MARINA

Má li esse poema umas dez vezes. Foi a coisa mais bonita que já fiz. Andei trocando umas palavras, corrigindo vou mandar de novo prá vc montar um slide vou mandar imprimir e mando p/ vc pelo correio MARINA No ambiente amplo Paredes brancas, Iluminado por uma Réstia de luz Qu’escapava esguia Por cortina balouçante, Uma marina deslumbrante, Com mares azuis, tal Olhos de uma diva. O píer branco qual Espumas das ondas O conjunto enfeitando. Barcos que partiam E chegavam Se quem ia ou voltava Não sei se ria Ou só chorava. Ah! como amava Esta marina que, De amor minha Vida povoava 22.03.09 LUIZ BOSCO SARDINHA MACHADO ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ QUEM SOU EU MARINA SILVEIRA- PROFESSORA, TECNÓLOGA AMBIENTAL E ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

sexta-feira, 19 de março de 2010

LULA É MESMO O CARA?

(Entenda o que é a política)

Dedicado a Luciano Pires, que, não fosse pelo seu politicismo (veja o que significa a palavra em meu artigo), seria o nome mais importante e talentoso da crônica brasileira. A Mauro Chaves, pelo seu "Recuperação da decência" (Estadão de 13/3/2010), o artigo mais politicista que vi na mídia este ano. A João Mellão Neto, por quem nutro grande simpatia (editava artigos dele num jornal da Flórida), mas que ainda permanece nas trevas da obscuridade, como politicista de carteirinha. E a Delmar Philippsen e a Thomas Fendel, politicistas clássicos.

É raso e equivocado fazer campanha contra ou a favor deste ou daquele político (por exemplo, contra Lula ou contra José Serra). Quantas vezes você já ouviu: “Lula é o presidente mais corrupto de nossa história”? Ou: “José Serra vai ser o melhor presidente que o Brasil já teve”? São avaliações desprovidas de fundamento e sem amparo na razão, que partem de quem não entendeu ainda o que é a política, na verdade, de quem ainda não entendeu nada. Em suma, de quem ainda não sabe que o caminho correto é o do combate à instituição da política (para não dizer, o da sua desconstrução) e não o combate a este ou àquele político. Os que vivem de criticar ou elogiar políticos --- exemplo típico: Diogo Mainardi, da Veja --- são chamados de politicistas. Politicismo, neologismo criado pelo filósofo e teórico brasileiro José Chasin, é a prática equivocada de acreditar na instituição da política. É alimentar a convicção de que, se o País contar com políticos honestos e competentes, e acabar de vez com a corrupção e a impunidade, estará salvo, posto que a política, desde que com honestos e competentes, é a verdadeira salvação, assim entende o politicista. Veja por que essa prática de criticar ou apoiar políticos --- o politicismo --- é rasa e equivocada, mais do que isto, pura ingenuidade.

Dos jornalistas aos cientistas políticos, sociólogos, teóricos e filósofos, o Brasil está cheio de gente ou veículo de comunicação assim, que torce para este ou aquele político como se ele fosse um time de futebol pelo qual se é fanático. Toda a mídia brasileira de peso, da Rede Globo à Veja, à Folha, a O Globo e ao Estadão, é rasa e equivocada por estimular e viver desses ataques ou louvações. A mídia em geral não sabe que nenhuma campanha contra ou a favor de político se sustenta cientificamente. Não sabe que esta é uma prática rasa e infantil.

O Brasil inteiro, ou seja, o senso comum no País, também conhecido erradamente por opinião pública --- e que inclui celebridades e grandes nomes da mídia, da política, da ciência, da arte etc. ---, pensa e age assim. Daí ficar combatendo à exaustão a incompetência do político, a corrupção, a impunidade etc., sem saber que estes traços estão no DNA do político. Raros no País já sabem: todo político é corrupto por definição. E a política é mais um conto do vigário.

Se você estudar a origem da política, vai ver que ela não passa, ainda hoje, de mais uma instituição que aí está unicamente para defender e proteger as ações e investidas do capital --- ao lado de todas as demais, como o Estado de Direito, a democracia representativa que temos na atualidade, a polícia, o direito com suas leis, a família, a religião, entre tantas outras.

A política nasceu com esse fim e sempre foi assim. O termo 'política' vem do grego antigo, πολιτεία (politeía) --- Wikipédia. Significava originalmente o poder que administrava a pólis, que era a Cidade-Estado grega, controlada pelas classes dominantes da Grécia do período clássico, as quais detinham propriedades de grandes extensões de terras no campo, inclusive de escravos. Esses administradores faziam suas leis unicamente em defesa de seus interesses. A escravidão do período, por exemplo, era prevista por lei. De lá para cá, essa essência pouco mudou na política.

É raso e ingênuo aquele que elogia ou malha político, mesmo que esteja coberto de razão a respeito deste ou daquele. O político não é nem nunca foi o problema, mesmo o mais corrupto. O verdadeiro problema está na política. Esta, sim, é que deve ser criticada e desconstruída, e até mesmo banida, como instituição. Se você deseja entender de uma vez por todas a política (e por que nela reinam a falta de ética, a impunidade, a corrupção etc.), tem de mirar na própria política, não neste ou naquele político. Só assim poderá compreendê-la e acabar com o mal pela raiz. E isto não é anarquismo nem marxismo, é visão correta e científica da política.

E mais: a individualidade do corrupto nunca é culpada do crime que cometeu, pois ela é apenas o executor do ato de corrupção. O responsável de fato é a sociabilidade que aí está, a usina que fez dessa individualidade um corrupto, a partir de processos bastante complexos já suficientemente esclarecidos pela ciência, mas que ainda não foram devidamente estudados nem compreendidos. Mesmo que você julgue e puna até com pena de morte o político mais corrupto, a usina que o produz --- a verdadeira causa --- continuará reproduzindo-o em escala aí fora. Vale repetir: para se acabar com a corrupção e a impunidade, há que se mirar na usina, a sociabilidade, que é o verdadeiro “mandante” da corrupção e da impunidade, não na individualidade do executor, mesmo que este permaneça sempre impune, apesar de reincidente nos atos de corrupção.

Em todo o Planeta, costuma-se olhar para um político como se ele fosse aquele time de futebol para o qual se torce a favor ou contra. Canso de receber pela Internet verdadeiras malhações ou louvações a políticos. Leitores como Alexandra, Fúlvio, Paulo e Renata, por exemplo, me pedem para escrever sobre Lula. Estão loucos para saber o que penso do presidente, se é mesmo “o cara” ou não. Uns querem que eu desça a lenha, outros que elogie e apóie. Para eles, só tenho uma mesma resposta: é raso e superficial torcer contra ou a favor de político, seja ele quem for.

Nem o político deve ser apoiado ou condenado, nem o político corrupto merece condenação e punição. E eu sei que é muito difícil aceitar isto. Mas, se você procurar entender o que realmente se passa na política, acabará concordando e aceitando.

Isto também é científico. Não é Marx, não é Kant, não é Nietzsche, não é anarquismo, não são opinião nem ponto de vista de ninguém. É pura constatação, descoberta da ciência já devidamente comprovada, verdade absoluta. Até porque existem verdades absolutas, acredite. Se você, ainda assim, não crê nem aceita isto, procure se aprofundar na política e verá que esta é a leitura correta.

Por todos esses motivos, a política é essencialmente conservadora, não só nas leis que produz e aprova em consonância com o judiciário, mas nas ações do executivo. Ela aí está --- nos dias de hoje, repito --- unicamente para, além de defender e dar proteção às ações do capital, azeitar a máquina da acumulação capitalista. Quando o governo instala uma nova usina nuclear no País ou abre uma nova rodovia, está apenas azeitando a máquina do capital. Ainda tem dúvida?

No Brasil, é Lula quem hoje coordena e comanda as ações do Executivo. Não é à toa que, tão logo chegou à presidência, mandou “cessar” tudo o que a musa antiga cantava: não falou mais em socialismo e pôs em marcha uma política totalmente afinada com o capitalismo globalizado de nossos dias. Inclusive, acaba de exigir da candidata Dilma que não se lance em nenhuma aventura de risco --- à la Hugo Chávez, da Venezuela --- capaz de comprometer sua popularidade (a dele, Lula, e a dela). O presidente quer eleger sua candidata, obviamente. E sabe que qualquer atitude um pouco mais radical, tanto dele quanto de Dilma, levam ao atentado ou ao golpe de estado.

Ou seja, Lula fez direito a lição de casa e tem sido devidamente compensado por isso. Do ponto de vista capitalista, é sem dúvida o melhor presidente que o Brasil já teve. Ainda assim, toda a mídia brasileira, com raras exceções, condena Lula como se ele fosse o maior inimigo do capital. Exemplo mais expressivo é a revista Veja, um duplo caso de ingenuidade: primeiro porque a direção da revista acredita na política e quer saneá-la dos corruptos, como boa politicista que é; e, por fim, porque não percebeu ainda que Lula é seu maior aliado, não inimigo.

Sim, tanto Lula quanto Dilma vêm dando seus pulinhos, de vez em quando, como apoiar Zelaya contra o golpe de estado em Honduras, fechar com o Irã na questão nuclear, entre outros arroubos, mas é evidente que não passará disso. Mesmo pacotes como dos direitos humanos, no apagar das luzes de 2009, ou da obrigatoriedade de distribuição de lucros não são nada que possa tirar o sono até dos conservadores mais radicais, dentro e fora do País.

É verdade, nesses pacotes vêm embutidas, por decreto, a flexibilização do direito de propriedade e a obrigatoriedade de participação nos lucros, pelos empregados. São medidas que não interessam ao capital e que a direita chama equivocadamente de populistas, tais quais as que Getúlio Vargas adotou e se deu mal há mais de 50 anos (suicidou-se para não ser obrigado a renunciar). Mas nada comprometedor. Além disso, as instituições hoje a serviço do capital (a maioria delas), do Estado de Direito à política, estão mais fortes do que nunca no País. Se o governo caminhar na direção de uma radicalização qualquer, é óbvio que Dilma não se elegerá e, se ganhar, experimentará rapidamente a lâmina do golpe de estado ou do atentado.

Lula não é bom nem ruim. A rigor, carecem de fundamento formulações como “Lula é o cara”, feita por Obama, da mesma forma que não quer dizer nada afirmar “Lula não é o cara, errou Obama”. Lula é apenas um político e, como tal, aí está (já vimos) no seu papel conservador de defesa e proteção das ações do capital, as quais ele assumiu muito bem, por sinal.

É verdade, todo político tem sempre certa independência e pode até pôr as garrinhas de fora e tentar impor suas vontades. Mas essa independência é muito relativa e bastante limitada. Se o pulinho fora do político for maior do que as pernas, é evidente que sofrerá os revezes comuns nestes casos. Nos dias de hoje, ou ele toma uma bala na testa em atentado, como já aconteceu com tantos (John e Bob Kennedy, entre outros, se lembra?) ou é vítima de golpe de estado. Aí, tem sorte se conseguir exilar-se e escapar de ser assassinado. Sorte que não teve, por exemplo, o chileno Salvador Allende, nos anos 70: socialista e eleito presidente, recusou-se a arredar o pé do palácio, que acabou sendo atingido por balas de canhão, até matá-lo.

Definitivamente, já virou clichê condenar ou apoiar este ou aquele político. Isto não quer dizer que devemos desprezar a política. Ela é importante. Bem ou mal, está no caminho dos destinos de um povo, com papel de destaque. Há inclusive que participar do parlamento em todas as esferas, até para amenizar ou potencializar o impacto que a política exerce sobre nós. Só não podemos é enxergá-la como instrumento capaz de nos salvar de todas as agruras, como a panaceia para todos os males desde que com políticos honestos e competentes.

Aí é ingenuidade. É também incorrer sempre no mesmo erro, como faz, por exemplo, o jornalista Mauro Chaves em todos os seus artigos, em especial em "Recuperação da decência", comentário que publicou no Estadão, "Espaço Aberto", página A2, de 13/3/2010. Ao fazer de seu artigo um grito pela "recuperação da decência" na política, que é a indecência em si mesma (basta ser político para ser indecente), Mauro nos brinda com o texto mais politicista e ingênuo que vi na mídia este ano.

Hora de recapitular. Aquele que vê a política assim, como a salvação desde que honestamente conduzida, é chamado de politicista. O politicismo é hoje epidemia que já atingiu todas as sociedades regidas pelo capital. Até mesmo inteligências e intelectuais como Millôr Fernandes e Arnaldo Jabor, por exemplo, entre tantos outros (inclusive, até mais conceituados), já se deixaram contaminar e não irão se livrar deste mal tão cedo. São incorrigíveis politicistas de carteirinha.

Voltemos ao que foi dito no começo: todo político é, por definição (está no DNA dele), corrupto. Já vimos que a política não passa de fonte bem instrumentalizada de defesa e proteção do capital. E que o capital nada mais é que a prática já legitimada e sacralizada de roubo de força de trabalho em escala, a pior das corrupções.

Se o político é o defensor natural dessa prática, que é sinônimo de violência e violação do mais sagrado dos direitos humanos (o de você poder usar livremente sua força de trabalho para garantir a própria sobrevivência), todo político é também, por definição, o maior dos corruptos. Disto, nenhum deles escapa.

Vamos entender esta questão melhor. Cada um de nós é portador de um DNA que é herança de nossos pais e de nossa linhagem. Nosso DNA é uma construção urdida ao longo dos anos por nossos antecessores, aqueles que pertenceram à nossa linhagem. Nossos genes não vêm do além nem têm origem no mistério. Todos eles são sempre forjados, sem exceção, na sociabilidade, em processos complexos que acontecem durante a luta pela sobrevivência encetada por nossos antepassados, na evolução (como já demonstrado suficientemente por Darwin).

Portanto, nossos genes (o DNA de cada um de nós) têm origem na interação que se deu entre as predisposições genéticas dos que nos antecederam e o meio ambiente que eles tiveram de enfrentar, ao relacionarem-se (na sociabilidade) na luta pela sobrevivência. Em resumo, nossa genética é toda ela forjada na sociabilidade, é fruto desta, na dura luta pela vida.

Por ser o político já na origem o defensor da maior das corrupções, não há um que nunca tenha sido tentado a mamar nas tetas da máquina estatal, por onde circula livremente manancial imensurável de recursos do contribuinte, ou a se vender em troca de propinas e favores. As famosas maracutaias. Aquele que nunca pôs a mão é porque reprimiu (teme) ou foi reprimido. Ademais, tem razão o político quando acha que ganha pouco pelo que faz. Afinal, ele ali está para cumprir a árdua e espinhosa tarefa de ser defensor e guardião da ação mais espúria do capital, que é o roubo de força de trabalho em escala. Ele ali está para legitimar e acobertar essa prática.

Ora, se o político tem por ofício ser leão-de-chácara do capital, cuja ação se assenta na violência e violação que é o roubo de força de trabalho em escala, por que não pode (ele também) se locupletar, defendendo os próprios bolsos, como fazem aqueles a quem ele, como político, tanto protege e defende? É por isso que muitos se deixam corromper e se locupletam, avançando no dinheiro público ou nas propinas. Vai deixar de mamar e ficar quieto, como bom samaritano, ainda mais diante de tanta impunidade? Só mesmo os bobinhos, aqueles que depois nem se reelegem.

Portanto, não têm sustentação afirmações como “o maior problema do Brasil é a impunidade de que gozam corruptos”, como vi em recente editorial de um dos principais jornais do País. A rigor, o corrupto é o menor culpado. A verdadeira causa está na sociabilidade.

“Mas, como? Então, a política não vale nada? Podemos sair por aí roubando, não somos culpados de nada?” “Vamos deixar todos os corruptos soltos e livres?”--- me perguntaram esses dias alguns leitores. Não é isso. Está sendo mais ingênuo e raso ainda aquele que entender assim.

É verdade, a sociabilidade é a verdadeira usina-mãe do jogo político macabro que aí está e que só faz assustar. Mas o capital não vê outra saída senão condenar e prender as individualidades que passam por cima da lei e se deixam corromper. Se o Estado não os pune, essas individualidades já mergulhadas na corrupção vão continuar reproduzindo os mesmos atos criminosos sem cessar, pondo em risco a própria estabilidade do capitalismo, e isto é o que menos interessa ao capital.

Daí as prisões espalhadas pelo mundo, com suas condenações àqueles que, na verdade, deixaram-se levar pela corrupção. No Brasil, singra a impunidade em escala muito maior que a de países de Primeiro Mundo. Isto fica por conta de nossa história: o Brasil foi vítima da colonização predatória, o português aqui chegou para levar as riquezas e abastecer o capitalismo na sua fase mercantil, na Europa. Deste processo, foi nascendo o país do jeitinho, da propina, da corrupção, da impunidade, práticas que se disseminaram a tal ponto que, se você hoje gritar “pega ladrão, não sobra um, meu irmão”. Isto explica o alto índice de corrupção que temos hoje no Brasil.

Preciso ser repetitivo. Por favor, decore e procure não esquecer: quando você apóia ou condena este ou aquele político, ou combate o político corrupto e a impunidade, está apenas dando mostras de sua ingenuidade e de que ainda não entendeu o que é política, não sabe que política nada mais é, hoje, que instrumento de defesa e proteção do capital. Ou seja, você dá provas de que ainda não entendeu nada. Urge que tome consciência de tudo isso.

 Tom Capri.

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