MARINA

Má li esse poema umas dez vezes. Foi a coisa mais bonita que já fiz. Andei trocando umas palavras, corrigindo vou mandar de novo prá vc montar um slide vou mandar imprimir e mando p/ vc pelo correio MARINA No ambiente amplo Paredes brancas, Iluminado por uma Réstia de luz Qu’escapava esguia Por cortina balouçante, Uma marina deslumbrante, Com mares azuis, tal Olhos de uma diva. O píer branco qual Espumas das ondas O conjunto enfeitando. Barcos que partiam E chegavam Se quem ia ou voltava Não sei se ria Ou só chorava. Ah! como amava Esta marina que, De amor minha Vida povoava 22.03.09 LUIZ BOSCO SARDINHA MACHADO ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ QUEM SOU EU MARINA SILVEIRA- PROFESSORA, TECNÓLOGA AMBIENTAL E ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A SUPERFICIALIDADE DE DELFIM NETO

A superficialidade de Delfim Netto, ao apontar culpados pela crise mundial

Artigo dedicado a Patrícia Campos Mello, a blogueira do Estadão que tem feito trabalho brilhante como correspondente em Washington. Patrícia é a jornalista brasileira que mais se aproximou da origem da crise mundial e de sua explicação, daí ser inclusive mencionada no presente texto.

Em recente comentário enviado a todos, eu disse que três abordagens de renomados articulistas brasileiros haviam me chocado pela superficialidade e pseudociência. Uma era de autoria de Delfim Netto, publicada em sua coluna Sextante, da recente edição 508 da revista Carta Capital. Nesse texto, Delfim qualifica de arrogantes e patifes alguns dirigentes de bancos dos EUA que tentaram se eximir de “qualquer responsabilidade pela tragédia que produziram” (referia-se à crise mundial). Vou me ater hoje a esse texto de Delfim. Os outros dois superficiais já foram devidamente abordados e analisados aqui. Um é de Diogo Mainardi, publicado em sua coluna na Veja (edição 2148). Nele, Diogo decreta o fim político de Obama, Lula e Dilma, adiantando que a Terra está salva da devastação ambiental, uma vez que a temperatura vem caindo no Planeta e não subindo.

 Outro texto raso é a avaliação do filme Avatar feita por Daniel Piza, do Estadão. O articulista rotula o filme de superficial no texto “Superficialidade 3D”, publicado na coluna Sinopse do suplemento Cultura do Estadão, página D3, em 24/1/2010. Vamos então à superficialidade de Delfim Netto.

Nunca escondi minha admiração pelo Professor Delfim Netto. Vem dos tempos de faculdade (anos de 1970), quando aprendi a respeitar as mentes conservadoras. Elas produzem boa parte da História e há que estudá-las e entendê-las para se poder compreender a realidade. Hoje, o Professor é leitura obrigatória. Não perco um artigo dele de sua coluna Sextante na revista Carta Capital. É até heresia colocar o Professor no mesmo saco em que pus Diogo Mainardi e Daniel Piza. Delfim é a direita preparada e refinada, Diogo é a ala mais rasa e burra da direita e Daniel Piza é a direita pra lá de burra e que ainda não entendeu nada. Isto não quer dizer que o Professor não comungue da superficialidade e pseudociência de Diogo e Piza.

O que há de mais superficial e inclusive equivocado nesse texto aqui referido de Delfim de Carta Capital (e, lamentavelmente, em todo o seu discurso) é sua mania, comum aos conservadores, de culpar individualidades e instituições pelos tropeços do capital. Nesse seu artigo, o Professor culpa alguns dirigentes de bancos dos EUA pela crise mundial. E diz que eles se mostraram arrogantes e patifes quando, recentemente, depuseram na comissão parlamentar, respondendo “ao escândalo dos bônus milionários que continuaram sendo garantidos a seus executivos, depois de quebrarem a banca e terem sido salvos com dinheiro do contribuinte.”

É evidente que nem os dirigentes de bancos dos EUA nem suas instituições foram responsáveis pela crise mundial. No máximo, eles foram os executores das decisões que precisavam ser tomadas e das ações que deveriam ser postas em prática naquele momento histórico do capitalismo americano. Sem aquelas medidas, todo o sistema financeiro dos EUA poderia ter quebrado. Está claro que a crise emergiu porque o capital viu-se novamente diante de mais um gargalo difícil de transpor, algo que lhe é bastante comum. E que a abordagem de Delfim, ao culpar individualidades, mais do que superficial, é totalmente equivocada.

Está no DNA do capital a voracidade incontrolável para acumular. O capital não sossega enquanto não acumula cada vez mais. Por sua vez, o processo de acumulação, é amplamente sabido, depende obviamente das vendas. Quanto maior o volume de vendas, maior a acumulação. Só que, para vender, o capital depende dessa prática tão comum que é o roubo de força de trabalho em escala (o fenômeno da mais-valia). Quanto maior esse roubo, maior o volume de vendas.

É nessa violência e violação aos direitos humanos --- uns expropriarem força de trabalho de outros, para tirar proveito disso --- que reside toda a irracionalidade do capital. Irracionalidade que leva necessariamente a tais gargalos, que por sua vez levam naturalmente a crises (hoje, de alcance mundial porque o capital globalizou-se). Muitas vezes, o capital vê-se obrigado, para debelar tais crises, a lançar mão de saídas tão irracionais quanto esta sua irracionalidade de raiz. Foi o que aconteceu nos anos de 1990 nos EUA e que acabou dando origem à recente turbulência global. E é por aí que dá para entender a gênese da crise mundial, o que escapou a Delfim.

A crise mundial ainda é uma história mal contada. Está claro que se trata de outro mal de raiz endógeno ao capital, o que raros perceberam, inclusive o Professor. Estávamos no final dos anos de 1990, época em que tínhamos excesso de liquidez no sistema financeiro dos EUA, provocado por volumosa acumulação em meio a forte represamento do crédito. Isto é, tínhamos volume excessivo de capital disponível, e era preciso dar destinação a ele para que o processo de acumulação não sofresse solução de continuidade, o que poderia o sistema levar à falência.

Foi quando os bancos dos EUA pressionaram o governo Clinton para derrubar a Lei Glass Steagall, assinada em 1933 com o fim de debelar a Crise de 1929, como mostra oportuna reportagem da correspondente do Estadão em Washington, Patrícia Campos Mello ('Vilões' da crise, bancos dos EUA terão de seguir regras mais rígidas, publicada a 24/1/2010). Patrícia lembra que esta lei separava os bancos de varejo dos de investimentos. Ao ser derrubada a lei pelo presidente Clinton em 1999, passou a ser permitido que os bancos de investimentos também oferecessem os mesmos serviços dos bancos de varejo, como contas bancárias, securitização, derivativos, fundos hedge (de alto risco) etc., dando início ao processo que culminaria com a crise.

Além disso, lembra Patrícia, a Securities Exchange Commission (SEC), a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, abriu as comportas para a alavancagem e o mercado de derivativos, devolvendo ao capital a liberdade de que tanto necessitava para dar continuidade à sua marcha de acumulação. Isto teria levado inevitavelmente à formação da bolha dos títulos podres. E isto era do conhecimento de todos os agentes importantes do mercado financeiro americano, desde o Federal Reserve (e os bancos de varejo e de investimentos) até as agências de risco. Todos sabiam também que uma hora essa bolha iria estourar, como de fato estourou, ensejando a turbulência global.

Por isso, culpar pela crise algumas individualidades como Clinton, dirigentes de bancos ou mesmo instituições financeiras dos EUA, os qualificando de arrogantes e patifes, é tão superficial e equivocado quanto culpara o próprio Delfim pelo que fez como ministro, durante a ditadura militar. Delfim foi um dos principais condutores da política econômica daquele período. Foi o pai, por exemplo, do falso milagre brasileiro (anos de 1970), quando turbinou relativamente a economia do País a custas de forte arrocho salarial (roubo de força de trabalho em proporções até então jamais vistas no País, empurrado por altos índices de inflação e máxis e mínis desvalorizações).

Mas Delfim fez aquilo porque precisava azeitar a máquina que impulsionava o capitalismo tupiniquim durante a ditadura, livrando-o de seus maiores obstáculos, na marcha dele para sobreviver e acumular cada vez mais. Enfim, Delfim agiu assim porque tinha fé no capitalismo (sempre teve) e porque achava que poderia impulsioná-lo no Brasil, como de fato o impulsionou, ainda que relativamente. Delfim apenas atendia a uma necessidade premente do capital, naquele momento. Não fosse com ele, teria sido com outro, que encetaria política econômica com as mesmas intenções, mudando-a apenas na forma aqui e ali.

Culpar individualidades e instituições pela recente crise mundial é o mesmo que culpar Delfim por todos os tropeços do capital no Brasil durante a ditadura. Foi o capital, nas suas diversas facetas, que levou não só ao Golpe de 64, mas às políticas econômicas que até hoje aí estão. Delfim não pode ser responsabilizado individualmente nem condenado por aquele passado, da mesma forma que nenhuma individualidade ou instituição pode ser culpada pela recente crise mundial.

Eis a prova de que também Delfim é superficial e se equivoca em suas análises: ao condenar alguns banqueiros dos EUA como culpados, ele se afasta da verdade e das reais origens da crise, que são bem mais complexas e estão na base da estrutura social, como bem levantou Patrícia Campos Mello, correspondente do Estadão em Washington, no artigo aqui referido. 

 Tom Capri.

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