REPRISE DA COLUNA DO SARDINHA 07/2009
Ver o presidente Lula aparecer na foto com as mãos viradas, dedos em círculo imitando óculos, ao lado de uma constrangida Dilma Roussef, ou então, vestido de “caipira” em companhia de uma igualmente trajada Marisa, portando uma “bandeira de São João”, não nos desperta sentimentos outros, pelo ridículo da coisa, que o de mera perplexidade. Que não faz o ser humano para estar na mídia! Para estar na crista da onda! Políticos, artistas, celebridades, desde que o mundo é mundo, procuram de uma forma ou de outra estar em evidência, ser notícia a qualquer custo, nem que para tanto tenham que protagonizar o inusitado, o grotesco. Mesmo o cidadão anônimo, quando vislumbra a possibilidade de num minuto sequer, aparecer ante as câmaras de TV, não hesita em ser coadjuvante de uma comédia ou tragédia, muitas vezes fabricada. Isto fica evidenciado, quando morre um astro da música, como recentemente, onde as reações do público, diga-se ditadas pela mídia, superam os níveis aceitáveis, independentemente do mérito do falecido. Para a mídia o ser ou não ser pouco importa, o que manda mesmo é o retorno em audiência e faturamento. Nem imagina o cidadão comum, a luta travada pelas celebridades para deixar os holofotes, para poder recuperar a privacidade e a própria perda de identidade. O indivíduo para a mídia é uma mera mercadoria, que é vendida para um público, que nele se espelha, criando milhões de “Peter Pan“, que irão habitar uma terra que nunca existiu e quiçá existirá. Talvez, a “neverland”? No momento em que se nasce para a mídia, literalmente morre-se para a vida. Assim foi com Michael Jackson e com milhares de outros, perdidos nas páginas da história, relegados a um merecido esquecimento. Diferentemente dos diamantes, ninguém é eterno para a mídia. Michael se foi e quase ao mesmo tempo, a Medicina abriu-lhe as vísceras. Deve ter encontrado só frustração. A fama e o calor dos holofotes, não foram suficientes para fazer renascer o menino, o “Peter Pan” que nunca envelheceria. O clipe de “Thriller” exaustivamente mostrado pelas TV’s é uma síntese do que era a vida de Michael, cercada de monstros bizarros. O que poder-se-ia esperar de suas entranhas? Já a mídia abriu-lhe o intimo para um público falto de heróis, que necessita do absurdo para sentir-se coerente, daí justifica-se a busca daquilo que o cantor tinha de pior. Por mais esforço que fizermos, não conseguiremos extrair do episódio, nem que seja uma pequena lição de vida. Sentimo-nos no vácuo, onde nada tem peso e tudo flutua, deslizando para lugar nenhum. O espaço deixado por Michael Jackson, como o de muitos outros (afinal, ninguém é insubstituível) para gáudio da mídia, será em breve preenchido. Alguns farão história, outros serão vítimas de um merecido esquecimento fruto da sua própria mediocridade, pois afinal até para ser bizarro, tem-se que ser criativo.
Luiz Bosco Sardinha Machado
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