Passava das 18 horas de segunda-feira (5/4), quando o carioca foi pego por uma das maiores precipitações pluviométricas que se tem notícia.
Justamente no horário de pico, onde boa parte dos trabalhadores dirigia-se para suas casas após um dia trabalhado, o caos instalou-se, com a água tomando conta de tudo, impedindo a circulação de automóveis, ônibus, trens e barcas deixando mais de milhão de pessoas sem condução e sem notícias sobre as áreas afetadas pelo deslizamento das encostas dos morros.
Os que aventuraram-se enfrentar a fúria das águas foram obrigados a desistir, muitos permanecendo próximos ao local de trabalho, esperando o dia clarear para retomar o seu posto.
José Luiz Vindigati, auxiliar administrativo, um desses milhares de heróis urbanos, assim falou: “resolvi enfrentar as águas, mas o medo de cair num bueiro sem tampa, foi maior. Vamos ficar por aqui mesmo... se o patrão dispensar... hoje de dia eu durmo... se minha casa, não tiver sido arrastada pela lama...”
Morador do bairro do Fonseca em Niterói, José Carlos tinha lá suas razões.
História parecida era relatada por boa parte dos que se protegiam em marquises de prédios da fúria das chuvas que insistiam em cair.
METEREOLOGIA
O que a maioria não entendia, eram as razões do porquê não terem sido avisados da possibilidade de chuvas violentas, como as que caíram na segunda-feira e que causaram tanto estrago, deixando um rastro de mais de cento e dez mortos e mais de mil quinhentos desabrigados.
Um técnico do INPE asseverou “ter havido uma falha imperdoável no acompanhamento das mudanças climáticas, pois a frente fria, que causou a precipitação anormal no Rio de Janeiro, veio do sul, aqui encontrando-se com a massa de ar quente. E isso levou tempo. Não é possível que os responsáveis pela leitura da carta do tempo não tenham detectado o fenômeno que se aproximava. Fica mais difícil de entender, se notarmos que na terça-feira o presidente Lula estaria no Rio para inauguração de obras no morro de São Carlos e o Palácio do Planalto deveria prever a ocorrência de problemas climáticos no Rio.”
DESENCONTROS
O presidente Lula na manhã de terça-feira apressou-se em afirmar, que a Copa do Mundo de 2.014 não seria prejudicada com as ocorrências do Rio. O motorista de táxi Laércio de Souza, empacado dentro d’água em seu Astra que pifara, foi enfático: “dizer isso, não traz alívio nenhum, pois além de estar tão longe a Copa, não resolve o problema do hoje e do agora. A Defesa Civil, o governo deveria ter alertado a todos do perigo..., eu mesmo teria ficado em casa...”
O Presidente Lula incorreu ainda em outro equívoco ao instar que os moradores de áreas de risco abandonassem suas casas. Tal afirmativa, tomada em um só contexto, contrariava o que diziam o prefeito Paes e o governador Cabral, que até imploravam aos moradores que permanecessem em casa, havendo uma óbvia falta de comunicação entre as esferas de poder, o que poderia levar a população à tomada de atitudes até perigosas se tomadas de supetão. O presidente Lula extrapolou de suas funções em suas declarações, cabendo ao governador e ao prefeito orientar os cidadãos sobre o que seria melhor para o Estado e cidade que governam.
ENCONTROS
Tanto Lula, como Cabral e Paes em perfeita sintonia descobriram um culpado pelos deslizamentos das encostas que vitimaram mais de uma centena de moradores em todo o Estado: o povo. Que na fala deles constrói em áreas de risco.
Podem até ter razão, no entanto quem tem o poder de legislar e acima de tudo regulamentar, coibir e fiscalizar a construção em encostas e áreas sujeitas a deslizamento e por quê não enchentes, é o poder público.
Na sua omissão, o “povo” faz o que lhe parece melhor e o Estado, por incrível que pareça, leva até a tal área de risco as benfeitorias – água, luz, esgotos e asfalto e até Unidade Básica de Saúde, igual a que o presidente Lula iria inaugurar no morro de São Carlos - que levam os candidatos a meros números estatíscos como vitimas ou desabrigados, a permanecerem nos morros e encostas, não se importando com as conseqüências.
O auxiliar administrativo José Luiz não dormiu na noite passada, pois além de ter a casa arrastada pela lama, como “povo” ganhou um peso na consciência e sobre as costas a responsabilidade pelos desastres que matam tanta gente.
Luiz Bosco Sardinha Machado
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