Com a velocidade e o alcance da mídia, os fatos acontecendo aos borbotões, as notícias perdem importância e adquirem gosto de café requentado muito rapidamente, não dando muitas vezes oportunidade para que se faça um juízo crítico daquilo que nos está sendo transmitido.
Desastres, eventos esportivos, denúncias graves e enfim tudo o que nos é passado, deixa de ter importância como fica bem caracterizado na expressão impassível dos apresentadores de TV, que não movem um músculo da face para anunciar, por exemplo, a morte de milhares de pessoas vítimas de um terremoto, ou então os milhões que o político fulano desviou dos cofres públicos e cuja punição jamais será lembrada.
Em nosso país, bem antes da internet, da invenção do automóvel, as notícias e escândalos principalmente políticos eram qual o carnaval, quatro dias no máximo e ninguém lembrava mais.
Alguém se lembra, por exemplo, da morte de Celso Daniel, o prefeito assassinado de Santo André, do escândalo do mensalão, das denúncias contra Sarney e Renan Calheiros, das privatizações de FHC, do banco Fonte Cidam e outras coisas cabeludas? Pouquíssima gente, com exceção talvez, ao Joãozinho da piada.
Isso são fatos políticos. E os que não são? Como as enchentes de São Paulo, a tragédia de São Luiz do Paraitinga, do morro do Baú em Santa Catarina, enfim notícias gravíssimas, que repetimos, nos fazem lembrar o carnaval, só duram até quarta-feira de cinzas.
Mas, nosso dever é sermos chatos e cricris e reviver fatos que se buscam esquecer. Procurar e encontrar, por exemplo, no fundo do baú os fundamentos para a estúpida ocupação urbana, uma das causas dos desastres climáticos que estão ceifando vidas de brasileiros em todo país e também do desmatamento desenfreado, que o Brasil conheceu de quarenta anos para cá.
Os motivos deveriam ser sociológicos, mas não, são essencialmente políticos e econômico-financeiros. O desmanche da zona rural, com o inchaço das cidades, que os técnicos chamam de conurbação foi feito por decreto.
Na década de 50 do século passado o então presidente Juscelino rompeu com o Fundo Monetário Internacional, suspendendo o pagamento da dívida brasileira aos credores externos. Um desastre aos olhos da Casa Branca! Janio e Jango que o sucederam, mantiveram a mesma política.
Com o advento da Revolução de 64, que teve grande participação do governo americano, que sempre defendeu os interesses do capital internacional, o presidente Castelo Branco retomou as negociações com o Fundo, assinando as famosas “Cartas de Intenção”, que dizia-se à época eram “indecorosas” e extremamente lesivas ao Brasil.
Uma dessas cartas obrigava o país a estabelecer medidas que inviabilizavam a manutenção de empregos no campo, extinguindo-se os regimes de colonato, parceria e outros. Acreditavam os ideólogos do Fundo e até hoje vemos muita gente abraçar a mesma teoria, que o atraso do Brasil residia na estrutura agrícola e que empurrando as pessoas para as cidades, elas passariam a consumir produtos industrializados (americanos de preferência).
Graças ao FMI nasciam assim, os bóias-frias, as favelas que hoje espalham-se pelos centros urbanos e uma série de problemas que a urbanização artificial e açodada trouxe e hoje conhecemos muito bem.
Seria de grande valia e importância para reescrever-se a história pátria, o conhecimento público das “Cartas de Intenção” assinadas pelo país com o Fundo Monetário Internacional. Poderíamos avaliar o comportamento de regimes e de Ministros da Fazenda (Delfim Neto é um deles) á época e sobretudo responsabilizar, nem que seja moralmente, o Fundo pelas incríveis exigências dos países que buscavam seu amparo.
Deste governo seria muito esperar que abrisse os documentos do Ministério da Fazenda aos meios acadêmicos e científicos para que os estudiosos da história pátria conhecessem com quantos paus se vendeu um país. Talvez os futuros, quem sabe...
Luiz Bosco Sardinha Machado
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