, armar e finalizar. 

Para tanto, precisa ser completo e versátil, ou seja, tem de saber COMPOR, hoje palavra mágica no futebol. Até mesmo o goleiro se agiganta se for completo, a exemplo de Rogério Ceni, que além de ser muito bom em sua função, é de certa forma homem de área de seu time (acaba de chegar aos cem gols, muitos de pênalti, e é um dos artilheiros do São Paulo).

Essa nova exigência do futebol --- o jogador precisar ser versátil e completo --- obrigou os grandes homens de área a se adaptarem, principalmente os brasileiros que foram jogar na Europa, como Luís Fabiano e Adriano. Fabiano adaptou-se sem problemas, cresceu, evoluiu. Já Adriano nem tanto. 

Em recente entrevista, Fabiano disse que sua função, no Sevilla, era não só a de fazer gol, mas também de marcar duramente o volante do time adversário. Em suma, o homem de área deixou de ser aquele matador-poste para, além de fazer gol, ajudar o time na armação e principalmente na marcação. E, ao atuar assim, deixa de fazer tantos gols, mas fortalece seu time.  

É evidente que Fabiano é melhor contratação do que Adriano. Mas mesmo assim ele não deixa de ser um tradicional homem de área: é o que mais faz gols em sua equipe, o que mais encanta a torcida, o que é escolhido mais vezes pela crônica esportiva como melhor em campo, mas é também aquele que continuará não garantindo grandes títulos ao seu clube.

 Ficou anos no São Paulo, onde brilhou, mas não conquistou títulos de grande expressão. Na Europa, não deu nenhum título de peso ao Sevilla, à exceção da Supercopa da Europa, que não é lá essas coisas. Também não ganhou nada de importante na Seleção.

Na verdade, a seleção de Dunga não foi vitoriosa em 2010 em grande parte por causa desse esquema convencional que já na época era obsoleto, de jogar sempre com um homem de área, mesmo firme na ajuda à marcação, como Luís Fabiano. Na eliminação pela Holanda, isto ficou muito claro: com Fabiano avançado e os holandeses marcando muito forte, a Seleção não conseguiu reagir após o segundo gol de uma Holanda em que todos marcavam, armavam e finalizavam, correndo o tempo todo.

Sim, pesou muito a tão prognosticada agressividade de Felipe Melo, que acabou sendo expulso. Mas também foi decisivo o fato de que, durante toda a Copa de 2010, Luís Fabiano foi “menos um” na armação e ajuda à marcação, embora tenha feito belos gols e brilhado no que faz. Se tivéssemos optado por um Neymar lá na frente --- não é homem de área, mas é homem-gol (e olhe que Dunga podia tê-lo levado) ---, o Brasil poderia ter ganhado aquela Copa. SEM UM HOMEM DE ÁREA.

Quando conta com atacantes versáteis, completos, talentosos e que fazem gol à la Neymar, o time ganha em rapidez e eficiência, não só no meio-campo e no ataque, mas também na defesa. O segredo do futebol moderno está em saber jogar sem a posse da bola, para dela se apoderar o mais rápido possível. Um time com muitos especialistas e poucos versáteis não consegue fazer isso direito (assim era a Seleção de Dunga).

E Luís Fabiano chega ao São Paulo na hora mais errada. O técnico Carpegiani finalmente arrumou a casa e levou o São Paulo por algumas horas à liderança do Paulistão. É óbvio que Fabiano chega para ser titular. Vai entrar no lugar de quem? 

É evidente também que, apesar dos tropeços, o São Paulo só cresceu e se acertou em grande parte porque não joga mais com um homem de área. No time, hoje todos COMPÕEM, integram um verdadeiro “team”, em que a base de tudo é a entrega e a solidariedade, associadas à juventude de Lucas, Casimiro etc.

Como todo o nosso futebol é “viciado” em homem de área, tenho certeza de que Luís Fabiano ainda levará a torcida são-paulina ao delírio muitas vezes, mas em campeonatos aqui no Brasil. Ainda não sei como o São Paulo irá se comportar, com Fabiano, em torneios do porte da Libertadores, em que o poder de armação e marcação é fundamental e decisivo. Intuo que o jogador, até mesmo para os campeonatos internos, acabará desmontando esse bom time que o São Paulo tanto sofreu para construir.

Infelizmente, a situação ainda é pior pro lado do meu querido Timão. Adriano é aquele homem de área que seguiu para a Europa, ainda jovem e lépido, e, novidade, se afirmou como “Imperador”. Obrigado por lá a aprender a ajudar na marcação e armação, teve até bons momentos voltando para destruir e buscar o jogo, e arrancando depois para o gol, mas nunca conseguiu se adaptar completamente, a ponto de fazer isso direito.

Além do mais, ao precisar ajudar na marcação, Adriano teve seu poder de finalização bastante reduzido, o que foi agravado nos últimos anos pelo declínio de sua condição física. Sua volta à Itália provou que ele não tem mais espaço por lá. E não em razão da tão decantada instabilidade do jogador, que “deve estar nas drogas”, “é recordista em multa no trânsito”, “está sempre em briga com o bafômetro” e “é visto portando metralhadora supostamente de brinquedo”.

 Não é por isso. Adriano não repetiu suas boas atuações porque o homem de área não tem mais vez no futebol europeu. Prova de que o jogador só fez sucesso no Flamengo porque voltara ao futebol brasileiro.

E é provável que Adriano ainda faça sucesso também no Corinthians, pelos mesmos motivos. Mas com certeza chega para desagregar e, pior, para desmontar um time que finalmente conseguiu se arrumar, após a saída de Ronaldo. Vai entrar no lugar de quem? Como irá se comportar o Corinthians de novo com um homem de área que não reúne mais condições físicas para compor e ajudar na marcação e armação? Prevejo novos tropeços do Timão com Adriano como titular.

Na Copa de 2006, Adriano foi um dos postes do time, ao lado de outro, Ronaldo Fenômeno. Difícil que volte àquela condição física de sua juventude, quando compensava o baixo rendimento na ajuda à marcação com uma “patada” desconcertante e a agilidade que fizeram dele “Imperador”.

Mais fácil é admitir que também chega para desagregar e desmontar um time que se reergueu em grande parte porque passou a jogar sem homem de área (Liedson volta sempre para ajudar na marcação e armação, não tem problema de peso e faz gols).

O que mais me impressiona, em tudo isso, é que raros no Brasil já conseguiram assimilar esse discurso. Aponto principalmente os cronistas esportivos de nossa querida Geni-Press. Cheguei a trocar e-mails com alguns deles sobre essa questão, como Daniel Piza e Paulo Vinícius Coelho (PVC), entre outros, e isso não entra na cabeça deles.

 Não percebem que o time padece sempre que tem um homem de área mais voltado para o gol e pouco preocupado com a marcação e a armação, por mais belos gols que faça. Conversando um dia com PVC, ele me disse que a obsolescência do homem de área --- hoje, óbvia --- é mera opinião minha e que o que levanto não corresponde aos fatos.

Nesse mesmo artigo aqui já citado (“Esportes” do Estadão de 30/3), Daniel Piza diz também que a seleção de Mano Menezes precisa de um homem de área com alta média de gols e que Leandro Damião, testado pelo técnico contra a Escócia, tem feito muitos gols no Internacional, mas ainda não inspira confiança. 

Ora, é óbvio que Damião meio que “desapareceu” contra a Escócia porque recebeu ordens expressas para não jogar só como homem de área voltado apenas para o gol. Recebeu também a incumbência de ajudar muito na armação e marcação (foi visto atrás, tentando recuperar a bola), e ainda assim quase fez aquele gol de cabeça (a bola quicou na trave). Se tivesse feito aquele gol, Damião estaria sendo visto hoje, por Piza, como “o homem de área que estava faltando à Seleção”. Pobre Geni-Press.

Como atuou também apoiando e destruindo, Damião teve muito menos oportunidades de finalizar do que quando joga pelo Internacional. Cego, Piza não reconheceu isto e achou que o jogador “ainda não inspira confiança”. Não percebeu que o futebol solidário de Damião, como centroavante que COMPÕE, foi decisivo para fazer com que sobrasse espaço, por exemplo, para Neymar fazer dois gols e o Brasil dominar o jogo. Se a Seleção tivesse um homem de área só voltado para o gol no lugar de Damião (e que não ajudasse na marcação), é muito provável que as dificuldades teriam sido bem maiores contra a Escócia.

Qual foi o melhor time brasileiro dos últimos vinte anos, o que mais encantou? Foi o Santos de Ganso, Neymar e André. Não tinha um homem de área. Ninguém notou que André era fundamental na marcação, homem-gol que estava sempre voltando e ajudando muito tanto na armação quanto na destruição. Foi jogar na Ucrânia por um precinho camarada e corre o risco de não ser mais chamado por Mano. Desde que saiu, o Santos nunca mais foi o mesmo. Hoje, perde até de time sem expressão, mesmo com Neymar e Ganso como titulares durante os 90 minutos.

E dizer que Corinthians e São Paulo fizeram essa festa toda, trocando farpas e provocações, para receber dois homens de área que, em razão da fase em que se encontram os dois clubes, deverão subtrair muito mais do que acrescentar. Um clube se gabando por ter estádio com capacidade para colocar 45 mil pessoas na recepção a Luís Fabiano (Rogério Ceni como protagonista), outro se gabando porque concluirá em tempo o estádio de Itaquera que irá abrigar o jogo de abertura da Copa de 2014. Assim tem sido a palhaçada, regada a pompas, mau gosto e muito preconceito.

Ainda por cima, os dois clubes apostam agora suas melhores fichas nessa figura que já morreu para o futebol, o homem de área, o que comprova a falta de visão de nossos dirigentes. E de nossa mídia esportiva. Tá certo que, do ponto de vista de marketing, Luís Fabiano não deixa de ser uma bela cartada. Mas Adriano, nem isto.

É bom deixar bem marcado: os dois jogadores voltam ao futebol brasileiro não por causa da carência de homem-gol, como insiste Daniel Piza, nem porque os clubes brasileiros estão conseguindo se nivelar financeiramente aos europeus, como quis recentemente Luiz Zanin, também do Estadão. É óbvio que estão de volta porque é a última chance, de ambos, de retornar à Seleção.

E temo que, por mais sucesso que façam em seus clubes, Mano não os chame mais. Felizmente, o técnico já está entre os raros no País que começam a “farejar” o declínio e a obsolescência do homem de área. Já sacou que essa figura, ainda tão amada e acariciada no hoje obsoleto e atrasado futebol brasileiro, não tem mais serventia na maior parte dos grandes centros do futebol. Abraço a todos.
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24.03.2.011



Elucidando Jabor sobre tsunamis





Ingênuo, Arnaldo Jabor
ainda não sabe que o
capital e o He-Man
são a mesma coisa


Das séries “Pergunte ao Sérgio” e “A culpa
é de novo do capital numa hora destas?”


Por Tom Capri


Dedicado a Diogo Mainardi e Daniel Piza, que compartilham com Jabor da mesma ignorância.


Luis Fernando Verissimo lançou há algum tempo a série “Poesia numa hora destas?”. Eu lanço agora as séries “Pergunte ao Sérgio” e “A culpa é de novo do capital numa hora destas?”. Li Arnaldo Jabor (Caderno 2 do Estadão de 22/3/2011, página D12) e não acreditei. Fiquei sem chão, até sem assoalho, sem paredes, sem teto, sem tudo, nem sei como começar. Jabor simplesmente “concluiu” que a tragédia provocada pelo maremoto e o recente tsunami no Japão não têm culpados. Produziu um belo texto para mostrar que o episódio (quase dez mil mortos até aqui) carece de sentido e não tem explicação. Grita Jabor em seu artigo: “Não houve erro. Não foi ninguém, a não ser a marcha tranquila da matéria se ajustando na crosta, ignorando-nos, nós, os micróbios que a habitam”. Nem mesmo Deus pode ser responsabilizado, segundo Jabor, pois desde Nietzsche não existe mais, está morto e enterrado. Como pode Jabor, intelectual respeitado, autor de filmes deliciosos como Eu te Amo, que aprecio com moderação, ter escrito uma barbaridade dessas? Fico até constrangido de escrever a respeito. Simpatizo com Jabor, viajo nos filmes dele. Mas, desta vez, ele passou da conta. Ou será que Jabor está certo? Confira.

É até óbvio, não existe mais tragédia provocada por acidente natural. Da série “Pergunte ao Sérgio”, pergunte ao Sérgio Augusto, ele vai confirmar. Sim, furacões, tufões, erupções vulcânicas, maremotos, terremotos, tsunamis etc. são as causas reais dos acidentes, mas não das tragédias que deles advém. Estas têm culpados, sim, Jabor.

Não vou tão longe a ponto de afirmar que o capital tem forças até para acabar com a vida em Marte, como quer o gênio Hugo Chávez. Mas, é fato: de uns 300 anos para cá, não há mais dúvida de que o único responsável pelas tragédias decorrentes de acidentes naturais, e por tudo que se relaciona e deriva hoje do ser humano, é o capital. O capital é a mãe e o pai de todas as nossas conquistas e também de todas as nossas desgraças.

Lembro que o ser humano já está bem grandinho e sabe há mais de cinco séculos, bem antes de o capitalismo dominar o pedaço, como evitar as tragédias. É o capital que o impede de fazê-lo, sem os rompantes exagerados de Hugo Chávez, evidentemente. Portanto, há culpados, sim, Jabor. Não acredita nisso? Então leia a seguir e constate.

Como a Alemanha e a Itália, o Japão chegou por vias tortuosas e tardiamente ao capitalismo. No final do século 19, a Ilha ainda era feudal, época em que brilhavam os samurais. Por ter chegado tardiamente ao mundo regido pelo capital, o Japão era tão pobre quanto a Alemanha e a Itália. Carente de tudo, muito atrás dos colonizadores ingleses, franceses, belgas etc. A saída foram os três países unirem-se formando o Eixo, durante a Segunda Guerra, para reivindicar lugar ao Sol no próspero mundo capitalista, que já tinha expoentes como Inglaterra, França, Estados Unidos e mais alguns.

Resumindo, os três queriam se tornar potências capitalistas também. Hitler surge justamente nesse momento, para cativar os alemães ao afirmar que “Sim (ja), o alemão também pode”. É até “raça superior”, no entender dele. Os italianos e japoneses também “achavam que podiam”. Os japoneses chegaram até a tentar invadir os Estados Unidos, via Pealr Habor, achando que, em avassalando um dos berços do capitalismo clássico, enriqueceriam do dia para a noite. Mas não deu certo. Duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki acabaram em poucos minutos com o sonho japonês.

Temendo que o massacrado e derrotado Japão se tornasse então comunista, os Aliados, em especial os Estados Unidos, trataram logo de dar um jeito naquela encrenca toda. O Programa de Recuperação Européia (Plano Marshall) reergueu a Alemanha e a Itália, colocando-os em poucas décadas no topo da pirâmide do mundo capitalista, com a condição de que jamais se tornassem “comunistas” e nunca produzissem ogivas nucleares. Já sabemos, foram muito obedientes até aqui.

Já o Japão foi ainda mais beneficiado. Próximo da ameaça da ex-URSS e da China (que nos anos de 1940 também marchara para o “comunismo”), o país foi agraciado com um presente dos deuses: os americanos (e quase que todo o mundo ocidental) abriram seus mercados para os produtos japoneses. Em 58, ganhei o meu primeiro rádio Spica. Ia aos jogos de futebol com ele. Foi quando tivemos o milagre japonês. De país ainda com cores feudais, pobre e famélico, o Japão tornou-se rapidamente a segunda potência mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, posição que acaba de perder para a China.

O problema é que o capitalismo japonês, nas suas especificidades sem similares em nenhuma outra parte do mundo, avançou mais rapidamente do que podiam suas pernas. E não mediu conseqüências. Ergueu cidades quase sem planejamento, muito à moda brasileira, em praticamente toda a faixa litorânea, a mais suscetível aos tsunamis (a velha corrida imobiliária que tivemos em todos os países capitalistas), típico do capitalismo que chega tardiamente. Como se não bastasse, os japoneses instalaram inúmeras usinas nucleares nessas mesmas áreas, achando que detinham tecnologia capaz de dominar acidentes naturais como maremotos, terremotos e tsunamis. E o resultado aí está: mortes e destruição, e Jabor ainda não enxerga o culpado.

Com certeza, Jabor sabe o que é uma usina nuclear e para que serve. A energia elétrica não foi concebida para fornecer luz aos lares do Planeta, como se imagina. Isto foi apenas uma conseqüência natural. A energia elétrica apareceu para alavancar a industrialização, ou seja, para permitir e garantir ao capital a acumulação, processo que nos trouxe toda essa riqueza e prosperidade hoje concentrada nos países ricos, mas que também é responsável por toda a destruição que temos visto, mesmo a advinda de acidentes naturais.  

Tomemos, como exemplo, as hidroelétricas brasileiras. Elas transportam o trabalhador para o local de trabalho (nos metrôs, ônibus elétricos etc.). Permitem assim que ele tenha uma vida minimamente confortável, com luz elétrica, infraestrutura etc., de tal maneira que possa garantir, ao capital, a partir do roubo de sua força de trabalho de que é vítima (mais-valia), a tão ansiada acumulação, essencial ao capitalismo.  

O mesmo acontece com as usinas nucleares, pelas quais o Japão optou por não ter grandes mananciais hídricos. Hoje, o país tem 55 usinas nucleares, uma boa parte erguida nas faixas litorâneas, o que é no mínimo inaceitável.

Culpa de quem? Da estupidez humana, como disse recentemente Luis Fernando Verissimo? Não. Os japoneses não são estúpidos. A responsabilidade é unicamente do capital, que, frio, calculista, só se preocupou até hoje em acumular. O capital só se preocupa com o ser humano na exata medida em que este, na condição de trabalhador, lhe garante a acumulação. Nunca se voltou para o ser humano, e o mais atingido hoje é o japonês, que muito rapidamente aderiu ao consumismo compulsivo e hoje padece, tragado pelos tsunamis e pela radioatividade, apesar de toda aquela orgia tecnológica.

Os japoneses sabem, há séculos, que os tsunamis são altamente devastadores naquela região. Mas não podem fazer nada: a realidade japonesa também é atualmente regida pelo capital, e aí acabou a conversa.

Morei cerca de dez anos nos Estados Unidos e vi aquele povo engordar como porco por causa do enriquecimento desmedido e incontrolado dos alimentos. O alvo sempre foi aumentar as vendas, foda-se o ser humano. Vi também o americano se envenenar com a poluição, os agentes químicos, os agrotóxicos etc. A Terra está enferma, por obra do capital, mais ainda os países tidos como desenvolvidos, dos Estados Unidos ao Japão.

O que fazer, então? Derrotar o capital? Impensável em pleno século 21. Até porque não dá para derrotar o capitalismo, na medida em que não se trata de modelo ou fórmula inventada pelo homem. É apenas a estrada pela qual enveredou a humanidade, algum tempo depois de ter se dividido em classes antagônicas. Feita a caca, ficou difícil encontrar o fim do caminho.

O máximo que se pode fazer, hoje, é tentar deter essa destruição a que estamos assistindo pelas mãos do capital, e que pode acabar muito rapidamente com a vida no Planeta. E tomar consciência de que não há mais espaço para anticapitalismo romântico como o do século 20 e esse de Jabor, tão impotente e ingênuo. Ou seja, há que lutar para que não tenhamos ainda muitos anos de trevas pela frente, o que já será de bom tamanho. Não há, no momento, como deter a marcha do capital, que adquiriu vida própria e dobrou a humanidade. Ele é hoje amparado por tudo --- democracia, estado de direito, política, polícia, aparato militar, até a bomba atômica --- e tem a força. O capital é o verdadeiro He-Man, e Jabor ainda não sabe. “Pergunte ao Sérgio”. Abraços a todos.

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22.03.2.011























Fio de esperança
para Felipe Massa


Veja aqui o que a Geni-Press, a parte mais despreparada e majoritária de nossa crônica esportiva, não vai dizer a você durante toda a temporada de Fórmula 1.


Por Tom Capri


Dedicado a Mário Bardi e a Thiago Laguna, que acompanham a Fórmula 1 e estão entendendo o que rola no Cirquinho.


Felipe Massa volta a ter chances na Fórmula 1. Eu já dava a carreira dele por encerrada, no ano passado. Mas novos acontecimentos mudaram isso.

Os patrocinadores da Ferrari, Santander em especial (banco espanhol), já se deram conta de que usar Felipe só como escada de Fernando Alonso é roubada.

A imagem do banco e demais patrocinadores da escuderia ficaram arranhadas no País, ano passado, quando a Ferrari apostou todas as fichas em Alonso e pisou no brasileiro, apesar de ter na equipe piloto melhor que o espanhol, justamente Massa (já provou isto nas pistas).

Acontece que o Brasil foi responsável pela maior parte do lucro do Santander em 2010. Além disso, o Santander é o terceiro banco privado do País e não conseguiu crescer tanto no período quanto Itaú e Bradesco, os dois primeiros. Quer recuperar isso, tanto que o novo presidente, o espanhol Marcial Portela, já reforçou o foco no varejo.  

Em suma, o Brasil segurou a peteca do banco diante de uma Europa (principalmente, Espanha) em crise, com enormes dificuldades para superá-la. É visível que os patrocinadores da Ferrari já pressionaram a equipe para valorizar também Massa, que, graças à crise financeira no Primeiro Mundo, volta a ter chances.

Mas isto não quer dizer que tudo virou mar de rosas. A preferência ainda é por Alonso: o Santander ficará muito mais feliz se Alonso ganhar o Mundial de 2011 do que se Massa for o campeão.

Alonso é espanhol e corre atrás do tricampeonato. Será a glória para o banco, evidentemente. E melhor marketing do que se Massa vier a conquistar o título. Mas arranharia muito a imagem do banco, no Brasil, se Massa continuasse sendo tratado como escada do espanhol (o que acontece desde que Alonso entrou na Ferrari).

Massa é o melhor piloto da Fórmula 1 no momento. Sempre foi o mais forte candidato a novo mito do automobilismo mundial, mas o capital não deixou. A volta de Massa em alto estilo vai tornar mais fascinante a Fórmula 1 este ano. Mas há o outro lado da moeda. O brasileiro não terá, de novo, as mesmas condições nem o mesmo apoio dado a Alonso.

As coisas apenas melhoraram para o brasileiro, mas só a ponto de enganar o fã de Fórmula 1. Se Massa ficar atrás de Alonso na temporada, vai parecer que voltou a disputar com o espanhol em igualdade de condições e não soube aproveitar a chance. É outro que poderá terminar a temporada com a imagem arranhada, como a de piloto inferior a Alonso (o que, repito, ele não é, já provou isto nas pistas) e que “mais uma vez fracassou, tornando-se um novo Rubinho”.

A Fórmula 1 é essencialmente europeia e vinha escanteando os pilotos brasileiros. Foi preciso uma crise dessa proporção e nossa economia ter se tornado a bola da vez para que o capital se rendesse a esse novo filão, o Brasil, que está segurando sua peteca junto com a China etc. Quem diria? Abraço a todos.

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17.03.2.011
























Nosso futebol






















na descendente.
Entenda as crises no
Timão, São Paulo,
Palmeiras, Santos...


Dedicado a Fabrício Bertoldo, que jogava society comigo e também já pensa assim.


Por Tom Capri


É óbvio que nosso futebol está em baixa. Até a Geni-Press --- a maioria de nossos cronistas esportivos, aquela despreparada e arcaica --- já percebeu. Ela só não identificou ainda a causa do problema, no que faz par com a maioria das diretorias, comissões técnicas e jogadores. O que pretendo fazer aqui é apresentar essas causas, esclarecer. Aí vão.

São duas as grandes causas da decadência do nosso futebol (desde 2002 não conquista a Copa do Mundo). Uma é de bastidor: a estrutura clubística não se sustenta mais, até porque se deixou embalar pela corrupção. Outra é técnica: o futebol brasileiro --- e incluo aqui não só dirigentes, técnicos, jogadores etc., mas também nossa Geni-Press --- não acompanhou os avanços e ficou no caminho. Raros já perceberam que futebol é modalidade coletiva, de equipe, e que jogador que não compõe não tem mais vez.

A maioria dos envolvidos na atividade não sacou ainda que a preferência, hoje, é pelo jogador versátil e completo, que faz tudo em campo, e bem. O Santos, por exemplo, não deslancha na Libertadores por achar que basta ter Neymar e Ganso, e o restante. Não percebeu que um Santos com dez versáteis, como foi até recentemente (e mais um goleiro que faz gol como Rogério Ceni), ganha de um Santos que tem dois ou três craques geniais, mas o restante de especialistas que não compõem. Hoje, apenas um centroavante que não compõe é suficiente para derrubar o time.

Futebol é a arte da dedicação coletiva. Os cariocas perceberam isso e voltaram a ganhar o Brasileirão. A recente Seleção Brasileira Sub-20 ganhou o Sul-Americano e se classificou para as Olimpíadas porque só tinha jogadores que compõem e fazem tudo em campo, até mesmo os atacantes Neymar e Lucas, as novas revelações. Nenhum “paradão” e limitado. Já o Corinthians de fevereiro fracassou porque contava com um Ronaldo que não compunha mais, era um a menos em campo. Ronaldo saiu, veio Liedson, que compõe, e o problema foi resolvido.

Fato é que, no plano técnico, o Brasil não acompanhou os avanços do futebol. Não só os diretamente envolvidos, como dirigentes, técnicos, jogadores etc., mas especialmente a Geni-Press. E aí o caldo entorna de vez. São fartas as demonstrações de que todos, com raras exceções --- inclusive, a Geni-Press ---, não dominam os principais fundamentos do futebol moderno. Pararam no tempo.

Tive mais uma prova disso anteontem (15/3), na coluna Boleiros, do Estadão. O comentarista Luiz Zanin publica artigo em que saúda a volta de jogadores como Luís Fabiano. Diz que o Fabuloso volta “não para encerrar a carreira no clube do coração, mas sim por cima, no ponto alto de sua trajetória, com muitos anos de atividade pela frente”. E que este não deveria ser um caso isolado, pois esse tipo de repatriamento, ele deixa claro, poderia vir a marcar nova tendência e a comprovar que o futebol brasileiro está se levantando, na medida em que já demonstra ter como fazer grandes contratações.

É óbvio que não é nada disso. Fabiano voltou porque viu que Mano Menezes ainda não o chamou e sabe que, se não voltar a jogar num clube grande brasileiro, dificilmente será reaproveitado na Seleção. Até porque, se foi bem na Europa, de qualquer maneira não brilhou nem deu títulos significativos ao seu clube nem ganhou a Copa. Se continuasse fora do País, encerraria a carreira por lá mesmo, provavelmente esquecido. Portanto, a volta do jogador não marcaria tendência nenhuma, ainda que eu também a louve: o Fabuloso aprendeu na Europa a compor e é hoje centroavante moderno.

Se nada for feito para sanar tudo isso, corremos o risco de perder até mesmo a Copa de 2014, a ser disputada aqui, e de ficar outros 24 anos (ou mais) na fila, sem títulos mundiais, como aconteceu de 1970 a 1994.

Não há muito que dizer a respeito da estrutura clubística. Levou a ditaduras como as de João Havelange e Ricardo Teixeira, mesmo dentro dos clubes, o que estimulou a corrupção, verdadeiro buraco negro de difícil solução. O Clube dos 13 minguou, jorram denúncias contra a cúpula da CBF e da FIFA e não se avistam saídas.

Totalmente manipulado pelo capital, que fez dele rentável e atraente mercadoria, o futebol é hoje refém de individualidades (diretorias) que se perpetuam no poder, tanto nos clubes quanto nas entidades, devorando a maior parte do bolo. Isto é ruim até mesmo para o capital, que tomou conta da atividade e é tolhido por esses obstáculos. No futebol brasileiro, quem está mesmo mamando são as diretorias dos clubes e entidades. Quando estão, porque seu grau de endividamento já atingiu ponto crítico.

O que agrava tudo é que, outrora combativa, a ponto de demover ou sanear a estrutura se necessário, hoje nossa mídia esportiva é parte do esquema: está entre as que mais mamam, especialmente as emissoras de TV que detêm os direitos de transmissão. Isto leva ao maior dos absurdos: o jornalista, cujo papel principal é o da crítica, precisa entrar no jogo e não pode denunciar nada (isto acontece também na Fórmula 1). Não acompanha mais a vida do jogador (a maioria só vai a coletivas), não sabe o que está acontecendo com ele dentro e fora de campo. E chegamos ao ponto mais crítico: quem joga bola, na verdade, não é mais um ser humano, mas mero objeto de consumo, reduzido a “coisa” altamente rentável e muito fácil de explorar.

Ademais, assim como o palhaço no circo, quem menos ganha no espetáculo do futebol é o jogador, o verdadeiro artista da bola. Daí ele sempre ter razão (repito, sempre), em qualquer pendenga com seu clube. Incluo aqui até mesmo aqueles milionários, como Ronaldo Fenômeno, que ganharam muito menos do que renderam a seus clubes e entidades (especialmente, os que jogam pela Seleção etc.). Sinto falta, por exemplo, daquela matéria mostrando a quem Ronaldo Fenômeno mais enriqueceu, no futebol. A Globo? A CBF? Os clubes pelos quais jogou? Os adversários?

Assim, vale repetir o curto parágrafo do meio do texto, ali já enfatizado: se nada for feito para sanar tudo isso, corremos o risco de perder até mesmo a Copa de 2014, a ser disputada aqui, e de ficar outros 24 anos (ou mais) na fila, sem títulos mundiais, como aconteceu de 1970 a 1994. Dilma certamente não vai gostar disso. Abraços a todos.
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12.03.2011


















































Kadafi, Obama
e tsunamis


(Novas verdades que















































você precisa saber)


Por Tom Capri


Kadafi

A mídia continua sem dar explicações satisfatórias para a revolta árabe-muçulmana. Eu tenho duas que não sei se são corretas: uma é a de que se trata de rebelião dos novos mauricinhos e patricinhas árabes da era do celular e da Internet (patricinha árabe usa burca a contragosto, a propósito).

Refiro-me àqueles que, mauricinhos, desejam ter sua Ferrari, e que, patricinhas, sonham com fumar em público de shortinhos e pernas de fora. Buscam, todos, a famigerada democracia, que de democracia autêntica não tem nada e não passa de capa protetora e guardiã das ações do capital, a pior das ditaduras (repito, a pior das ditaduras).

A outra explicação é de que se trata de revolta de jovens muçulmanos, igualmente conservadores, contra a laicização de Estados como o líbio, depois que Kadafi abriu as pernas para o grande capital, não só americano, mas europeu e asiático.

Suspeito que uma dessas explicações seja a correta ou que as duas estejam certas. Espero que isto seja devidamente esclarecido nos próximos dias. Vamos lá, Mídia!

Barack Obama

Obama está no mato sem cachorro. Não tem para onde correr. Quem viu o filmeTrabalho Interno percebeu que o presidente dos EUA tem sido bastante pusilânime até aqui, especialmente no que se refere às medidas para debelar os efeitos dadébâcle financeira e a evitar nova crise econômica (regulação incipiente do mercado).

Percebeu também que os envolvidos – os mais recentes agentes do capitalismo dos EUA (de Reagan a Bush, passando por Clinton) e de todo o sistema financeiro do país – ainda estão soltos, a maioria nos altos cargos que então ocupavam.

Trabalho Interno só não explica as razões de toda essa fraqueza de Obama: negro, o presidente dos EUA não tem como reagir à altura. Se peitar ex-presidentes como Bush e Clinton e agentes da pesada do sistema financeiro, é bem capaz que tome uma bala na testa e saia rapidamente de cena. Por muito menos, John Kennedy não sabe até hoje que foi posto à bala para fora da Casa Branca. Na melhor das hipóteses, Obama levará tanta bordoada que, da mesma forma, não conseguirá se reeleger.

Por outro lado, se continuar titubeante desse jeito, não só não se reelege como passará para a história com a fama de pior presidente da história dos EUA. O primeiro presidente negro dos EUA? Obama trata de não deixar que isto ocorra.

A única carta que ainda tem na manga – acabar com Kadafi como Bush fez com Saddam Hussein – é igualmente pra lá de arriscada: mesmo que a operação tenha sucesso, o desgaste poderá vir a galope, uma vez que a economia dos EUA não consegue sair do sufoco e novos gastos dessa monta poderão até quebrar o império. E o argumento de que Kadafi também tem armas químicas já foi desmoralizado. O presidente dos EUA está aceitando sugestões. Mande a sua.

Tsunamis

As tragédias

 provocadas pelos tsunamis no Japão e em quase todo o Pacífico asiático são de inteira responsabilidade do capital. Não existem mais tragédias provocadas por acidentes naturais. E é muito fácil entender isto.

A principal característica do capital é a expansão desenfreada das vendas, para garantir acumulação cada vez maior. O capital faz qualquer negócio – não vê cara nem coração – para turbinar o consumo (de onde surgem as bolhas, que acabam derrubando o próprio sistema, e aí é duro de levantar).

Em função disso, o capital ocupou as faixas litorâneas do Planeta com todos os tipos de imóveis, de favelas a residências milionárias, sem se sensibilizar com a possibilidade de eventuais desastres naturais, como terremotos, tsunamis etc.

Os incas já sabiam como enfrentar os acidentes naturais, e evitar a destruição trazida por eles, muito antes do Descobrimento. Nós, os civilizados, hoje sob a égide do capital, ainda não temos uma noção clara de como escapar desse tipo de desastre.

Daí advêm as tragédias, como a que acaba de abalar o Japão e outros países asiáticos. A humanidade teve tempo mais do que suficiente, até aqui, para resolver isso, mas ainda engatinha nessa questão. Simplesmente por não ser preocupação do capital. Não era mais para termos mortes e tragédias como essas. Abraços a todos.

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25.02.2.011



Oscar não é lixo

Veja por que é
premiação séria,
apesar de tudo

Entenda o que é arte
autêntica no cinema

Delírios da criti-K-gay
contra a razão e a
verdadeira arte


Dedicado à inconsciência da maior parte da crítica mundial, a criti-K-gay, para que um dia desperte.


Por Tom Capri


Neste domingo (27/2), teremos a 83ª edição do Oscar. Nem sempre o Prêmio é justo, muitas vezes despreza e até condena a verdadeira obra de arte no cinema, mas é premiação séria e importante, apesar de tudo. Como a maioria dos críticos, os membros votantes da Academia de Artes e Ciências de Hollywood também ainda não sabem o que é arte nem o que é cinema, e muito menos o que é arte no cinema. Inclusive, há muito tempo suspeito de fraude na escolha dos premiados, como vejo que aconteceu no ano passado com o melhor do cinema, o filmeAvatar, que, boicotado, não levantou nenhum Oscar de expressão. Apesar de tudo, Hollywood ainda faz o melhor cinema do Planeta, batendo de longe europeus, asiáticos e latino-americanos. Além disso, o Oscar muitas vezes premia obras de arte autênticas, ou seja, bons filmes. Portanto, entre prós e contras, o Prêmio se salva e continua decisivo para a arte cinematográfica. Veja a seguir por que o Oscar é premiação séria e deve ser acompanhado todos os anos. Veja também o que é a arte autêntica no cinema e por que a criti-K-gay cresce no Brasil, representando atraso e retrocesso.

É verdade, o Oscar de 2011, a ser entregue domingo (27/2), não tem a mesma força do anterior. Em 2010, vivemos a surpreendente avalanche de Avatar, de James Cameron. O filme conquistou o público, tornou-se o maior sucesso de bilheteria de todos os tempos e foi indicado em várias categorias, embora não tenha ficado com a estatueta em nenhuma importante. Puro boicote. Mas a disputa deste ano tem bons filmes, que lamentavelmente passarão ao largo da premiação, a exemplo de Avatar, embora tenham recebido também indicações em várias categorias e mereçam os principais prêmios. É o caso de Biutiful, de Alejandro González Iñárritu, e Um Lugar Qualquer, de Sofia Coppola, sem dúvida os melhores filmes do ano.

A produção feita sob medida para ganhar o Oscar de 2011 --- e por isso favorita em quase todas as categorias --- é O Discurso do Rei: além de politicamente correto, é deliciosa louvação à monarquia britânica, o que os americanos adoram. Deve conquistar pelo menos o Oscar de melhor filme e melhor ator (Colin Firth), daí para mais. Vai se sair melhor, por exemplo, do que Rede Social, que não é para todos os públicos.

Nem a crítica (sobretudo a criti-K-gay --- veja o que ela é mais adiante) nem a Academia entenderam Biutiful e Um Lugar Qualquer. Será zebra se os dois filmes forem agraciados com algum prêmio de peso e não tiverem o mesmo destino deAvatar. A criti-K-gay disse, do primeiro, ser pesado demais e, do segundo, que não passa de historinha boba sem conteúdo e filme demasiado lento. Leitura equivocada, obviamente.

Biutiful é o grito do imigrante, legal ou ilegal, contra a rejeição e a barbárie das quais é vítima na Europa decadente de hoje (mais precisamente, em Barcelona). Um trabalho sincero de Iñárritu. E Um Lugar Qualquer, claramente autobiográfico, é o grito de solidão de Sofia, que sofreu muito no começo de sua adolescência com um pai ausente, Francis Ford Coppola. A lentidão é elemento decisivo da linguagem do filme, só através dela Sofia conseguiu se expressar e se comunicar como desejava.

Não são de hoje as grandes injustiças do Oscar (atores que reúnem todos os méritos para vencer, mas não conseguem; filmes que são claramente os melhores do ano, mas não ficam com a estatueta). Avatar é o maior exemplo. Já é, de longe, o melhor filme da cinematografia mundial, nos mais de cem anos de história do cinema. Disputa essa primazia com 8 e ½, de Fellini, mas já é o mais importante. Por várias razões, entre as quais a de ter sido o primeiro a colocar de forma consciente e explícita o capital como “bad guy”. O resultado é brilhante, tanto mais porque o diretor e roteirista James Cameron, para alcançar o que buscava (e alcançou: Avatar é o maior sucesso de bilheteria da história do cinema), usou e abusou dos clichês de filmes de ação, no que deixou toda a Academia de Hollywood de cabelo em pé. Foi o feitiço virando contra...

No ano passado, o musical Nine --- inspirado no autobiográfico 8 e ½ de Fellini --- foi outro grande injustiçado, chutado literalmente para escanteio, apesar de trazer no mínimo a melhor trilha sonora de 2009. Só tenho na memória um que gostou do filme tanto quanto eu: mestre Luis Fernando Veríssimo, especialmente de Nicole Kidman cantando Unusual Way (ouça nos links abaixo). Ainda assim, Veríssimo achou que a escolha de Daniel Day Lewis fora inadequada para o papel de Fellini, do que discordo.

Com medo de Avatar tanto quanto teve um dia de Chaplin, a Academia boicotou o filme de James Cameron. E suspeito de que até a premiação de melhor filme do Oscar 2010 tenha sido fraudada. A estatueta foi para a fita de Kathryn Bigelow, ex de Cameron, Guerra ao Terror, da qual não se ouve mais falar (só Daniel Piza, doEstadão, ainda se lembra da fita). O filme de Bigelow parece ter sido encomendado na última hora pela CIA para deter a tormenta de Avatar, então prestes a se tornar o maior vencedor da história do Oscar, o que seria golpe muito duro para oestablishment.

Mas nem sempre a cerimônia de premiação é essa festa reacionária inimiga da razão, que só faz enterrar a verdadeira obra de arte. Pelo contrário, os premiados são escolhidos por votação democrática pelos membros da Academia. É gente que não tem muita consciência do que é o cinema e do que é a verdadeira arte no cinema, mas que vota livremente.

Vale lembrar que muitos dos grandes filmes --- hoje ícones da cinematografia mundial --- ganharam a principal estatueta, de melhor da temporada, como Amor, Sublime AmorPerdidos na NoiteNo Calor da NoiteDança com LobosPlatoon,Titanic e, mais recentemente, Crash – No Limite. Ao mesmo tempo em que Guerra ao Terror já ocupa lugar de destaque no lixão da história do cinema.

Além disso, só o fato de terem recebido indicações nas principais categorias já é suficiente para colocar os grandes filmes no panteão do Oscar, que ainda é o maior divulgador da autêntica arte no cinema. Um Oscar de melhor filme surte mais efeito, do ponto de vista da arte verdadeira, do que cinco Palmas de Ouro do Festival de Cannes ou dez Leões de Ouro do Festival de Veneza.


O Garoto, de Chaplin,
é marco e exemplo
de arte no cinema

Em O Garoto, o cinema ganha finalmente a condição de arte, dando o maior salto qualitativo de sua história. Embora não seja o melhor filme de Chaplin (o melhor éTempos Modernos), O Garoto é não só marco no cinema como também referência na arte. Produzido em 1921, em plena era do cinema mudo, o filme marca a transição do cinema da condição de diversão e entretenimento para a categoria de arte.

O cinema foi criado para ser mais uma mercadoria rentável, mas no início não depositaram muita esperança nele, achando que seria negócio sem futuro. O primeiro passo foi guindá-lo a diversão e entretenimento. Vieram aquelas comediazinhas pastelões do cinema mudo, por exemplo, e o cinema começou a dar certo lucro. Até que surgiu Charles Chaplin para mudar radicalmente isso tudo e fazer do cinema arte verdadeira. Chaplin é quem dá esse ponta-pé inicial com O Garoto.

O que é arte verdadeira? É aquela que revela ao mundo as emoções mais profundas, que são nossas dores da alma e também nossas paixões e alegrias. Somos, todos, depositários de fortes emoções, sonhos e paixões. Ora nossa alma padece de dores agudas, como a que deriva da perda de um grande amor ou ente querido, ora se enche de júbilo e se arrebata quando de uma paixão ou chegada de um filho etc. Se somos tomados por uma dessas fortes emoções, gritamos. Elas mexem conosco, incomodam, viram nossa cabeça. E uma das formas de gritar, para nos libertarmos, é pela via da arte.

Quando pomos para fora com sinceridade o grito que está dentro de nós, seja na literatura, na música (mesmo que só na melodia), no cinema ou em qualquer outra forma de arte, fazemos arte autêntica. É por isso que, dizia John Lennon, só fazemos arte verdadeira quando somos sinceros e partilhamos com o outro nossas verdades mais caras. Isto é, quando pomos para fora, com sinceridade e autenticidade, aquele grito interior que nos está sufocando, provocado por dor profunda ou grande arrebatamento.

Quando algo nos incomoda muito, seja porque machuca, seja porque nos enche de júbilo, o colocamos para fora na forma de canção, sinfonia, poema, romance, peça teatral, filme, o que o valha, ou seja, na forma de arte. E colocamos para fora de tal maneira que aquilo seja partilhado com a humanidade, a fim de que nossos irmãos --- o público --- também possam viver a mesma experiência e aprender com ela (como se sair bem dela ou evitá-la, se for algo ruim, ou a vivê-la com a mesma intensidade, se for algo bom). É por isso que todas as formas de arte, para serem autênticas, precisam ser partilhadas com o público, mais do que isso, dependem do público para ser arte.

Assim, a verdadeira arte não passa de desabafo ou protesto sincero, pois desvela a forte emoção por que passou seu autor. Picasso tem a melhor e mais completa definição de arte: “É a mentira --- na medida em que é ficção, ou seja, invenção de seu autor --- que nos faz ver uma verdade”.

Como as dores do amor são sempre as mais lancinantes, grande parte das obras de arte canta o amor e suas vicissitudes. E mais: como todas as nossas dores mais lancinantes e nossas alegrias mais exacerbadas derivam irreversivelmente da sociabilidade (isto é, de nossa práxis na sociedade), a autêntica arte, ao revelar nossas grandes verdades, acaba sendo ato de rebeldia ou de protesto, ou ainda de louvação à mesma sociabilidade que é causadora de nossas dores e fortes emoções.

Os grandes do cinema, como Chaplin, Fellini, Bergman, Buñuel, Antonioni, Billy Wilder e James Cameron, entre outros, tiveram similares na pintura dos grandes mestres, de Van Gogh a Goya e de Munch a Hopper. O artista autêntico, não importa de que forma de manifestação estética tenha vindo, está sempre exorcizando seus demônios e buscando libertar-se de seus fantasmas. Enfim, tem necessidade de pôr seu grito para fora. De se comunicar com o mundo para desabafar e se ver livre.  

Goya pintou como ninguém os crimes da Santa Inquisição, que presenciou com horror e dor. Van Gogh pintou sua loucura de forma impressionista e impressionante. Mais recentemente, Munch foi o primeiro a dar expressão pictórica à depressão e à síndrome de pânico que tanto o acometia, com o célebre O Grito. E Hopper pintou a solidão que o deixava sem fôlego. Hopper carregava no bolso uma frase de Goethe que estava sempre lendo e que define tão bem quanto Picasso o que é arte autêntica: “O começo e o fim de toda atividade literária (de toda arte, portanto) é a reprodução do mundo que me cerca por meio do mundo que está dentro de mim”. A arte é, assim, a fiel reprodução dos gritos da alma do artista pelo filtro de sua subjetividade. Se não for assim, não é arte.

O Garoto é o primeiro filme que se impõe como verdadeira obra de arte, na história do cinema. A mãe de Chaplin tivera de se prostituir para sustentar os filhos e acabou louca num asilo, muito provavelmente vítima de sífilis. O pai era alcoólatra, teve pouco contato com o filho e morreu quando Chaplin tinha 12 anos. Isto fez de Chaplin uma espécie de menino abandonado e de rua, que ainda assim tinha admiração pela mãe.

Quando chega ao cinema, Chaplin resolve abrir seu coração em O Garoto --- ou seja, revelar todas as dores de sua infância. Como foi sincero ao contar a história do bebê abandonado pela mãe num automóvel e que Carlitos acaba criando --- numa época em que os filmes não duravam mais do que 20 minutos e quase que só faziam rir (O Garoto tem 50 minutos) ---, a identificação por parte do público foi imediata.

As plateias se emocionaram em O Garoto, e o filme acabou se tornando o maior sucesso de bilheteria da época e da carreira de Chaplin. E o cinema, com O Garoto, ganhou mais essa qualidade: a de ser uma obra de arte em estado puro. Pelas mesmas razões, Avatar veio ao mundo em 2009 para bater todos os recordes de público. Ainda assim, predomina hoje o cinema que é só diversão e entretenimento. Mas todo filme verdadeiramente de arte é filho de O Garoto. O cinema deve isso a Chaplin.


criti-K-gay
representando
atraso e retrocesso

Mais recentemente, ganhou corpo e se alastrou, com maior ênfase no Brasil, o fenômeno da criti-K-gay. O que é isso? É a ala mais retrógrada de toda a crítica. O fenômeno é mundial e não tem muito a ver com os gays, a não ser pelo fato de que persegue obsessivamente o politicamente correto e enxerga como inferior toda obra de arte que não alude ao universo gay e às minorias. A criti-K-gay é capaz de derrubar um filme só porque ele não contém nenhuma abordagem gay ou não fala às minorias. 

Nem todos seus críticos são gays. Há na criti-K-gay muitos heterossexuais. E boa parcela dos críticos gays, alguns entre os mais brilhantes, não fazem parte da criti-K-gay. O que todos os críticos dela têm em comum é não enxergar a verdadeira obra de arte corretamente como Picasso (“é a mentira que nos faz ver uma verdade”). Para a criti-K-gay, a obra de arte autêntica é aquela que transita necessariamente pelo universo gay e das minorias, e de forma politicamente correta. O resto não lhe diz respeito.

Na medida em que é numericamente significativa e desconhece o que é a verdadeira obra de arte, a criti-K-gay representa retrocesso no mundo da crítica. Adora os chatos filmes de ação e esotéricos (como Senhor dos Anéis etc.) e os aborrecidos filmes-cabeça com tramas intrincadas (como A Origem etc.), não se vexando em dar cinco estrelas para eles. Em última análise, ela só desinforma e representa um assalto à razão.  

Um exemplo de obra de arte autêntica que quase passou despercebida pela crítica, sobretudo pela criti-K-gay, é o de Mônica Martelli, em sua peça Os Homens São de Marte... e é pra Lá que Eu Vou. Atriz de sucesso, irmã de Susana, mulher de meu querido brother Herson Capri, Mônica viveu na carne a experiência da mulher encalhada --- um dos gritos mais lancinantes do universo feminino. Só se libertou quando pôs para fora esse seu grito na forma de um belo monólogo. Ou seja, quando vomitou, com sinceridade e brilho, na forma de comédia (portanto, ironizando a própria desgraça), todas as dores que havia experimentado como mulher encalhada.

O público partilhou de suas dores, a criti-K-gay não. E por ser peça muito bem urdida, viajou nela e adorou o espetáculo. Especialmente o público feminino, não só o das encalhadas, mas de todas as mulheres que viram a montagem (qual não encalhou um dia ou nunca teve medo de encalhar?). Essa verdade --- o grito de Mônica posto para fora com sinceridade e muito talento --- explica e justifica o seu sucesso: ao descrever uma mentira que nos faz ver uma verdade, Mônica fez o público, especialmente aquele mais atingido, identificar-se e emocionar-se com o espetáculo, lotando o teatro.

Por que dei esse nome --- criti-K-gay --- a essa parcela da crítica que vive perdida nas trevas da obscuridade? Porque eu simplesmente “K-gay” para ela.


Veja nos links abaixo Nicole Kidman,
Barbara Streisend e Griffith Frank
cantando Unusual Way. Escolha a melhor versão.




Abraços a todos.

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13.02.2.011



MúmiaBarak e
a democracia

Tudo muda no Egito para
que a maldição continue


Por Tom Capri

Os sábios não mais. Porém, o senso comum que aí está --- e que inclui celebridades, intelectuais e articulistas como Diogo Mainardi, Arnaldo Jabor e Daniel Piza etc. ---, ainda ignora essa grande verdade: a tão propalada democracia, hoje predominante no mundo ocidental, é a mais insidiosa forma de ditadura. Por quê? Porque ela é a via pela qual o capital se impõe e exerce sua dominação. E o faz da forma a mais sanguinária e violenta jamais presenciada antes pela humanidade --- e é bom lembrar que de democracia autêntica ela não tem absolutamente nada. O que mais nos interessa aqui é outro traço marcante da democracia: o de que ela se impõe a custas de múmias que a própria democracia fabrica, como Hosni Mubarak ou só MúmiaBarak, como prefiro chamar. O recente bye bye de MúmiaBarak, no Egito, tem um só significado: tudo muda no Egito para que continue como está. Eis a verdadeira maldição das múmias. Ou seja, tudo muda por lá para que a ditadura do capital --- pela via da tão querida democracia --- seja preservada e se perpetue, atingindo os mais longínquos rincões do Planeta. Em homenagem a isso, a praça Tahrir, no Cairo, até agora está em festa. Ainda tem alguma dúvida? Confira.

O que é uma múmia? É um ser humano, normalmente ilustre, que morreu e foi embalsamado, de Tutancâmon a Lênin. Ele é assim posto em estado de conservação para que sua morte, que necessariamente trará mudanças, não provoque transformações nem transtornos radicais ou substanciais. Ou seja, para que tudo em essência continue como antes, só com mudanças de somenos. No mínimo, para que a mudança que a morte de uma múmia sempre ocasiona seja apenas aparente e superficial, iludindo a maioria cega e alienada (os Diogo Mainardi, Arnaldo Jabor e Daniel Piza da vida, três dos mais altos comissários do capital, no Brasil).

Há múmias que são embalsamadas em vida, como Mainardi, Jabor, Piza e Hosni MúmiaBarak, Elas sobrevivem conservadas pelos elixires e bálsamos do capital. São assim criadas (geralmente pela mesma democracia, ou seja, pelo mesmo capital) para que ajam como seus porta-vozes, comissários e fantoches (tiranos, ditadores etc.), não deixando que nada de essencial mude ao seu redor (como fez durante trinta anos MúmiaBarak).

O problema é que essas múmias vivas como Mubarak invariavelmente extrapolam, fazem fortunas ilícitas, precisam se valer de métodos sanguinários e tirânicos para preservar tudo como está, em nome da democracia. Daí que acabam tornando-se pedra no sapato da própria democracia. Nesses casos, a democracia não tem outra alternativa senão assassinar literalmente ou promover a morte política da múmia viva, como acaba de acontecer com MúmiaBarak. Lembram-se do Golpe de 64, no Brasil? Foi a mesma coisa, com invólucro diferente, numa versão tupiniquim e igualmente militar.

A democracia só demorou a dar um chute no traseiro deste que era seu ditador dileto (MúmiaBarak) porque precisava antes arrumar a casa. Era necessário garantir que a mudança provocada pela morte política do ditador não viesse a ser obstáculo, para que tudo, na essência, pudesse permanecer como está.

É o que estamos vendo agora no Egito. O verdadeiro articulador das ações movidas até então pelo ditador era a CIA, devidamente assessorada pelos democráticos órgãos de segurança internacionais (a serviço do capital, bem entendido).

O que na verdade quer a democracia (o capital) no Egito e em todo o mundo islâmico? Quer a liberdade de ir e vir, para exercer sua dominação sem impeditivos. Por isso, preconiza para o mundo muçulmano estados laicos, com liberdade de religião e expressão, no qual seja garantido também o direito de propriedade. Só com essa liberdade incondicional --- não importa se garantida por tirano como MúmiaBarak ou se por alguém “democraticamente” eleito ---, o capital pode entrar, apoderar-se das riquezas e acumular, como é de seu feitio.

O problema é que essa ação “democrática” do capital contradiz toda a cartilha muçulmana, o maior obstáculo à democracia e ao capital, naquela região. É aí que bate o ponto.

Nada tenho contra os avanços da democracia (do capital) no mundo islâmico, que fique bem claro. A resistência do islamismo às investidas do capital, ainda que me comova, representa retrocesso e não avanço. O islamismo, como toda religião, não é solução para nada. Ademais, não sei se será capaz de deter os avanços da democracia/capital, em seus territórios. Acho que esse processo de dominação é irreversível.

Sadam Hussein é exemplo clássico de múmia viva (múmia satânica?), nesse processo de avanço do capital sobre a comunidade muçulmana. O ditador foi inventado pela democracia para derrotar a teocracia iraniana e facilitar a abertura do Irã à globalização do capital.

Deu com os burros n’água, assumiu ares de tirano imperialista, encheu os bolsos, humilhou George Bush pai e foi enforcado pela própria democracia: a mesma mão que tanto afagou, um dia matou. Eis a verdadeira maldição das múmias. Vivas ou não, elas preparam a própria mortalha e depois levam junto, não quem as amaldiçoou, mas quem seguiu seus passos.

O embate árabe-israelense nunca foi religioso.

Começou no final do século 19, quando os judeus começaram a se estabelecer na Palestina. Tomou corpo com a criação do Estado de Israel, em território que a comunidade muçulmana achava ser dela. E se aprofundou quando a democracia (o capital) fez de Israel seu mais forte aliado na região, para poder entrar com mais força e impor sua dominação na comunidade muçulmana.

Tudo se resume ao seguinte. O Egito faz fronteira com Israel. Não pode aderir de vez ao pan-arabismo (preconizado por Gamal Abdel Nasser, propondo a união de todos os países de maioria árabe-muçulmana) nem aos preceitos do islamismo (como os da Irmandade Muçulmana).

São movimentos que se opõem a Israel, mais enfaticamente desde que aflorou a questão da Palestina. Sabemos que o pan-arabismo e a ação muçulmana --- entre as quais, a da Jihad Islâmica, que preconiza a criação de um estado palestino islâmico e a destruição de Israel por meio de uma guerra santa --- estão por trás da atual “revolução” no Egito (que de revolução não tem nada).

Não dá para imaginar o que acontecerá se essas forças tomarem o poder no Egito, que precisa continuar como Estado minimamente laico, para que a democracia prevalente no Planeta não sucumba. O mundo poderá conhecer uma terceira guerra mundial, obviamente de proporções catastróficas, se isto vier a acontecer. E é claro que não vai ocorrer: a democracia (o capital) não vai deixar. Mas prevejo muito barulho e confusão --- sérias dificuldades --- até lá.

É justamente por isso que MúmiaBarak sempre foi amado pela democracia. Mesmo em paz com Israel, alcançou surpreendente sucesso ao devolver o Egito à Liga Árabe, até então isolado da comunidade árabe. Odiado por muitos, por ser considerado sionista e “lacaio do Ocidente”, conseguiu reprimir os movimentos islâmicos dentro de seu próprio país, como os da Irmandade Muçulmana. Era o tirano dos sonhos da democracia e do capital. Mas também pintou e bordou, roubou demais (dizem que é o homem mais rico do Planeta), e se tornou indesejável até para seu criador, a democracia (o Capital).

Outra múmia viva acaba de assumir o poder no Egito. É o marechal Mohamed Hussein Tantawi (Múmia Tantã?), que era ministro da Defesa e chefe do Conselho Superior Militar do Egito. Recente documento revelado pelo WikiLeaks, de 2008, descreve Múmia Tantã como homem cortês e encantador, mas incapaz de inovar e infenso a qualquer tipo de mudança essencial.

Por que será? Mera coincidência? Obviamente, foi posto lá para acalmar os ânimos e garantir uma transição sem derramamento de sangue. Para tanto, deverá liquidar todas as lideranças de oposição que apóiam a criação de um Estado islâmico de oposição a Israel. Refiro-me àquelas que poderão ter algum sucesso numa eventual eleição prevista para setembro (se é que haverá eleição no Egito). Múmia Tantã tem tempo para isso. Resta saber se será bem-sucedido na empreitada, como foi MúmiaBarak nos seus 30 anos de ditadura. Abraço a todos.

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03.02.2.011


ENGORDOU? NOVA VERSÃO



























Oi. Aí vai de novo o texto, agora corrigido, atualizado e melhorado (continha até erros de digitação), e também com acréscimos essenciais (havia esquecido dados importantes, leitores me alertaram). Segue também o arquivo atachado. Abração.


Você encontra este texto também em meu site


Engordou? Veja a
quem responsabilizar.
E a melhor solução.


Entenda por que o capital, que já salvou um dia a humanidade, hoje está nos engordando como porcos no chiqueiro.

A Dias Lopes, que escreve sobre culinária para o Paladar, caderno doEstadão, e que, na recente edição de 27/1/2011, página P6, nos brinda com curiosa solução para o problema: a porta pega-gordo.

Por Tom Capri

A América engordou. E está em pânico. No Brasil, até jogadores de futebol, como Ronaldo Fenômeno, enfrentam o problema. E ninguém ainda identificou as verdadeiras causas. E também não sabe qual a melhor saída. Reina absoluta ignorância a respeito. Tá todo mundo confuso. Sem saber que rumo tomar. Aqui vão algumas dicas. Antes, porém, a causa real da obesidade atual: a vida regida pelo capital. Eu sei que você não acredita nisso e já está dizendo: “Lá vem o Tom com sua mania de apontar o capital como culpado de tudo”. Não acredita? Então acompanhe a argumentação, que segue agora de forma didática e científica, muito fácil de entender. Como tudo, a obesidade também deriva de processos complexos que remontam aos primórdios da humanidade. É preciso ler com atenção, para que se possa apreendê-los e entendê-los tal como esses processos de fato se deram. Aí vai.

Como se engorda um porco no chiqueiro? Confinando-o num espaço bem reduzido, em que mal possa se mexer, e entuchando-lhe alimentos até estufar. Não é o que a vida moderna tem feito conosco? Não? Por que então o homem vem engordando cada vez mais, e já temos até humanos com mais de 500 quilos?

Nossa história pregressa não registra, nem nas pinturas, na literatura ou em qualquer outra forma de arte, a existência de um único ser humano com tanto peso assim. Ou registra? Se não registra, é porque algo aconteceu de lá para cá que levou a isso. São os processos pelos quais passaram os seres e objetos, até tomar a forma que adquiriram. É o que veremos a seguir.

Por que, como, onde e quando tudo começou? Começou quando, na sociedade primitiva, ainda tribal (não se sabe se há 30 mil, 50 mil, 100 mil anos, não importa), a humanidade viu-se obrigada a dividir-se em classes. De repente, passamos a ter basicamente duas tribos: a dos que oprimem e a dos oprimidos, sem que o homem tivesse consciência de que havia enveredado por esse caminho.

Isto aconteceu por que a humanidade começava a experimentar, à época, o inchamento populacional. Principalmente, na Europa. Os espaços estavam se tornando escassos, não havia mais lugar para todo mundo, começaram então as conquistas territoriais. Isto é, as guerras intertribais pela preservação dos espaços.

Na época, só havia uma maneira de defender e preservar o próprio território: conquistando os espaços das tribos vizinhas que eram a grande ameaça. E só havia uma maneira de manter, sob tutela, os territórios então conquistados: subordinando e escravizando as populações que neles viviam. Obviamente, para não deixar que elas retomassem os espaços usurpados e voltassem a ameaçar.

Nascem as classes. A principal característica dessa nova forma de organização social passa a ser o roubo de força de trabalho de uma classe (a oprimida) por outra (a opressora). A primeira forma de opressão foi a do senhor e do escravo, como a registrada no Egito antigo e na Grécia e na Roma clássicas. Tivemos outras formas, depois. Entre elas, destacam-se a feudal, do senhor e do servo, e a forma capitalista, hoje predominante e já globalizada, do patrão e do empregado.

Na sociedade primitiva, as tribos que conquistavam os territórios, para se defender e preservar seus espaços, não viam outra alternativa senão escravizar os habitantes dos territórios usurpados. Era preciso impedir que os conquistados se rebelassem e se revoltassem, tentando retomar os espaços que lhes haviam sido expropriados.

Nesse momento, vai nascendo aos poucos – a partir de processos igualmente bastante complexos e duradouros, e como necessidade do momento – a polícia, as forças armadas, a política, o Estado, as leis, o estado de direito, a democracia etc. Tudo para proteger os “novos proprietários”, os conquistadores, enfim, para garantir esse novo estado de coisas que se havia então formado.

Esse momento histórico da humanidade ficou marcado por uma nova forma de expropriação: o roubo de força de trabalho. Homens passaram a submeter seus semelhantes ao trabalho escravo, extorquindo-lhes força de trabalho. De uma hora para outra, os escravos viram-se obrigados a trabalhar para seu senhor, garantindo-lhe a sobrevivência em troca apenas de alimentos, teto e segurança.

Só assim, mantendo o povo conquistado sob o tacão do chicote, na condição de escravo, o conquistador pôde defender e preservar o espaço que havia conquistado. Surgiram, portanto, duas classes de homens: a que põe o semelhante para trabalhar e tirar proveito disso e a que se vê obrigada a trabalhar (e produzir) para outro, em troca de alimentos, teto e proteção (ou de salário, o grande truque tão em voga nos dias hoje).

É nesse exato momento histórico que começa o processo de engorda humana. Ao mesmo tempo, de definhamento e degradação da espécie, que vai evoluir e chegar ao que aí está: seres humanos hoje com mais de 500 quilos.

Até aquele momento, o homem era omnilateral, ou seja, fazia de tudo um pouco: ora saía para a pesca, ora para a caça, ora para conseguir frutos etc. Subia em árvores, escalava montanhas, enfrentava predadores. Enfim, tinha de matar literalmente um leão por dia. O esporte radical era prática natural. A força de trabalho que despendia, diretamente na natureza, não só garantia a sua sobrevivência, mas também o enriquecia espiritualmente (ele ia criando ao mesmo tempo, naturalmente, seus instrumentos de trabalho, como o arco e a flecha, o machado etc., e os bens de que necessitava para ter melhor qualidade de vida).

Era preciso se alimentar e alimentar os seus. E o homem o fazia com liberdade para consumir tudo o que obtinha na luta pela sobrevivência. Isto lhe garantia manter sua pelagem fortalecida e lhe conferia invejável capacidade física. Tínhamos o homem integrado à natureza como qualquer outra espécie irracional, com a diferença de que conquistara antes, por meio de outros processos complexos, a capacidade de pensar.

No momento em que tivemos essa divisão em classes, em que um homem pôs outro para trabalhar em proveito próprio, isso desmoronou. O equilíbrio se desfez.

Aquele que tinha de matar um leão por dia para sobreviver e se tornara conquistador e senhor de escravos, deixou de lutar pela sobrevivência diretamente na natureza, como vinha fazendo. Agora, tinha quem o fizesse por ele: seus escravos. Nem via mais o leão chegar perto. A partir de então, foi perdendo a força e a forma física, a pelagem etc. Não fazia mais os exercícios de antes. Precisava apenas administrar o trabalho de seus escravos. Começa aí o processo de engorda.

Já aquele que passou a trabalhar para outro, primeiramente como escravo e hoje como empregado, também foi perdendo a forma física e a pelagem porque igualmente não precisava mais matar um leão por dia. A partir de então, passou a exercer apenas uma atividade rotineiramente, todos os dias, quase sempre num mesmo local. Uns só caçavam, outros só pescavam etc.

Surgiram, assim, as especializações, a partir da divisão social do trabalho, até chegarmos aos dias de hoje. A partir de então, o escravizado (classe oprimida) foi também perdendo a força e a forma física, a pelagem etc. Como não tinha mais de fazer os mesmos exercícios nem matar um leão por dia, começou também a engordar.

Foi assim, com o advento da sociedade de classes, que o homem enveredou por esse processo de degradação e definhamento que temos até hoje. Ou seja, que iniciou sua engorda. E é na sociedade de classes de talhe capitalista como a de hoje – em que estamos divididos em patrões, empregados e desempregados – que a engorda vai atingir requintes assustadores, como dá para perceber nos Estados Unidos.

Em suma, os dois lados passaram a engordar, até chegarmos aos dias de hoje. Os patrões não fazem outra coisa senão administrar a acumulação do capital em seus escritórios. E os empregados não fazem outra coisa senão cumprir tarefas rotineiras, monótonas e aborrecidas, num mesmo local, como apertar porcas numa linha de montagem ou ficar sentado o dia inteiro num táxi etc.

A humanidade, que havia se preparado fisicamente durante milênios para vencer a natureza e sobreviver, hoje não tem mais como fazê-lo, pois definhou. Precisa agora se valer do avanço tecnológico e das máquinas que criou para poder fazer frente à natureza. E ainda assim está sempre sendo surpreendido por ela.

Para se manter em forma fisicamente, o homem teve de inventar as atividades esportivas, em substituição às que praticava naturalmente quando caçava, pescava etc. Mais recentemente, criou as academias de ginástica. O problema é que só uma minoria pode ter acesso ou tem tempo para tudo isso. E o que resulta é mais engorda.  O que, sob o capital, é agravado por inúmeras outras situações.

A prática do roubo de força de trabalho (mais-valia), exacerbada no capitalismo muito mais do que em qualquer outra forma de produção, deixa o homem (os dois lados) infeliz. Isto traz novas doenças (inclusive, terminais), levando ao estresse (no limite, à bulimia, à anorexia, ao diabete, à síndrome de pânico, à bipolaridade, à esquizofrenia, à depressão, à ansiedade etc.), ou seja, à falência dos órgãos, à loucura, ao suicídio e às novas doenças que vêm por aí.

O refúgio está na religião, nas drogas e na gula (nesse estado, você tende a comer mais), que funcionam como opiáceos, levando a humanidade a mascarar todas essas agruras, hoje impossíveis de suportar, e a tornar ainda mais difícil uma solução para isso.

Ainda por cima, sob o capitalismo, os alimentos – para garantir e expandir as vendas e a acumulação – passaram a ser vitaminados e processados inadequadamente, contendo açúcar e calorias em excesso (especialmente, ajunk food). Afora o enriquecimento inadequado, eles contêm todos os tipos de “antes” (também para garantir as vendas), os quais são geralmente cancerígenos: corantes, conservantes, acidulantes, espessantes etc.

Agregue a isso os agrotóxicos e defensivos agrícolas, mais cancerígenos ainda – e também as rações (que jamais saberemos exatamente de que são feitas e de como elas aumentam os lucros dos criadores e ameaçam a saúde dos animais e a nossa) – e teremos a falência física e, portanto, mental da humanidade. Isto é, teremos a engorda que nos assola.

Sem poder fazer exercícios e se alimentando o dia inteiro de junk food, o homem moderno, resultado da vida regida pelo capital, não tem como escapar dos distúrbios hormonais e contrai todos os tipos de doenças, inclusive a ansiedade, o que o leva a comer ainda mais, tornando-se obeso. Aí está o gordo de nossos dias.

Há solução? Sim, há. Dias Lopes, que escreve sobre culinária para o cadernoPaladar do Estadão, tem uma que é da hora (edição de 27/1, página P6) e que me inspirou a escrever este artigo: instalar em casa a porta pega-gordo (porta fitness), tal qual a do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (século 12, região central de Portugal). A porta tinha dois metros de altura e apenas 32 cm de largura. No momento em que você não conseguir mais passar por ela, deve iniciar séria dieta.

Se nem mesmo a porta pega-gordo funcionar, o jeito é juntar-se àqueles que lutam para deter as ações do capital que estão levando a esse definhamento e degradação física da humanidade. É tarefa árdua, extenuante, mas necessária.

O capitalismo, modo de produção pelo qual um dia enveredamos sem ter consciência do que estávamos fazendo, salvou a humanidade. A prática do roubo diário e em escala de força de trabalho (mais-valia) permitiu todo esse progresso e esse avanço tecnológico nunca vistos antes.

Com os bens materiais que já criamos, conquista irreversível da humanidade, e mais os que virão por aí, o homem poderá estar muito em breve capacitado a solucionar seus problemas mais graves, se não desaparecer antes. A questão é que a criação e produção de todas as riquezas e bens materiais, até aqui, trouxe também imensa devastação ambiental e definhamento da espécie humana, pondo em risco até mesmo a vida no Planeta.

É preciso agir contra isso, e já, sob pena de acabarmos todos gordos e doentes, e assistirmos ao fim da humanidade. Hora de unir-se àqueles que buscam solução concreta para isso. Aí está o único caminho viável. Abraços a todos.





29.01.2.011



Engordou? Veja a
quem responsabilizar.
E a melhor solução.

Entenda por que o capital, que já salvou um dia a humanidade, hoje está nos engordando como porcos no chiqueiro.

A Dias Lopes, que escreve sobre culinária para o Paladar, caderno doEstadão, e que, na recente edição de edição de 27/1, página P6, nos brinda com curiosa solução para o problema: a porta pega-gordo.

Por Tom Capri

A América engordou. E está em pânico. No Brasil, até jogadores de futebol, como Ronaldo Fenômeno, enfrentam o problema. E ninguém ainda identificou as verdadeiras causas. E também não sabe qual a melhor saída. Reina absoluta ignorância a respeito. Tá todo mundo confuso. Sem saber que rumo tomar. Aqui vão algumas dicas. Antes, porém, a causa real da obesidade atual: a vida regida pelo capital. Eu sei que você não acredita nisso e já está dizendo: “Lá vem o Tom com sua mania de apontar o capital como culpado de tudo”. Não acredita? Então acompanhe a argumentação, que segue agora de forma didática e científica, muito fácil de entender. Como tudo, a obesidade também deriva de processos complexos que remontam aos primórdios da humanidade. É preciso ler com atenção, para que se possa apreendê-los e entendê-los tal como esses processos de fato se deram. Aí vai.

Como se engorda um porco no chiqueiro? Confinando-o num espaço bem reduzido, em que mal possa se mexer, e entuchando-lhe alimentos até estufar. Não é o que a vida moderna tem feito conosco? Não? Por que então o homem vem engordando cada vez mais, e já temos até humanos com mais de 500 quilos?

Nossa história pregressa não registra, nem nas pinturas, na literatura ou em qualquer outra forma de arte, a existência de um único ser humano com tanto peso assim. Ou registra? Se não registra, é porque algo aconteceu de lá para cá que levou a isso. São os processos pelos quais passaram os seres e objetos, até tomar a forma que adquiriram. É o que veremos a seguir.

Por que, como, onde e quando tudo começou? Começou quando, na sociedade primitiva, ainda tribal (não se sabe se há 30 mil, 50 mil, 100 mil anos, não importa), a humanidade viu-se obrigada a dividir-se em classes. De repente, passamos a ter basicamente duas tribos: a dos que oprimem e a dos oprimidos, sem que o homem tivesse consciência de que havia enveredado por esse caminho.

Isto aconteceu por que a humanidade começava a experimentar, à época, o inchamento populacional. Principalmente, na Europa. Os espaços estavam se tornando escassos, não havia mais lugar para todo mundo, começaram então as conquistas territoriais. Isto é, as guerras intertribais pela preservação dos espaços.

Na época, só havia uma maneira de defender e preservar o próprio território: conquistando os espaços das tribos vizinhas que eram a grande ameaça. E só havia uma maneira de manter, sob tutela, os territórios então conquistados: subordinando e escravizando as populações que neles viviam. Obviamente, para não deixar que elas retomassem os espaços usurpados e voltassem a ameaçar.

Nascem as classes. A principal característica dessa nova forma de organização social passa a ser o roubo de força de trabalho de uma classe (a oprimida) por outra (a opressora). A primeira forma de opressão foi a do senhor e do escravo, como a registrada no Egito antigo e na Grécia e na Roma clássicas. Tivemos outras formas, depois. Entre elas, destacam-se a feudal, do senhor e do servo, e a forma capitalista, hoje predominante e já globalizada, do patrão e do empregado.

Na sociedade primitiva, as tribos que conquistavam os territórios, para se defender e preservar seus espaços, não viam outra alternativa senão escravizar os habitantes dos territórios usurpados. Era preciso impedir que os conquistados se rebelassem e se revoltassem, tentando retomar os espaços que lhes haviam sido expropriados.

Nesse momento, vai nascendo aos poucos – a partir de processos igualmente bastante complexos e duradouros, e como necessidade do momento – a polícia, as forças armadas, a política, o Estado, as leis, o estado de direito, a democracia etc. Tudo para proteger os “novos proprietários”, os conquistadores, enfim, para garantir esse novo estado de coisas que se havia então formado.

Esse momento histórico da humanidade ficou marcado por uma nova forma de expropriação: o roubo de força de trabalho. Homens passaram a submeter seus semelhantes ao trabalho escravo, extorquindo-lhes força de trabalho. De uma hora para outra, os escravos viram-se obrigados a trabalhar para seu senhor, garantindo-lhe a sobrevivência em troca apenas de alimentos, teto e segurança.

Só assim, mantendo o povo conquistado sob o tacão do chicote, na condição de escravo, o conquistador pôde defender e preservar o espaço que havia conquistado. Surgiram, portanto, duas classes de homens: a que põe o semelhante para trabalhar e tirar proveito disso e a que se vê obrigada a trabalhar (e produzir) para outro, em troca de alimentos, teto e proteção (ou de salário, o grande truque tão em voga nos dias hoje).

É nesse exato momento histórico que começa o processo de engorda humana. Ao mesmo tempo, de definhamento e degradação da espécie, que vai evoluir e chegar ao que aí está: seres humanos hoje com mais de 500 quilos.

Até aquele momento, o homem era omnilateral, ou seja, fazia de tudo um pouco: ora saía para a pesca, ora para a caça, ora para conseguir frutos etc. Subia em árvores, escalava montanhas, enfrentava predadores. Enfim, tinha de matar literalmente um leão por dia. O esporte radical era prática natural. A força de trabalho que despendia, diretamente na natureza, não só garantia a sua sobrevivência, mas também o enriquecia espiritualmente (ele ia criando ao mesmo tempo, naturalmente, seus instrumentos de trabalho, como o arco e a flecha, o machado etc., e os bens de que necessitava para ter melhor qualidade de vida).

Era preciso se alimentar e alimentar os seus. E o homem o fazia com liberdade para consumir tudo o que obtinha na luta pela sobrevivência. Isto lhe garantia manter sua pelagem fortalecida e lhe conferia invejável capacidade física. Tínhamos o homem integrado à natureza como qualquer outra espécie irracional, com a diferença de que conquistara antes, por meio de outros processos complexos, a capacidade de pensar.

No momento em que tivemos essa divisão em classes, em que um homem pôs outro para trabalhar em proveito próprio, isso desmoronou. O equilíbrio se desfez.

Aquele que tinha de matar um leão por dia para sobreviver e se tornara conquistador e senhor de escravos, deixou de lutar pela sobrevivência diretamente na natureza, como vinha fazendo. Agora, tinha quem o fizesse por ele: seus escravos. Nem via mais o leão chegar perto. A partir de então, foi perdendo a força e a forma física, a pelagem etc. Não fazia mais os exercícios de antes. Precisava apenas administrar o trabalho de seus escravos. Começa aí o processo de engorda.

Já aquele que passou a trabalhar para outro, primeiramente como escravo e hoje como empregado, também foi perdendo a forma física e a pelagem porque igualmente não precisava mais matar um leão por dia. A partir de então, passou a exercer apenas uma atividade rotineiramente, todos os dias, quase sempre num mesmo local. Uns só caçavam, outros só pescavam etc.

Surgiram, assim, as especializações, a partir da divisão social do trabalho, até chegarmos aos dias de hoje. A partir de então, o escravizado (classe oprimida) foi também perdendo a força e a forma física, a pelagem etc. Como não tinha mais de fazer os mesmos exercícios nem matar um leão por dia, começou também a engordar.

Foi assim, com o advento da sociedade de classes, que o homem enveredou por esse processo de degradação e definhamento que temos até hoje. Ou seja, que iniciou sua engorda. E é na sociedade de classes de talhe capitalista como a de hoje – em que estamos divididos em patrões, empregados e desempregados – que a engorda vai atingir requintes assustadores, como dá para perceber nos Estados Unidos.

Em suma, os dois lados passaram a engordar, até chegarmos aos dias de hoje. Os patrões não fazem outra coisa senão administrar a acumulação do capital em seus escritórios. E os empregados não fazem outra coisa senão cumprir tarefas rotineiras, monótonas e aborrecidas, num mesmo local, como apertar porcas numa linha de montagem ou ficar sentado o dia inteiro num táxi etc.

A humanidade, que havia se preparado fisicamente durante milênios para vencer a natureza e sobreviver, hoje não tem mais como fazê-lo, pois definhou. Precisa agora se valer do avanço tecnológico e das máquinas que criou para poder fazer frente à natureza. E ainda assim está sempre sendo surpreendido por ela.

Para se manter em forma fisicamente, o homem teve de inventar as atividades esportivas, em substituição às que praticava naturalmente quando caçava, pescava etc. Mais recentemente, criou as academias de ginástica. O problema é que só uma minoria pode ter acesso ou tem tempo para tudo isso. E o que resulta é mais engorda.  O que, sob o capital, é agravado por inúmeras outras situações.

A prática do roubo de força de trabalho (mais-valia), exacerbada no capitalismo muito mais do que em qualquer outra forma de produção, deixa o homem (os dois lados) infeliz. Isto traz novas doenças (inclusive, terminais), levando ao estresse (no limite, à bulimia, à anorexia, ao diabete, à síndrome de pânico, à bipolaridade, à esquizofrenia etc.), ou seja, à falência dos órgãos, à loucura, ao suicídio e às novas doenças que vêm por aí. O refúgio está na religião e nas drogas, que funcionam como opiáceos, levando a humanidade a mascarar todas essas agruras hoje impossíveis de suportar e a tornar ainda mais difícil uma solução para isso.

Ainda por cima, sob o capitalismo, os alimentos – para garantir as vendas e a acumulação – passaram a ser vitaminados e processados inadequadamente, contendo açúcar e calorias em excesso (especialmente, a junk food). Afora o enriquecimento inadequado, eles contêm todos os tipos de “antes” (também para garantir as vendas), os quais são geralmente cancerígenos: corantes, conservantes, acidulantes, espessantes etc. Agregue a isso os agrotóxicos e defensivos agrícolas, mais cancerígenos ainda, e teremos a falência física da humanidade. E a engorda.

Sem poder fazer exercícios e se alimentando o dia inteiro de junk food, o homem moderno, resultado da vida regida pelo capital, não tem como escapar dos distúrbios hormonais e contrai todos os tipos de doenças, tornando-se obeso. Aí está o gordo de nossos dias.

Há solução? Sim, há. Dias Lopes, que escreve sobre culinária para o caderno Paladar do Estadão, tem uma que é da hora (edição de 27/1, página P6) e que me inspirou a escrever este artigo: instalar em casa a porta pega-gordo (porta fitness), tal qual a do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (século 12, região central de Portugal). A porta tinha dois metros de altura e apenas 32 cm de largura. No momento em que você não conseguir mais passar por ela, deve iniciar séria dieta.

Se nem mesmo a porta pega-gordo funcionar, o jeito é juntar-se àqueles que lutam para deter as ações do capital que estão levando a esse definhamento e degradação física da humanidade. É tarefa árdua, extenuante, mas necessária.

O capitalismo, modo de produção pelo qual um dia enveredamos sem ter consciência do que estávamos fazendo, salvou a humanidade. A prática do roubo diário e em escala de força de trabalho (mais-valia) permitiu todo esse progresso e esse avanço tecnológico nunca vistos antes.

Com os bens materiais que já criamos, conquista irreversível da humanidade, e mais os que virão por aí, o homem poderá estar muito em breve capacitado a solucionar seus problemas mais graves, se não desaparecer antes. A questão é que a criação e produção de todas as riquezas e bens materiais, até aqui, trouxe também imensa devastação ambiental e definhamento da espécie humana, pondo em risco até mesmo a vida no Planeta.

É preciso agir contra isso, e já, sob pena de acabarmos todos gordos e doentes, e assistirmos ao fim da humanidade. Hora de unir-se àqueles que buscam solução concreta para isso. Aí está o único caminho viável. Abraços a todos.

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14.01.2011

Calamidades:
triste retrato de
nossa pré-história

Vença a cegueira entendendo
por que não existe mais “tragédia
natural” no mundo do capital

Dedicado a Sérgio Augusto, um dos raros brasileiros que compreenderam esta questão. E aos poetas Rui Werneck, Paulo Germanos e Denis Rosenfield, que não conseguem ir além da leitura superficial, convencidos de que ela é correta.

Por Tom Capri

Estou irritado com você. É, com você, aquele que ainda sustenta visão superficial de tudo, enxerga a realidade apenas pelas aparências e não faz nada para se superar e tomar consciência. A maioria esmagadora dos habitantes do Planeta ainda vê o mundo assim. Abre a janela de casa, vê a chuva devastar e matar, como está acontecendo em todo o Brasil, e imagina que, “por azar, mais um acidente natural causado por forças misteriosas” está arrasando tudo. Ainda não acordou para o fato de que não existe mais “tragédia natural”. De que todas as tragédias ditas naturais --- mesmo as causadas por terremotos, tornados, tsunamis, vulcões que entram em erupção etc. --- são, de duzentos anos para cá, de inteira responsabilidade da sociabilidade, essa regida pelo capital que aí está. É o capital o pai da criança! Os alienados nunca conseguem entender isso. Você também não? Vá adiante, quem sabe chega lá.

Quando me refiro a você, falo principalmente da “inteligência brasileira”, ou seja, de nossa mídia, nossos poetas, escritores, jornalistas, pensadores, intelectuais, enfim, todos aqueles que ainda pensam o Brasil pela via do superficial e do convencional (pelo que veem passar à sua frente, sem saber que não há nada mais enganador do que a aparência).

Estadão de ontem (13/1), por exemplo, me chega com essa manchete de primeira página: “Chuvas causam maior tragédia natural do Brasil em 44 anos”. Minutos depois, vejo Ana Maria Braga ler a mesma manchete no ar, mostrando cenas da “tragédia natural”. Não é possível que, em pleno século 21, a parcela que se diz mais preparada da consciência brasileira ainda não se tenha dado conta de que faz leitura assim tão superficial e equivocada. Pasme, até hoje ela não sabe quais são as verdadeiras causas dos desabamentos e mortes a que estamos assistindo.

Vivemos um momento de superaquecimento do Planeta, derivado da devastação ambiental, o que muitos negam, provocada pelas ações do capital, o que também é negado. A visão superficial até entende que a devastação ambiental seja causadora do superaquecimento. Mas nem sequer imagina que a causa da devastação esteja no capital.

Acredita, fruto de sua leitura superficial (e equivocada), que o homem é o grande responsável. Vê alguém jogar a latinha de cerveja na rua, percebe que o lixo acaba entupindo as canalizações e aí condena os mal-educados, responsabilizando-os pelos alagamentos. Não vê que o verdadeiro responsável são as circunstâncias que levam à produção daquela latinha de cerveja e à formação daquele ser humano mal-educado que joga lixo na rua e entope bueiros. “É o ser humano que não presta”, arremata.

Acontece que a realidade é bem mais complexa do que nos permite alcançar a leitura superficial, restrita às aparências (ao que enxergamos à nossa frente). Normalmente, o que você vê acontecer não é o que parece, e poucos se dão conta disso. Raros sabem que a leitura pelas aparências é enganadora. Antigamente, o homem via o Sol nascer, pela janela do lado direito de seu aposento, e se pôr, pela janela do lado esquerdo. Essa aparência lhe dava a ilusão de que o Sol girava ao redor da Terra. Aí está o quanto é enganadora a leitura da realidade pelo que você vê acontecer à sua frente.

Vivemos numa sociedade inteiramente regida pelo capital, em que o homem lê tudo pela aparência, sem ir à essência do que vê. Não é uma sociedade planejada. O capital dita as ordens, define os deveres e obrigações. E o homem tem muito pouco arbítrio sobre isso. As regras do jogo aí estão, impostas pelo capital e garantidas pelo Estado de Direito, pelas leis vigentes e pela democracia, pouco podemos fazer a respeito. Sim, são os homens que conduzem as ações do capital, mas, como dizia Raul Seixas, falta-lhes poder para mudar e cultura para cuspir na estrutura, além do que não é fácil.

Há os que lutam para acabar com essa situação, há os que querem conservá-la e há os que não fazem nada porque simplesmente a ignoram (a maioria no Planeta). O que importa é que, enquanto essa situação perdurar (a vida sob essa regência) --- e ela vai continuar assim por muito tempo ---, viveremos sob a ditadura do capital. Assistindo, portanto, à devastação, com reduzido controle sobre ela.

É por isso que ainda estamos na pré-história. Até aqui, o homem não conseguiu fazer sua própria história. Esta continua sendo determinada pela divisão de classes, ou seja, por situações e circunstâncias que escapam ao homem, como as impostas hoje pelo capital. No dia em que a humanidade libertar-se disso, deixará a pré-história e mergulhará finalmente na História. Hoje, pode no máximo acelerar esse processo, mas, até lá, terá de submeter-se à ditadura do capital.

Toda vez que escrevo isso, vem sempre alguém dizer que sou anticapitalista. Outra leitura superficial. Nem dá para ser anticapitalista. Capitalismo não é modelo, fórmula ou sistema idealizado que pode ser aplicado a uma realidade ou substituído por outro. A humanidade é que enveredou por essa situação, por razões que ela mesma não pôde determinar nem controlar. E agora não está tendo como sair dela.

O capitalismo é mero dado de realidade que nem mesmo permite que você se coloque contra, da mesma maneira que não tem cabimento opor-se, por exemplo, ao ato de respirar ou ao crescimento de uma criança. O máximo que se pode fazer, repito, é tentar conter as ações devastadoras do capital, como essa da destruição ambiental. Empenhar-se para acelerar o processo que conduzirá ao fim do capitalismo, ciente de que tal tarefa, além de árdua, é eivada de obstáculos difíceis de ser transpostos. Tarefa que, a propósito, não pode ser abandonada, pois é o futuro da humanidade que está em jogo.

Enfim, o capital é hoje responsável por todas as “tragédias naturais”. Isto se processa de várias maneiras. A mais ostensiva delas é quando o capital retira da natureza insumos para seus produtos, como água, madeira, petróleo, metais, minerais etc., devastando o meio ambiente. Uma única latinha de cerveja promove enorme devastação, jamais percebida por aquele que vê o mundo apenas pela ótica da aparência.

Ao abrir a lata, o alienado só enxerga o que vê, nunca a destruição que está por trás, no metal utilizado, na tinta derivada do petróleo, na água usada, na poluição gerada pelo transporte etc. Toda essa devastação, produzida em escala na fabricação de zilhões de produtos, põe em desequilíbrio a biodiversidade. Vem daí o superaquecimento que é causador das chuvas torrenciais e das mortes a que estamos assistindo. Está claro que as tragédias provocadas pelo superaquecimento não são mais “naturais”. Afinal, está no DNA do capital produzir cada vez mais e expandir as vendas, para turbinar a acumulação, isto é, está no DNA do capital devastar cada vez mais.

Outra maneira pela qual o capital responde por “tragédias naturais” é produzindo a miséria que temos hoje. Toda miséria existente no Planeta, de dois séculos para cá, foi gerada pelo capital. De onde se infere que a maioria esmagadora das favelas do mundo e das moradias precárias são subprodutos da ação do capital.E, quando temos terremoto, chuvas torrenciais, maremoto seguido de tsunami, tufão, erupção vulcânica ou algo do gênero, esses guetos de pobreza são sempre os mais atingidos. As edificações mal-estruturadas e frágeis não suportam, e populações inteiras desaparecem em minutos, como recentemente no Haiti e agora no Brasil.

Resumindo, o capital responde hoje por todas as “tragédias naturais” em razão da miséria que produz. O capital é pródigo em criar miséria. Na verdade, não só cria miséria, como precisa dela se alimentar para se manter vivo. Criar miséria é uma das necessidades do capital. Alimentar-se dela é outra maior ainda.

O capital cria miséria porque, além de nunca poder absorver toda a quantidade de força de trabalho que entra diariamente no mercado, precisa fazer proliferar o número de desempregados para poder manter os salários em níveis estáveis. Sem uma taxa mínima de desempregados, que varia em cada situação, as empresas não avançam, já que não têm como manter os salários em níveis compatíveis.

Isto é, as empresas ficam sem ter como dar sustentação à prática que lhes é mais cara e essencial, do roubo de força de trabalho (mais-valia), na qual se assenta o capital e sem a qual o capital não consegue nem respirar. No momento em que isto acontece, o truque dos salários deixa de ser truque para se tornar veneno letal que uma hora irá se voltar contra o próprio capital, levando-o a sucumbir.

Se todo mundo estiver empregado, algo impensável no mundo capitalista, qualquer empresa, para se expandir, terá de recorrer aos trabalhadores já contratados. E expandir (para acumular) é da lógica das empresas, outra necessidade do capital. A menor corrida atrás de trabalhadores já engajados provoca sucessivas elevações dos salários, o que, num segundo momento, inviabiliza os negócios.

Uma das tarefas mais difíceis do capital é justamente manter sob controle a taxa de desemprego. As nações hoje o fazem ora abrindo a torneira da imigração, ora fechando. Se a taxa de desemprego for inferior ao mínimo necessário para dar sustentabilidade e estabilidade aos salários, o mercado sucumbe, ou melhor, sucumbe o capital. Se a taxa for superior a esse mínimo, cresce a miséria e agravam-se os já crônicos problemas sociais, pondo em risco da mesma forma o mundo capitalista.

Mas voltemos aos desabamentos e mortes causados pela recente “tragédia natural”. O maior bolsão de miséria produzido pelo capital ocorreu com a colonização, que começou pelas mãos das monarquias europeias, enriquecendo as Metrópoles, e foi levada a cabo pelas democracias que despontaram depois. Paris seria hoje cidade sem graça não fosse o colonialismo, principalmente o encetado pela democracia francesa.

Tivemos dois tipos de colonização, ambas produziram miséria. A que saiu em busca da terra prometida, e seguiu para a hoje América do Norte, e a de extração predatória colonial, como tivemos no Brasil, México, Haiti, África etc.

Na América do Norte, aportaram muitos colonos europeus que não tinham mais vez em seu continente. Para lá foram com o intuito de erigir civilização nos moldes do capitalismo clássico que não mais lhes oferecia lugar na França, Inglaterra etc. Tais colônias cedo se libertaram e cedo prosperaram porque cedo passaram a devastar suas próprias riquezas, para utilizá-las como insumo em seus produtos, usando mão de obra a mais barata, a escrava. Os Estados Unidos ainda são os maiores poluidores e devastadores do meio ambiente (estão perdendo o posto para a China).

Outro tipo de colonização foi a extrativista, que tivemos na América Latina, também com mão de obra escrava, e em muitos pontos da África e Ásia. Os europeus para ali acorreram com o mero intuito de extrair riquezas, a fim de usá-las no consumo direto interno ou como insumo para seus produtos. Dessa forma, enriqueceram, mas praticamente devastaram quase que toda a África nos últimos 300 anos, deixando aquele bolsão de miséria hoje dominado por ditaduras sanguinárias e pela fome.

A África é o retrato do abandono, o mais trágico flagrante de nossa pré-história. Não é à toa que a aids, que também se inclui no rol das “tragédias naturais”, atingiu mais fortemente o continente africano. Refletindo sobre isso, você chegará à conclusão de que o capital é também responsável pela disseminação da aids no Planeta, não o HIV.

Na América Latina, a devastação foi igualmente ostensiva, forjando os bolsões de miséria que temos até hoje e que só aumentaram, no capitalismo, quando vimos expandir-se consideravelmente o número de favelas.

O processo latino-americano de colonização foi bem diferente do registrado na América do Norte. O europeu, com mero propósito de levar as riquezas, ia abrindo picada aqui, igreja ali, erguendo casa acolá, surgindo daí países sem planejamento nenhum, como Brasil, México e Haiti, este hoje destruído por recente terremoto (mais de 200 mil mortos). Foi assim que se formaram os elos débeis da cadeia capitalista: esses países que até hoje carecem de organização, planejamento urbano, infraestrutura, tudo, como o Brasil. São sempre os mais atingidos, sobretudo nas faixas mais pobres da população, quando de chuvas torrenciais como as que estamos tendo no Brasil.

Sim, eu sei, é melhor acender uma vela do que execrar a escuridão, como diz o bordão. Mas que vela podemos acender neste caso? A única é a da transformação da sociedade, mesmo que ela se dê lentamente, passo a passo, o que, já vimos, é de qualquer maneira tarefa árdua e penosa demais. Mas é vela para defunto bom, que devemos manter sempre acesa, até chegarmos lá.
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07.12.2.011



Como a origem do
nome Werneck
demonstra que Deus
não existe e já está
tudo explicado


Por Tom Capri


Hoje (7/1/2011), recebi e-mail de meu amigo de infância e juventude, o poeta curitibano Rui Werneck de Capistrano. Rui mostra-se surpreso e ao mesmo tempo frustrado por duas descobertas que acaba de fazer, ao ler estudo contendo a árvore genealógica de seu sobrenome Werneck. Primeiro, descobriu que Werneck vem de Bradneck, assumiu a forma de Berneque e só depois de Werneck, e é de origem saxônica e não alemã como supunha. Outra descoberta é a de que a árvore genealógica é “interrompida” no momento em que chega ao pai dele, o que significa que Rui, seus irmãos, filhos e demais descendentes não aparecem no estudo. A história me fascinou, tanto mais por eu enxergar aí oportunidade única --- para aproveitar já, corra!!! --- de você, leitor, Rui e toda a família dele finalmente entenderem o que é dialética e por que Deus não existe. Para entenderem também por que já está tudo explicado, não há mais nenhum grande mistério entre nós. Se 2010 foi o ano do sepultamento e dizimação do veio dos Werneck continuado pela família de Rui (como ele próprio definiu no seu e-mail), 2011 pode ser o da ressurreição desse mesmo veio, e ressurreição consciente, “sob nova direção”. Tudo vai depender do interesse de Rui --- e de você, leitor --- em se aprofundar na questão e se elucidar, para finalmente entender a realidade. Para tanto, vale ler a resposta que enviei hoje a Rui, em que sugiro que tire proveito dessas descobertas em vez de ficar frustrado, pois elas podem levá-lo --- e também você, leitor --- à consciência. Confira.

Oi, Rui. Você não deveria ficar frustrado com essas suas descobertas a respeito de seu sobrenome Werneck. Elas são oportunidade única e exemplar para você se elucidar e chegar à consciência. Aproveite.

Por exemplo, essa passagem de Bradneck para Berneque e depois Werneck, no seu sobrenome, é exemplo clássico de processo dialético. Além disso, é mais uma das demonstrações científicas de que a realidade se manifesta dialeticamente e não como você imagina. Ou seja, de que a geometria da realidade --- a forma como a realidade se manifesta e se impõe --- não é essa convencional e costumeira que está na sua cabeça e na da maioria dos mortais. A realidade tem outra geometria, Rui. Ela é dialética.

Em suma, essa transformação que sofreu seu sobrenome --- essa história fantástica do sobrenome Werneck --- é outra prova cabal de que Deus não existe e de que tudo de essencial já está suficientemente esclarecido, não há mais nenhum grande mistério em cima e embaixo da linha do Equador, como pretendo esclarecer a seguir.

Na verdade, os seres e objetos surgem e ganham formas e contornos dialeticamente e não linear nem cartesianamente, como você viu acontecer com seu sobrenome, que passou de Bradneck para Werneck. Em suma, os seres e objetos impõem-se, como dado concreto, de maneira dialética (isto é, de maneira processual), ao contrário do que você imagina. Vou tentar esclarecer isto de uma vez por todas.

Em vez de as coisas surgirem repentina e linearmente, vindas do nada ou de uma fonte misteriosa qualquer (Deus etc.), como você e o senso comum creem, elas emergem de processos, exatamente como você viu ocorrer com seu sobrenome Werneck.

Não só o nome das pessoas, mas tudo na realidade --- TUDO!!! --- nasce assim, vindo de processos que têm origem no infinito e vão para o infinito. As coisas não têm uma origem definida nem estancam num determinado ponto, para nunca mais mudar. Tudo flui, ou seja, tudo está em movimento, e o que temos sempre é unicamente a mudança. Em suma, tudo o que existe não existe a não ser como "momento dialético de transformação", "instante diálético de mudança".

O nome Werneck é apenas um desses momentos dialéticos de transformação. A passagem de Bradneck para Werneck é mero exemplo dessa odisseia dialética a que tudo é submetido no real, inclusive o nome de sua família, até ele chegar a Werneck. Uma história aconteceu ali, uma história dialética, até chegarmos ao seu sobrenome. É por isso que você só conhece uma coisa quando desvenda a história dela, quando conhece os passos dados pelo processo que a originou. Marx tinha razão quando disse que só existe uma ciência, a da história (a da história de cada coisa, evidentemente).

Com certeza outros processos anteriores forjaram também o nome Bradneck (você deveria investigar de onde ele vem) e, igualmente, forjarão novas mudanças no nome Werneck. Você já procurou saber se Wernecks atuais migraram para outras plagas e, em lá se estabelecendo, tiveram o nome Werneck mudado para outra coisa?

Um cliente meu --- Hubert Gebara, liderança do setor imobiliário de São Paulo --- descobriu que seu sobrenome assumiu, na Argentina, a forma de Guevara, e que ele pode ser parente de Che. Nossa família também descobriu, há uns 15 anos, que Capri pode ter sido invenção de meu avô, Ângelo, pai de minha mãe. Ângelo vinha com a família em 1916 no Príncipe das Astúrias, quando o navio naufragou em São Sebastião. Recentemente, descobrimos que Ângelo veio para escapar da guerra, como clandestino, e que, salvo do naufrágio, pode ter inventado o nome Capri ao se registrar no Brasil.

Já meu avô Juca --- José Áureo Freire, pai de meu pai ---, quando providenciou a árvore genealógica da família, descobriu que viemos, entre outros veios, dos Pereira Barreto. E que Barreto (inclusive Barretos, a cidade) tem origem nos Barrett, ingleses que migraram para o Brasil.

Portanto, não é só o nome Werneck que tem história. Todos têm. Mais, tudo no real tem história, que se impõe sempre a partir de processos dialéticos complexos assim, por força das circunstâncias e de nossa prática cotidiana. Enfim, a realidade é assim, dialética, Rui, e não como você crê e tanto insistiu que é, em nossas discussões.

Na verdade, só existem processos. Os seres e objetos são apenas a parte aparente desses processos. E todos eles (os processos), além de não terem origem nem fim (vêm do infinito e vão para o infinito, em constante movimento e transformação), são complexos por sempre se colocarem de forma dialética e não linear. O que vem a ser isso?

Vem a ser o dado mais importante, revelador, que põe fim a todos os grandes mistérios. Se tudo vem de processos assim complexos, dialéticos e duradouros, nada tem criador nem tem origem em forças misteriosas, como você e a maioria dos humanos acreditam. Não é que o brasileiro Mário Novello, o mais importante cientista da atualidade, acaba de comprovar, em dissertação já aceita e aprovada pelo top da ciência, eivada de equações e fórmulas, que o Universo é eterno, sempre existiu e não tem criador?

Todos os grandes enigmas já estão decifrados, Rui! A realidade, em sua essência, já está suficientemente explicada. Ou seja, já sabemos de onde viemos, o que somos e para onde vamos, uma vez que tudo se forma lenta e duradouramente, vindo do infinito e indo para o infinito, assumindo temporariamente infinitas formas, como a que ganhou o seu sobrenome Werneck a partir de Bradneck. Portanto, não há criador, não existe Deus nem nenhuma outra forma misteriosa que teria dado origem às coisas e à vida.

A ciência autêntica (não a oficial) inclusive já comprovou isso, com Galileu, Darwin, Novello e tantos outros. Vamos a um exemplo. Já sabemos que processos complexos (igualmente dialéticos) deram origem à vida na Terra. Lá atrás, tivemos o Big Bang (que não deve ter sido um único, mas um entre zilhões deles).

Essa grande explosão --- que é apenas um dos momentos dos processos de transformação que ocorrem constantemente no real --- deu origem a inúmeras partículas que, no seu resfriamento, fizeram surgir corpos celestes como a Terra. Até aí, passaram-se vários bilhões de anos, ensejando o aparecimento dá água e da atmosfera no Planeta, ou seja, da afirmação das condições essenciais para o surgimento da vida.

O raio, que também tem origem em processos dialéticos complexos na natureza, faz necessariamente a árvore arder em chamas quando cai sobre uma delas. Da mesma forma, dados de realidade --- quando combinados e postos em atrito, num ambiente que contém água, atmosfera, luz do Sol a uma distância adequada e um sem-número de outros elementos decisivos --- levam necessariamente ao fenômeno da replicação de moléculas específicas, dando origem à vida por aqui.

Esse processo, do Planeta já resfriado ao aparecimento da vida, durou outro tanto em bilhões de anos. Isto é, a vida na Terra não teve criador. É resultado de processos dialéticos complexos e singulares que aconteceram por aqui, ao longo de zilhões de milênios, vindos do infinito e indo para o infinito, vale repetir.

A ciência autêntica foi mais longe. Já descobriu que, se a vida apareceu por aqui a partir da replicação de moléculas específicas, os primeiros seres vivos que apareceram na Terra surgiram na forma de microorganismos. E que, desses mesmos microorganismos, forjaram-se todas as espécies vivas que temos hoje no Planeta. Isto é, derivamos, todos, dessas formas primárias de vida, inclusive os vegetais. Temos todos a mesma origem!

O que nos fez diferentes das demais espécies e o que fez com que uma espécie se tornasse diferente de outra, e tivéssemos os reinos vegetal e animal, foram os diversos caminhos que aqueles primeiros seres vivos seguiram ao longo do tempo, no atrito com a natureza, para garantir a própria sobrevivência.

Os que surgiram na água (as primeiras formas de vida na Terra teriam surgido na água) evoluíram para os peixes, plantas aquáticas etc. Os que experimentaram a vida fora da água evoluíram para os répteis, batráquios, anfíbios etc. Os que se adaptaram à vida fora da água evoluíram, no mesmo atrito com a natureza, só que muito mais hostil, para as formas que aí estão, das aves aos mamíferos, incluindo a espécie humana.

A Teoria da Evolução, de Darwin, já foi comprovada. O fato de que os seres vivos evoluem do simples para o complexo já está sacramentado pela ciência. Os seres evoluem no atrito dialético com a natureza, ou seja, no conflito constante que se estabelece entre o ser vivo e a natureza, pela sobrevivência e perpetuação da espécie. É desse choque que as espécies vão forjando sua organicidade, do simples ao complexo (nos mamíferos, os órgãos, ossos, sentidos como visão, tato, olfato etc.).

Tais processos duram bilhões de anos, acontecem dialeticamente (no vaivém que é o atrito constante entre a espécie e a natureza, pela sua sobrevivência, e que garante a evolução). Nunca se extinguem: nada desaparece, tudo se transforma (Lavoisier, se lembra?).

Até mesmo o ato de pensar deriva dessa luta diária pela sobrevivência. Toda matéria orgânica, para poder sobreviver, precisa “reconhecer” e “entender” o chão em que pisa, do contrário sucumbe diante das agruras impostas pela natureza. Não há nenhuma matéria orgânica viva, no Planeta, que não tenha um mínimo de “entendimento” de sua realidade ecoambiental. Até mesmo o mais primário dos vegetais dispõe de grau mínimo de “entendimento”, do contrário não teria se adaptado e já teria desaparecido, como aconteceu com várias formas de vida.

A maioria esmagadora delas não precisou desenvolver os mesmos mecanismos que leva ao ato de pensar. Sobreviveram desenvolvendo outros, como o aparato instintivo do qual são dotadas hoje as espécies irracionais e que lhes garantiu a sobrevivência sem precisar pensar. Esse aparato bastou. A única exceção, aí, foi o primata que deu origem ao homem, que, de tão frágil, teve de evoluir para a consciência e a razão, para poder se garantir como espécie viva no Planeta. Se não tivéssemos desenvolvido a consciência, já teríamos desaparecido como espécie.

Desenvolvemos a razão (a capacidade de pensar) por meio de processos complexos e dialéticos, de atrito da espécie pré-humana (do proto-homem) com a natureza, unicamente para garantir a sobrevivência. A consciência, no ser humano, é resultado dessa evolução que se deu dialeticamente, como dado decisivo de sua sobrevivência. Veja, Rui, esse processo de afirmação da consciência se deu de forma bastante semelhante àquele que mudou seu sobrenome, de Bradneck para Werneck.

Não é fascinante? O homem atrita com a natureza para obter sustento e garantir a sobrevivência, no trabalho e no relacionamento com outros homens. É um processo diário, duradouro, repetitivo e exaustivo, porque dialético e complexo. Desse mesmo atrito com a natureza, derivou a consciência.

Também por causa do mesmo atrito, os Bradneck saíram pelo mundo para sobreviver e, por onde passaram, foram incorporando mudanças em seu nome, passando para Berneque e depois Werneck. Vá lá saber no que darão os Werneck, em outras paisagens, e no que dará a inteligência, no futuro. Mas já podemos dizer que continuarão se transformando dialeticamente, como tudo. Abração.

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30.12.2.010



Dilma, cuidado
com o atentado. E
com o golpe de estado.

 
Não deixe de ler os dois "alertas" que fazem, hoje no Estadão, Luis Fernando Verissimo e Eugênio Bucci.


Por Tom Capri

Atenção, Presidenta: cuidado com o atentado e também com o golpe de estado. Se não chover, você deve desfilar em carro aberto depois de amanhã (1º/1), antes da posse. O Rolls-Royce presidencial sairá da Catedral de Brasília às 14h e seguirá para o Congresso, onde você será empossada com o vice eleito, Michel Temer. No trajeto, tudo pode acontecer. Cuidado nessa hora. Muita gente está de olho em você. E não é só no dia da posse: a possibilidade de atentado, e também a de golpe de estado, perseguirá você até seu último dia na presidência. Isto se você conseguir tomar posse. Está muito fácil surgir do nada um psicopata apartidário à la Mark Chapman (aquele que matou John Lennon), para acabar com sua vida e depois ser linchado pela plebe ignara como o único culpado de tudo.

Não esqueça que duas grandes tribos brasileiras ainda aí estão, em vantagem numérica, conservando incontida vontade de acabar com você. A mais feroz delas é a dos araebudis, composta pela ala rasa e burra da direita. É integrada pela maioria esmagadora da direita brasileira (mais de 99% dela). Os caciques desta tribo emanam do capital nacional, que tem como maior representante a “grande mídia oficial” (da Veja e Globo ao Estadão e Folha), bem como a classe média média e alta, principalmente a que vive nas regiões Sul e Sudeste. Ela está sempre pronta a dar o bote.

Outra tribo igualmente feroz é a dos araebues, a ala rasa e burra da esquerda, integrada pela maioria esmagadora da esquerda brasileira (mais de 99% dela). Os caciques desta tribo são os partidos da base aliada (que se acham da esquerda autêntica, mas não são) e, principalmente, os partidos de oposição, que também se consideram de esquerda, mas não são, notadamente o mais social-democrata deles, o PSDB.

Essas duas tribos não medirão esforços para acabar com você. Daí ser fácil prever que, se conseguir tomar posse, você vai ter muitas dificuldades para governar. Não poderá dar nenhum passo em falso porque lá estarão as duas tribos fazendo qualquer negócio para proteger e defender as farsas do estado de direito e da democracia, sem ter consciência de que tanto um quanto outro não passam de engodo.

É sabido, as duas tribos são as primeiras a romper com o estado de direito e a democracia, quando algo não lhes convém. E não convém aosaraebudis e araebues ter Dilma na presidência ou mantê-la na presidência, o que não é novidade para ninguém. Portanto, não subestime os anseios dessa gente, Presidenta.

As duas tribos têm um alto e um baixo comissariado, no melhor estilo da extinta União Soviética. Todos defendem com unhas e dentes a liberdade de expressão, sem se dar conta de que são comissários do capital e de que defendem, na verdade, a liberdade de expressão, não a autêntica, mas a de que tanto necessita o capital para se conservar. Não sabem que liberdade de expressão de fato não existe em nenhum lugar do Planeta.

Os comissários de maior expressão do capital (do alto comissariado) estão na GloboSBTRecord e Band, e também nas páginas de VejaFolhaO Globo e Estadão, principalmente na célebre página 2 deste último, hoje infestada de araebudis. Entre eles, figuram jornalistas e articulistas de renome, de Diogo Mainardi e Arnaldo Jabor a Millôr Fernandes. Já no baixo comissariado estão os mais despreparados e pseudoilustrados, como Daniel Piza, que, entre estes, é a figura de maior expressão.

            Dois artigos publicados no Estadão de hoje (30/12) servem como alerta e nos dão a exata dimensão dessa ameaça que paira sobre Dilma. Mestre Luis Fernando Verissimo, no Caderno 2, página D2, sob o título “A volta do MH (Marciano Hipotético)”, deixa claro que Lula só não foi deposto nem sofreu atentado porque jamais deu passo em falso. O que tanto se temia, quando de sua primeira eleição --- estatização, socialismo por decreto, transformação do País numa Grande Cuba ---, não ocorreu e aí está Lula, ainda vivo.

            Já o jornalista e professor da ECA-USP, Eugênio Bucci, outro do alto comissariado do capital, nos brinda (no Espaço Aberto do Estadão de hoje, 30/12, página A2 do primeiro caderno) com mais uma denúncia: a de que Lula, além de tudo, pulverizou toda a propaganda estatal em mais de 8 mil veículos do País, incluindo os de pequeno e médio porte. E que isto absolutamente não consistiu na democratização da publicidade oficial, como se propalou.

Pelo contrário, apenas acabou concorrendo, segundo Bucci, para a expansão e agravamento das “relações promíscuas” entre Estado e mídia, ou seja, para acirrar os ânimos da grande mídia e dos comissários do capital, os maiores interessados nas verbas da propaganda estatal. Bucci ainda "não percebeu" que nossa grande mídia não fez outra coisa, nos últimos oito anos, senão política partidária de oposição a Lula e a Dilma, o que é inconstitucional, e que gozou de total liberdade para tanto.

            Reforçando o alerta, Presidenta: na história do País, araebudis earaebues já passaram inúmeras vezes por cima do estado de direito e da democracia, na defesa de seus interesses. Lembra de 64? Para deter a “ameaça comunista”, chamaram os militares para o golpe de estado e nos impuseram mais de vinte anos de ditadura.

Não se esqueça de que a mídia, essa mesma que hoje faz obsessivamente política partidária de oposição a Lula e a você até nos obituários, foi decisiva no Golpe Militar. Esteve no pelotão de frente. Até o dia em que a ditadura militar voltou-se contra nossa própria mídia e esta se viu obrigada a lutar para acabar com a cobra que ajudara a criar.

            Você, Presidenta, ajudou a matar essa cobra, só que no momento mais errado. Empunhou armas para acabar com a ditadura militar justamente no momento em que o capital e toda a nossa mídia mais precisavam dela. Muito cedo, Presidenta. Nunca se esqueça disto. Nem de que, por essa razão, você continua inimiga. E, aos inimigos, o atentado ou o golpe de estado, quando insistem em chegar ao poder. Abraços a todos.

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Avatar, Mário Novello e
Boitempo fazem de 2010
novo “annus mirabilis”


Dedicado a Daniel Piza, para quem 2010 --- pasme --- foi um ano culturalmente fraco (ver “Melhores do Ano” em sua coluna “Sinopse” do Caderno 2 de hoje (19/12) --- Estadão, página D14)

Por Tom Capri

Já deve ter engraçadinho perguntando: “Annus de quem?” Esse “annus” não é aquele. É outro. É o Annus Mirabilis (ano miraculoso), de 1905, assim reconhecido pela ciência oficial por ter sido o ano em que Albert Einstein publicou seus quatro célebres artigos, plantando em definitivo a física nuclear. Pelo menos três foram os acontecimentos que fizeram de 2010 mais um Annus Mirabilis:

1 - o filme de James Cameron, Avatar, que é de 2009, mas que só chegou à maior parte dos cinemas de todo mundo, e inclusive a “perder” o Oscar, em 2010, ano em que bateu o recorde de bilheteria que era de Titanic, do mesmo Cameron. Avatar, que também passou no Brasil em 2010, revolucionou o cinema e a arte ao mostrar, depois de longa e tenebrosa era de trevas no campo da estética, o capital como vilão e não mais como herói (o que foi grata surpresa justamente por ter emanado de Hollywood, a Meca do capital).

2 - A comprovação do cientista brasileiro Mário Novello, de que o Universo é eterno, portanto, não teve criador (ou seja, não foi criado por ninguém). Em dissertação eivada de fórmulas e equações, já aceita pelo top da ciência, Novello demonstrou que, se existe, Deus de qualquer maneira não foi o criador do Universo, o que, por dedução, podemos aceitar que Deus talvez nem exista.

3 - A promessa da Boitempo Editorial de publicar pela primeira vez em língua portuguesa a obra completa de György Lukacs. A editora inaugurou a leva em 2010 com a obra “Prolegômenos para Uma Ontologia do Ser Social”, coordenada por Ivana Jinkings, com supervisão editorial de Esther Waismann. Lukacs é o mais importante avaliador crítico da obra de Marx. Autor difícil, é decisivo para quem deseja entender a realidade. Quem não o leu ou leu e não entendeu Lukacs ainda não sabe o que está acontecendo.

Poucas coisas são mais irritantes do que as retrospectivas de final de ano. Mesmo os melhores críticos erram demais nas avaliações. Por fazerem parte da “crônica oficial”, bastante despreparada, dificilmente conseguem enxergar como foi de fato o ano e às vezes até exageram nos tropeços, como faz hoje (19/12) Daniel Piza no Estadão.

Em sua coluna “Sinopse”, Piza publica imensa retrospectiva de 2010, em que procura demonstrar ter sido um fraco ano para a cultura. Não conseguiu enxergar nada do que 2010 teve de melhor e do que fez de 2010 um novo Annus Mirabilis.

         Começa que não citou Avatar, e não é desculpa o fato de o filme ser de 2009. Avatar concorreu em 2010 ao Oscar de 2009 e só em 2010 estreou no Brasil e conseguiu bater o recorde de bilheteria do cinema.

É verdade, o filme conquistou, no Oscar, apenas prêmios secundários, ficando o de “melhor filme” para Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow, ex-mulher de Cameron.

         Mas isto não quer dizer que Avatar tenha sido desprezado pela crítica, ao contrário, foi até bastante elogiado. O desprezo partiu de Hollywood, que decidiu fazer coro a Daniel Piza e não engoliu ver o capital pela primeira vez como vilão em uma de suas histórias. Houve até quem suspeitasse que a premiação de “melhor filme” tenha sido armada na última hora, o que até hoje não se comprovou.  

Isto, por si só, acabou se constituindo no maior acontecimento do cinema, em 2010, e é fato que não pode ser desprezado em nenhuma retrospectiva. Além disso, na sua coluna de hoje, Piza também não faz nenhuma menção à descoberta de Mário Novello nem ao lançamento da obra completa de Lukacs em língua portuguesa.

Apesar de seu ecletismo e versatilidade, Piza talvez não se tenha dado conta do alcance, no plano cultural, da descoberta científica de Mário Novello. Talvez também não tenha percebido que o lançamento das obras de Lukacs em língua portuguesa está entre os três eventos culturais mais importantes de 2010, no País. Enfim, Piza viu quase tudo em 2010, só não viu nem soube do mais importante.

Bem, não é de hoje que a ciência oficial e a mídia oficial nem sequer registram o essencial, quando não o rechaçam com violência, ameaçando queimar os autores. Lembra-se de Galileu?

A seguir, links de meu site para você saber mais do filme Avatar e dos achados do cientista brasileiro Mário Novello.


Avatar




Mário Novello

 .


 23.12.2.010

Deus não existe,
mas está vivo,
principalmente
neste Natal.


Uma das maiores provas de que Deus não existe acaba de me ser dada pelo neotéfilo fortalezense, flamenguista e católico J. Braga. Veja a seguir.

Eu sei, só um chato como eu para relembrar isto justo nesta época de festas e confraternização. Mas é preciso. Deus é a criação mais nefasta e hedionda da humanidade.  São incontáveis as evidências de que Deus não existe. De que ele só existe, e está muito vivo, como fantasia na cabeça das almas alienadas ou desesperadas, especialmente nesta época de festas. São incontáveis, também, os motivos pelos quais temos de dar um basta nisso, se o que desejamos mesmo é salvar a humanidade e a vida no Planeta, prestes a sucumbir.

Escorado nas religiões, Deus aí está apenas para anestesiar as individualidades. Não deixar que elas se rebelem e se revoltem. O certo, para Deus, é a ordem vigente, as leis, normas e regras em vigor. São os “bons costumes”, a moral e a ética nos impostas pela sociabilidade, essa que temos hoje regida pelo capital e que deseja se perpetuar sem obstáculos. Respeitar Deus é respeitar as normas e regras dessa sociabilidade. Quem não as respeita não é praticante do bem, logo, não respeita Deus. E corre o risco até de morrer apedrejado, como Sakineh.

Acontece que respeitar as leis, normas e regras vigentes é compactuar com a ordem estabelecida, mais do que isso, é acobertá-la. E essa ordem que aí está nada mais é que a assentada na lógica do capital. Sabemos que o capitalismo já salvou uma a humanidade no passado, ao derrotar o velho e nos brindar com o novo, o progresso. Mas sabemos também que ele já entrou em fase de esgotamento e, no momento, traz muito mais destruição e devastação do que avanço.

Pior, assentadas no roubo em escala de força de trabalho --- o maior dos crimes de lesa-humanidade ---, as forças do capital concorrem hoje para acabar com a vida no Planeta. Se não fizermos nada para conter isso, poderemos ter a Terra sem nenhum ser vivo muito em breve. Daí as rebeliões a que temos assistido há mais de dois séculos. E Deus, amparado por todas as religiões, aí está unicamente para impedir que essas revoltas tomem corpo e se alastrem. Deus é conservador e repressivo, mais, é também torturador.

É por isso que toda crítica séria à sociabilidade que aí está começa pela crítica à religião, portanto, pela crítica à noção de Deus, o maior feitor de “panos quentes” da História da humanidade. Foi o homem que inventou Deus, não o contrário. E essa invenção não passa de nossa mais insidiosa obra de ficção.

O mínimo que um ser humano decente pode ser, hoje, é ateu. Ou seja, intransigente. Acreditar em Deus é estar em permanente anestesia para a crítica, logo, para as rebeliões contra o verdadeiro mal. Crer em Deus é garantir a perpetuação dessa destruição e devastação que nos é diariamente imposta. É praticar o mal em vez de praticar o bem, muito ao contrário do que normalmente se propala.

Não esqueça: nossas maiores desgraças aconteceram em nome de Deus, provocadas por religiosos. Os 600 anos de Santa Inquisição e as guerras santas promoveram o maior dos holocaustos, por obra das mais insidiosas formas de tortura, a maioria inventada e praticada por quem mais acreditava em Deus.

Hitler, que engendrou outro holocausto, também era religioso e agia em nome de Deus, acobertado pela Igreja Católica. Em suma, todas as guerras foram levadas a cabo por quem acreditava em Deus e em nome de Deus.

Assim, hoje, Deus e a religião, incluindo todas as seitas, formam a real indústria da perversidade, o verdadeiro eixo do mal, onde se locupletam os gângsteres dos dízimos e esmolas, desde os CDs de DVDs de Padre Marcelo até os milagres de Edir Macedo, incluídos aí todos os pastores evangélicos, sacerdotes e santos católicos.

O mundo religioso sempre foi, historicamente, o da crueldade requintada, das torturas e das condenações à morte. Ainda está em tempo de você se livrar dele. Até porque já há provas cabais de que a religião não só é tudo isso, como também se estrutura em algo que não tem existência concreta --- Deus ---, essa força repressiva, violenta e anestesiante, hoje poderosa arma nas mãos do establishment, cultuada e alimentada à exaustão pelo capital.

Há zilhares de provas científicas de que a religião não passa de um mal necessário a serviço da conservação da sociabilidade que aí está. Há também provas incontestáveis de que Deus não existe nem tem como existir e de que ser temente a Deus é temer a mudança do que mais urgentemente precisa ser mudado. De que Deus aí está só para emperrar, castrar, atrapalhar e abortar o avanço, na condição de maior “empata-empata” de todos os tempos, daí ser tão necessário às forças conservadoras, que o idolatra.

Falo desse Deus concebido pelas religiões, onisciente, onipresente e onipotente. Desse design superior e inteligente do criacionismo, supostamente o projetista e o arquiteto do Universo e da vida.

Semanas atrás, fui agraciado com uma nova prova da inexistência de Deus. O presente me foi dado pelo neotéfilo (amigo e ajudante dos jovens), fortalezense, flamenguista e católico José Braga Ribeiro Neto, conhecido como J. Braga, atuante como eu no site http://tr.virtualtarget.whservidor.com/index.dma/DmaClick?3248,251,2527,591,06fed0d793edb3e61345f22e43b803fb,aHR0cDovL3d3dy5wb3J0YWxjYWZlYnJhc2lsLmNvbS5ici8=, de Luciano Pires, e estudioso de religião.

Em troca de mensagens comigo, em minhas “Iscas” (Malediscas), J. Braga se disse cristão-católico não adepto do zoroastrismo. Lembrou que não aceita o raciocínio maniqueísta, o qual considera simplista e equivocado, e que Santo Agostinho, há mais de milênio, já questionava o maniqueísmo. Que para ele, J. Braga, todo maniqueísmo é burro. Finalizou dizendo que, como sou portador igualmente de raciocínio maniqueísta, sou burro também. Concordei com J. Braga que todo maniqueísmo é burro, por ser simplista, e assim respondi a ele:

“J. Braga, o seu guia é Deus, uma fantasia. O meu é a razão, algo de concreto, com os pés no chão que, se você abandona, pode morrer no segundo seguinte. E a razão dita que estão no DNA da Igreja Católica e de todas as religiões a visão maniqueísta, como Deus vs. Diabo, bem vs. mal etc. Não sou eu que baseio meus argumentos nesse tipo de maniqueísmo, até porque sempre combati a leitura maniqueísta, por achar, como você, que se trata de simplificação barata. As religiões --- especialmente a sua, cristã-católica --- é que são maniqueístas. Catolicismo é, em essência, maniqueísmo entre o bem e o mal. Catolicismo chega a ser sinônimo de maniqueísmo. Impressiona você, grande estudioso e entendedor das religiões e do cristianismo, não saber isso ainda. Ora, se as religiões estão estruturadas no maniqueísmo, especialmente entre o bem e o mal, e se, segundo você, todo maniqueísmo é burro, você e todas as religiões são burros também. Não parece lógico a você? E, por favor, não tome isto como ofensa, mas como mera constatação a partir de raciocínio lógico e científico que você mesmo expôs aqui. Só burro não saca.”

Outra prova cabal da inexistência de Deus deu-nos recentemente o cientista brasileiro Mário Novello. Em dissertação eivada de fórmulas, cálculos e equações, Novello demonstrou cientificamente que a origem do Universo não está no Big Bang e que o Universo não tem origem, é eterno e sempre existiu.

A demonstração de Novello já foi aceita pelo top da ciência e dada como correta, sem contestação. Se o Universo e a vida não têm criador, não foi Deus quem os criou. Assim, se tomarmos por Deus aquele que criou o Universo e a vida, Deus efetivamente não existe, posto que, já comprovou Novello, o Universo e a vida não têm criador.

Outra prova cabal da inexistência de Deus nos foi brindada pela ciência (por Darwin, em especial, ao pôr de pé a Teoria da Evolução). Ela já comprovou que o aparecimento da vida se deve à combinação de dados de realidade que se fizeram presentes na natureza, como a luz do Sol incidindo sobre a Terra etc. Comprovou também que a vida só surgiu por aqui porque tivemos o resfriamento do Planeta, fenômeno que resultou de processo que levou alguns bilhões de anos para ocorrer. Ou seja, a vida só apareceu na Terra porque, entre outros acontecimentos, houve esse duradouro processo de resfriamento.

A ciência também já comprovou que a vida surgiu por aqui a partir do fenômeno da replicação da molécula. Ou seja, a vida só despontou na Terra na forma de micro-organismos, dos quais derivaram todas as espécies, a partir da evolução. Somos todos originários desses mesmos micro-organismos, de as aves até os dinossauros. Darwin é quem descobriu: todas as espécies são resultado da evolução dessas primeiras formas micro-orgânicas de vida, em razão dos diferentes caminhos que cada uma delas tomou, ao longo de sua existência.

Isto significa que se passaram alguns bilhões de anos desde o resfriamento da Terra até o aparecimento da vida por aqui e outro tanto para a forja das espécies, na e pela evolução. O que nos leva a entender que foram necessários complexos processos de alguns bilhões de anos para que a vida surgisse na Terra e outro tanto para que a espécie humana despontasse no Planeta. Isto é, a vida surgiu por aqui aos poucos, lentamente, a partir de processos bastante duradouros.

Assim, a Teoria da Evolução, de Darwin, comprova que só a partir de um processo que durou alguns bilhões de anos tornou-se possível o aparecimento da vida e da espécie humana na Terra. E que, portanto, a vida no Planeta, inclusive a humana, não teve um criador, como Deus, pois o processo que a gerou não teve um começo, remonta à história da formação das galáxias, ou seja, ao infinito, no tempo e no espaço. A vida só surgiu na Terra em razão do que aconteceu antes e depois do Big Bang, vale concluir, não porque Deus a criou.

Isto levou a ciência a concluir que, se Deus existe, de qualquer maneira ele não é o criador nem do Universo nem da vida, como supõem as religiões. E cabem aqui mais essas perguntas:

1 - se Deus é o criador da vida, por que teria necessitado de todo esse tempo (infinito) para gerá-la?
2 - Por que teria gerado a vida primeiramente na forma de micro-organismos e depois os feito evoluir para que daí despontassem as espécies, em processos que normalmente duram bilhões de anos?
3 - Se Deus é mesmo Deus --- inteligência superior, onisciente, onipresente e onipotente ---, não teria criado as espécies num único sopro, que não duraria mais do que segundos? Não seria mais rápido e inteligente assim? Não precisava nem ter descansado no sétimo dia.
4 - Supondo-se que Deus é mesmo o criador, contrariando toda a Teoria da Evolução (já cientificamente comprovada), como teria Deus gerado, por exemplo, a “espécie galinha”? Teria criado primeiro os ovos já prontos para chocar exemplares machos e fêmeas ou teria gerado uma galinha já madura e pronta para pôr ovos e chocá-los, tanto machos quanto fêmeas? Como se deu isso?
5 - A mesma pergunta em relação ao ser humano: como Deus o teria criado? Criou-o na forma de uma criança? Ou na de adolescente? Ou já como adulto? Ou na mera forma de embrião? Não o teria gerado na forma de espermatozóide e óvulo, brindando-lhes com o poder da fecundação e reprodução? Como Deus criou, afinal, a vida humana?

Por fim, podemos concluir de tudo isso que, se Deus existe, é no mínimo um sujeito lento e incapaz de criar dados de realidade, a não ser pelos caminhos mais complexos e tortuosos. Isto só prova que, se existe, Deus não é Deus, não tá com nada. Abraços a todos.


21.12.2.010

Avatar, Mário Novello e
Boitempo fazem de 2010
novo “annus mirabilis”


Dedicado a Daniel Piza, para quem 2010 --- pasme --- foi um ano culturalmente fraco (ver “Melhores do Ano” em sua coluna “Sinopse” do Caderno 2 de hoje (19/12) --- Estadão, página D14)

Por Tom Capri

Já deve ter engraçadinho perguntando: “Annus de quem?” Esse “annus” não é aquele. É outro. É o Annus Mirabilis (ano miraculoso), de 1905, assim reconhecido pela ciência oficial por ter sido o ano em que Albert Einstein publicou seus quatro célebres artigos, plantando em definitivo a física nuclear. Pelo menos três foram os acontecimentos que fizeram de 2010 mais um Annus Mirabilis:

1 - o filme de James Cameron, Avatar, que é de 2009, mas que só chegou à maior parte dos cinemas de todo mundo, e inclusive a “perder” o Oscar, em 2010, ano em que bateu o recorde de bilheteria que era de Titanic, do mesmo Cameron. Avatar, que também passou no Brasil em 2010, revolucionou o cinema e a arte ao mostrar, depois de longa e tenebrosa era de trevas no campo da estética, o capital como vilão e não mais como herói (o que foi grata surpresa justamente por ter emanado de Hollywood, a Meca do capital).

2 - A comprovação do cientista brasileiro Mário Novello, de que o Universo é eterno, portanto, não teve criador (ou seja, não foi criado por ninguém). Em dissertação eivada de fórmulas e equações, já aceita pelo top da ciência, Novello demonstrou que, se existe, Deus de qualquer maneira não foi o criador do Universo, o que, por dedução, podemos aceitar que Deus talvez nem exista.

3 - A promessa da Boitempo Editorial de publicar pela primeira vez em língua portuguesa a obra completa de György Lukacs. A editora inaugurou a leva em 2010 com a obra “Prolegômenos para Uma Ontologia do Ser Social”, coordenada por Ivana Jinkings, com supervisão editorial de Esther Waismann. Lukacs é o mais importante avaliador crítico da obra de Marx. Autor difícil, é decisivo para quem deseja entender a realidade. Quem não o leu ou leu e não entendeu Lukacs ainda não sabe o que está acontecendo.

Poucas coisas são mais irritantes do que as retrospectivas de final de ano. Mesmo os melhores críticos erram demais nas avaliações. Por fazerem parte da “crônica oficial”, bastante despreparada, dificilmente conseguem enxergar como foi de fato o ano e às vezes até exageram nos tropeços, como faz hoje (19/12) Daniel Piza no Estadão.

Em sua coluna “Sinopse”, Piza publica imensa retrospectiva de 2010, em que procura demonstrar ter sido um fraco ano para a cultura. Não conseguiu enxergar nada do que 2010 teve de melhor e do que fez de 2010 um novoAnnus Mirabilis.

         Começa que não citou Avatar, e não é desculpa o fato de o filme ser de 2009. Avatar concorreu em 2010 ao Oscar de 2009 e só em 2010 estreou no Brasil e conseguiu bater o recorde de bilheteria do cinema.

É verdade, o filme conquistou, no Oscar, apenas prêmios secundários, ficando o de “melhor filme” paraGuerra ao Terror, de Kathryn Bigelow, ex-mulher de Cameron.

         Mas isto não quer dizer que Avatar tenha sido desprezado pela crítica, ao contrário, foi até bastante elogiado. O desprezo partiu de Hollywood, que decidiu fazer coro a Daniel Piza e não engoliu ver o capital pela primeira vez como vilão em uma de suas histórias. Houve até quem suspeitasse que a premiação de “melhor filme” tenha sido armada na última hora, o que até hoje não se comprovou.  

Isto, por si só, acabou se constituindo no maior acontecimento do cinema, em 2010, e é fato que não pode ser desprezado em nenhuma retrospectiva. Além disso, na sua coluna de hoje, Piza também não faz nenhuma menção à descoberta de Mário Novello nem ao lançamento da obra completa de Lukacs em língua portuguesa.

Apesar de seu ecletismo e versatilidade, Piza talvez não se tenha dado conta do alcance, no plano cultural, da descoberta científica de Mário Novello. Talvez também não tenha percebido que o lançamento das obras de Lukacs em língua portuguesa está entre os três eventos culturais mais importantes de 2010, no País. Enfim, Piza viu quase tudo em 2010, só não viu nem soube do mais importante.

Bem, não é de hoje que a ciência oficial e a mídia oficial nem sequer registram o essencial, quando não o rechaçam com violência, ameaçando queimar os autores. Lembra-se de Galileu?

A seguir, links de meu site para você saber mais do filme Avatar e dos achados do cientista brasileiro Mário Novello.


Avatar




Mário Novello




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17.12.2.010

Deus não existe,
mas está vivo,
principalmente
neste Natal.


Uma das maiores provas de que Deus não existe acaba de me ser dada pelo neotéfilo fortalezense, flamenguista e católico J. Braga. Veja a seguir.

Eu sei, só um chato como eu para relembrar isto justo nesta época de festas e confraternização. Mas é preciso. Deus é a criação mais nefasta e hedionda da humanidade.  São incontáveis as evidências de que Deus não existe. De que ele só existe, e está muito vivo, como fantasia na cabeça das almas alienadas ou desesperadas, especialmente nesta época de festas. São incontáveis, também, os motivos pelos quais temos de dar um basta nisso, se o que desejamos mesmo é salvar a humanidade e a vida no Planeta, prestes a sucumbir.

Escorado nas religiões, Deus aí está apenas para anestesiar as individualidades. Não deixar que elas se rebelem e se revoltem. O certo, para Deus, é a ordem vigente, as leis, normas e regras em vigor. São os “bons costumes”, a moral e a ética nos impostas pela sociabilidade, essa que temos hoje regida pelo capital e que deseja se perpetuar sem obstáculos. Respeitar Deus é respeitar as normas e regras dessa sociabilidade. Quem não as respeita não é praticante do bem, logo, não respeita Deus. E corre o risco até de morrer apedrejado, como Sakineh.

Acontece que respeitar as leis, normas e regras vigentes é compactuar com a ordem estabelecida, mais do que isso, é acobertá-la. E essa ordem que aí está nada mais é que a assentada na lógica do capital. Sabemos que o capitalismo já salvou uma a humanidade no passado, ao derrotar o velho e nos brindar com o novo, o progresso. Mas sabemos também que ele já entrou em fase de esgotamento e, no momento, traz muito mais destruição e devastação do que avanço.

Pior, assentadas no roubo em escala de força de trabalho --- o maior dos crimes de lesa-humanidade ---, as forças do capital concorrem hoje para acabar com a vida no Planeta. Se não fizermos nada para conter isso, poderemos ter a Terra sem nenhum ser vivo muito em breve. Daí as rebeliões a que temos assistido há mais de dois séculos. E Deus, amparado por todas as religiões, aí está unicamente para impedir que essas revoltas tomem corpo e se alastrem. Deus é conservador e repressivo, mais, é também torturador.

É por isso que toda crítica séria à sociabilidade que aí está começa pela crítica à religião, portanto, pela crítica à noção de Deus, o maior feitor de “panos quentes” da História da humanidade. Foi o homem que inventou Deus, não o contrário. E essa invenção não passa de nossa mais insidiosa obra de ficção.

O mínimo que um ser humano decente pode ser, hoje, é ateu. Ou seja, intransigente. Acreditar em Deus é estar em permanente anestesia para a crítica, logo, para as rebeliões contra o verdadeiro mal. Crer em Deus é garantir a perpetuação dessa destruição e devastação que nos é diariamente imposta. É praticar o mal em vez de praticar o bem, muito ao contrário do que normalmente se propala.

Não esqueça: nossas maiores desgraças aconteceram em nome de Deus, provocadas por religiosos. Os 600 anos de Santa Inquisição e as guerras santas promoveram o maior dos holocaustos, por obra das mais insidiosas formas de tortura, a maioria inventada e praticada por quem mais acreditava em Deus.

Hitler, que engendrou outro holocausto, também era religioso e agia em nome de Deus, acobertado pela Igreja Católica. Em suma, todas as guerras foram levadas a cabo por quem acreditava em Deus e em nome de Deus.

Assim, hoje, Deus e a religião, incluindo todas as seitas, formam a real indústria da perversidade, o verdadeiro eixo do mal, onde se locupletam os gângsteres dos dízimos e esmolas, desde os CDs de DVDs de Padre Marcelo até os milagres de Edir Macedo, incluídos aí todos os pastores evangélicos, sacerdotes e santos católicos.

O mundo religioso sempre foi, historicamente, o da crueldade requintada, das torturas e das condenações à morte. Ainda está em tempo de você se livrar dele. Até porque já há provas cabais de que a religião não só é tudo isso, como também se estrutura em algo que não tem existência concreta --- Deus ---, essa força repressiva, violenta e anestesiante, hoje poderosa arma nas mãos do establishment, cultuada e alimentada à exaustão pelo capital.

Há zilhares de provas científicas de que a religião não passa de um mal necessário a serviço da conservação da sociabilidade que aí está. Há também provas incontestáveis de que Deus não existe nem tem como existir e de que ser temente a Deus é temer a mudança do que mais urgentemente precisa ser mudado. De que Deus aí está só para emperrar, castrar, atrapalhar e abortar o avanço, na condição de maior “empata-empata” de todos os tempos, daí ser tão necessário às forças conservadoras, que o idolatra.

Falo desse Deus concebido pelas religiões, onisciente, onipresente e onipotente. Desse design superior e inteligente do criacionismo, supostamente o projetista e o arquiteto do Universo e da vida.

Semanas atrás, fui agraciado com uma nova prova da inexistência de Deus. O presente me foi dado pelo neotéfilo (amigo e ajudante dos jovens), fortalezense, flamenguista e católico José Braga Ribeiro Neto, conhecido como J. Braga, atuante como eu no site http://tr.virtualtarget.whservidor.com/index.dma/DmaClick?3248,246,2527,564,fdc4e16c3e2083c277cce2696dbe10d5,aHR0cDovL3d3dy5wb3J0YWxjYWZlYnJhc2lsLmNvbS5ici8=, de Luciano Pires, e estudioso de religião.

Em troca de mensagens comigo, em minhas “Iscas” (Malediscas), J. Braga se disse cristão-católico não adepto do zoroastrismo. Lembrou que não aceita o raciocínio maniqueísta, o qual considera simplista e equivocado, e que Santo Agostinho, há mais de milênio, já questionava o maniqueísmo. Que para ele, J. Braga, todo maniqueísmo é burro. Finalizou dizendo que, como sou portador igualmente de raciocínio maniqueísta, sou burro também. Concordei com J. Braga que todo maniqueísmo é burro, por ser simplista, e assim respondi a ele:

“J. Braga, o seu guia é Deus, uma fantasia. O meu é a razão, algo de concreto, com os pés no chão que, se você abandona, pode morrer no segundo seguinte. E a razão dita que estão no DNA da Igreja Católica e de todas as religiões a visão maniqueísta, como Deus vs. Diabo, bem vs. mal etc. Não sou eu que baseio meus argumentos nesse tipo de maniqueísmo, até porque sempre combati a leitura maniqueísta, por achar, como você, que se trata de simplificação barata. As religiões --- especialmente a sua, cristã-católica --- é que são maniqueístas. Catolicismo é, em essência, maniqueísmo entre o bem e o mal. Catolicismo chega a ser sinônimo de maniqueísmo. Impressiona você, grande estudioso e entendedor das religiões e do cristianismo, não saber isso ainda. Ora, se as religiões estão estruturadas no maniqueísmo, especialmente entre o bem e o mal, e se, segundo você, todo maniqueísmo é burro, você e todas as religiões são burros também. Não parece lógico a você? E, por favor, não tome isto como ofensa, mas como mera constatação a partir de raciocínio lógico e científico que você mesmo expôs aqui. Só burro não saca.”

Outra prova cabal da inexistência de Deus deu-nos recentemente o cientista brasileiro Mário Novello. Em dissertação eivada de fórmulas, cálculos e equações, Novello demonstrou cientificamente que a origem do Universo não está no Big Bang e que o Universo não tem origem, é eterno e sempre existiu.

A demonstração de Novello já foi aceita pelo top da ciência e dada como correta, sem contestação. Se o Universo e a vida não têm criador, não foi Deus quem os criou. Assim, se tomarmos por Deus aquele que criou o Universo e a vida, Deus efetivamente não existe, posto que, já comprovou Novello, o Universo e a vida não têm criador.

Outra prova cabal da inexistência de Deus nos foi brindada pela ciência (por Darwin, em especial, ao pôr de pé a Teoria da Evolução). Ela já comprovou que o aparecimento da vida se deve à combinação de dados de realidade que se fizeram presentes na natureza, como a luz do Sol incidindo sobre a Terra etc. Comprovou também que a vida só surgiu por aqui porque tivemos o resfriamento do Planeta, fenômeno que resultou de processo que levou alguns bilhões de anos para ocorrer. Ou seja, a vida só apareceu na Terra porque, entre outros acontecimentos, houve esse duradouro processo de resfriamento.

A ciência também já comprovou que a vida surgiu por aqui a partir do fenômeno da replicação da molécula. Ou seja, a vida só despontou na Terra na forma de micro-organismos, dos quais derivaram todas as espécies, a partir da evolução. Somos todos originários desses mesmos micro-organismos, de as aves até os dinossauros. Darwin é quem descobriu: todas as espécies são resultado da evolução dessas primeiras formas micro-orgânicas de vida, em razão dos diferentes caminhos que cada uma delas tomou, ao longo de sua existência.

Isto significa que se passaram alguns bilhões de anos desde o resfriamento da Terra até o aparecimento da vida por aqui e outro tanto para a forja das espécies, na e pela evolução. O que nos leva a entender que foram necessários complexos processos de alguns bilhões de anos para que a vida surgisse na Terra e outro tanto para que a espécie humana despontasse no Planeta. Isto é, a vida surgiu por aqui aos poucos, lentamente, a partir de processos bastante duradouros.

Assim, a Teoria da Evolução, de Darwin, comprova que só a partir de um processo que durou alguns bilhões de anos tornou-se possível o aparecimento da vida e da espécie humana na Terra. E que, portanto, a vida no Planeta, inclusive a humana, não teve um criador, como Deus, pois o processo que a gerou não teve um começo, remonta à história da formação das galáxias, ou seja, ao infinito, no tempo e no espaço. A vida só surgiu na Terra em razão do que aconteceu antes e depois do Big Bang, vale concluir, não porque Deus a criou.

Isto levou a ciência a concluir que, se Deus existe, de qualquer maneira ele não é o criador nem do Universo nem da vida, como supõem as religiões. E cabem aqui mais essas perguntas:

1 - se Deus é o criador da vida, por que teria necessitado de todo esse tempo (infinito) para gerá-la?
2 - Por que teria gerado a vida primeiramente na forma de micro-organismos e depois os feito evoluir para que daí despontassem as espécies, em processos que normalmente duram bilhões de anos?
3 - Se Deus é mesmo Deus --- inteligência superior, onisciente, onipresente e onipotente ---, não teria criado as espécies num único sopro, que não duraria mais do que segundos? Não seria mais rápido e inteligente assim? Não precisava nem ter descansado no sétimo dia.
4 - Supondo-se que Deus é mesmo o criador, contrariando toda a Teoria da Evolução (já cientificamente comprovada), como teria Deus gerado, por exemplo, a “espécie galinha”? Teria criado primeiro os ovos já prontos para chocar exemplares machos e fêmeas ou teria gerado uma galinha já madura e pronta para pôr ovos e chocá-los, tanto machos quanto fêmeas? Como se deu isso?
5 - A mesma pergunta em relação ao ser humano: como Deus o teria criado? Criou-o na forma de uma criança? Ou na de adolescente? Ou já como adulto? Ou na mera forma de embrião? Não o teria gerado na forma de espermatozóide e óvulo, brindando-lhes com o poder da fecundação e reprodução? Como Deus criou, afinal, a vida humana?

Por fim, podemos concluir de tudo isso que, se Deus existe, é no mínimo um sujeito lento e incapaz de criar dados de realidade, a não ser pelos caminhos mais complexos e tortuosos. Isto só prova que, se existe, Deus não é Deus, não tá com nada. Abraços a todos.

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Rio: a farsa das invasões

(Veja por que até o Brasileirão e as
novelas entraram na dança, para salvar
a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016)

Dedicado a José Nêumane Pinto, meu painho, que, do alto comissariado, ainda não se deu conta.

Por Tom Capri  

            Discordo de mestre Verissimo. Em sua coluna de 2/12/2010 no Estadão, sob o título “A Gafe”, Verissimo diz que qualquer conjectura a respeito do que está por trás da guerra contra o narcotráfico, no Rio, acaba sendo especulação sobre o improvável, quando não fantasia. Até porque, acrescenta Verissimo, essa guerra “desafia muitas lógicas, a começar pela lógica básica do capitalismo que é a primazia do lucro em qualquer circunstância”. Repito, discordo. Posso estar enganado (tenho me enganado bastante), mas já está muito claro para mim: toda essa vaga moralizadora que assolou as favelas do Rio é mais uma farsa do petismo para reforçar o apoio que Lula, Dilma e o partido vêm angariando a duras penas do capital. Está muito fácil entender, não vejo essa guerra desafiando lógicas. Acompanhe o raciocínio.

            O capital sonha fazer “aquela festa” com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Não só os veículos de comunicação de todo o Planeta, mas principalmente os patrocinadores. Estamos em meio a uma crise mundial sem precedentes, e eventos como esses são capazes de turbinar as vendas e debelar qualquer turbulência, aqui e lá fora. Mas não daria para promover nem a Copa nem as Olimpíadas sem uma “limpeza” moralizadora nas favelas do Rio, a principal sede dos eventos. “Limpeza” que desse golpe certeiro no narcotráfico e no hoje chamado “crime organizado” (é horrorosa essa definição), como acabamos de presenciar no Rio.

            Evidentemente, seria um estresse desnecessário a presidente Dilma começar seu mandato declarando, de cara, guerra aos traficantes. Se algo desse errado, pronto, lá ia para o beleléu toda a credibilidade conquistada. Lula, em fim de mandato, por não ter mais nada a perder, pôde incumbir-se dessa tarefa espinhosa. Pronto, aí está: limparam a área para que a grande festa do capital se torne possível.

            E há outras variáveis que entraram aí, para explicar melhor essa guerra de Lula contra o tráfico. O filme “Tropa de Elite 2”, produzido pelo Grupo Globo e lançado alguns meses antes das eleições, não passou de mais um artifício para desestabilizar o governo Lula e tirar votos de Dilma, só ingênuo não percebeu.

Nascimento é o Serpico brasileiro. Serpico é o policial que, acometido de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), quis moralizar a polícia de Nova York. No afã de identificar os policiais corruptos, acabou chegando a políticos graduados, mais precisamente, ao governador do Estado de Nova York etc.

            Nascimento, que também sofre de TOC e quer moralizar a polícia brasileira, faz o mesmo em “Tropa de Elite 2”: na luta para identificar os policiais corruptos, acabou chegando a Brasília, mais precisamente, ao presidente Lula, sem citá-lo, evidentemente. Ou seja, Brasília e o Planalto (Lula e Dilma, portanto), segundo o filme, nunca fizeram nada e, por isso, eram os grandes culpados pela corrupção na polícia e pelo narcotráfico.

É óbvio que Lula jamais engoliu isso e sempre quis dar o troco. Mas não podia declarar guerra ao narcotráfico antes de garantir a eleição de Dilma. Se algo desse errado, como eu já disse, iria para o espaço qualquer possibilidade de eleição de sua candidata. O troco só veio agora, por razões óbvias: já vimos, mexer no narcotráfico e na barbárie da criminalidade é não só espinhoso, mas pode derrubar um presidente, ainda mais quando ele não conta com nenhum apoio da grande mídia.

            Não é à toa que nossos veículos, de Veja à Globo, passando pela Record, Folha e Estadão, agora aplaudem sem reservas. A Globo abocanhou a maior parcela dos direitos de transmissão da Copa de 2014. Vai chover patrocinador em sua horta. A Record ficou com os direitos de transmissão das Olimpíadas, também vai chover patrocinador na Igreja do bispo (se ambas fizerem bem-feito, obviamente). E nossos meios de comunicação nunca tiveram tamanha oportunidade para engordar seu caixa como essa.

Até o Brasileirão, o campeonato brasileiro de futebol, entrou na dança e dá sua parcela de contribuição. Tenho observado que, nestes anos pré-Copa de 2014, a CBF, que vai organizar o Mundial junto à FIFA, vem fazendo gigantesco “esforço” para:

1 – reabilitar o futebol carioca (tal seria termos a final da Copa num Rio com clubes falidos e sem títulos, pelo contrário, rebaixados). Por essa razão, tudo concorreu para que desse Flamengo, em 2009, e tudo concorre para que dê Fluminense, este ano. Pode até não dar certo e Corinthians ou Cruzeiro vencerem, mas o “esforço” é nítido.

2 – Também não deixar que clubes cariocas sejam rebaixados (no ano passado, favoreceram o Fluminense, no tapetão; este ano, o Flamengo tem sido protegido).

3 – Por fim, a CBF favoreceu com benesses os clubes do povo de cada Estado, da seguinte maneira: a) livrando o Atlético Mineiro e o Flamengo do rebaixamento; b) ajudando o meu querido Coxa (Coritiba) e o Bahia a voltarem para a Série A; c) fazendo o possível e o impossível para que o Corinthians termine seu estádio e, nele, abrigue o primeiro jogo da Copa de 2014; d) chamando o então técnico do Corinthians, Mano Menezes, para comandar a Seleção (com o que a Comissão Técnica acabou se tornando balcão de negócios do Timão: Mano tem convocado uma leva de corintianos, um a cada mês, como Jucilei e Enéas, valorizando-os para eventuais vendas, pois o Corinthians precisa muito de caixa); e por aí vai, numa ajuda amiga sem fim.  

            Tudo isso transformou nosso Brasileirão Delivery (como está sendo chamado, por causa do entrega-entrega nos últimos jogos) nessa farsa que aí está, sob os aplausos de nossa mídia. Na verdade, tudo no País conspira hoje contra o traficante e o “crime organizado”, por serem eles, neste momento, o maior entrave ao capital.

Até mesmo nas novelas os vilões não têm mais conserto nem o direito de se regenerar, pelo menos até a Copa e as Olimpíadas. Clara, de Passione (Globo), por exemplo, transitou várias vezes da condição de boazinha à de vilã, e quando todo mundo imaginava que iria se regenerar, eis que cai de novo no crime, e agora quer que Diogo mate Totó para, como viúva, embolsar a fortuna do marido.

É óbvio que a Globo jamais iria passar por cima das preces de Gemma. Irmã dedicada de Totó, Gemma não se cansou de pedir à Nossa Senhora, na novela, para que a ajudasse a afastar Clara do irmão, alegando ser ela bandida irrecuperável.

Na mesma Passione, Gérson era no começo um degenerado, com segredo que, quando desvendado, iria chocar o Brasil. Mas pressão de patrocinador --- o mesmo que muito provavelmente estará investindo nos jogos da Copa e das Olimpíadas no Brasil --- obrigou a Globo a fazer assepsia na personagem. Hoje, o segredo de Gérson não assusta ninguém, o rapaz já é quase um santo.

Tá intrigado? Achando estranho? É verdade, é para estar, mesmo. Dá até para desconfiar. Não eram a Veja, a Globo, a Folha e o Estadão que vinham fazendo, há mais de vinte anos, campanha partidária sistemática contra Lula? E mais recentemente contra Dilma? Por que agora aplaudem Lula e Dilma abertamente, assim tão comovidos, como se tivessem sido salvos de desproporcional hecatombe?

            Não há nada de estranho nisso. Ao fazer essa “limpeza” no Brasileirão, nas novelas e nas favelas do Rio, e prometer estender as invasões às favelas de São Paulo e de todo o Brasil, Lula nada mais fez do que atender ao grande anseio do capital, que é o de vender cada vez mais, para garantir a acumulação, essencial à nossa economia capitalista tupiniquim.

Aí está a grande farsa das invasões. Lula não virou o defensor dos fracos e oprimidos nem ele é “o povo”, como se autointitula. Apenas fortaleceu sua condição de grande defensor e protetor do capital, que começou quando de sua “Carta aos Brasileiros”, em que abandonou todas as “ideias socialistas” para chegar à presidência.

Desde aquela carta, Lula tem sido, na verdade, o grande defensor dos “frascos e comprimidos”, ou seja, dos produtos que precisam ser vendidos para garantir e perpetuar o processo de acumulação e fazer, assim, a festa de Veja, Globo, Estadão, Folha etc., em suma, do capital. Desde então, Lula e Dilma jamais deixaram de ser candidatos do establishment, para surpresa de José Nêumane Pinto, do Estadão, e dos incautos e despreparados. Aí estão as empreiteiras, os bancos e todo o grande capital que não me deixam mentir.

Você acredita, mesmo, que essas invasões acabaram com o narcotráfico e o “crime organizado” no Rio? É claro que não. Fizeram apenas o que fez o prefeito Rudolph Giuliani, de Nova York, há pouco mais de dez anos, a mesma estratégia seguida depois pelo seu sucessor, Michael Bloomberg: tocaram o traficante para fora de Manhattan, reduzindo drasticamente o “crime organizado” na ilha.

Mas a barbárie continuou na periferia e em bairros como Harlem, Bronx, Queens etc., para onde foi o tráfico. Ficou só um pouco mais difícil conseguir a droga, mas a elite burguesa de Manhattan, em especial a usuária, já pode andar a pé de madrugada pela ilha sem ser molestada, como nas cenas dos filmes dos anos 50.

Em suma, no Rio, só complicou um pouco a vida dos consumidores da Zona Sul, aqueles que realmente alimentam o tráfico. Eles vão ter mais dificuldade, apenas, mas só. Os garotos das favelas cariocas, que agora brincam livremente pelas ruas dos morros --- “paz” escrito na testa ---, nunca estiveram tão felizes. Será que vai durar? Ou após a Copa e as Olimpíadas volta tudo de novo? Abraços a todos.

01;12.2.010

Fã do futebol, cuidado:
Daniel Piza continua solto.

Por Tom Capri

Daniel Piza, o nada solerte comentarista do Estadão que tanto critico, nos brinda hoje (1/12) com mais uma pérola do jornalismo esportivo, na coluna Boleiros (Esportes, página E3). Poxa, luto tanto até comigo mesmo para não condenar Piza, porque no fundo gosto dele. Mas, desta vez, é o caso de prendê-lo ou de proibi-lo de escrever (liberdade de expressão tem limite). O artigo dele se chama “Por que o treinador não é protagonista”. Piza tenta mostrar, com argumentos pra lá de equivocados, que o treinador não é protagonista. Em águas passadas, Piza já escreveu sobre isso. Disse que o treinador não é autor. Tenho a impressão de que percebeu o erro e agora parte para essa: treinador não protagoniza nada e é preciso dar a ele “o peso que tem, nem mais nem menos”, diz no artigo. Até os gandulas do pior time do mundo, o Íbis (se é que o time tem gandula), já sabem por que o treinador é, sim, autor e protagonista. Veja aqui por que Piza ainda não sabe disso e por que já deveria saber há muito tempo.

            É ululantemente óbvio: o treinador é, sim, autor e também protagonista. Não fosse, não seria tão requisitado nem ganharia mais, às vezes, que os maiores craques. Por que o treinador é, sem sombra de dúvida, autor e protagonista? Em primeiro lugar, porque onze craques em campo sem um maestro para coordená-los e dirigi-los podem se dar mal e perder até do Íbis, se este contar com um técnico minimamente competente. Isto já bastaria como argumento.

            Por mais craque que seja o jogador, no calor da partida ele não consegue enxergar o jogo como o treinador. É mais ou menos como no xadrez, guardadas, evidentemente, as devidas proporções: os jogadores são as peças dispostas no tabuleiro, o treinador é aquele que as movimenta. Sim, no xadrez as peças não têm autonomia para se movimentar, já no futebol o jogador tem. Mas, da mesma forma que no xadrez, se o técnico não orienta (movimenta) corretamente com seus gritos durante o jogo, o time corre sério risco de desandar.

            Além disso, o treinador --- ao menos, o competente --- sabe como armar um time com as peças de que dispõe. Sabe tirar o máximo de cada atleta. Não adianta ter no elenco onze craques em cada posição, se o técnico não sabe armar a equipe nem encontrar o necessário equilíbrio para que ela funcione e seja eficiente. O treinador que domina os esquemas táticos e os aplica corretamente em cada jogo, pode conduzir seu time --- só por esse motivo --- à vitória.

            Em suma, o treinador é o maestro que dirige a orquestra. Uma orquestra sem maestro, mesmo com os maiores músicos do Planeta, desanda rapidinho. Numa orquestra sem maestro, quem, por exemplo, determinaria a hora para começar? A melhor orquestra do mundo, sem maestro, não consegue nem dar os primeiros acordes, quanto mais continuar. Sem maestro, os músicos irão se entreolhar e não saberão o que fazer. Quase o mesmo ocorre num time de futebol.

            Dirá você: “Mas o craque pode muito bem dirigir o time jogando ao mesmo tempo”. É verdade, mas neste caso terá sido guindado também a treinador, ou seja, a figura indispensável e protagonista da equipe. E, além disso, nunca terá a mesma visão do treinador que olha de fora. Isto porque, já disse aqui, no calor da partida, o jogador não pode ficar atento a tudo que rola, a todos os erros do time, ao que está funcionando ou deixou de funcionar. Daí o treinador ser autor e protagonista, sim, portanto, essencial. Se técnico não fosse protagonista e autor, não seria necessário nem haveria essa interminável troca a cada campeonato.

            Piza vai mais longe, ilustrando sua máxima de que “treinador não é protagonista” com o exemplo da recente disputa entre Mourinho e Guardiola, os técnicos do Real Madri e do Barcelona. Veja o que diz Piza: “...a goleada que (Mourinho) tomou ontem (5 a 0 para o Barça) veio bem a calhar num momento em que tanta gente dizia que o dérbi (Real vs. Barça) seria um duelo de técnicos e que Mourinho é “o melhor do mundo”. Até acho que (Mourinho) pode ser, mas esse clima de opinião cometia o equívoco de desprezar o time do Barcelona e o trabalho de seu técnico Guardiola, ex-jogador muito inteligente. O esquema defensivo do treinador português (Mourinho), que havia contado com a sorte para bater o Barcelona quando à frente da Inter de Milão, foi pulverizado pelos passes, dribles e deslocamentos da orquestra catalã --- regida por Iniesta e Xavi e com um solista fora de série, Messi.”

É nessa sopa de equívocos que Piza se afoga. Vamos item por item.

1 – Mourinho é, sim, um dos melhores, se não o melhor treinador do mundo, mas Guardiola não fica muito atrás e pode um dia tomar o lugar dele. Os dois são, sim senhor, protagonistas e autores, em seus clubes.

2 – Houve, sim, o duelo tão aguardado entre Mourinho e Guardiola, só que o último levou a melhor. E o duelo era assim tão aguardado porque treinador é, sem sombra de dúvida, autor e protagonista. Tal seria aguardar ansiosamente duelo entre peças secundárias e não-protagonistas. Que interesse despertariam?

3 – Mourinho foi essencial, protagonista e autor ao superar a Inter de Milão em 2009, e absolutamente não contou com a sorte naquela ocasião, além do que o esquema adotado por Mourinho não foi tão defensivo quanto propala Piza. A Inter foi suficientemente ofensiva no primeiro jogo e ficou com dez jogadores no último. Ainda assim, conseguiu deter a tão decantada orquestra catalã, que já foi brecada outras vezes, também por obra e graça de técnicos protagonistas e autores.

4 – Por fim, o maior erro de Piza: a orquestra catalã que “pulverizou o esquema defensivo de Mourinho” não foi regida por Iniesta e Xavi, com Messi como solista fora de série, como diz Piza, mas sim por Guardiola, este essencial, fundamental, protagonista e autor nos 5 a 0 em cima do Real. Queria ver se, sem técnico protagonista e autor regendo o time, a mesma orquestra catalã teria feito 5 a 0 no Real Madri.

            Se técnico não fosse autor nem protagonista, teríamos muitos clubes sem treinador. Já viu clube de peso sem treinador? Só dispensa técnico o time que não pode pagar por um. Em suma, treinador só não é autor e protagonista quando é mau treinador ou quando o time o dispensa por falta de grana. Abraços a todos.



 14.11.2010


Fórmula 1: título de
Vettel seria de Massa.

Conheça também as novas
mentiras de Galvão Bueno,
como a de que a vitória da
Red Bull enfim “moraliza” a
Fórmula 1, por ter sido a
única escuderia a “evitar”
o velho “jogo de equipe”.

Mais sobre o que a mídia
especializada vai continuar
escondendo de você, da
farsa da Fórmula 1.

Dedicado à mídia que cobre a Fórmula 1 no País, sobretudo a Galvão Bueno, Reginaldo Leme, Livio Oricchio e Fábio Seixas, que atuam como assessores de imprensa da categoria e continuam mentindo para o fã.

Por Tom Capri

Conheça as grandes verdades e o que de mais importante aconteceu este ano na Fórmula 1, e que a mídia especializada brasileira (que atua, com raríssimas exceções, como assessora de imprensa da categoria) vai continuar escondendo dos fãs, até o último de seus dias.

A grande verdade – Se a Ferrari tivesse apostado em Felipe Massa e não em Fernando Alonso, o brasileiro já teria conquistado o título deste ano há três ou quatro GPs. A Ferrari não tem mais como apostar em Massa porque Alonso “comprou” a equipe, carreando a maior soma de patrocínio, o que significa que o brasileiro já encerrou a carreira na F-1 e muito provavelmente não renove mais contrato com a escuderia. Enquanto Alonso permanecer na Ferrari, Massa será, no máximo, seu “escada” e jamais conseguirá a condição de piloto número um, mesmo sendo melhor que o espanhol, o que já provou nas pistas.

A grande mentira – Dita ao final do GP de Abu Dabi por Galvão Bueno, da Globo, e por Fábio Seixas, da UOL/Folha, corroborada por quase toda a mídia: que a conquista do alemão Sebastian Vettel enfim moraliza a Fórmula 1, pois sua escuderia, a Red Bull, teria sido a única a “evitar” o famoso “jogo de equipe” durante toda a temporada.

Esta é a maior das mentiras do ano. Nenhuma equipe da categoria tem forças e está em condições de “evitar” o “jogo de equipe”. Muito menos a Red Bull.

O que realmente aconteceu, na Red Bull, foi que o australiano Mark Webber, hoje com 34 anos e em fim de carreira --- portanto, sem ter mais nada a perder ---, recusou-se a fazer o “jogo de equipe” e deu um baile no novato Vettel durante toda a temporada. Não é que Vettel seja o queridinho da Red Bull, é que o alemão “comprou” a equipe, ao garantir a ela maior cota de patrocínio, muito superior à do sem-cacife Webber.

Como por esse motivo não recebeu o mesmo apoio nem igualdade de condições da Red Bull desde o começo, Webber procurou compensar isso com sua experiência. Assim, ainda que com carro inferior, partiu para cima de Vettel, irritando não só a equipe, mas principalmente o alemão. Até que Vettel perdeu a cabeça e jogou seu carro em cima do de Webber, que se recusava a ser número dois e escada do “companheiro”.

A partir daí, a Red Bull foi obrigada a “derrubar” ainda mais o rendimento do carro de Webber, o que fez com que Vettel conseguisse a maioria das poles, obrigando o australiano a se desdobrar para superar o alemão. Isto ficou muito claro em Abu Dabi, quando a Red Bull simplesmente abandonou Webber. Apesar disso, Webber conseguiu terminar o penúltimo GP (o do Brasil) na frente de Vettel. Está claro que, em nenhum momento, a Red Bull deixou de praticar o “jogo de equipes”, apenas que Webber deu um chega prá lá nessa determinação da equipe e foi irritando todo mundo dentro dela.

Quem entende de Fórmula 1 sabe que, se a Red Bull não tivesse feito pra valer o “jogo de equipe” e tivesse garantido real igualdade de condições e apoio tanto a Vettel quanto a Webber, o australiano teria ganhado o Mundial uns três GPs antes do final.

Não tenho como provar, mas, para mim, esse GP de Abu Dabi foi todo armado para dar esse resultado. É preciso entender direito o que estou afirmando agora. Estou dizendo que o Cirquinho da F-1 fez o possível e o impossível para que desse esse final do Mundial, e para sua felicidade acabou dando. Armou tudo da seguinte maneira:

A – Se a Red Bull vencesse a temporada, não seria de jeito nenhum por Mark Webber, pois Vettel botou muito dinheiro na equipe, portanto, pagou para ser o número um e o “melhor”, ou seja, para ser o campeão e não Webber. Webber era só o Plano B. Dessa forma, seria muito ruim para o caixa da Red Bull se a equipe ganhasse o Mundial via Webber. Se Vettel ganhasse, estava “definitivamente” moralizada a Fórmula 1, pois a equipe “jamais aceitara o jogo de equipe”, o que é uma grande mentira.

B – Se desse a Ferrari, obviamente com Alonso (Massa nem Plano B era), a Fórmula 1 teria de engolir mais essa, mas sairia totalmente chamuscada, se não desmoralizada, para perder inúmeros fãs pelo mundo afora, o que lhe poderia ser fatal, diante da crise em que vive o capitalismo europeu, no momento.

C – Assim, todos os esforços convergiram para que desse esse resultado que acabou acontecendo em Abu Dabi. Ele poderia não ter ocorrido, é verdade, mas “tá na cara” que a organização da Fórmula 1 fez o possível e o impossível, repito, para que ele acontecesse. O Cirquinho está novamente em festa! Deu tudo certo, terminamos de novo em pizza.

Portanto, não entre nessa de que finalmente “venceu o esporte”, como disse Fábio Seixas, na UOL, ou de que “é o fim do jogo de equipe”, como disse Galvão Bueno, na Globo. O “jogo de equipe” não vai acabar nunca. Se acabar, acaba junto a Fórmula 1, que é essa farsa.

O que pode acabar é um piloto dar EXPLICITAMENTE passagem ao companheiro, o que faz parte do “jogo de equipe”. Veja bem, faz parte, mas não é todo o “jogo de equipe”.

A verdade verdadeira é a seguinte: as equipes têm como evitar que a coisa chegue a esse ponto, de um piloto ter de dar explicitamente passagem ao companheiro. Basta dar carro ligeiramente inferior ao número dois e escada, e ninguém nunca vai perceber. Foi o que claramente ocorreu com Vettel e Webber em Abu Dabi, e ninguém sacou.  

Quando isto não resolver, a passagem poderá ser facilitada no pit stop, o que aponta para o ressurgimento de novos “reis do pit stop”, como foi Schumacher, que sempre ultrapassou, mas jamais foi ultrapassado por Rubinho Barrichello nos boxes. Aguarde, portanto, mais essa da mídia: já no começo da próxima temporada teremos o novo “rei do pit stop”.

O que está bem claro é que, na Red Bull, Mark Webber se recusou a ser o número dois, pois, em fim de carreira, não tinha nada a perder, como vimos. E, no caso da Ferrari, a equipe não soube fazer “esse jogo” direito, além do que Massa também se recusou a fazer abertamente o “jogo de equipe”. Fez questão de mostrar, aos fãs da F-1, que estava dando passagem a Alonso por ordem da equipe, muito a contragosto.

Foi por essas falhas das duas equipes que veio à tona, somente na temporada de 2010, esse papo de “jogo de equipe”, que é muuuuito velho na Fórmula 1, mas que a mídia ainda insiste em “desconhecer”.

Por isso, não vai mudar nada na categoria. Se vier a mudar alguma coisa, será nisso de um piloto dar EXPLICITAMENTE passagem ou não ao companheiro. E isto já pode ser evitado com facilidade, apenas que a Red Bull e a Ferrari não vinham sabendo fazê-lo direito (mas com certeza aprenderam, não vai mais ser um problema para as equipes).

Assim, o que você vai ver, em 2011, é: no caso de Webber continuar na Red Bull, aí é que ele não conseguirá, mesmo, nenhuma pole nem será ameaça como foi a Vettel. O mesmo se pode dizer de Massa: se continuar na Ferrari, aí é que não conseguirá, mesmo, nenhuma pole, e será com certeza ameaça muito menor ainda a Alonso.

Quanto à mídia especializada, ela vai continuar vendendo a você, fã da Fórmula 1, mentiras como a de que finalmente a categoria está moralizada e que acabou “o jogo de equipe”, que na verdade nunca vai acabar. Infelizmente, ninguém da grande mídia faz jornalismo verdadeiro, quando se trata de Fórmula 1. Você, fã e leitor como eu, vai ter de se contentar com essas mentiras que ela divulga e com as verdades que só eu, Tom Capri, aponto por aqui. Lamento. Abraços a todos. 

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 08.11.2.010
Fórmula 1 já tem o
campeão de 2010: o
capital. Desta vez, nosso
FeliCarpo BarriMassa não
teve nem chance de ser a
velha “escada” de sempre.

Veja por que está sendo mesmo
muito triste o fim de carreira
de Felipe Massa na Fórmula 1

Dedicado a Livio Oricchio e à mídia que cobre a Fórmula 1 no
País, os quais atuam como assessores de imprensa da categoria.

Por Tom Capri

A farsa da Fórmula 1 ficou ainda mais escancarada neste domingo. E não espere que nossa mídia especializada venha a revelar isso a você. Aqui vai. Quando viu que não tinha carro para derrubar a Red Bull e que tinha pela frente alguns sapos a espantar (Kubica etc.), e ainda por cima uma chuva chata para atrapalhar, a Ferrari abandonou rapidinho o Plano “A” e partiu logo para o Plano “B”. Jogou Felipe Massa de novo para escanteio, fez o impossível para que Alonso conseguisse bom tempo e torceu para que as Red Bull se trucidassem na pista e não fizessem aquilo que a Ferrari mais faz, o jogo de equipe. As Red Bull não se engalfinharam, mas também não fizeram o jogo de equipe, e Alonso agora comemora, ainda com amplas chances de ser campeão do mundo pela terceira vez em Abu Dabi.

O Plano “A” era dar carros em igualdade de condições a Alonso e a Massa para as tomadas de tempo da largada. Alonso mesmo havia sinalizado antes do GP que esse era o grande plano da Ferrari. Disse com todas as letras que ficaria muito feliz se Massa ganhasse a prova e tirasse pontos da Red Bull, ele ficando evidentemente em segundo.

Só que as Red Bull saíram na frente logo de cara, e tudo caminhou para uma briga entre Alonso e Massa por melhor tempo na largada. O Plano “A” começou também a prometer nova guerra entre Alonso e Massa não só pelo terceiro melhor tempo do grid, mas para ver qual dos dois seria melhor no GP, o que poderia obrigar a Ferrari a pedir “de nooovo” para que o brasileiro cedesse seu lugar a Alonso.

Prejudicar sua meta de ganhar o título da temporada? Derrubar Alonso, que hoje sustenta a equipe? Mais um vexame na Fórmula 1? É claro que não. A Ferrari preferiu evitar, optando pelo Plano “B”. Deu mais uma vez um pé na bunda de nosso FeliCarpo BarriMassa, deixando-o com carro bichado e infestado de problemas. “Fique longe de Alonso”, gritou a equipe.

O mico foi para calar de vez o brasileiro. Era preciso impedi-lo de criar qualquer obstáculo a Alonso, e a Ferrari não errou nisso, não pode ser condenada. A partir de então, Alonso começou a rezar para que as Red Bull não praticassem o célebre “jogo de equipe” e se espatifassem na pista, ou seja, para que seus dois pilotos, Sebastian Vettel e Mark Webber, finalmente acabassem se matando no Brasil.

Os dois não se mataram, mas não fizeram o jogo de equipe, e o título da temporada está indo lentamente para as mãos de Fernando Alonso, que teve todos os motivos para comemorar.

Aí, abro o Estadão de hoje (8/11) e encontro a “explicação” para o fato de a Red Bull não ter praticado o jogo de equipe, desafiando essa velha prática tão comum na conservadora Fórmula 1. Não acredito mais em ingenuidade da parte dos repórteres especializados na categoria, como Livio Oricchio. Eles realmente escondem o jogo. É consciente isto neles. Para não achincalhar com a Fórmula 1 e perderem a boquinha, ficam no âmbito das versões oficiais, sem se comprometer.

O texto que explica por que a Red Bull desafia a Fórmula 1 é de Almir Leite, não de Oricchio. Mas também se perde na versão oficial. Cai na “ingenuidade” de achar que a Red Bull é a mais pura equipe da Fórmula 1. Diz o texto: “Ao contrário de todos os outros times, em que prevalecem os interesses comerciais da organização, a filosofia da Red Bull é de gestão esportiva.” “Isto explica” --- continua o texto --- “o fato de não ocorrer (na Red Bull) o costumeiro “jogo de equipe”, tão criticado por aqueles que acham que o aspecto esportivo está acima de qualquer outro interesse.”

Pode até ser verdade, mas engolir essa versão oficial assim tão facilmente abre o meu desconfiômetro. Não cubro há muito tempo a Fórmula 1, mas para mim já está muito claro que o alemão Sebastian Vettel  é quem mais põe grana de patrocínio na Red Bull, portanto, é o que já “comprou” a equipe, da mesma forma que fizeram Alonso na Ferrari e, em passado recente, Michael Schumacher na mesma Ferrari.

O problema é que o australiano Mark Webber, que não tem o mesmo cacife de Vettel, se impôs logo de cara e não deixou que o alemão exercesse seu direito (previamente comprado e pago) de ser o piloto número um da Red Bull. O veterano Webber está em fim de carreira, nunca se deu bem, esta é sua melhor e última chance. Não iria atirá-la no lixo. Tem atropelado o novato alemão, tanto que finalmente passou a ser idolatrado na Austrália, é o mais novo herói australiano.

A Red Bull havia chamado Webber justamente porque achava que ele não era de nada e jamais atrapalharia o número um Vettel. Essa “pureza” da Red Bull já irritou muito seu novo “dono”, o piloto alemão, que chegou a jogar seu carro em cima do australiano, pondo em risco a própria vida para ser campeão este ano.

Me parece óbvio também que isto já irritou o suficiente a própria Red Bull, que com certeza não vai querer continuar com Webber em 2011. Eu ia até sugerir que a equipe contratasse nosso FeliCarpo BarriMassa para o lugar de Webber, mas à essa altura ninguém mais confia em Massa na Fórmula 1, muito menos na condição de “escada”. Massa é o melhor “escada” da categoria, mas não anda mais querendo exercer esse papel, e só não sai da Ferrari porque não tem para onde ir.

Por que a mídia fica apenas restrita à história oficial? Por que não investiga, por exemplo, essa “pureza” da Red Bull? É simples: porque, ao agir assim, a Red Bull mantém vivo o pouco de saudável que resta da imagem da F-1, “mostrando” que a categoria ainda “tem” equipe em que pilotos decidem na pista quem é o número um.

Só que isto, evidentemente, não passa de ilusão. Meu desconfiômetro diz que toda essa “pureza” da Red Bull irá pro espaço na última corrida do Mundial, domingo agora, em Abu Dabi. Não tenho a menor dúvida de que, se Vettel e Webber estiverem na frente de Alonso, e Vettel tiver de dar passagem a Webber para que Alonso não ganhe o Mundial, o piloto alemão o fará sem hesitar, jogando no lixo toda essa “pureza” da Red Bull. E que moral terá a Ferrari para abrir a boca?

Meu desconfiômetro diz também que a Ferrari e Alonso precisam vencer o Mundial deste ano para ajudar a dar novo alento ao combalido capitalismo europeu. Sim, porque o melhor piloto da Fórmula 1, atualmente, é o capital. Além de ágil e audaz nas pistas, muito mais do que Jim Clark, Ayrton Senna e todos os mitos do automobilismo, o capital tem cacife suficiente para “comprar” a condição de piloto número um, todos os anos, e principalmente o título de cada temporada.

Mais: o capital não precisa nem correr: tem os melhores pilotos da Fórmula 1 nas mãos, já comprados e devidamente pagos para lhe garantir a vitória. Isto já é do conhecimento de todos os que estão ligados direta ou indiretamente ao Cirquinho da Fórmula 1. Especialmente, da mídia. Só que ela não pode falar, para não pôr em risco a categoria. E você, leitor, só fica sabendo dessas verdades da Fórmula 1 por esses fãs loucos pela categoria, como eu. Ainda bem que eu existo para você, não é?

Está sendo mesmo melancólico esse precoce fim de carreira de Felipe Massa, tão triste quanto o de Policarpo Quaresma. Tanto mais por sabermos que Massa já foi o maior candidato a novo mito do automobilismo. E por sabermos também que, se este ano a Ferrari tivesse apostado suas fichas em Massa, o brasileiro já estaria com o título da temporada nas mãos, por ser melhor do que Fernando Alonso (já provou isto nas pistas). Definitivamente, não há saída para o piloto brasileiro. Como é que ele vai sair desse buraco negro em que se meteu? Abraços a todos.



04.11.2.010
Fórmula 1: triste fim de
FeliCarpo BarriMassa

Veja aqui o que a mídia
especializada vai continuar
escondendo de você até
o final dos dias, sobre
a farsa da Fórmula 1.
Saiba por que Massa é o
grande favorito no Brasil.

Dedicado à mídia que cobre a Fórmula 1 no País e que hoje atua,
salvo raras exceções, como assessora de imprensa da categoria.

Por Tom Capri

É melancólico esse precoce fim de carreira de Felipe Massa, tão triste quanto o de Policarpo Quaresma. Tanto mais por já sabermos que, se este ano a Ferrari tivesse apostado suas fichas em Massa, o brasileiro já estaria com o título da temporada nas mãos, por ser melhor do que Fernando Alonso (já provou isto nas pistas). Será que há alguma saída para o piloto brasileiro, nesse buraco negro em que se meteu?

O Brasil sabe, a carreira de Felipe Massa já estava encerrada quando a Ferrari anunciou a contratação de Alonso, há mais de ano, conforme anunciei na época. Foi quando denunciei também toda a farsa da Fórmula 1, em que os campeões de hoje são pré-fabricados. Naquele momento, Massa transformara-se do dia para a noite no novo “Rubinho-Barrichello-Escada-de-Schumacher” das pistas, enterrando a carreira, como já o fizera Rubinho, e consolidando essa nova função na categoria: a de escada. Eis a maldição dos brasileiros na F-1 desde a morte de Ayrton Senna.

Na verdade, prática usual hoje na Fórmula 1 (a Cláusula Barrichello já se tornou instituição na categoria), o piloto espanhol “comprou” a Ferrari. Entupiu a escuderia com mais grana de patrocínio (Santander etc.) e não deixará de ser o número um enquanto não bater o recorde de sete títulos mundiais de Michael Schumacher. Ainda mais nessa fase difícil por que passa a Espanha, Alonso é capaz até de matar a própria mãe para chegar lá. E Alonso tornar-se o maior do mundo será cavalar injeção de cânfora no combalido capitalismo espanhol (e também italiano).

Já estou achando que Alonso vai conseguir. Acredito nisto porque vejo Schumacher de volta, já temendo o rival e babando nas pistas para evitar que tal aconteça. Schumacher foi o primeiro a comprar a Ferrari. E a usar um piloto contratado especialmente para a tarefa de escada: o nosso Rubens Barrichello. Podia não haver a Cláusula Barrichello no contrato de Rubinho com a Ferrari, mas com certeza havia no da equipe com os patrocinadores carreados pelo piloto alemão.

Essa cláusula --- tão comum hoje na Fórmula 1 --- sempre respaldou Schumacher para ganhar a condição de piloto número 1 e os títulos conquistados. É a tal Cláusula Barrichello que Massa também desmente existir em seu contrato, mas que com certeza existe (talvez só na palavra, se não na letra) nos contratos entre a Ferrari e os patrocinadores “garantizados” por Fernando Alonso.

Tal qual aconteceu com Rubinho Barrichello, Massa vai continuar até lá --- obrigatoriamente --- como escada de Alonso. Não receberá mais carro em igualdade de condições (a não ser quando isto puder beneficiar o espanhol), só fará melhor tempo para o grid quando isto for interessante a Alonso e só voltará a ganhar corrida quando for decisivo para a conquista do título, por parte do espanhol.

Por isso, não se iluda se Massa ganhar este GP do Brasil e o de Abu Dabi. Não ache, a partir daí, que Felipe se recuperou e “voltoooou!!!”, porque não é nada disso. Quando interessar à Ferrari e a Alonso, Felipe vai atropelar Alonso, como já fez outras vezes. MAS SÓ QUANDO INTERESSAR.

Não percebeu ainda que toda a cama já está feita para que Alonso se deite nela? Não percebeu ainda que todo o Cirquinho da Fórmula 1 já está armado para que volte a dar, este ano, a Ferrari? Pode não dar, mas a Europa chorará se não der.

Os já combalidos capitais italiano e espanhol estão precisando muito dessa alavancagem. O capital alemão já tirou proveito da Fórmula 1 com Schumacher. Os britânicos, no ano passado, com a vitória de James Button. Voltou a ser a vez da Itália e da Espanha, para o bem geral dos capitalismos italiano e espanhol, tão em baixa.

A exemplo das novelas de televisão, criadas nos EUA para alavancar as vendas (daí serem por lá chamadas de soap opera), a Fórmula 1 é uma categoria essencialmente europeia, inventada unicamente para alavancar a indústria automobilística e o capital europeus. Acha coincidência que os norte-americanos e japoneses sempre patinem na categoria?

Assim, nessas duas últimas provas, interessa muito à Ferrari e a Alonso que o brasileiro atropele todos e não deixe que os concorrentes façam pontos e atrapalhem a vida do espanhol.

Como Massa é, ao lado de Rubinho, o melhor piloto da atualidade (até se tornar escada de Alonso, vinha sendo também o maior candidato a novo mito do automobilismo mundial), interessa à Ferrari e ao espanhol que Felipe atropele os concorrentes, conquiste a pole e ganhe os GPs do Brasil e de Abu Dabi, ajudando Alonso a conquistar o título. Preferencialmente, com Alonso terminando em segundo, mas podendo também terminar em terceiro, pois assim não seria prejudicado na pontuação, dependendo do piloto que ficasse em segundo. Não seria a glória?

Para piorar tudo, Massa não goza mais da confiança da Ferrari. Desde o epísódio em que teve de dar passagem a Alonso, a Ferrari não acredita mais nele. Sabe que Felipe não vai se contentar por muito tempo com a condição de escada (a famosa Cláusula Barrichello) e que ainda vai perturbar mais. Enfim, sabe que não pode mais contar com o brasileiro, como gostaria, para fazer o serviço sujo, e que Felipe pode voltar a destoar até mesmo no Brasil e em Abu Dabi.

A Ferrari precisa muuuuuuuuuuito contar com Massa outra vez nesta reta final, pois sabe que o brasileiro é melhor do que Alonso e pode dar o título ao espanhol, como já fez outras vezes. Para tanto, a equipe precisa dar carros aos dois, além de apoio e atenção, em igualdade de condições. Se Massa ganhar as duas últimas corridas, voltar a ser herói no Brasil e conquistar o título para o companheiro de equipe, como já fez em outras ocasiões, a festa será completa, viva a Ferrari, viva a Itália, viva a Espanha e viva o Brasil. A famosa pizza botará panos quentes em tudo.

Mas imagine a seguinte situação: e se Massa e Alonso, com carros em igualdade de condições, estiverem no GP do Brasil atrás dos concorrentes ainda candidatos ao título, e o brasileiro for “solicitado” a dar passagem ao espanhol mais uma vez, pois do contrário Alonso perderá o título? O que fará Massa?

Depois de toda a desmoralização por que passou, Massa daria passagem de novo a Alonso? Por outro lado, se vier a dar passagem a Alonso nessas circunstâncias, desmoralizando de vez toda a Fórmula 1, não estaria Massa definitivamente acabado para o automobilismo? Não queria estar na pele de Felipe.

Toda essa desconfiança nos faz crer que Massa não serve mais para a Ferrari e que não renovará com a equipe. Afinal, a Ferrari só quer Massa na condição de escada, pois ele é o melhor escada da Fórmula 1, no momento. Não de outro jeito.

Triste fim esse de nosso FeliCarpo BarriMassa, na Fórmula 1. Além de já estar devidamente enterrado na categoria, ele não tem mais para onde fugir. Se sair da Ferrari, Massa não terá equipe de ponta para correr, pois não tem cacife para tanto.

Hoje, a Fórmula 1 é essa farsa que já denunciei à exaustão aqui: o piloto põe grana na equipe, por meio de patrocínio, e compra a escuderia. A partir daí, ele garante contratualmente a condição de número 1, ou seja, garante o melhor carro e que seu companheiro de equipe seja aquela escadaria amiga da fama, a ser por ele galgada. Isto, mesmo que ele seja muito inferior ao companheiro de escuderia.

Aí está a razão pela qual a Ferrari foi a “melhor” equipe e Alonso o melhor piloto da atual temporada, e ambos merecem o título. Na Ferrari, as coisas andaram “direitinho” entre Alonso e Massa, o brasileiro a contragosto ajudando o espanhol, ao menos sem jogar seu carro em cima do bólido do companheiro. Já na Red Bull, até há pouco favorita ao título, os carros de Sebastian Vettel e Mark Webber andaram se esbofeteando na pista. Na McLaren, mais ou menos o mesmo entre Lewis Hamilton e James Button, para tristeza dos britânicos. Os demais não têm chance e não contam.

Para os brasileiros, a única coisa a fazer, agora, é torcer para que Massa ganhe os dois últimos GPs, ajude Alonso a ganhar o título e continue por mais um bom tempo empregado. É melhor ter encerrado precocemente a carreira ainda empregado do que desempregado. De repente, Massa ainda nas pistas, alguém faz alguma coisa e uma luz volta a iluminar a carreira do brasileiro. Nunca se sabe.

Dilmaaaaaaaa!!! Petrobrááááás!!! Banquem Massa. Ponham na mesa mais do que Alonso e Schumacher puseram na Ferrari. Aí, quem sabe, teremos outra vez um brasileiro do nível de Ayrton Senna ganhando títulos mundiais. Massa tem qualidades para tanto. E voltar a ganhar na F-1 é importante para o capitalismo brasileiro.

Eu sei, fazer isso seria colocar azeitonas de ouro nas empadas da Fórmula 1 e da Rede Globo, o que desagradaria muito aos Edir Macedo da vida e às emissoras concorrentes. Mas, se não for conveniente assim, que se faça então por outra via. Iniciativa privada, cadê você? Vai deixar nosso FeliCarpo BarriMassa morrer outra vez assim na praia? Abraços a todos.

01.11.2010

Dilma venceu Deus. Mas só a primeira batalha


A democracia em debate. Participe.

Você encontra este texto também em meu site


Errei. Deu Dilma. E o maior derrotado é Deus, que não queria Dilma. Ou seja, é essa mídia chorosa e medíocre, é esse Brasil do preconceito, do rancor e do atraso. Conheça melhor esse Deus que queria Serra e não Dilma, e que envergonhou a humanidade.

Por Tom Capri

Ainda bem, errei mais um prognóstico. Eu vinha dizendo que, como Deus queria Serra, Dilma não levaria. Mas Dilma, irresistível, derrotou até Deus. Não esse Deus onisciente, onipresente e onipotente até sem Viagra em que a maioria acredita. Esse Deus não existe, a ciência e a razão já se incumbiram de prová-lo à exaustão. Dilma derrotou o Deus Verdadeiro, o que existe para valer. Esse Deus Verdadeiro fez campanha ilegal contra Dilma. 

Tem mil caras e hoje atende pelo nome de “capital”. Entre suas mil caras estão a da mídia (a mais grotesca e despreparada) e a de todas as instituições (da democracia à religião e à família). E não posso deixar de citar aqui as duas caras que também tem, das tribos dos ARAEBUDIS (sigla para “ala rasa e burra da direita”) e dos ARAEBUES (sigla para “ala rasa e burra da esquerda”).

Essa gente toda --- O DEUS VERDADEIRO ---, embora se considere a parcela mais preparada e consciente da população do País, é a mais retrógrada. Aposta todas as fichas no atraso, é doentiamente rancorosa, daí não estarem descartados ainda o atentado, o golpe de estado ou qualquer outro expediente para impedir a posse de Dilma. 

O que significa que essa gente toda, o Deus Verdadeiro, apenas perdeu uma grande batalha, mas ainda não a guerra. Prepare-se porque muita água ainda rola embaixo dessa ponte, e nada garante que Dilma assume. E, se assumir, nada garante que terá um minuto de paz em seu governo: esse Deus Verdadeiro veio ao mundo unicamente para conservar o que já apodreceu e faz qualquer negócio, até mesmo matar o próprio filho, para atingir seus objetivos. Conheça melhor esse Deus que queria Serra e não Dilma, e que envergonhou a humanidade.

Já disse aqui e sou obrigado a repetir a análise que fiz deste nosso ano eleitoral: dominado pelas trevas da obscuridade, esse Deus Verdadeiro sempre foi a alienação e a ignorância, que ele precisa conservar e tornar vitoriosas a qualquer preço. Vide a mídia brasileira, a rainha da catimba e dos expedientes escusos, e que, depois do Deus Verdadeiro, é a maior derrotada dessa eleição.

Deus Verdadeiro está em todo lugar. Já foi feudal em outras praças e até lutou por aqui com unhas e dentes para conservar a escravidão, que entendia ser legítima.

No Brasil de hoje, esse Deus Verdadeiro vive nas regiões mais ricas do País, especialmente, no Sul e no Sudeste. Considera-se a parcela mais preparada e culta de nossa população, mas não passa da mais desclassificada e decadente.

Os filhos diletos desse Deus Verdadeiro são a democracia, o estado de direito, a política, a polícia e todas as instituições, principalmente a família e a religião. Deus Verdadeiro passa por cima de todos eles e até os destrói para defendê-los.

Deus Verdadeiro são o papa Bento XVI, Chico Xavier, Edir Macedo, Malafaia, Sônia, o judaísmo, o islamismo, a ressuscitada Liga das Senhoras Católicas, todas as seitas e religiões, e rituais satânicos. Deus Verdadeiro são, principalmente, os pastores milagreiros que gritam pelos dízimos.

Deus Verdadeiro é a mídia que aí está e que clama todos os dias por liberdade para cometer impunemente seus crimes, como as campanhas partidárias ilegais, amparadas sempre pelos institutos de pesquisas e por forças alienantes como o BBB Brasil, A Fazenda e toda a grade diária das emissoras de rádio e TV.

Deus Verdadeiro são os veículos que, ao perceberem não haver mais jeito e que daria Dilma, mudaram de lado no final do segundo turno e tornaram-se “imparciais”, passando a divulgar também as denúncias contra Serra, que até então jamais pecara e era o maior de todos os santos.

Deus Verdadeiro é essa mídia chorosa, que passou a lamuriar como criança quando Lula começou a denunciar seus crimes, o que bastou para ela acusar o Presidente de cercear a liberdade de expressão.

Na sua ignorância, esse Deus Verdadeiro não sabe que a mídia precisa de liberdade de expressão para cumprir seu papel de defensora e protetora do “capital”, o que impede de existir liberdade de expressão em qualquer lugar do Planeta.

Mas Deus Verdadeiro sabe que, no Brasil, a livre e democrática mídia tem usado e abusado da liberdade de expressão, com mentiras, calúnias e factóides para derrubar os candidatos que ela não apoia. Por isso, está desacreditada e não tem mais força nenhuma, de Veja à Rede Globo, passando pela Folha e pelo Estadão.

Se a revista Time, dos EUA, tivesse feito contra Barack Obama uma única edição das que Veja fez contra Lula e Dilma (e Veja não fez outra coisa nestes últimos oito anos), Obama não teria conseguido nem mesmo ser candidato à presidência. No entanto, todo esse alarde de nossos veículos só serviu para dar mais votos a Dilma, tamanho é o desrespeito que os brasileiros têm pela nossa mídia.

Deus Verdadeiro até hoje ignora que Lula e Dilma já estão perfeitamente integrados ao establishment e são parte orgânica dele. Esqueceu que Lula escreveu a “Carta aos Brasileiros”, comprometendo-se a obedecer ao “capital”, e cumpriu a a palavra, e que Dilma assumiu o mesmo compromisso e também vai cumprir.

Deus verdadeiro, no seu despreparo, não sabe que Lula e Dilma são seus aliados e que deveriam ser seus candidatos, não Serra.

Deus verdadeiro não sabe também ser mais do que necessário dar continuidade a esse choque capitalista que o Brasil vem experimentando, especialmente com Lula: só assim, nas atuais condições sociais, o País tem como debelar um pouco a gigantesca miséria que ainda nos aflige, para poder avançar.

Deus Verdadeiro desconhece que a ala “preparada” do capital (representada principalmente pelo grande capital nacional e estrangeiro) hoje apoia incondicionalmente o PT, certa de que Dilma não será louca de tentar colocar em prática seus velhos ideais, pois sabe que, se Dilma o fizer, tomará uma bala na testa em “democrático” atentado ou será espirrada por “democrático” golpe de estado.

Deus Verdadeiro são os que ainda têm medo de Dilma, como Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi, Millôr e Hélio Fernandes, Caetano Velloso, Augusto Nunes, o Manhattan Connection e todos aqueles que são hoje seus maiores santos. E, um pouco mais embaixo, como anjinho dos anjinhos, Deus Verdadeiro é também Daniel Piza, do Estadão, o colunista que nos oito anos de governo Lula não teve nenhum motivo para se ufanar, ou seja, para ser o alegre ufanista que foi nos governos anteriores.

Enfim, Deus Verdadeiro é todo esse disfarce de bom samaritano que aí está somente para defender e proteger o “capital”. Como esse Deus Verdadeiro é o mais democrata dos democratas, não hesita em lançar mão do atentado, do golpe de estado e da tortura quando os “obstáculos” democraticamente resistem.

Meu Deus Verdadeiro, como você ignora! E como ignora que ignora!

Se você entendeu que esse Deus Verdadeiro é o demônio, entendeu certo.

Deus Verdadeiro faz qualquer negócio, até mesmo mentir, roubar e matar o próprio filho para conservar o velho e o decadente, ou seja, para preservar a força destruidora do “capital”, que há muito tempo deixou de ser progressista. Ele não acaba de transformar Dilma numa demoníaca pílula abortiva que mata criancinha?

Lula é melhor filho desse Deus do que Serra. Nos últimos oito anos, foi fiel ao seu senhor, o “capital”, mais do que Serra. Prometeu-lhe obediência e cumpriu a palavra. E conservou, conservou, conservou.

Lula fez mais bem ao capitalismo brasileiro do que qualquer outro presidente. O capital nunca esteve tão em paz e tão feliz quanto com Lula.

Dilma também prometeu conservar, conservar, conservar, e com certeza cumprirá. Só que esse Deus não a queria mais, não queria Lula.

E quando esse Deus Verdadeiro não quer mais, nem a perfeição resiste. Se Dilma fosse perfeita e esse Deus não a quisesse mesmo na sua perfeição, trataria logo de achar algo de imperfeito em Dilma e a impediria de chegar lá.

Como Dilma está longe da perfeição, esse Deus Verdadeiro achou um monte de imperfeições nela, inventou outro tanto e fez o impossível para derrotá-la. Mas não conseguiu. Só que, repito, esse Deus Verdadeiro ainda está vivo e pode conseguir derrubar Dilma com um atentado, um golpe de estado, o que o valha.

Recentemente, esse Deus disse: “Faça-se a luz, e que essa luz ponha Dilma a arder nas chamas da verdade, pois, se eleita, ela matará criancinhas, já que é a favor do aborto, rouba dados de tucanos e deu de apedrejar Jesus Serra com bolinhas de papel na frente de todo mundo”.

Se esse Deus não quisesse Serra, teria inventado coisas piores a respeito dele e há muito tempo liquidado com as pretensões do ex-governador. Mas esse Deus queria Serra, não Dilma. E Dilma foi muito mais difícil de derrubar.

Serra tem mais imperfeições do que Dilma. Dá margem a que se levantem muito mais calúnias, factóides e mentiras a respeito dele do que de Dilma.

Mas esse Deus queria porque queria Serra. Queria Serra, não entendeu ainda?

Apesar disso, não mudei meu voto e votei em Dilma, e ela ganhou. Mas, reitero, não sei se toma posse e, se tomar, não sei se conseguirá governar. Esse Deus não sossega: continuará fazendo qualquer negócio para se conservar, isto é, para que prevaleça a era das trevas. Definitivamente, não há o que fazer contra a vontade desse Deus Verdadeiro. Conseguirá Dilma derrotá-lo e ganhar finalmente a guerra? Aguarde pelo próximo capítulo. Abraços a todos. 

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Diante dos últimos acontecimentos, vejo-me obrigado a repetir esse artigo, com acréscimos essenciais. Assim não dá para continuar. Acabaram de crucificar Jesus Serra, com apedrejamento e tudo, por obra dos facínoras Lula e Dilma.