MARINA

Má li esse poema umas dez vezes. Foi a coisa mais bonita que já fiz. Andei trocando umas palavras, corrigindo vou mandar de novo prá vc montar um slide vou mandar imprimir e mando p/ vc pelo correio MARINA No ambiente amplo Paredes brancas, Iluminado por uma Réstia de luz Qu’escapava esguia Por cortina balouçante, Uma marina deslumbrante, Com mares azuis, tal Olhos de uma diva. O píer branco qual Espumas das ondas O conjunto enfeitando. Barcos que partiam E chegavam Se quem ia ou voltava Não sei se ria Ou só chorava. Ah! como amava Esta marina que, De amor minha Vida povoava 22.03.09 LUIZ BOSCO SARDINHA MACHADO ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ QUEM SOU EU MARINA SILVEIRA- PROFESSORA, TECNÓLOGA AMBIENTAL E ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

sábado, 30 de janeiro de 2010

SUPERFICIALIDADE EM 3D - TOM CAPRI

(“D” de Delfim Netto, Diogo Mainardi e Daniel Piza)

Entenda a crise mundial, a participação nos lucros e por que o capital é o responsável pela devastação ambiental até na Pandora de Avatar

Texto dedicado a Sérgio Augusto, que escreveu artigo primoroso sobre a tragédia no Haiti, domingo no Estadão (suplemento Aliás, “O Haiti que importa”, página J6, de 24/1/2010). Final do artigo dele: “Quando pensar no Haiti e rezar pelo Haiti, tenha sempre em mente que os maiores flagelos que o atingiram nos últimos 500 anos não foram exatamente causados pela natureza.”

Três recentes abordagens na mídia chocam pela notável superficialidade e pseudociência. Em sua coluna Sextante, da edição 508 de Carta Capital, Delfim Netto --- num rasgo de ingenuidade --- qualificou de arrogantes e patifes alguns dirigentes de bancos dos EUA que tentaram se eximir de “qualquer responsabilidade pela tragédia que produziram (refere-se à crise mundial)”. E por eles terem tentado justificar o “escândalo dos bônus distribuídos” mesmo depois do socorro estatal repassado, com recursos públicos, às instituições financeiras.

Já em sua coluna na Veja (edição 2148), Diogo Mainardi decretou o fim político de Obama, Lula e Dilma, e adiantou que a Terra está salva da devastação ambiental, pois a temperatura vem caindo no Planeta e não subindo.

E, na sua avaliação de Avatar, Daniel Piza, do Estadão --- numa demonstração de desconhecimento da realidade ---, rotula o filme de “Superficialidade 3D”, nome que dá a seu comentário na coluna Sinopse de domingo (suplemento Cultura, Estadão, página D3, de 24/1/2010) e que me inspirou a intitular o presente artigo.

Fica evidente, nos três textos, que se trata de um festival de superficialidade em “3D Maior”. O primeiro “3D Maior” é de Delfim Netto, o segundo de Diogo Mainardi e o terceiro de Daniel Piza. Comecemos por Delfim, depois vamos a Diogo e a Daniel.

A superficialidade de

Delfim Netto em 3D Maior

Nunca escondi minha admiração pelo Professor Delfim Netto. Vem dos tempos de faculdade (anos de 1970), quando aprendi a respeitar as mentes conservadoras. Elas produzem boa parte da História, e há que estudá-las e entendê-las para se compreender a realidade. É até heresia colocar o Professor no mesmo saco em que estão Diogo Mainardi e Daniel Piza. Delfim é a direita preparada e refinada, Diogo é a ala mais rasa e burra da direita e Daniel Piza é a direita pra lá de burra que ainda não é nada. Isto não quer dizer que o Professor não comungue da superficialidade e pseudociência de Diogo e Piza.

O que há de mais superficial e inclusive equivocado nesse texto de Delfim de Carta Capital (e em todo o seu discurso) é sua mania, comum aos conservadores, de culpar individualidades e instituições pelos tropeços do capital. Nesse seu artigo, o Professor culpa alguns dirigentes de bancos dos EUA pela crise mundial. E diz que eles se mostraram arrogantes e patifes quando, recentemente, depuseram na comissão parlamentar, respondendo “ao escândalo dos bônus milionários que continuam garantindo aos seus executivos, depois de quebrar a banca e ter sido salvos com dinheiro do contribuinte.”

É evidente que nem os dirigentes de bancos dos EUA nem suas instituições foram responsáveis pela crise mundial. No máximo, foram os executores de ações que precisavam ser postas em prática naquele momento histórico do capitalismo americano, sem as quais o sistema financeiro poderia ter quebrado. Está claro que a crise emergiu porque o capital viu-se novamente diante de gargalo difícil de transpor, algo que lhe é bastante comum. Isto demonstra que a abordagem de Delfim, mais do que superficial, é totalmente equivocada.

Está no DNA do capital a voracidade incontrolável para acumular. E, é sabido, o processo de acumulação depende obviamente das vendas. Quanto maiores as vendas, maior a acumulação. Só que, para vender, o capital depende da prática do roubo de força de trabalho (mais-valia). Quanto maior esse roubo, maior o volume de vendas.

É nessa violência e violação aos direitos humanos que reside toda a irracionalidade do capital. E tal irracionalidade leva necessariamente a esses gargalos, que por sua vez leva naturalmente às crises. Muitas vezes, o capital vê-se obrigado, para debelar crises, a lançar mão de saídas tão irracionais quanto esta sua irracionalidade de raiz. Foi o que aconteceu nos anos de 1990 nos Estados Unidos e que culminou com a recente turbulência global.

A crise mundial ainda é uma história mal contada. Está claro que se trata de outro mal de raiz, dentro do capital, e raros perceberam. Estávamos no final dos anos de 1990 e havia excesso de liquidez no sistema financeiro dos EUA, provocado por volumosa acumulação em meio a forte represamento do crédito. Isto é, tínhamos volume excessivo de capital disponível e era preciso dar destinação a ele, para que o processo de acumulação não sofresse solução de continuidade, o que levaria à falência do sistema.

Foi quando os bancos dos EUA pressionaram o governo Clinton para derrubar a Lei Glass Steagall, assinada em 1933 com o fim de debelar a Crise de 29, como mostra oportuna reportagem da correspondente do Estadão em Washington, Patrícia Campos Mello (publicada no domingo, 24/1/2010). Patrícia lembra que a Lei separava os bancos de varejo dos bancos de investimentos e que sua derrubada por Clinton, em 1999, permitiu que os bancos de investimentos também passassem a oferecer serviços como contas bancárias, securitização, derivativos, fundos hedge (de alto risco), entre outros.

Além disso, lembra Patrícia, a Securities Exchange Commission (SEC), que é a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, abriu as comportas da alavancagem e do mercado de derivativos, devolvendo ao capital a liberdade de que tanto necessitava para dar continuidade à sua marcha de acumulação. Isto levou inevitavelmente à bolha dos títulos podres. E todos os agentes do mercado financeiro americano sabiam, desde o Federal Reserve (e os bancos de varejo e de investimentos) até as agências de risco, que uma hora essa bolha iria estourar, como de fato estourou, ensejando a turbulência global.

Por isso, culpar pela crise algumas individualidades como Clinton, dirigentes de bancos ou mesmo instituições financeiras dos EUA, é tão superficial e equivocado quanto culpar Delfim pelo que fez como ministro, durante a ditadura militar. Delfim foi um dos principais condutores da política econômica, naquele período. Foi o pai, por exemplo, do falso milagre brasileiro (anos de 1970), quando turbinou relativamente a economia do País às custas de forte arrocho salarial (roubo de força de trabalho em proporções não vistas até então, impulsionado também por altos índices de inflação e máxis e mínis desvalorizações).

Mas Delfim fez tudo aquilo porque precisava azeitar a máquina que impulsionava o capital no País, durante a ditadura, livrando-o de seus maiores obstáculos, na marcha para sobreviver e acumular mais. Enfim, Delfim agiu assim porque tinha fé no capitalismo e achava que poderia impulsioná-lo no Brasil, como de fato impulsionou, ainda que relativamente. Delfim apenas atendia a uma necessidade premente do capital, naquele momento. Não fosse com ele, teria sido com outro, que encetaria a mesma política econômica, mudando apenas a forma, com nuances aqui e ali.

Culpar individualidades e instituições pela recente crise mundial seria o mesmo que culpar Delfim por todos os tropeços do capital, durante a ditadura. Foi o capital, nas suas diversas facetas, que levou não só ao Golpe de 64, mas às políticas econômicas que até hoje aí estão. Eis a prova de que também Delfim é superficial e equivocado em suas análises: a origem da crise mundial é bem mais complexa, está na base da estrutura social.

A superficialidade de Diogo Mainardi em 3D Maior

A superficialidade em 3D Maior de Diogo Mainardi tem um certo encanto e charme. Dizem que Deus escreve certo por linhas tortas. Diogo Mainardi também, pelo menos no seu comentário “Obama, Dilma e Tia Clélia”, da edição 2148 de Veja. Nele, Mainardi acerta por linhas tortas ao decretar a morte política de Obama e ao nos antecipar o fim político da esquerda na América Latina, ou seja, de Chaves, Lula, Dilma etc. A superficialidade em 3D Maior de Mainardi não está aí, mas nas causas que aponta dessa derrocada política.

Mainardi entende que Obama venceu as eleições porque os EUA haviam bandeado momentaneamente para a esquerda no período eleitoral. E diz que o país acaba de mudar de rumo e voltou a bandear para a direita. Daí concluir que, por isso, Obama só durou um ano e já faleceu politicamente. Acerta Mainardi, mas é superficial e erra ao achar que a morte política de Obama se deu por esses motivos.

Os EUA nunca bandearam para a esquerda. Obama ganhou as eleições porque uma crise tirou o emprego de milhões de americanos e ainda ameaça tirar o de outro tanto. Foi isto que abriu as portas da Casa Branca a um negro, o primeiro a chegar à presidência, o que dificilmente aconteceria neste primeiro século do milênio.

A América é o capital, o capital é a América. O capital está nas mentes americanas, a América o respira diariamente. Os Estados Unidos são a direita, do mais pobre ao mais rico. Até a esquerda americana é de direita, dá para contar nos dedos quem é esquerda autêntica nos EUA. Foi paixão à primeira vista, desde que os primeiros colonizadores chegaram à América e se propuseram a erguer, ali, a terra prometida, capitalista.

Para o americano médio, o capital é um dado da condição humana, algo natural nos ofertado pela graça divina. O capitalismo é, para ele, o melhor dos mundos, o único natural e correto. Ele nunca bandeia para a esquerda. Obama só foi eleito porque surgiu como o messias que iria justamente salvar esse capitalismo, afundado pelas mãos relaxadas e incompetentes de Bush, desde que este não conseguiu evitar a crise.

Como Obama não cumpriu essa promessa de campanha --- o desemprego continua ameaçando milhões de americanos ---, ele conhece agora o ocaso político já no seu primeiro ano de mandato. O fato de ser negro só facilita a derrocada. Tudo o que ele ainda deseja e precisa fazer, promessa de campanha, encontrará resistência porque a decepção é grande. Portanto, não foi uma bandeada para a esquerda que levou Obama à vitória --- Mainardi chama isso equivocadamente de regressismo terceiro-mundista. Nem uma recente bandeada para a direita o teria levado agora ao ocaso político.

Mainardi também acerta ao prognosticar o ocaso político da esquerda latino-americana --- de Chaves a Lula, passando por Dilma, que segundo ele não se elege. Mas é superficial e equivocado nas causas que os estariam levando a isso.

Segundo Mainardi, “a esquerda na América Latina está encrencada”. E dá os seus motivos: “Hugo Chávez deflagrou uma guerra contra o PlayStation. E Lula está sendo apagado da memória. A média de espectadores de Lula, o Filho do Brasil foi menor do que a dos jogos do Macaé. Dilma, sua candidata presidencial, está destinada à derrota. Porque ela, como Lula, personifica o passado. De fato, ela se assemelha cada dia mais à minha tia Clélia: quanto tempo Dilma ainda poderá durar? Menos de um ano. Menos do que Obama.” – conclui assim seu artigo.

Quer análise mais superficial? A morte política da esquerda na América Latina, que a rigor não é esquerda autêntica, está vindo a galope não por isso, mas por uma razão, apenas. As instituições de defesa e proteção do capital, como o Estado, a política, a mídia etc., ainda estão muito fortes no Continente. E houve pacto dessas instituições do capital com a esquerda latino-americana, nossa ‘esquerda real’, do tipo: “Ajam como manda o figurino e nós apoiamos e garantimos a eleição de vocês”.

Só que essa ‘esquerda real’, algum tempo depois de ter chegado ao poder e nele se consolidado, decidiu quebrar o pacto e pôr as garras de fora. A última aconteceu no Brasil, em pacotes como esse, dos direitos humanos, no apagar das luzes de 2009. Neles, vêm embutidas, por decreto, a flexibilização do direito de propriedade no País e a obrigatoriedade de participação nos lucros, pelos empregados. Medidas que a direita chama de populistas, mais ou menos como Getúlio Vargas fez e se deu mal.

Getúlio se matou ao ver que isto o levaria à morte política e à renúncia. Lula e Dilma não têm vocação para o suicídio. Ainda não perceberam que insistir nesses pacotes os levará ao ocaso político, se não à morte em atentado. Portanto, está certo Mainardi, apesar de sua superficialidade: por esses motivos e não pelos que coloca em seu artigo, a chama de Lula começa a se apagar e Dilma não se elege, a não ser que algo de novo surja no caminho para mudar isso, o que acho pouco provável.

A superficialidade de Daniel Piza em 3D Maior

A superficialidade de Daniel Piza em 3D Maior é constrangedora. Ele diz em seu artigo no Estadão que, em Avatar, o diretor e roteirista James Cameron empregou todos aqueles recursos, como o 3D, “a serviço de uma visão de mundo ingênua e inconsistente” e que isto teria deixado no jornalista “um gosto frustrante”. Piza refere-se à reação dos humanóides Na’vis que, com suas flechas, conseguem derrotar, no filme, o homem regido pelo capital (o homem-capital) e superar sua avançada e avassaladora tecnologia.

Por ingenuidade ou desconhecimento, Piza não sacou que, em Avatar, Cameron não se coloca em defesa de nenhuma visão de mundo. Ele apenas retrata habilmente com sua câmera o que aconteceu e tem acontecido concretamente na realidade, para usá-lo como ponto de partida para a sua história. O que faz o capital na lua de Pandora, onde se passa Avatar, não é nada diferente do que fez o capital na sua fase mercantil e colonial.

Quem estudou história e a colonização sabe que, naquele período, os europeus invadiram e se apropriaram de diversas áreas do Planeta, na América e na África, e mesmo na Ásia, para ali explorar as riquezas, dando ensejo à via capitalista de extração colonial, no mais das vezes predatória. É exatamente o que o capital tenta fazer na lua de Pandora, em Avatar: invadir e usurpar para explorar um precioso minério, o Unobtanium.

Durante a colonização, populações inteiras foram dizimadas, como os índios nas Américas do Sul, Central e do Norte, no maior genocídio que a humanidade já conheceu, claramente aludido no filme. É o que deseja fazer também o capital na Pandora de Avatar. Portanto, não se trata de visão de mundo. É a realidade nua e crua que aí está, a mesma que um dia acabou trazendo os ascendentes de Piza ao Brasil, possibilitando que ele se tornasse esse jornalista superficial e equivocado que é.

E a superficialidade de Piza não está só aí. Mesmo que Avatar defendesse essa visão de mundo, ela não seria “ingênua e inconsistente”, como define Piza. Conter o capital no seu ímpeto e voracidade, impedindo-o de acabar de vez com a vida na Terra, não é tarefa ingênua nem inconsistente, muito menos utópica. É imperativo neste momento histórico da humanidade em que a vida no Planeta está por um fio, dada a devastação ambiental causada pela ação irracional do capital, no seu processo de acumulação. Ninguém está falando aqui em socialismo ou comunismo, mas em dar um jeito nisso antes que seja tarde.

Ademais, a ação contra o capital já foi vitoriosa muitas vezes, como em Avatar. Por falta de estudo, Piza não sabe que o capitalismo, na sua fase heróica, quando trouxe progresso e salvou a humanidade, também era tomado como “visão de mundo ingênua e inconsistente” pelos Piza da vida da época. No entanto, o capitalismo vingou e se tornou dominante no Planeta, não era ingênuo nem inconsistente pensar desse jeito.

Piza também diz que “Avatar comete o equívoco de ter um enredo convencional embalado como se fosse inovador.” E acrescenta: “Uma obra de arte não vale apenas pelas posições que toma, mas pela maneira como seduz o espectador até elas”. O crítico não percebeu que Cameron lança mão, de propósito, de um enredo convencional, justamente para desconstruir uma história mais convencional ainda, essa clichê de o capital invadir, usurpar e se apropriar de tudo, pela via da luta armada e fazendo uso da violência.

Qualquer criança alienada e viciada em PlayStation sonha estar dentro de um transformer como os de Avatar, condicionada que foi a sair por aí derrotando os vilões que o homem regido pelo capital (o homem-capital) bem definiu, de Che Guevara a Bin Laden. Cameron inverte o clichê e justamente vilaniza esse homem-capital, colocando-o dentro do transformer. O efeito desmitificador e desmistificador disso é imediato. O ‘homem-capital-transformer’ é derrotado por aqueles que ele tanto deseja escravizar, tal qual aconteceu na rebelião dos escravos negros há cerca de 200 anos no Haiti, a primeira vitoriosa da História.

Sim, a vitória dos Na’vis soa falsa no filme, até porque é fácil demais e cai no clichê maniqueísta hollywoodiano da luta entre o bem e o mal, tem razão Piza. “Não sobrou muito tempo para pensar em contar uma história menos esquemática, menos... bidimensional”, comenta ele. Mas isto também é de propósito em Cameron. Piza não se deu conta de que o diretor faz uso de mais esse clichê --- a polarização bidimensional reducionista entre o bem e o mal ---, invertendo-o justamente para desconstruí-lo e superá-lo.

A história de Avatar, a mais consciente da história do cinema, se obriga a nos esclarecer que o vilão tradicional pode ser na verdade, muitas vezes, o verdadeiro herói e que o herói pode ser perfeitamente o verdadeiro vilão. Isto com nítido propósito de nos levar a crer que rebeliões por causas justas nunca são ingênuas nem inconsistentes, como quer Piza, e podem ser vitoriosas, uma vez que a razão está sempre do lado delas.

E é óbvio que a forma é fundamental na obra de arte, tem razão de novo Piza. É por meio dela que o conteúdo se impõe e se afirma. Mas é amplamente sabido que a má-forma nunca põe corretamente o conteúdo, pelo contrário, depõe contra ele e o deforma, e o resultado é que o conteúdo deixa de ser devidamente comunicado e temos a má-arte. De qualquer maneira, o conteúdo é sempre mais importante e está acima da forma.

E Piza prossegue dizendo que a crítica à tecnologia, segundo ele presente em Avatar, “soa estranha num produto que não seria nada sem as invenções da informática e dos satélites”. E acrescenta que, é verdade, “os efeitos especiais não são detalhes, como parecem para alguns, mas tampouco são o parâmetro final.”

Piza também se equivoca ao achar que Avatar opõe-se à tecnologia e faz uso de efeitos especiais como “parâmetro final”. Avatar apenas se opõe à maneira como o homem regido pelo capital (o homem-capital) faz uso da tecnologia que criou para destruir o meio ambiente e a vida na lua de Pandora. Parece óbvio, no filme, que após a vitória sobre o homem-capital, os Na’vis não jogariam no lixo todas aquelas conquistas tecnológicas levadas à Pandora, mas sim as incorporariam e as aproveitariam para fazer frente a novos desafios. Não há ingenuidade nem inconsistência nos humanóides de Avatar.

Outro equívoco de Piza é afirmar que Avatar “trata da arrogância humana, em especial, da arrogância de exercer controle sobre a natureza.” Não, o filme não trata disso porque essa arrogância não é do homem, mas sim do homem-regido-pelo-capital, do homem-capital. Ao contrário, a vida humana é a maior vítima dessa arrogância, não sua causadora. É muito raso e superficial Piza achar que a devastação ambiental, hoje a maior ameaça à vida no Planeta, seja provocada pelo homem e não pelo homem-capital.

Por fim, Piza recomenda ao diretor e autor do roteiro, James Cameron, que se aprofunde na semiótica, por ser “um dos assuntos mais quentes da atualidade”. No entender de Piza, a semiótica teria supostamente o poder ontológico de determinar e explicar a realidade humana. Ou seja, de nos levar a enxergar “como os humanos fizeram e fazem a linguagem e os signos e como a linguagem e os signos fizeram e fazem os humanos”, possibilitando-nos entender melhor a realidade, o que estaria faltando ao cineasta de Avatar.

Também não é do conhecimento de Piza que a semiótica já caiu por terra há muito tempo, demolida que foi pela ciência autêntica, por se tratar de pseudociência e falsa consciência. Nem de que ela só é “assunto do momento” na cabeça de cientistas e jornalistas chinfrins. Sugiro que Piza leia esses autores, para superar essa alienação braba que o acomete e não mais recomendar pseudociência e falsa consciência a ninguém. A principal função do jornalista é informar, não desinformar, que é criminoso.
 
 Tom Capri.

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