No - 195 – COLUNA DO SARDINHA
UM ASNO EM HARVARD
Dizia um renomado astrofísico, que uma das grandes lógicas da natureza e do mundo da física é a dimensão ou tamanho como queiram. Por ela, um objeto sólido não pode caber em um lugar já ocupado por outro sem alterar-lhe as características.
Dava como exemplo de forma espirituosa, o caso do asno, que não teria espaço nem tino para ocupar uma banca em uma universidade e o cientista, que não teria lugar em uma estrebaria. Ressalvando, que para demonstrar a existência de uma regra deve haver exceções, dizia que tanto nas universidades havia “asnos”, como nas estrebarias havia “cientistas”.
À figura do asno não haveria deméritos a adicionar, pois o quadrupede como animal de transporte e tração, já teria servido e muito à humanidade, desempenhando tarefas que o homem não seria capaz e arrematava com uma quadrinha, que deve ter povoado as mentes infantis:
“Você diz que sabe tudo
Lagartixa sabe mais...
Ela sobe na parede
Coisa que você não faz...”
Com isso diria o astrofísico, todos os seres viventes nesta terra teriam o seu respectivo papel e o asno entre eles teria tido uma importância ímpar que, ainda que perdida com o advento dos veículos motorizados, não retirou-se-lhe completamente a importância e o carisma que um dia já teve.
O asno já foi admirado por muitos enquanto apenas asno, imaginando-se que perderia toda a aura que o cercava, se de repente começasse a tocar oboé ou clarineta, ou ainda, se metesse a frequentar Harvard, nem que fosse para dar lições de equinoterapia, matéria em que talvez fosse doutor.
Por hipótese, se fossem matricular um asinino numa universidade de grei como Harvard, uma série de obstáculos surgiriam, tais como, transporte, instalações adequadas, dificuldade de comunicação e muitos outros.
Um obstáculo, que está inserido em “outros” e, que talvez seja o mais importante, é saber se o animal aceitaria abrir mão do respeito e da admiração que lhe devotavam, quando era um humilde representante dos muares.
Não acharia ele, que frequentando Harvard deixaria de ser rei naquilo que entendia e metendo-se a cientista, não ganharia nunca a admiração no reino animal? Seria apenas mais um, o que não aconteceria se fosse somente um asno?
Ademais a glória e os elogios baratos não iriam subir-lhe à cabeça, dando-lhe uma desnecessária dimensão que talvez não tivesse?
E afinal, não seria melhor ser rei entre os muares do que escravo entre os humanos, sujeito às convenções, regras, mentiras e verdades? Prisioneiro e vítima da vaidade, negociada a peso de ouro, que nos obriga a adquirir títulos de doutor que nos são negados nos bancos escolares por falta de capacidade, esforço, dedicação e vontade?
Repetindo o astrofisico, se cada um pretende viver sem sonhos absurdos deve ficar em seu quadrado, para não despencar do salto e cair na realidade. Ao asno o que é do asno, ao homem o que é do homem e diploma só para quem efetivamente faz jus.
Luiz Bosco Sardinha, advogado e jornalista
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