MARINA

Má li esse poema umas dez vezes. Foi a coisa mais bonita que já fiz. Andei trocando umas palavras, corrigindo vou mandar de novo prá vc montar um slide vou mandar imprimir e mando p/ vc pelo correio MARINA No ambiente amplo Paredes brancas, Iluminado por uma Réstia de luz Qu’escapava esguia Por cortina balouçante, Uma marina deslumbrante, Com mares azuis, tal Olhos de uma diva. O píer branco qual Espumas das ondas O conjunto enfeitando. Barcos que partiam E chegavam Se quem ia ou voltava Não sei se ria Ou só chorava. Ah! como amava Esta marina que, De amor minha Vida povoava 22.03.09 LUIZ BOSCO SARDINHA MACHADO ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ QUEM SOU EU MARINA SILVEIRA- PROFESSORA, TECNÓLOGA AMBIENTAL E ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A PROPÓSITO DO CHILE... QUE PENA! ESQUECERAM O HAITI

Pronto, já esqueceram o
Haiti, o mesmo destruído pela
varinha mágica do capital
Comprove ainda: o articulista Sérgio Augusto também concorda comigo quando digo que a varinha mágica do capital está hoje por trás das tragédias provocadas por desastres naturais (ver texto dele mais adiante).

Como normalmente acontece nesses casos, o Haiti já caiu no esquecimento da mídia e do mundo. Na linguagem jornalística, não dá mais matéria. E a recuperação fica a cada dia mais difícil. O presidente Lula está prestes a visitar o país, mas o que se vê, na mídia, é minguar o espaço dedicado à tragédia provocada pelos recentes terremotos que mataram mais de 200 mil.

Comprove ainda: o articulista Sérgio Augusto também concorda comigo quando digo que a varinha mágica do capital está hoje por trás das tragédias provocadas por desastres naturais (ver texto dele mais adiante).


Como normalmente acontece nesses casos, o Haiti já caiu no esquecimento da mídia e do mundo. Na linguagem jornalística, não dá mais matéria. E a recuperação fica a cada dia mais difícil. O presidente Lula está prestes a visitar o país, mas o que se vê, na mídia, é minguar o espaço dedicado à tragédia provocada pelos recentes terremotos que mataram mais de 200 mil.


E minguarem também as atenções que deveriam estar voltadas, agora mais do que nunca, para a reconstrução do Haiti. Repare, no texto abaixo, que o articulista Sérgio Augusto, que escreve para os principais jornais do País, também concorda comigo: a varinha mágica do capital está hoje por trás de todas as tragédias provocadas por desastres naturais, como este último do Haiti.
 É o que ele deixou claro em seu texto publicado no Estadão, sob o título “O Haiti que importa”, suplemento Aliás, página J6, de 24/1/2010. Veja o final do artigo dele: “Quando pensar no Haiti e rezar pelo Haiti, tenha sempre em mente que os maiores flagelos que o atingiram nos últimos 500 anos não foram exatamente causados pela natureza.” Aí vai, abaixo, a íntegra do texto do Sérgio Augusto, seguido do meu artigo em que demonstro não ser a natureza, mas sim o capital, a maior força destruidora, nos casos de desastres naturais como o recente do Haiti.
 Você encontra o comentário de Sérgio Augusto também no link:
http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,o-haiti-que-importa,500654,0.htm


O Haiti que importa

Por Sérgio Augusto
“O Estado de S. Paulo” Suplemento Aliás Página J6 – 24/1/2010

 Há quem ligue o Haiti a Caetano Veloso ou a Graham Greene. Melhor do que nada. Muitíssimo melhor do que reduzir o Haiti ao vodu (ou à caricatura do culto de origem africana perpetuada mundo afora), a golpes de Estado, terremotos e furacões, desmatamentos e miséria, aos Tonton Macoutes e ditadores de óculos escuros espelhados.

 Mas existe um outro Haiti, anterior e posterior a Papa Doc e Baby Doc Duvalier, que tampouco está na música de Caetano e no romance satírico Os Comediantes, de Greene, e esse é o Haiti exemplar, o Haiti que importa: o Haiti de Toussaint L"Ouverture e Jean-Jacques Dessalines, Jean David Boursiquot e Wyclef Jean - o Haiti heroico e criativo.

L"Ouverture iniciou a libertação da ilha, concluída por Dessalines em 1804; Boursiquot é uma das glórias da renomada pintura naïf haitiana; Wyclef Jean, um rapper de fama mundial. Nas artes plásticas e na música (compas, zouk), os haitianos não disputam a repescagem. Encantei-me por seus pintores primitivos há mais de 30 anos, numa mostra em Miami, onde conheci, com vergonhoso atraso, os carnavais e as bodas de Boursiquot, as marinas de Jonas Camille Hector, as caçadas de Wilson Brigaud, os mercados de Fritzner Alphonse, cujas imagens nos remetem a Rousseau, Tarsila e Guignard.

Foi aí que deixei de associar o Haiti, única e exclusivamente, aos esbugalhados zumbis antilhanos dos filmes produzidos por Val Lewton e a uma americana chamada Kate.

Invenção de Cole Porter, Kate foi até Porto Príncipe, nos anos 1930, para um descanso, mas lá apaixonou-se por um haitiano, depois por outro, e mais outro, adiando sempre a volta, até decidir-se por nunca deixar o Haiti, cujo turismo cresce exponencialmente depois que ela publica um livro sobre os mil encantos da ilha.

 A deliciosa ninfômana viveu até os 80 e teve funeral de luxo.

A canção Kate Went to Haiti foi composta por Porter para o musical Du Barry Was a Lady, cujo protagonista a certa altura sonhava que era Luís XV, às voltas com Madame Du Barry, a legendária amante do rei da França.

Em 1793, quando Du Barry foi guilhotinada, o Haiti ainda se chamava St. Dominique e era a mais rica colônia europeia no Novo Mundo. Metade da produção mundial de café e açúcar saía de lá, não de Santo Domingo, a colônia espanhola do lado oriental da Ilha Hispaniola, futura República Dominicana.

Os escravos africanos que tocavam a agricultura de St. Dominique eram tratados com extrema crueldade pelos usineiros e cafeicultores franceses. Quem saía da linha, tinha o reto entupido de pólvora e o corpo implodido. Menos de uma década depois de Du Barry ter subido ao cadafalso, os escravos se revoltaram, sob a liderança de Toussaint L"Ouverture, a quem Napoleão mandou trancafiar num calabouço francês até que morresse de fome e sede.

Em abril de 1803, o Espártaco creole afinal morreu. Nove meses depois, St. Dominique conquistou sua independência, proclamada por Jean-Jacques Dessalines.

Se tivesse sido branco, como Bolívar, e o Haiti não fosse apenas uma ilha, o general negro que derrotou Napoleão seria uma figura histórica bem mais conhecida no resto do continente. Vários livros inspirou, entre os quais Os Jacobinos Negros, do jamaicano C. L. R. James (traduzido pela Boitempo), e uma elogiada peça teatral do martiniquense Édouard Glissant, mas há anos que o ator americano Danny Glover luta contra o desinteresse dos produtores de cinema por imortalizá-lo na tela.

A França não vendeu barato a perda da colônia e a expulsão violenta de seus colonos. Com sua poderosa armada, embargou o comércio do Haiti, exigindo-lhe 150 milhões de francos de indenização pelos prejuízos causados pela independência, quantia extorsiva considerando-se que, na mesma época, a França vendeu a Louisiana aos Estados Unidos por 80 milhões de francos. Da nascente república norte-americana os haitianos, a rigor, só receberam ajuda de Alexander Hamilton, que colaborou na redação da primeira Carta Magna esboçada por L"Ouverture.

Thomas Jefferson, antes mesmo de chegar à presidência, já antagonizava a nascente república antilhana. Tinha 180 escravos; não preciso explicar mais nada.

Com sanções comerciais e outros tipos de boicote, os Estados Unidos forçaram os haitianos a contraírem uma dívida colossal, em bancos americanos e franceses, que chegou a US$ 20 bilhões e só foi ressarcida em 1947. Reconhecer o Haiti como país independente, a Casa Branca só o fez em 1863, ou seja, com quase 60 anos de atraso. Mais um feito de Abraham Lincoln.

Por temer interferência alemã na zona do Canal do Panamá, os Estados Unidos de Woodrow Wilson ocuparam o Haiti em 1915 e lá ficaram durante 19 anos e cinco presidentes, o último dos quais, Franklin Delano Roosevelt, autor de uma nova Constituição imposta aos haitianos pela administração Wilson, de que Roosevelt fora subsecretário da Marinha. A nova Constituição, no melhor estilo uti possidetis, preludiou a degradação econômica e ambiental do país, cujas luxuriantes florestas de mogno e pinho caribenho foram dizimadas em questão de anos.

Para evitar "outra Cuba" nas vizinhanças, quatro presidentes republicanos e três democratas toleraram as atrocidades e as roubalheiras da ditadura Duvalier, que se perpetuou no poder de 1957 a 1986. Era Bush pai quem ocupava o Salão Oval quando o primeiro presidente democraticamente eleito do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, foi derrubado em 1991, com a colaboração de Washington.

 Reconduzido ao governo três anos depois, com o beneplácito e uma coleira de Bill Clinton, Aristide passou três anos tratado como pária pelo Bush filho. Não era o fantoche ideal e acabou derrubado em 2004, no melhor estilo Zelaya, sob as baionetas dos marines e o dedo em riste do embaixador James Foley.

Jared Diamond dedicou 31 das 681 páginas de Colapso para explicar o que aconteceu com o Haiti (e a República Dominicana) desde a chegada de Colombo. Outros estudos existem, eventualmente mais detalhados, mas esse, traduzido há quatro anos pela Record, continua sendo o mais acessível. Sua leitura muito nos ajudará a evitar interpretações equivocadas do aparente beco sem saída haitiano. Quando pensar no Haiti e rezar pelo Haiti, tenha sempre em mente que os maiores flagelos que o atingiram nos últimos 500 anos não foram exatamente causados pela natureza.

Agora, o meu comentário sobre o Haiti, comprovando que as tragédias provocadas por desastres naturais tem hoje, por trás, a varinha mágica do capital. Você encontra este comentário também em meu site www.virobscurus.com.br, no link
http://www.virobscurus.com.br/secao.asp?id=1&c_id=117 .
Haiti: desastre não foi
natural. Hoje, mortes e
destruição têm sempre a
varinha mágica do capital.

(E Caetano Veloso está coberto de razão: o Haiti é aqui e não é aqui)

Surpreso? Então, constate. Não existe mais tragédia causada por desastre natural. Todas elas têm por trás a varinha mágica do capital, mesmo maremotos, tsunamis, tufões, furacões e até terremotos como esse que matou e destruiu no Haiti. Quando tentei explicar isto a um leitor, outro dia, ele foi logo dizendo: “Pronto, lá vem você de novo com seu marxismo. E, desta vez, passou da conta!” Não houve jeito de fazê-lo entender que o capital está por trás de todas as tragédias decorrentes de desastres ditos naturais.

Não é mesmo fácil nem simples entender isso. Exige certo preparo teórico e um mínimo de acuidade, o que a maioria no Planeta, hoje alienada, inclusive intelectuais e sábios de renome, lamentavelmente não tem. Não é marxismo nem socialismo e muito menos comunismo. É constatação científica, algo amplamente comprovado pela ciência autêntica. Tudo se resume ao seguinte: hoje, as tragédias que derivam de desastres naturais são, sem exceção, de responsabilidade do homem. Como vivemos numa sociabilidade regida pelo capital, e é o capital que dita as regras e conduz as ações humanas --- portanto, modela nosso comportamento e a forma como nos relacionamos com nossos semelhantes ---, é o homem regido pelo capital o único responsável pelas trágicas conseqüências dos desastres naturais. Isto não é opinião nem ponto de vista ou modo de ver as coisas, mas dado científico já comprovado. Se você não acredita, pelo menos siga os argumentos.

Comecemos pelas tragédias decorrentes de dois tipos de desastres muito específicos, os furacões e os tufões, que têm matado tanto quanto as grandes guerras. As tragédias que eles causam são de inteira responsabilidade do capital primeiro porque é ele --- o capital e não os indivíduos --- que está acabando com a vida no Planeta. E, segundo, porque, ao acabar com a vida, atinge diretamente a biodiversidade ao elevar a temperatura na superfície da Terra. Ou seja, essas ações do capital acabam potencializando e ampliando o número destes dois tipos de desastres --- furacões e tufões ---, a ponto de eles estarem se tornando cada vez maiores e mais devastadores. Ainda tem alguma dúvida?

Desastres como o do furacão Katrina, em New Orleans, poderiam ter sido evitados se a destruição ambiental não tivesse elevado o nível das águas a ponto de elas destruírem as barragens da região, inundando a cidade. É sabido, George W. Bush perdeu as eleições logo depois não só porque não viu que os títulos podres levariam à recente crise mundial, mas porque nada fizera para solucionar o problema de sustentação dos diques, na área de New Orleans, e também porque fracassou depois, na ajuda humanitária às vítimas.

Por que Bush agiu assim? Porque o capital não está preocupado com o ser humano, mas tão só com as vendas. Não por ser um vilão incorrigível, mas porque esse descaso pela vida humana está no seu DNA. E as democracias, o Estado de Direito e os governos aí estão justamente para defender, proteger e azeitar os instrumentos que garantem sucesso nas vendas, para que a vida capitalista, e não a humana, siga sua marcha de acumulação. Não é novidade para ninguém, o capital --- ainda que movido por mãos humanas, obviamente --- está pouco se lixando para o homem e para a vida no Planeta. O abandono ao ser humano está na essência da vida capitalista. Tomemos o exemplo do automóvel. Sim, a produção de veículos dá emprego, matou a fome de milhões, mas trouxe mais destruição do que benefícios. E vai trazer mais. Basta ver o caótico trânsito de São Paulo e o que ele está matando com a poluição, o estresse e os acidentes.

Poucos bens promovem tanta devastação quanto o automóvel. Como se trata de produto de consumo altamente lucrativo, capaz de alavancar toda a atividade industrial, passamos a fabricá-lo e a vendê-lo em escala. Não importa se, no médio prazo, ele envenenará as cidades e matará 62 mil por ano só em acidentes de trânsito, como acontece no Brasil (60 mil foram os soldados dos Estados Unidos mortos apenas na Guerra do Vietnã). Vamos agora às tragédias resultantes de tsunamis, maremotos e terremotos como esse do Haiti. Parece que essas tragédias não têm nada a ver com as ações do capital. Nada mais raso e equivocado. Têm tudo a ver. Confira.

A humanidade há mais de 500 anos está preparada para enfrentar e superar desastres como terremotos, maremotos e tsunamis. Quando os espanhóis chegaram à América, constataram que os incas, por exemplo, detinham uma engenharia avançada, que incluía tecnologia à prova de terremotos. Suas edificações, à base de grandes pedras encaixadas uma na outra, com folga para não ruírem nem despencarem, mantinham-se de pé e permaneciam intactas quando dos terremotos.

Os espanhóis nunca pensaram em incorporar essa tecnologia às suas edificações, que ruíam ao menor abalo sísmico, e é imenso o número de vítimas dos terremotos daquela época. Hoje, já temos tecnologia para suportar grandes terremotos sem desabamentos, mas ela só é aplicada em cidades de primeiro mundo, como Los Angeles. Em países pobres como o Haiti, em que as edificações são bastante frágeis, o que prevalece são os desabamentos.

Quanto aos maremotos e tsunamis, quando o capitalismo emergente, na sua fase mercantil, saiu em busca de matérias-primas, no fim do século 15, até chegar aos Descobrimentos, não encontrou índio nenhum com habitação ou oca instalada à beira-mar. Hoje, só no Brasil, são incontáveis as praias tomadas por prédios na areia, a alguns metros do mar.
A verdade é que, nas orlas marítimas, o capital nunca escondeu sua predileção por construir o que pode à beira-mar, como resorts, residências e grandes edificações, mesmo em áreas ameaçadas por maremotos e tsunamis. Nos países que experimentaram a colonização, como Brasil e Haiti, e em muitas regiões da Ásia e da África, só agora começa a haver esse tipo de preocupação. É óbvio que um hotel à beira-mar é muito mais lucrativo do que aquele a um quilômetro da praia. Copacabana basta como exemplo dessa irracionalidade: foram gastas grandes somas só no último aterro, e para solucionar apenas em parte o problema. Uma vez que o capital está preocupado apenas consigo mesmo, e não com a vida humana, acabamos não desenvolvendo soluções capazes de evitar tragédias nessas áreas. Resulta disso que temos hoje milhões de edificações à beira-mar, no Planeta, à espera de destruição por maremotos e tsunamis, principalmente em países pobres como o Haiti, onde as edificações são bastante precárias.

O homem comum e mesmo os sábios e intelectuais ainda não sabem, mas precisam saber: o que determina e modela o ser humano de cada época --- e responde, portanto, pelas tragédias resultantes dos desastres naturais --- não é Deus nem o Diabo. É --- já o comprovou a ciência autêntica --- a forma como o homem produz e trabalha, para garantir a sobrevivência da espécie. É dessa forma que emanam (ou não) os cuidados que devemos tomar para evitar as trágicas conseqüências de ‘desastres naturais’.

Uma vez que a forma como o homem produz e trabalha em nossos dias é a regida pelo capital, e que ela está pouco se lixando para o ser humano, é ele, o próprio capital, com sua varinha mágica, o único responsável pelas tragédias decorrentes dos ‘desastres naturais’. O terremoto no Haiti, em que perdemos Zilda Arns e milhares de vidas, é exemplo clássico dessa irracionalidade. O capitalismo da fase mercantil, de colonização predatória, extraiu o que pode das riquezas de toda a ilha Hispaniola, no Caribe, onde estão hoje a República Dominicana e o Haiti. No caso do Haiti, essa extração colonial se deu, primeiro, por mãos espanholas e, depois, por francesas, sempre com mão-de-obra escrava.

No começo do século 19, depois que a maior parte das riquezas já havia sido expropriada, escravos em rebelião se apoderaram do Haiti, derrotando as forças colonizadoras, que já não tinham tanto interesse pela região, depois de anos de extração. De lá para cá, tivemos uma sucessão de golpes de estado, com muitos ditadores e presidentes assassinados. Da parte do capital, passou a haver uma única preocupação com o Haiti: que o país não seguisse o exemplo de Cuba e caísse nas mãos do comunismo, acabando com a frágil sociedade de mercado que ali sobrevivera. De lá para cá, a CIA jamais virou a cara para o Haiti, mas só neste aspecto. Em Cuba, o capital havia contado com o embargo para desestruturar, com sucesso, a economia do país. No Haiti, o embargo nem foi necessário, porque os ditadores e presidentes eleitos incumbiram-se de impedir a escalada do comunismo, permitindo ao capital que se desinteressasse pelas grandes questões haitianas.

O capital sempre cultivou esse hábito de transformar em vitrines suas áreas com risco de dominação comunista. A forma que encontrou para evitar “a invasão vermelha” foi abrir seus maiores mercados, como o dos EUA, com tarifas bem acessíveis, aos produtos dessas áreas de risco. Assim fez com o Japão, possibilitando o milagre japonês, e também com países asiáticos como a Coréia do Sul. O último foi o Chile. Não precisou fazer o mesmo com o Brasil porque os militares deram conta do recado em 1964. E também nunca precisou fazer com o Haiti porque ditaduras e presidentes eleitos incumbiram-se de fazê-lo.

O que restou do Haiti foi esse país de ninguém, sem grandes riquezas naturais, hoje com o maior bolsão de miséria do continente americano e abandonado pelo capital, vulnerável assim a todos os tipos de catástrofes. Um dado curioso: ao contrário do que tivemos no Brasil, as classes dominantes haitianas ergueram suas casas nas encostas e nos morros, distante das praias, com construção forte o suficiente para fazer frente a alguns tipos de terremoto. Já as faixas mais pobres estabeleceram-se nas regiões mais planas, inclusive próximas ao mar, onde se proliferaram alguns tipos de ‘favelas’, obviamente as mais atingidas pelo terremoto. Isso é o capital. No caso específico do Haiti, sugou o que pode, deixando um rastro de humilhação e abandono e essa enorme vulnerabilidade aos ‘desastres naturais’.

Se o capital não tivesse abandonado o Haiti, o país não teria sido atingido nem se deixado abalar por essa tragédia, vidas humanas como a de Zilda Arns teriam sido poupadas e não haveria necessidade da ajuda humanitária que agora chega. Dependendo da maneira como trabalhamos e produzimos --- se com a exploração e expropriação ou não de força de trabalho de uma classe por outra ---, temos um determinado tipo de ser humano mais ou menos propenso a ser vitimado pelos “acidentes naturais”. Isto quer dizer o seguinte: quanto mais a forma como produzimos e trabalhamos leva à destruição ambiental e da vida, mais devastadores são os ‘desastres naturais’.

Caetano Veloso tinha razão quando escreveu a letra de “Haiti”, canção composta por Gilberto Gil, ainda que tenha dado outro sentido ao que escreveu. O refrão diz que “o Haiti é aqui, o Haiti não é aqui”. Sim, o “Haiti é aqui”, e em todos os lugares, porque quando um ser humano morre por lá, vai com ele importante contribuição de significativa parte da humanidade. Somos todos irmãos, não é mesmo? Portanto, ninguém pode ser abandonado, muito menos um povo. Ou Jesus estava enganado?

E também o “Haiti não é aqui” porque, em termos de espaço físico, está a milhares de quilômetros de distância daqui. E também porque há mesmo diferenças entre Haiti e Brasil, o que de qualquer forma é irrelevante, posto que somos todos irmãos. Ou não? Séculos de extração colonial capitalista às custas de força de trabalho escrava, seguida de completo abandono --- apenas importava impedir o Haiti de se tornar comunista ---, fizeram do país a terra do nada, no abandono e onde só têm vez a destruição e a morte provocadas por ‘desastres naturais’. De pouco adiantam as forças de paz.

 Tom Capri.

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