Empresários e economistas explicam por que o Brasil crescerá menos em 2011
País deverá crescer no máximo 4,5% em 2011, pois faltam estrutura e condições adequadas a uma expansão maior do PIB, obrigando o governo a adotar medidas para conter o aquecimento da economia.
Para empresários, líderes setoriais e economistas, o PIB nacional deverá evoluir cerca de 4,5% no ano novo. O motivo principal da performance sensivelmente inferior à de 2010 é a falta de condições e base de sustentação para um crescimento continuado na casa de 7%. Por isso, adotaram-se medidas para conter um pouco o grau de aquecimento do nível de atividade, como algumas ações de restrição ao crédito e a retirada de R$ 61 bilhões da economia, por meio do aumento dos compulsórios bancários.
O governo busca um contraponto ao aumento da renda e do emprego verificado em 2010 que, não por acaso, gerou uma demanda acelerada de produtos nacionais e importados, pressionando as metas fiscais, monetárias e cambiais. Para o empresário Juan Quirós, presidente do Grupo Advento, da área de construção civil de infraestrutura e edifícios, “expansão superior a 7% ao ano levaria o Brasil a tropeçar em seus antigos problemas basilares, podendo ameaçar o presente ciclo positivo de crescimento”. Para ele, “o direito de expandir o PIB a patamares mais ousados, resgatando de modo definitivo o passivo social e aproximando o País do pleno emprego, somente será conquistado mediante algumas lições de casa para solucionar questões pontuais e, sobretudo, os gargalos estruturais que há tanto tempo nos atrapalham”.
Segundo Quirós, a maior urgência é equacionar o desequilíbrio do câmbio, principal responsável por dois indicadores preocupantes, constantes dos dados referentes ao terceiro trimestre de 2010: a elevação de 7,4% da importação de bens e serviços e o recuo de 1,6% da indústria de transformação. “A prioridade máxima, contudo, é realizar as reformas tributária/fiscal, previdenciária e trabalhista, essenciais para reduzir o Custo Brasil, que tem impacto negativo na competitividade do País”.
José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), da Vitopel e diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da FIESP, salienta que os números da produção, do consumo interno e das exportações somente poderão ser mais positivos, contribuindo, também, para reverter o preocupante quadro de crescimento das importações, se o governo da presidente Dilma Rousseff e a nova legislatura federal solucionem alguns gargalos estruturais, que vêm prejudicando bastante o setor do plástico e a indústria de transformação como um todo. “A primeira e inadiável lição de casa é a reforma tributária, que não pode mais ser postergada. A elevada carga de impostos é a principal barreira para as empresas, independentemente de seu porte, por incidir de modo direto sobre os próprios investimentos e retirar recursos que poderiam ser aplicados em empreendimentos produtivos”.
Outro fator a ser considerado, segundo Roriz, é a redução dos juros/spread, cujas taxas elavadíssimas aumentam os riscos econômicos do investimento, afetando-o por três vias: ao agravar as despesas financeiras, minando os recursos a serem investidos; ao inibir a demanda dos produtos industriais; e ao estimular a especulação financeira.
De acordo com Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), as perspectivas de crescimento da economia brasileira para o próximo ano, embora o PIB fique abaixo dos 7% de 2010, continuam boas, em especial se analisadas na comparação com o histórico de crescimento dos últimos 20 anos. “Com crédito menor, será possível afastar riscos maiores de descasamento entre a oferta de crédito e a capacidade de pagamento dos tomadores. Além disso, a facilidade de crédito de longo prazo para bens de consumo pode resultar na deterioração da qualidade de endividamento para toda a economia nacional. Em suma, as restrições de crédito e liquidez adotadas pelo governo no final do ano são prudentes e salutares”, pondera o presidente da Abit.
Comunicação gráfica e publicidade - Fabio Arruda Mortara, presidente do Sindigraf-SP (Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo), ressalta que o índice de crescimento do setor em 2010 ficou próximo da expansão esperada para o PIB brasileiro. “Por outro lado, como vários segmentos da indústria, nos preocupa muito o déficit de nossa balança comercial. O saldo negativo expressa as desvantagens competitivas do Brasil em relação a outros países”, aponta Mortara, frisando: “Os principais problemas são os altos impostos e juros e os elevados encargos trabalhistas. Isso preocupa no próximo exercício”.
O presidente da Abigraf Nacional (Associação Brasileira da Indústria Gráfica), Mário César de Camargo, destaca o resultado favorável de 2010. “Houve aumento de produção e de força de trabalho, mas o Custo Brasil continua muito elevado. Nossa missão em 2011 é apontar o quanto temos de sustentar o Estado brasileiro com impostos”.
Para o presidente da RinoCom Propaganda, Rino Ferrari Filho, as medidas restritivas adotadas pelo governo são benéficas, pois refletem um controle relativo do consumo e da inflação, além de sinalizarem comando na economia. “Por outro lado, seria necessário adotar providências para reduzir o custeio da máquina de governo. Especificamente no nosso negócio, a propaganda e publicidade, também consideramos as medidas positivas, uma vez que a comunicação será ferramenta fundamental na ativação de marcas e de produtos, num cenário de demanda sustentável”.
Investimentos e controle da inflação - Mesmo com as medidas monetárias restritivas adotadas pelo Banco Central, o professor de Economia e de Mercado da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, também acredita que a economia brasileira deva crescer em torno de 4% a 5% em 2011. Isto se deve, principalmente, ao efeito inercial que o aquecimento da produção e do consumo vem experimentando em 2010 e ao aumento do volume de investimentos necessários para suprir a carência de infraestrutura produtiva no País.
“Obras em aeroportos, portos, estradas e geração de energia já contratadas e aquelas em fase de contratação são suficientes para garantir um ritmo acelerado deste setor nos próximos anos”, ressalta o professor, acrescentando: “A realização da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, exige um cronograma rigoroso de obras, com alto efeito multiplicador na economia”.
Para o docente, o principal desafio do governo, no início de 2011, será o controle da inflação. Devido ao crescimento acelerado da demanda interna e ao aumento dos preços das commodities no mercado internacional, não haverá outra saída senão o aumento das taxas de juros e restrição ao crédito. “É urgente a necessidade de aumento dos investimentos públicos a fim de equilibrar a relação entre oferta e demanda no País e permitir um crescimento sustentado nos próximos anos”, conclui Alcides Leite.
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