Por Renato Rovai
Já fiz algumas coberturas jornalísticas bastante duras, mas as cenas que chegam do Japão são de estremecer.
Não só as imagéticas. Mas também aquelas que os relatos nos fazem imaginar.
Dia desses li que numa das cidades litorâneas os seres humanos arrastados pela Tsunami começavam a ser devolvidos pelo mar. Falava-se em mil corpos num só dia. Não vi a imagem, mas a imaginei…
É exagerado dizer que o que aconteceu guarda relação com o aquecimento global. Mas ao mesmo tempo não dá para não dizer que o homem não tem tratado a natureza e seus fenômenos com desdém.
Até teorias fraudulentas de que na verdade há esfriamento e não aquecimento são difundidas por pessoas sérias.
E isso acaba levando uma questão do nosso tempo a ser tratada de forma lateral e até certo ponto de maneira esquizofrênica. Todo mundo diz que ela é muito importante, mas a grande maioria não dá a menor importância a ela.
O fato é que o Japão é um dos países centrais do atual modelo de desenvolvimento capitalista. Daquele das inovações tecnológicas e do descartável.
No Japão tudo é feito para durar pouco, para que possa ser substituído por algo novo e faça girar a máquina do lucro. Independente do que isso vá gerar de custo energético e ambiental.
O Japão virou o Japão que conhecemos, nesta base.
Aceitou ser aliado dos EUA na Ásia e se beneficiou dessa parceria para entrar com tudo no esquema “se mate de trabalhar para poder consumir”. E consuma tudo que puder de forma mais rápida possível.
O Japão não é o único país que reproduz essa lógica. Ao contrário.
Quase todos os países parecem dispostos a aceitar esse padrão desde que seja possível do ponto de vista econômico.
Dane-se a questão ambiental.
No Brasil de hoje este enfrentamento também faz parte da agenda, mas todo o esforço que se faz é para que ele se resuma a algo menor.
Mas voltando ao Japão, por incrível que pareça, no meio dessa devastação já há gente fazendo contas de quanto a economia de lá e também do resto do mundo pode vir a ganhar ou perder com a tragédia.
Mesmo que a catástrofe natural não tenha relação com isso – essa é uma questão pros cientistas debaterem – o caos que pode vir a matar milhares por conta das radiações da usinas nucleares têm.
O padrão de consumo imposto pela lógica deste capitalismo urubu nos obriga a ter de produzir cada vez mais energia para poder produzir cada vez mais bens de consumo.
E este debate não tem tido espaço na arena pública.
A pauta é contabilizar os mortos e discutir os impactos da tragédia na economia global.
Sem trocadilhos, é o fim do mundo.
(Envolverde/Blog do Rovai)
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