COMPANHEIROS DE VIAGEM
A Grecia antiga é considerada o berço da civilização ocidental por sua organização social e política. Em quase em todos os campos que olharmos veremos traços da cultura grega a influenciar o dito mundo moderno. No Direito, p.ex. o “Ius Civilis” grego foi inicialmente adotado pelos romanos e posteriormente por grande parte dos países. No nosso país o Direito Civil, que rege as relações interpessoais tem traços indeléveis da cultura helênica.
Cultura esta, que tinha uma característica peculiar. Somente os gregos gosavam dos direitos que a cidadania lhes conferia, estes considerados verdadeiramente cidadãos (civilis). Estrangeiros e escravos, não.
Ao lado das regras escritas ou não, que davam direitos e deveres aos helenicos perante as cortes de justiça, outras havia, não escritas, para permitir o convivio dos cidadãos em suas relações sociais e que eram características deles cidadãos, cujo conjunto denominava-se simplesmente por civilidade, que de uma maneira geral e genérica, mas ao mesmo tempo abrangente, é chamada de educação.
Se a civilidade era a maneira e a forma de organizar-se as relações pessoais na sociedade grega, no âmbito institucional e político o Estado adquiria contornos pela vontade do povo, que exercia plenamente a cidadania, que não se esgotava no direito de escolher e de ser escolhido para administrar a sociedade, mas na obrigação de respeitar-se os bens e haveres públicos que em ultima análise, são de todos.
Na Grecia antiga tinha-se a perfeita noção de que os homens eram companheiros de uma longa viagem que estendia-se pela vida à fora, que pela sua duração exigia regras duradouras para permitir a convivência.
Não havendo tais regras, onde a anarquia imperasse, haveria a degradação sócio-política, com a corrupção dos costumes campeando solta e o homem tornar-se-ia o verdadeiro lobo do próprio homem, sem respeito às individualidades, aos limites impostos pelo direito e ao patrimônio público (de todos) e privado.
Na sociedade atual, não só na brasileira em particular, tais valores legados há mais de milênio estão sendo olvidados e afastados. A educação social e política perdeu sua força, não há mais repeito pela coisa pública e individual. O lixo que entope nossas casas e mentes compartilhamos igualmente com todos. Porém, as riquezas, não.
Tal movimento tem-se sentido nos ultimos vinte anos. Não há mais respeito pelo alheio. A norma é: cada um por si e Deus por ninguém e dane-se o resto. Amizade, companheirismo, respeito e amor ao próximo, educação, civilidade e cidadania são peças de ficção.
O futuro dirá qual será a consequência disto e certamente não será das melhores.
Luiz Bosco Sardinha, advogado e jornalista
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