No – 178 – COLUNA DO SARDINHA
Aprendemos a admirar e a respeitar o comediante Tiririca e a dar-lhe créditos suficientes para tornar-se um palhaço/deputado, coisa bem melhor do que um deputado/palhaço.
Não desceremos a comentários recheados de falsa cultura sociológica, para dizer que o artista é fruto de uma época e outras baboseiras, ficando apenas nas palavras do próprio palhaço, que bem definiu a lógica que norteia a atual política brasileira.
Num rasgo de humor debochado, Tiririca prontificou-se a submeter-se a um exame de alfabetização, conforme exigido pelo Ministério Público, desde que “o presidente Lula corrigisse sua prova”.
No mar de mediocridade que caracterizaram-se as eleições que encerram-se no domingo, um pouco de humor fino, irreverente e inteligente como o tal, serve para quebrar a mesmice daquela que está sendo chamada de a”pior eleição da história”.
A verdadeira tiririca como o leitor/eleitor sabe é uma gramínea, considerada erva daninha, que se reproduz por rizomas ou batatas, que aprofundam-se no solo, tornando o seu combate extremamente difícil. Mercê disto, a planta se alastra, competindo e sufocando as plantas benéficas, tornando muitas vezes o terreno impróprio para qualquer cultura.
A mediocridade como foi vista nas eleições atuais, como a tiririca em campo fértil, alastrou-se de uma forma, sufocante por todos os níveis em disputa. De deputado estadual a presidente da república, o quê se viu foi uma ausência preocupante de objetivos mais sérios e de uma discussão efetiva dos problemas que já começam aflorar no horizonte verde-amarelo.
Um deles, que nos parece essencialmente grave, é a equação da questão da sobrevalorização do real frente ao dólar, que está sendo equivocadamente estimulada pelo próprio governo e que provoca verdadeiro rombo nas contas públicas.
Outro nó górdio a ser desatado é a questão do déficit público. Nesses oitos anos o governo, no jargão bancário, sacou a descoberto contra o Tesouro Nacional, confiando talvez na vitalidade de nossas exportações e que é ironicamente neutralizada pelo câmbio artificial, praticado pelo próprio governo, que perigosamente repete a situação encontrada às vésperas da crise de 2.008. Quem serão as novas vítimas das ACC’s (Antecipação de Contratos de Câmbio)? Sadia,Petrobras, Votorantim, Aurora, Itau?
Por mais que o governo atual negue e pinte de cor-de-rosa o horizonte financeiro, o próximo presidente vai se ver, inexoravelmente, a braços com um necessário ajuste fiscal, que será tanto mais rigoroso, à medida que o tempo passar. Empurrar com a barriga tem lá seus limites e seu custo.
O mercado financeiro sinaliza perigosamente, para o que o nos espera, ao fixar os juros do cheque especial como um dos mais altos da década. Saberia o dito mercado algo que não sabemos, ou estaria ele impregnado com o efeito tiririca, que turva de mediocridade seus cérebros pensantes?
No deserto de idéias que se tornaram as eleições 2.010, o palhaço Tiririca é a alternativa de rir-se para não chorar.
Luiz Bosco Sardinha,advogado e jornalista
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