MARINA

Má li esse poema umas dez vezes. Foi a coisa mais bonita que já fiz. Andei trocando umas palavras, corrigindo vou mandar de novo prá vc montar um slide vou mandar imprimir e mando p/ vc pelo correio MARINA No ambiente amplo Paredes brancas, Iluminado por uma Réstia de luz Qu’escapava esguia Por cortina balouçante, Uma marina deslumbrante, Com mares azuis, tal Olhos de uma diva. O píer branco qual Espumas das ondas O conjunto enfeitando. Barcos que partiam E chegavam Se quem ia ou voltava Não sei se ria Ou só chorava. Ah! como amava Esta marina que, De amor minha Vida povoava 22.03.09 LUIZ BOSCO SARDINHA MACHADO ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ QUEM SOU EU MARINA SILVEIRA- PROFESSORA, TECNÓLOGA AMBIENTAL E ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

TRISTES LÉVI-S TRÓPICOS

Tom Capri






Dedicado a Chris Mello, colunista do Estadão que ainda se irrita com meus comentários.


A morte de Claude Lévi-Strauss no último dia 31 de outubro, próximo de completar 101 anos, deveria ter ensejado fecundos estudos sobre sua obra, mostrando não só a contribuição dele para a ciência, mas principalmente o desserviço que prestou, ao se valer, como premissa, do grande equívoco que é o estruturalismo. Ao contrário, sua morte rendeu (por enquanto) textos tão superficiais e tristes quanto Tristes Trópicos, uma de suas obras mais importantes e que aborda pesquisas feitas quando de sua viagem ao Brasil, nos anos de 1930. Veja também aqui, em linguagem didática, qual é o furo do estruturalismo e, portanto, da obra do antropólogo nascido em Bruxelas a 28 de novembro de 1908.


Lévi-Strauss é responsável por grandes descobertas que depois se comprovaram científicas, como a de que não existem povos inferiores ou superiores nem há diferenças essenciais entre as formações arcaicas e modernas. Até porque a humanidade sempre foi uma só, ainda que multifacetada, e não existem raças, já o sabemos.
Mas o cientista chegou a tais conclusões com base no estruturalismo, noção que já nasceu obsoleta, como preceito equivocado, ou seja, como falsa consciência superada antes mesmo de vir ao mundo. Segundo o antropólogo, o comportamento humano é determinado por estruturas culturais, sociais e psicológicas, e isto não se sustenta.
Acredito que nossas principais revistas e as edições dominicais dos jornais tragam material mais consistente sobre o legado de Lévi-Strauss. Tomara! Por enquanto, o que pude ler em nossa mídia foi avaliação tão superficial e triste quanto a essência da obra do antropólogo, passível de crítica e já derrubada pela ciência.
Dos textos que li na mídia, nenhum colocou o cientista no devido lugar, até mesmo por ignorância: raros conseguiram entender até hoje sua obra e o estruturalismo, que não é escola nem movimento cultural, mas sim método equivocado de abordagem e análise, até porque, a ciência também já o comprovou, não há método para o conhecimento. Na verdade, poucos alcançaram até mesmo o significado do termo quando utilizado pela primeira vez pelo linguista Ferdinand de Saussure, em seu Cours de Linguistique Générale (1916): a forma de explicar a origem dos fonemas numa língua, a partir de estruturas.
Lévi-Strauss emprestou a noção de Saussure para aplicá-la à antropologia, que estuda a origem das culturas, suas crenças e costumes. Para Saussure, os elementos de uma língua só podem ser entendidos na sua relação estrutural com os demais elementos desta mesma língua. Ou seja, só podem ser compreendidos pelas relações de equivalência ou de oposição que cada elemento de uma língua mantém com os demais que lhes são próximos, sendo que esse conjunto de relações dos elementos forma estruturas.
Em Mitológicas 1 - O Cru e o Cozido, Lévi-Strauss avançou no estruturalismo ao analisar 187 mitos, que para ele não passam de estruturas só existentes quando associadas a outros mitos, tal qual na lingüística (semiótica) de Saussure. Só é possível interpretar um mito como, por exemplo, o do fogo e do cozimento dos alimentos, diz Strauss, quando analisado em conjunto com os demais mitos (estruturas) em que este mesmo mito está imbricado.
O estruturalismo estendeu-se em seguida a vários campos, como a psicologia (com Lacan) e até mesmo a matemática, com Bernacerraf. Sempre como forma de abordagem e método de análise. O método ganhou depois inúmeras variantes, inclusive uma marxista, de Louis Althusser, até cair em desuso por absoluta falta de consistência.
Para Lévi-Strauss --- idéia que Piaget veio endossar incondicionalmente ---, a humanidade e a cultura (as crenças e costumes, em suma, a sociabilidade) resultam de estruturas que já existiam antes das civilizações, como já apareciam na lingüística de Saussure. Seriam estruturas apriorísticas e abstratas que surgiram não se sabe de onde e que jamais identificaremos a origem.
Até porque, garante Lévi-Strauss (noção que obviamente vai buscar em Kant, para quem é impossível entendermos a coisa-em-si), carregamos dentro de nós uma irremediável ignorância em relação às verdadeiras fontes de origem da cultura com suas crenças e costumes, ou seja, da sociabilidade. Eis o grande furo do estruturalismo, o mesmo furo da noção da impossibilidade de conhecermos a coisa-em-si, presente em Kant.
Apesar de ter sido, na juventude, militante de tendência marxista e até ter dito certa feita que a cultura resulta de um processo dialético de tese, antítese e síntese, Lévi-Strauss nunca entendeu as descobertas científicas de Darwin nem Marx, a exemplo de Piaget. Muito provavelmente leu ambos, mas não conseguiu alcançar a essência tanto de um quanto de outro.
A ciência já comprovou e sacramentou, com Darwin, Marx e outros, que toda atividade intelectual --- isto é, a cultura, com suas crenças e costumes, inclusive o ato de pensar --- origina-se da forma como a espécie humana (e a pré-humana que resultou na humana) vem lutando há milênios para sobreviver. Isto é, origina-se da forma como o homem trabalha e produz para se perpetuar como espécie.
Vale repetir, é a forma como o homem luta pela sobrevivência --- essa prática diária que tem garantido até aqui a perpetuação da espécie, e que é movida pelo trabalho --- o deus criador de nossas realidades, ou melhor, da sociabilidade, resultando na nossa cultura (nas relações sociais, crenças, normas, costumes, tudo que aí está relativo ao homem). Embora Lévi-Strauss possa ter lido Darwin e Marx, não entendeu como isso --- de a sociabilidade ser fonte de origem da cultura e da atividade intelectual --- se processa na realidade.
Desde os primórdios, é assim, e a humanidade já tem comprovação científica disso há mais de 150 anos, porém a descoberta não chegou ao antropólogo, e, se chegou, ele não entendeu como ela se processa na objetividade. Quando o homem, nos primórdios, saía à caça para garantir a própria sobrevivência e a dos seus, nesse mesmo processo de dispêndio de trabalho ia inventando a lança, o arco, a flecha etc. Ou seja, ia se enriquecendo espiritualmente, ao criar seus instrumentos de trabalho e toda a tecnologia que lhe viria facilitar a vida, além de precisar ‘inventar’ por necessidade a linguagem para dar nome a tudo o que criava.
Em resumo, a forma como o ser humano luta pela sobrevivência, no trabalho (ou seja, a forma como trabalha e que chamamos também de infraestrutura), é sem dúvida nenhuma a fonte de origem da cultura, isto é, da sociabilidade como a que aí está, em cada formação social. Há, portanto, um primado da sociabilidade sobre as propriedades da atividade intelectual (da cultura, com suas crenças, normas e costumes), o que significa dizer que a primeira (a sociabilidade) é sempre fonte de origem da segunda (da cultura).
Já para Lévi-Strauss, ao contrário, as propriedades da atividade intelectual (isto é, da cultura) não são jamais “reflexo da organização concreta da sociedade”, daí a recusa, da parte dele, em aceitar o “primado do social sobre o intelecto (a cultura)”. O antropólogo entende que, atrás das relações humanas concretas, escondem-se estruturas subjacentes, abstratas e inconscientes as quais o cientista só pode alcançar pela construção dedutiva de modelos abstratos. Entende também que apenas desta maneira ele pode compreender a realidade humana.
E Lévi-Strauss prossegue: a cultura, com suas crenças e costumes, “se apresenta como normas exteriores, antes de engendrar sentimentos internos (no homem)”. Tais “normas insensíveis (subjacentes, abstratas e inconscientes) que se apresentam como externas determinam os sentimentos individuais, bem como as circunstâncias onde estes poderão e deverão se manifestar.”
Em suma, Lévi-Strauss achava que as estruturas culturais, sociais e psicológicas (que precediam a humanidade e sua história) é que determinavam a cultura e o comportamento humano, e não o contrário. Em As Estruturas Elementares do Parentesco, de 1949, seu primeiro livro (e tese de mestrado), ele tenta demonstrar que organizações sociais aparentemente distintas não passam de resultado lógico de permutações de um número reduzido de estruturas de parentesco.
Assim, o que a ciência já comprovou ser resultado e efeito da sociabilidade --- as estruturas, os mitos etc. ---, em Lévi Strauss é causa da sociabilidade, e jamais conseguiremos identificar a origem verdadeira das estruturas e dos mitos.
O estruturalismo acaba, assim, por ser --- o que é típico da fasei imperialista e globalizada do capital --- desesperada reação à verdade científica segundo a qual a realidade humana é forjada a partir de processos históricos bem definidos, todos emanados da sociabilidade, a qual se caracteriza, como vimos, pelas formas concretas de luta pela sobrevivência (pelos modos de produção e de trabalho). O estruturalismo é assim --- ao beber da fonte de Kant, da impossibilidade de conhecer a coisa-em-si, misteriosa também para Lévi-Strauss --- o canto do cisne do irracionalismo, concebido aqui como a desrazão na sua forma mais execrável e perversa.
 Tom Capri.

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