No. 176 – COLUNA DO SARDINHA
O mundo assistiu estático a bem sucedida operação de socorro dos mineiros soterrados da mina San Jose em Copiopó, Chile. Durante sessenta e dois dias o evento foi presença obrigatória em todos os meios de comunicação.
Com toda razão, o fato tornou-se um acontecimento midiático, pois ao envolver trinta e três vidas que debatiam-se a mais de seiscentos metros do solo, trouxe à tona a importância da vida e da luta por preservá-la.
A cobertura jornalística foi perfeita, descontando-se o uso político que o presidente Piñera fez do evento e da enorme plasticidade televisiva, com os mineiros que estariam a mais de sessenta dias no ventre da terra saírem da cápsula salvadora, barbeados, roupas impecáveis, com cada um tendo uma versão diferente da própria vida.
O senão até cômico foi a participação do presidente Lula. Ligou para um celular, que foi atendido, nada mais, nada menos, pelo presidente da Bolívia Evo Morales, que após cumprimentar Lula, passou o aparelho para Piñera. Tudo isso transmitido ao vivo pelo GNT, que deve ter uma tecnologia própria para gravar ambos os lados de uma conversação telefônica.
Esses fatos entretanto, não desabonaram de forma alguma o desenrolar da cobertura, mas louve-se acima de tudo, o comportamento do povo chileno, que coeso acompanhou passo-a-passo a emocionante operação bem sucedida.
Cobertura opostamente diferente, vimos no debate havido na Rede Bandeirantes envolvendo os candidatos à presidência da República, realizado no domingo (10/10).
Ambos, tanto Serra como Dilma perderam a oportunidade de discutir assuntos relevantes, que são as verdadeiras causas de nossas agruras. Ficaram apenas no efeitos como Saúde, Educação e Segurança.
Talvez ganhassem pontos e até as eleições,se falassem, por exemplo, da reforma do Estado e das reformas em geral, que o Partido dos trabalhadores passou os oito anos de FHC exigindo e ao assumir o governo “esqueceu”.
Como também, poderiam debater o papel da Petrobras, que anuncia recordes de produção, que não se refletem no preço dos combustíveis, a pouca transparência da empresa, que não admite ser investigada por uma CPI, o aumento absurdo dos honorários dos conselheiros, a candidata Dilma entre eles, de 75% e afinal a estrutura dos preços dos combustíveis.
Poderia caber também na discussão, a questão da privatização, que criou monopólios absurdos, que foram conservados e até ampliados, como no caso das telecomunicações, pelo governo atual.
A dívida e o déficit público mereceriam capítulo à parte, bem como os juros pagos com o serviço da dívida e que superam o orçamento de muitos ministérios.
Como se vê sobram assuntos, cada um mais empolgante que o outro e que dizem diretamente ao futuro do país, o que não ocorre certamente, com temas como casamento gay, aborto e outros.
Serra e Dilma esmeraram-se em tergiversar (gancho que pegamos da candidata petista), que em outras palavras significa enrolar os eleitores, que como os mineiros da mina Santa Fé, não tem muita escolha, o voto é um só e o eleito, também.
Só que os mineiros tinham apenas setecentos metros para alcançar o ar puro da liberdade e aos brasileiros sobrarão quatro anos de tergiversação.
Luiz Bosco Sardinha Machado, advogado e jornalista
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