A democracia foi uma ideia que se originou na Grécia há milhares de anos. Ao longo dos séculos e milênios, o conceito original foi perdido, como demonstrado pelas manifestações contemporâneas do processo democrático. Na sociedade da Grécia antiga, só os sábios podiam eleger e determinar o curso do governo em ação para o bem popular.
Hoje, o direito de votar é acessível a todos os cidadãos, como deve ser, mas nega aos eleitores a oportunidade de uma educação completa. O atual mundo político é moderno somente em suas manifestações externas; a tecnologia tornou a comunicação muito mais eficiente, o que infelizmente levou à exploração e manipulação da população não escolarizada. A maioria dos eleitores em nossa sociedade não é versada em nenhuma arte ou ciência - que foram, segundo o antigo pensamento grego, essenciais para qualquer compreensão do governo - e é incapaz de pensar além do presente e do futuro imediatos para entender totalmente as consequências da ação política.
O resultado é uma sociedade duplamente pobre, na qual os políticos são forçados a atuar taticamente e não estrategicamente para estar no poder tempo suficiente para realizar qualquer mudança, e o povo, que é manipulado, permanece ignorante sobre as questões mais importantes.
Um dos aspectos fundamentais do pensamento político é a capacidade de usar a estratégia para modificar a realidade, não diferente de um compositor que estrategicamente constrói sua composição, primeiro apresentando o material e só depois transformando-o. O intérprete também deve ser capaz de "sentir", com o ouvido interno, a última nota de uma peça antes de tocar a primeira. Só um inérprete que pense estrategicamente é capaz de comunicar a estrutura de uma peça musical ao ouvinte, e não simplesmente os diferentes humores que ocorrem dentro dela.
Daniel Barenboim, em A música desperta o tempo
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