Dra. Sonia C. Hess*
Filtros solares
Os filtros de radiação ultravioleta (UV) representam uma nova classe de substâncias ativas como disruptores endócrinos. Além de protetores da pele, os filtros UV têm sido acrescentados a muitos produtos para conferir-lhes estabilidade à luz, como: cosméticos, perfumes, plásticos, carpetes, móveis, roupas e detergentes em pó entre outros intens, sendo que os seres humanos podem estar expostos aos filtros UV por absorção dérmica ou através da cadeia alimentar (Schlumpf et al 2001).
Em geral, os materiais que absorvem radiação UVA e UVB são acrescentados em concentrações de até 10% aos produtos para proteção da pele à radiação solar. Dentre as substâncias empregadas como protetores frente à radiação UV estão: homosalato (HMS), benzofenona-1 (BP-1), benzofenona-2 (BP-2), benzofenona-3 (BP-3), benzofenona-4 (BP-4), 3-benzilideno cânfora (3-BC), 4-metil benzilideno cânfora (4-MBC) e 4-metoxicinnamato de 2-etilhexila (OMC) (Schlumpf
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et al 2001, 2004). Em experimentos in vitro, mesmo em concentrações muito baixas (da ordem de partes por bilhão (ppb)) os filtros solares BP-1, BP-2, BP-3, 3-BC, 4-MBC, HMS e OMC causaram estímulo da multiplicação de células de câncer de mama (Ma et al, 2003; Schlumpf et al 2001, 2004). Foi relatado, ainda, que os filtros solares BP-1, BP-3, 4-MBC e OMC, quando misturados, têm sua atividade biológica amplificada (Heneweer et al, 2005; Kunz & Fent, 2006).
Em testes in vitro, o OMC também interferiu na liberação de neurotransmissores que atuam no amadurecimento sexual de ratos (Szwarcfarb et al, 2008).
Os filtros solares 4-MBC e 3-BC foram administrados em pequenas quantidades (24 mg/kg de massa corporal/dia) a ratos, desde o período intrauterino até a idade adulta, imitando a maneira como os seres humanos são expostos a estes produtos. Foram observados os seguintes efeitos: 1) no período perinatal: decréscimo da taxa de sobrevivência, peso reduzido do timo, peso reduzido dos testículos; 2) na puberdade: atraso na separação do prepúcio; 3) na idade adulta: aumento da tireóide e diminuição da próstata e timo dos machos, aumento da tireóide, timo, útero e ovário das fêmeas (Schlumpf et al 2004; Maerkel et al, 2005; Soto & Sonnenschein, 2005).
Em um outro trabalho foi observado que os filhotes machos apresentaram deformidades nos testículos quando, durante a gravidez, as mães foram alimentadas com amostras contendo 4-MBC na proporção de 7 mg/Kg corporal.dia (Hofkamp et al, 2008).
Em ensaios com ratas, os filtros solares foram administrados em mistura com os alimentos, sendo que o peso uterino aumentou de forma dose-dependente para o 4-MBC, OMC e, mais fracamente, para o BP-3. A aplicação dérmica de 4-MBC nas concentrações de 5 e 7,5% em óleo de oliva em ratas imaturas também ocasionou aumento do peso do útero (Schlumpf et al, 2001).
O filtro solar BP-3 e seu metabólito foram detectados na urina de pessoas quatro horas após a aplicação dérmica de protetores solares comerciais. Também foi relatado que o BP-3 é prontamente absorvido no trato gastrointestinal. Evidências da acumulação destes produtos em seres humanos têm sido fornecidas por análises do leite materno, sendo que, de cada seis amostras avaliadas, cinco apresentavam resíduos de BP-3 e de OMC em quantidades detectáveis (Schlumpf et al, 2001). Um levantamento dos componentes descritos nos rótulos dos protetores solares comercializados em Campo Grande (MS) (incluindo aqueles revendidos por representantes de empresas de cosméticos), realizado em abril de 2006, revelou que todos os produtos continham OMC e que, na maioria das amostras, também havia BP-3 ou 4-MBC.
Alquilfenóis
Os alquilfenóis, como o nonilfenol e o octilfenol, são empregados como agentes plastificantes, antioxidantes e fotoestabilizantes em plásticos e como matérias-primas na síntese de surfactantes do tipo alquilfenol etoxilato (APE´s), amplamente utilizados como componentes de
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detergentes, tintas, herbicidas, agentes umectantes, cosméticos, pesticidas e em muitos outros produtos domésticos, industriais e agrícolas (Loyo-Rosales et al, 2004; Yao et al, 2005).
Diversos estudos científicos comprovaram que o octilfenol, o nonilfenol e os APEs apresentam atividade hormonal estrogênica (hormônio feminino), sendo que: - o nonilfenol estimula a multiplicação de células de câncer de mama (Soto et al, 1991, van Meeuwen et al, 2007); - a exposição contínua (por 24 horas) de células de pâncreas a uma solução contendo nonilfenol (10 ppb), ocasionou a secreção de insulina acima do nível normal (Adachi et al, 2005); - a exposição de células hepáticas humanas ao nonilfenol ocasionou inibição de diversas enzimas (Niwa et al, 2002); - o nonilfenol induziu a apoptose (morte celular programada) de células do timo, o que pode afetar negativamente o funcionamento do sistema imunológico de mamíferos (Yao et al, 2005); - o octil- e o nonil-fenol causaram intensa interferência no desenvolvimento do cérebro, resultando em hiperatividade, quando foram administrados a filhotes de ratos com 5 dias de idade (Ishido et al, 2005); - ao ser administrado por via oral para as ratas grávidas e seus filhotes, o nonilfenol ocasionou alterações de comportamento com relação a estímulos de dor e medo (Negishi et al, 2004).
Estudos demonstraram que a concentração de nonilfenol no ambiente aquático, principalmente nos sedimentos, pode alcançar valores acima de 300 ppb (Sonnenschein & Soto, 1998; Yao et al, 2005).
O nonilfenol foi encontrado: - na água comercializada em garrafas feitas de plástico PVC (0,30 ppb) e PEAD (0,18 ppb) (Loyo-Rosales et al, 2004); - no leite comercializado em embalagens contendo PEAD (0,18 ppb) (Loyo-Rosales et al, 2004); -no leite que passou por tubulações industriais constituídas por PVC (Sonnenschein & Soto, 1998); - em alimentos em contato com luvas, filmes flexíveis de PVC, pratos e copos descartáveis de poliestireno ou polipropileno (Kawamura et al, 2000; Funayama et al, 2001; Inoue et al, 2001; Isobe et al, 2002); - na água de consumo e em efluentes de estações de tratamento de esgoto, em concentrações suficientes para causar a feminização de peixes (Shiraishi et al, 1989;Sonnenschein & Soto, 1998).
Continua...
Sonia C. Hess é Engenheira Química e Doutora em Química e Professora da UFMS
2 comentários:
Um artigo muito bom .. Obrigado ..
A série da Dra. Hess é muito boa, didática, de fácil compreensão. Ela esgota o assunto. O blog tem muito a ganhar com a presença dela em suas páginas. Parabéns. Este blog está pintando como um dos melhores da net. Obrigado. Nilson
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