Causou-nos certo constrangimento ver o governador Serra, vestido em um nada fashion colete azul-amarelo da Defesa Civil de São Paulo, visitando a região alagada de São Luis do Paraitinga, que teve oitenta por cento dos prédios históricos arrasados pela força das águas dos últimos temporais que castigaram esta região do interior de São Paulo.
Defensor de um besteirol chamado “Estado mínimo”, defendido por seu chefe FHC, somente uma catástrofe ou uma candidatura à presidência da República o faria descer do pedestal, para dar algum ar de social a um governo que é essencialmente pragmático, sempre chegando depois ou não chegando a tempo para suprir as demandas da sociedade.
Sempre obedientes ao “Estado mínimo”, Serra e Cia esqueceram-se dos que votam e elegeram como prioridade tornar o Estado uma empresa rentável, fim em si mesma, destinada a arrecadar impostos e pedágios e dar sustento ao projeto de eternização dos tucanos no poder. À evidência falharam.
Desmantelado o Estado e de acordo com o projeto, bem longe de sua finalidade social, permitiu-se, no entanto, patrocinar filhos e amantes de políticos no exterior.
Herdeiro de um Estado desmantelado, Lula subiu ao pódio do poder jurando manter os contratos anteriores e também olvidar os desvios cometidos pelos tucanos em nome de uma tal de democracia.
Possuidor de uma inteligência da qual ninguém duvida, Lula escorou seu projeto político em três pilares iniciais: um programa assistencialista – o Bolsa Família – para garantir os votos necessários para perpetuar a hegemonia do Partido dos Trabalhadores; inchaço da máquina pública, usada para abrigar milhares de “militantes”, contribuintes dos cofres do Partido e os afilhados políticos dos aliados; e, uma aliança não muito clara com empresários que vivem à sombra do Poder.
O episódio do “mensalão” de Marcos Valério freou um pouco, mas não acabou, com o ímpeto petista de tornar o partido maior do que o PC chinês, mas obrigou Lula a criar ministérios para abrigar os neo-convertidos ao petismo.
No recente episódio de Angra dos Reis ao qual Lula tomou conhecimento apenas por telefone, pois descansava numa praia da Marinha na Bahia de suas incontáveis e entediantes viagens pelos hotéis cinco estrelas espalhados pelo globo, teve-se uma noção do descontrole administrativo, causado pelo excesso de funcionários que pouco ou nada fazem, que impera na administração federal.
Com o Brasil desintegrando, o ministro escalado para visitar as áreas atingidas foi o da Integração Nacional, simplesmente esqueceu-se que existia um obscuro, inoperante e nada forte Ministério das Cidades, que deveria ser responsável pelas políticas públicas que teriam de ser levadas a efeito para evitar-se ocorrências como essas de Angra dos Reis, de São Luis do Paraitinga e de Agudo no Rio Grande do Sul. Ocorrências, que aliás, repetem as do Morro do Baú em Santa Catarina, onde morreram mais de uma centena de pessoas.
Bem pensando, para quê serve o Estado?
Lula, espertíssimo sabendo que não ficaria bem na foto, diferentemente de Serra, fez o que o Estado vem fazendo a séculos: omitiu-se.
Talvez Lula esteja mais preocupado com a ação que seu filho, o ”Fenômeno” Lulinha perdeu para a revista Veja, que denunciou a estranha coincidência de sua repentina fortuna ser concomitante com o mandato do pai; ou então com a venda de ações pelo BNDES a preços abaixo do mercado, com evidentes prejuízos ao Tesouro, para Eike Batista, sócio de Sarney e campeão brasileiro de infrações ambientais; e, ou ainda a compra de vacina contra a gripe suína (!) do governo Sarkozy, que está sob suspeita por ter comprado oitenta milhões de doses, número superior ao de habitantes da França, cerca de 60 milhões!
Como se vê o Estado tem coisas mais importantes para preocupar-se do que desastres ambientais, que vitimam centenas de contribuintes que sustentam-no. E só.
Luiz Bosco Sardinha Machado
Nenhum comentário:
Postar um comentário