A dúvida é atroz: não sabemos se o Brasil é um pobre país rico; ou se é um rico país pobre.
O Brasil é paupérrimo em homens públicos e só não está em situação muito pior, porque seus recursos são inesgotáveis.
Os exemplos são os mais variados, porém fiquemos com apenas um deles. Nos anos FHC, o lema era privatizar a qualquer custo. O povo como sempre, movido pela mídia, aplaudia de pé.
Numa verdadeira ação entre amigos distribuíram todo patrimônio nacional, que pudesse ser gerador de riquezas. Um dos setores que foi vítima de um verdadeiro desmanche e que demandará décadas para ser refeito, se é que será um dia, foi o ferroviário.
Quando FHC resolveu acabar com as ferrovias, quis fazer um trabalho completo. O governo federal era dono da Rede Ferroviária Federal; havendo outra importante malha, que era do governo de São Paulo.
Numa negociação nebulosa, este ultimo transferiu seu patrimônio para que a federação tratasse de desmanchá-lo, com prejuízos para ambos.
Os cemitérios de locomotivas e vagões multiplicaram-se e estão aí até hoje.
As ações com o desmanche não pararam por aí. FHC tinha que fazer um serviço completo. Numa canetada só extinguiu os terminais de recepção de grãos, que chegavam em barcaças e eram transferidos para vagões, que transportavam aos centros consumidores. E ainda, sepultou em definitivo o projeto da hidrovia Tietê-Paraná.
Em oito anos FHC liquidou com a nossa infra-estrutura de transporte ferroviário, sob os aplausos da indústria de caminhões e ônibus pesados, da Petrobras que fornece o combustível, das empreiteiras que vivem da construção e reparo das rodovias, das concessionárias agraciadas com a exploração de pedágios cada vez mais caros e das empresas de ônibus, que detém um inexplicável monopólio no transporte de passageiros e por causa disso cobram preços extorsivos por um serviço deficiente.
Tudo isso graças a FHC. Veio Lula e nada mudou.
Quando esperava-se do novo presidente uma postura diferente, Lula passou ao largo em recuperação de ferrovias e do transporte hidroviário. Em matéria de infra-estrutura o governo priorizou, o que faz a alegria das grandes empreiteiras, a construção de pelo menos três hidrelétricas (Santo Antonio, Jirau e Belo Monte) todas na região amazônica e contestadas por quase todo o meio científico nacional. Esqueceu-se também dos portos que estão em situação caótica.
Agora em fim de governo, Lula anuncia o trem-bala, sonho de toda republiqueta de terceiro-mundo, uma obra que só servirá a uma elite, portanto de alcance social quase nulo, mas de grande exposição na mídia.
Viabilizar estradas de ferro sucateadas e abandonadas, que iriam além de transportar com economia nossas riquezas e também levar passageiros a um custo baixo, não é algo que interessa muito, pois não garante as grandes verbas que azeitam a política nacional.
A não ser que os trinta e tantos bilhões de reais anunciados para serem aplicados no trem-bala não existam e seja mais uma jogada de marketing do governo Lula em ano eleitoral, pois caso contrário com esse dinheiro poder-se-ia ressuscitar grande parte da nossa malha ferroviária e ainda viabilizar o sistema hidroviário, necessários para um país que pense em ser grande.
Luiz Bosco Sardinha Machado, jornalista e advogado
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