REBOUNDS
É voz corrente, que nas democracias, os primeiros cem dias de governo são essenciais para que viabilizem-se a tomada das medidas importantes, das polêmicas e por que não, das impopulares, que demandariam grandes negociações e até técnicas de convencimento do público, avesso a tais medidas.
Faz sentido, porquê o eleito para o cargo executivo toma posse com a força do eleitorado que o ungiu e assim respaldado tem facilidade para que suas iniciativas tenham sucesso nas câmaras legislativas e ademais, ainda não foi testado suficientemente, para ver despencar seus índices de aprovação. Esses aspectos somam pontos a favor dos que são pela alternância no poder e contrários à reeleição.
Na história mundial recente, a trajetória, vitória, posse e primeiros passos de um presidente, jamais foram tão atentamente acompanhadas, quanto as de Barack Obama nos Estados Unidos da América.
Não tanto pela questão racial – os EUA tem um longo histórico de intolerância racial – mas, pela crise na qual o mundo estava submerso e pelos conflitos espalhados pelo globo, nos quais os americanos viam-se envolvidos, mercê de uma política estrábica levada adiante por seu antecessor George W. Bush.
Há que notar-se, que nos EUA com a posse de um presidente, o antecedente já não serve como referência para eventuais comparações, como ocorre em diversos países, ou seja lá, literalmente, “rei posto é rei morto”.
Na política internacional os americanos esmeram-se em descaracterizar o país como “Império” ou “Império do Mal”, epítetos usados pelos que não lhe são simpáticos, desmobilizando Guantánamo, suspendendo o embargo a Cuba, sinalizando com a retirada de tropas do Afeganistão e Iraque. Mas, em contraponto, apoiou Manoel Zelaya, aprendiz de ditador em Honduras e a instalação de bases militares americanas, num total de sete, na Colômbia, fato este já desmentido pelo Departamento de Estado.
No entanto, é na Economia e nas Finanças – na crise econômica por extensão – que exigiria atitudes enérgicas, prontas e eficazes, que o governo americano tem-se mostrado um tanto vacilante, com uma atuação mais aproximando-se ao neo-liberalismo clássico do que ao esperado vanguardismo, que deveria pautar a administração Obama.
As medidas até agora tomadas de socorro aos bancos e instituições financeiras, indústrias (principalmente, automobilísticas), ampliação do seguro desemprego, aumento das garantias às hipotecas, neo-liberais na sua essência, apenas atacam as mazelas da economia americana pelos seus efeitos, deixando intactas as causas.
Questões como o crescente déficit em contas correntes (financeiras e comerciais), a circunscrição das relações com a China (PRC) não foram sequer arranhadas, tudo continuando como dantes no quartel de Washington.
O que é mais sério e grave, os USA com Obama à frente, participaram de reuniões do G-8, do G-20 e deveriam do alto de sua importância exigir dos demais parceiros a edição de medidas drásticas para colocar o mercado financeiro sob severa legislação que não permitisse a formação de bolhas, prontas a causar transtornos e prejuízos principalmente ao pequeno investidor e levar os países a nova crise tão ou mais grave que a presente.
O tempo urge e passa célere e os índices de aprovação que o presidente tinha no começo da gestão, começam a despencar, tornando mais difícil a tomada de medidas impopulares e o rebote ou recaída de uma crise e sempre mais dolorida do que a própria.
Obama como bom jogador de basquete sabe disso e o cronômetro da crise, diferentemente do jogo, não pára.
Luiz Bosco Sardinha Machado
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