À SOMBRA DO FISIOLOGISMO
“Não se pode ensinar truque novo para cachorro velho”
É muito cedo para qualquer análise mais profunda sobre o que podemos esperar do governo Dilma. No entanto, como novidade de uma mulher à frente do governo, tal circunstância serviria para despertar os melhores e os piores presságios por um governo diferente e à altura da grandeza que o país desperta.
Os negativistas, que vêem tudo pelas lentes escuras do sombrio, dirão: ora, quem diria, é uma mera repetição do governo anterior, porém sem Lula!
Os eternos otimistas, que vêem sempre horizontes cor de rosa dirão: é cedo ainda, ela tem ainda quatro anos pela frente para mostrar toda a”fibra” da mulher brasileira!
Tanto os negativistas, como os otimistas tem alguma razão e este início de governo está pondo à prova a capacidade de administrar da presidente, que infelizmente começa errado.
Governar, segundo a melhor ótica é estabelecer prioridades e administrar crises e demandas.
Note-se que o fisiologismo, a compra desenfreada de apoios, com a distribuição à mancheias de cargos não entra nesta definição, que beira a exatidão.
Seguindo os passos de Lula, que criou mais de uma dezena de ministérios (um ministério da pesca(!), num país que não tem tradição pesqueira e um ministério da igualdade racial(!) são alguns exemplos disto) para conquistar apoios e maiorias, Dilma envereda pelo loteamento de cargos, dando principalmente ao PMDB, partido de seu vice, quase todo o segundo escalão, o que permitirá a formação de um governo paralelo, que poderá torná-la refém de seus interesses e caprichos.
Lula no começo de governo procedeu da mesma forma e o episódio do mensalão, com petistas e componentes da base aliada – um novo nome para o fisiologismo – repartindo entre si as propinas que jorravam aos borbotões através do valerioduto, quase o fez perder o pescoço.
Lula só não foi cassado no episódio do mensalão, porque as implicações institucionais seriam muito sérias e o país poderia desemborcar numa aventura até ditatorial.
Cabeças rolaram a rodo para preservar o presidente, com o PT saindo bastante machucado.
Dilma repete o mesmo caminho do início de Lula e vai mais além, trazendo para junto de si, políticos banidos do poder, pois pilhados com a boca na botija das irregularidades.
O PMDB, maior partido do Brasil, apoiador inconteste do governo Dilma, num verdadeiro desafio ao pouco senso de moral que ainda nos resta, designou nada menos que o alagoano Renan Calheiros, célebre pelos escândalos largamente mostrados pela mídia, como negociador na distribuição dos cargos que seu partido pode exigir.
O problema mais sério no fisiologismo “à moda da casa” é que a distribuição de cargos não é uma ação entre amigos, mas sim entre inimigos cordiais e íntimos, que não vêem a hora de almoçar os aliados para não serem jantados por eles.
A grande incógnita, a grande interrogação que só o tempo irá responder será, qual o comportamento e a reação de dna Dilma aos escândalos que pelo andar da carruagem tem tudo para pipocar em seu governo?
Esta dúvida não decorre absolutamente do fato de ser ela mulher, mas da força das pressões esperadas, que o fisiologismo por si só não será suficiente para contorná-las. Lula, que poderia ser um grande artífice para estabelecer um pacto que garantiria a governabilidade, já não estará mais presente e se Dilma não aprendeu com ele os truques que lhe deram tranqüilidade para navegar durante oito anos por tais atribulados mares, resta pensar no impasse institucional que pode nos esperar.
Luiz Bosco Sardinha, advogado e jornalista
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